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título: educado
data de publicação: 08/06/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #educado
personagens: norma e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o podcast “O veneno mora ao lado”, apresentado pela maravilhosa e querida Giovanna Nader. A Giovanna me mandou um kit super fofo, — de arroz com feijão, gente — tudo orgânico. Pensa numa pessoa que aceitou aí 300% no presente. [risos] — Já amo… [risos] — O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. — Gente, no mundo… Vocês tem noção? — O podcast O veneno mora ao lado te conta tudo que você precisa saber sobre o assunto, num formato interessante e investigativo. Esse podcast é um projeto da Giovanna Nader, que é ativista ambienta com a Fundação Heinrich Boll Brasil e O Tempo Virou.

Essa equipe montou um dossiê completo pra você entender toda a história por trás do que chega aí no seu prato. “O veneno mora ao lado” tá disponível  em todas as plataformas de podcast. — E a gente precisa se informar sobre agrotóxico, gente… — Pra poder lutar aí contra o envenenamento em massa que tem acontecido aqui no Brasil. Inclusive, no episódio dois, a Giovanna aborda o mesmo tema que eu já abordei aqui no podcast no quadro Alarme, o envenenamento criminoso que acontece nas plantações. Eu falei lá no quadro Alarme que acontecia com os quilombolas… — Não sei se vocês lembram e tal. — Que eles tinham que combater isso também, os ruralistas jogando veneno de avião em cima das plantações deles? E a Giovanna fala disso também nas plantações ali de algumas comunidades indígenas. Eu tô muito feliz com esse podcast, é realmente uma prestação de serviço e eu vou deixar o link pra vocês aqui na descrição do episódio.  

E hoje eu vou contar para vocês a história da Norma. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Norma ela trabalha no mercado financeiro e, assim, meio que com uma galera muito, muito, muito rica. E aí um dia, — isso há uns seis anos — numa festa, ela conheceu um cara. — E esse cara, gente… — Ele era, assim, muito fino. — Sabe aqueles homens que são elegantes, assim, que são finos? Um cara alto, terno, bonito e tal. — E tava na cara que era um cara que tinha dinheiro. E aí eles conversaram na festa, foi uma conversa educada. O cara acabou pedindo o telefone da Norma, a Norma deu… Mais ou menos no meio da festa, a Norma tinha que ir embora porque ela tinha que trabalhar no dia seguinte, né? [risos] — Tá na festa de rico, mas não é rica, né, Norma? — Na hora de ir embora, ele tava saindo também. [efeito sonoro de alarme de carro sendo destravado, portas se abrindo e carro dando partida]

E ela viu que ele entrou num carro, que tinha um senhor dirigindo o carro e não parecia um Uber, ele não tava olhando celular, nada, enfim… E aí a Norma falou: “Nossa, carrão. Motorista será?”. Dali uns três dias esse cara — esse cara rico — ligou pra Norma. [efeito sonoro de celular tocando] Ele não mandou mensagem, nada, ele ligou… E aí a Norma conversou com ele e tal, eles deram risada de umas coisas e nã nã nã, ficou um clima muito agradável e ele falou pra Norma: [efeito de voz grossa] “Olha, a gente podia jantar, né? Sei lá, se você quiser, te levo num restaurante incrível que eu conheço e nã nã nã”. E a Norma falou: “Gente, eu vou sair com um cara rico, será?” e ela falou: “Claro, né? Vamos sim, né? Vamo marcar”. [risos] Aquelas…

Aí dali mais uns dois dias, — antes de chamar a Norma ali pra mandar mensagem, ele foi muito educado, ele perguntou se ele poderia mandar mensagens, né? Então, você vê aí… O cara tem uma etiqueta. Primeiro ele fez um telefonema: “Olha, tudo bem se eu te mandar mensagens e tal, né?”. E aí a Norma ficou encantada, porque ele era realmente, assim, muito fino, muito educado, um homem gentil, assim… —  Aí ficou combinado de que ele passaria com seu motorista. Nesse ponto, Norma já sabia que esse cara tinha um motorista, que a gente vai chamar aqui de Benê, o seu Benê. Então ele ficou de passar com seu Benê pra pegar a Norma para que eles fossem aí num lugar agradável, o restaurante. E lá foram eles… O cara muito arrumado, cheiroso, alto, lindo… Foram pra um restaurante, era um restaurante, assim, desses bem caros e bem finos, ele foi chamado pelo nome, “ô, senhor nã nã nã, que bom vê—lo novamente aqui e nã nã nã”.

