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título: elvira
data de publicação: 15/09/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #elvira
personagens: dona elvira e marta

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Dona Elvira. — Quem me escreve é a bisneta da Dona Elvira. Dona Elvira partiu dessa… Então a bisneta dela, que a gente vai chamar aqui de “Fabiana”, é quem me escreve. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]


Dona Elvira casada com um homem muito ruim, numa época que meio que os pais escolhiam ali o seu marido. — Então as mulheres tinham zero escolha sobre isso. — Dona Elvira foi escolhida aí por um cara, se casou com esse cara, eles tinham uma diferença ali de dez anos e era um casamento muito ruim, mas ainda assim a Dona Elvira foi obrigada a continuar com esse homem. — Não tinha opções na época. — E teve com este homem dez filhos. O tempo passou, aquela luta de Dona Elvira para criar essas crianças… O cara gostava de beber, então ela tinha que lavar roupa para fora para ter um dinheirinho para pôr comida na mesa ali. — Principalmente para os filhos. —  Foi uma vida muito sofrida, mas que chegando num determinado ponto, a Dona Elvira meio que se conformou, não tentou mais se livrar desse homem, né? Não existia divórcio, não existia nada. E foi levando a vida…

Os filhos cresceram, foram saindo de casa, casando, foram tomando seu rumo e ficou na casa a Dona Elvira, este homem, um filho que era o caçula — que pode ter aqui qualquer nome, o “Jorge” — e a vó da Fabiana, que a gente pode chamar aqui de “Dona Marta”. A configuração da casa, depois de muitos anos, Dona Elvira já estava ali com seus 60 anos, era essa: quatro pessoas morando na mesma casa. A Marta então não tinha se casado, ela era uma das mais novas também, mas já estava ali com seus 30 anos…  — Isso também era motivo para o pai jogar na cara dela, enfim… — A Marta acabou arrumando um namorado — essa avó da Fabiana — e casou com ele, casou, teve filho e tal… Só que Marta sempre foi muito apegada a mãe, então ela arrumou uma casa muito modesta perto da mãe, para ficar perto da mãe. Jorge era o mais novo — foi tipo raspa de tacho, né? —, já estava ali completando 18 anos e entrou no exército para sair de casa, para fugir do pai. Então, agora a configuração daquela casa era Dona Elvira e aquele homem… 

E ele era realmente um homem ruim, só que agora Dona Elvira já tinha acostumado com a rotina, ela fazia as coisas para ele, fazia comida para ele, lavava a roupa dele, enfim… E o tempo foi passando. Cinco anos dessa configuração — de só os dois na casa —, um belo dia o pai aí de Marta — que a Marta era quem morava mais perto — apareceu lá desesperado, dizendo que Dona Elvira não queria acordar. Marta correu até a casa ali dos pais e Dona Elvira estava morta… Ela estava na cama, mas ela estava numa posição muito estranha, ela estava com um braço esticado, parecia que ela estava pedindo ajuda, mas ela estava na cama… Disse o pai de Marta que ela tinha morrido dormindo, que quando ele acordou ela já estava assim. Choradeira, velório… Marta viu ali o pai sozinho naquela casa, ela pagava o aluguel… O pai falou pra ela