Sentaram, ele deixou ela à vontade pra ela escolher o que ela queria comer ali. Ela muito preocupada com preço, mas o cardápio ele não tinha preço, então ela falou: “Bom, vou saber no final aí se esse cara vai me fazer pagar essa conta”. Ela se arrependeu de falar pra ele que não teria condição de comer num lugar daquele… Mesmo ela tendo a aparência mais também sofisticada, ela era uma funcionária, uma trabalhadora ali, assalariada. E aí eles comeram, conversaram, foi muito agradável… Ela tava no finalzinho da comida, ele tava ali só tomando um vinho, que ele já tinha comido, pra esperar a Norma terminar e eles pedirem uma sobremesa. Quando, de repente, do nada, esse homem surtou… — Como ele surtou? — Ele começou a ficar impaciente na cadeira… — Ele não recebeu um telefonema, nada… — E falando assim pra Norma: [efeito de voz grossa] “Norma, nós vamos precisar ir embora”. — E a Norma falou: “Pronto, tá aí o golpe. Ele vai querer sair correndo desse restaurante e eu tô de salto, não vou conseguir correr. Vou ter que pagar essa conta, não tenho dinheiro, vou pra delegacia”. Mil coisas passou em segundos na cabeça da Norma. — 

Só que enquanto ele falava que eles tinham que ir embora, “vamo embora”, “vamo embora”, ele fez um sinal assim com a mão para o garçom, tipo: “A conta”. E aí o garçom trouxe a conta, — demorou ainda uns cinco minutos, ele muito aflito, muito aflito… — A conta veio, ele pôs um cartão de crédito ali dentro e pediu pro garçom ser um pouco mais rápido. Quando o garçom voltou com o cartão dele, ele deu uma nota de 50 reais pro garçom. — Tipo, a gorjeta… Então, sei lá, cara rico… — Só que ele começou a andar apressado e apressar a Norma pra andar. E aí ele já tinha mandado uma mensagem pro Benê. — Não se sabe onde Benê tava — Quando eles saíram do restaurante, Benê tava na porta e ele falou assim pro Benê: “Benê, você vai me deixar primeiro em casa e depois você leva a Norma pra casa, ok?”. E aí Benê falou: “Tudo bem” ali e eles foram seguindo. 

Só que quando eles estavam dentro do carro, a Norma percebeu uma coisa… — Pensa assim: Você tá dentro do carro, o carro é escuro, é? Os dois sentados atrás. Ele muito aflito, muito aflito… E ela reparou que do chão, vinha… Parecia um barulho de algo vibrando e uma luz roxa. E essa luz roxa, sabe quando você está dormindo que você tem um rádio relógio e ele está lá, aquele número do rádio relógio lá tá em verde e, sei lá, aquele verde fica num pedaço da parede… Seu quarto fica meio iluminado, sabe? Porque tem uma luz colorida ali. E ela via essa luz roxa na altura do chão, do lado dele. — Ele muito aflito, não conversou mais com ela. Chegou na porta do prédio dele, um prédio muito, muito, muito chique… — Lembrando que ele foi buscar a Norma, né? Na casa dela. Então ela não sabia onde ele morava, ela ficou sabendo ali. Era um prédio muito, muito, muito chique. — [efeito sonoro de porta do carro sedo aberta] Aí ele falou: [efeito de voz grossa] “Norma, mil desculpas, eu vou ter que te deixar agora e vou embora”. Deu um beijo no rosto da Norma, muito educado e saiu.

E aí a Norma ficou no carro com seu Benê sem entender o que tinha acontecido, se ela tinha feito alguma coisa, mas ele tava tratando ela bem. O que será? O que será? [efeito sonoro de carro dando partida] Quando o Benê saiu com o carro, ele falou assim pra Norma: “A senhora assustou, né?”. [risos] — Ai, meu Deus, eu amo funcionário fofoqueiro. — A Norma falou: “Olha, o senhor me desculpa, mas eu assustei sim. A gente tava conversando, tava tudo bem no restaurante e, de repente, esse homem mudou. Ficou assim, apreensivo, ficou nervoso. E aí tamo aqui agora, eu com o senhor e ele foi embora”. Ai o seu Benê falou: “Você não viu na perna dele?”, a Norma falou: “Perna?” e já pensou: “Será que ele tem, sei lá, uma perna, uma prótese e a prótese tava apertando, alguma coisa assim?”. Ai o seu Benê falou: “Você não viu a tornozeleira, filha?”. — [risos] O véinho fofoqueiro. —

A Norma ainda não tinha se ligado… Ela falou: “Tornozeleira?”. Aí ele falou: “É, você não viu? Ele usa uma tornozeleira dessas de preso”. Aí que a Norma se ligou, que aquela luz que ela tava vendo na altura ali do chão do carro, era à luz da tornozeleira eletrônica desse cara. E aí o seu Benê foi contando pra ela… “Que cor era luz?”, que dali da frente que ele tava dirigindo, ele não viu… Ela falou: “Era uma luz roxa”. Aí ele falou: “Ih, roxa? Ele saiu… Ou é horário ou é lugar que ele foi e que ele não podia ir… Que tem um espaço, um perímetro que ele pode ir e tem um horário que ele pode ficar na rua”. E aí a Norma ouvindo… Ele falou: “Se a luz é vermelha é porque a carga está com 20%, 25% de carga, ele tem que botar pra carregar a tornozeleira, então aí ele tem que ficar como se ele mesmo fosse o celular, encostado na parede na tomada”. — [risos] Olha esse véio… —

E aí o seu Benê foi contando pra ela tudo da tornozeleira… Que ele ele trabalhava pra esse homem há um ano e meio e ele já usava tornozeleira, desde sempre. E aí o seu Benê falou assim pra ela: “Você tá querendo saber que crime que ele cometeu, né?”, e ela nem tinha pensado na verdade nisso, ela tava ainda absorvendo aquela informação da tornozeleira. E aí ele falou assim: “Olha, é um assunto que ninguém toca com o empregado e quando eu entrei, entrou a cozinheira e a arrumadeira, então a gente não sabe… O porteiro também não sabe, ninguém sabe o crime que ele cometeu, mas eu acho… Ele é um homem muito educado, muito bom, assim, paga o meu salário direito, mas eu acho que ele matou alguém… [efeito sonoro de tensão] Porque ele é muito fino e gente fina sempre mata alguém”. — [risos] Ó, o seu Benê… Como você lida num relacionamento desse? “Eu acho que ele matou alguém”. —

Então, na cabeça do Benê, ele deve ter assassinado alguém. E aí eles ficaram conversando ali, o seu Benê dando as teorias dele [risos] — todas de assassinato — antes de chegar na casa da Norma. Quando chegou na casa da Norma ali ela se despediu, ela tava bem chocada… Só que o cara tinha sido muito legal… Então ela chegou, mandou uma mensagem dizendo que tinha gostado muito do encontro e nã nã nã e não comentou nada, assim. Ela falou: “Vou deixar ele me falar da tornozeleira”, mas ali pela Norma, ela continuaria saindo com ele. — E aí agora vem o motivo de porque eu não dei nome pra esse cara, porque até aqui, mesmo de tornozeleira, ele teria um nome na história, né? Porque, enfim… — Quando ela mandou essa mensagem, a mensagem que ela recebeu de volta, em vez dele falar: “Sei lá, tô com um problema”, enfim, inventar qualquer desculpa, gente…  

Mas olha o que ele falou pra Norma: “Olha, Norma, eu sei que você gostou e nã nã nã”, uma coisa meio educada no começo, “mas naquela festa eu tinha te visto e eu não sei se eu tinha bebido um pouco mais, mas pessoalmente eu não achei você atraente. Você tem um pouco mais de idade e um pouco mais de peso do que eu gostaria”. — Ô, gente… Chamando a Norma de velha e gorda? Ele lá com a tornozeleira eletrônica, sabe? Cometendo crimes… Crimes… — E aí a Norma ficou em choque, porque assim, ele foi educado, né? Mas dizendo: “Você é velha e gorda pra mim”. E aí a Norma respondeu assim pra ele: “Eu até posso ser muito velha e gorda pra você, apesar de eu ser mais nova que você… Uns dez anos, pelo menos, mas pelo menos eu não cometi crime nenhum” e bloqueou ele em tudo.  E é por isso que, esse jeito escroto aí que ele resolveu interromper esse contato com a Norma, que eu não dei nome para ele. 

E aí, será que o seu Benê tava certo? [risos] Será que ele matou alguém? Acho que não, né? Ou sim? Quando a pessoa, assim, comete crimes mais graves, ela não pode ficar em casa com tornozeleira, né? Deve ser um crime mais leve? Leve numas, né? Sei lá… Enfim, aí é por isso que eu não dei nome ara esse cara, porque ele foi super ofensivo com a Norma ali na última mensagem, né? Que era totalmente desnecessário, ele podia falar pra Norma: “Eu gostei de te conhecer, mas não vai dar certo”. Podia ser desse jeito. E aí a Norma [risos] contou pras amigas ali o que tinha acontecido, que ela tinha saído com um cara com tornozeleira eletrônica e o que ele falou… E uma das amigas dela falou assim: “Você já imaginou se ele, sei lá, tá pedido de morte, sei lá, tem alguém ameaçando ele e ele te mandou essa última mensagem desse jeito pra você se afastar e ele te proteger”, ah, gente, me poupe, né? Não acho que foi isso, não, acho ele foi canalha mesmo ali na mensagem. 

Ele podia falar qualquer coisa, né? Tipo: “Olha, eu não posso te ver mais, minha vida está em perigo e não quero colocar a sua em perigo”. Se fosse isso… Ele não precisava falar: “Olha, você tem idade demais e peso demais do que eu gostaria”. Ah, me poupe, né? Então essa é a história da Norma, ela falou que a parte mais engraçada da história foi o seu Benê falando todas as teorias dele da tornozeleira e também que quando ele entrou… Tem uma hora que a tornozeleira apita, e aí ele achava que junto com o apito não seria ruim se tivesse um leve choque. [risos] — Seu Benê querendo torturar pessoa rica, gente… — Coisa horrível… E aí ele foi dizendo as teorias, então essa foi a parte mais engraçada do dia, desse encontro da Norma, mas que acabou mal, né? O cara não precisava mandar essa mensagem, vocês não acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Normal, aqui é a Rafa de Curitiba. E olha, tô ouvindo essa história “Educado” e eu fiquei chocada só com uma coisa… Com a caneleira? Não. com o fato do seu Benê acreditar que ele tinha cometido um assassinato? Não. Inclusive, adorei o seu Benê. Eu só fiquei chocada por a Norma não ter pesquisado o nome desse cara no Google antes, gente… Por favor, meninas, vamos lá… Toda vez que vocês foram sair com um boy, vocês já colocam no Google o nome completo, pesquisa tudo… O histórico familiar, procura questões judiciais se tiver lá… Vocês já descobrem tudo. Então, assim, se previnam, tá? Sempre busquem antes de sair. Tomem cuidado. Ainda bem que deu tudo certo, Norma, espero que você esteja bem.

Assinante 2: Aqui é Nathalia, sou de Jaboatão de Guararapes, Pernambuco. E, Norma, minha filha, você se salvou, viu? Se livrou de uma… Porque, olha, sou educadora social, já dei aula em em Funase, menores infratores, pra presídio também… Pra uma pessoa rica, infelizmente nesse Brasil, estar presa, ela não fez pouquinha besteira não, viu? Ela fez muito, das pesadas… Então tu se livrou de uma boa. Se eu fosse tu, eu ainda procurava o nome completo dele pelos funcionários, pra descobrir, jogar no Google e saber o que ele fez de errado. [risos] Curiosa nessa fofoca.   

[trilha]

Déia Freitas: Então não esquece, corre lá agora pra ouvir o podcast “O veneno mora ao lado”, tá muito gostoso de ouvir. A Giovanna é uma ativista aí que faz um trabalho super sério e você pode ouvir O veneno mora ao lado gratuitamente em todas as plataformas de áudio. Um beijo, gente, um beijo, Giovanna, tamo junto e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.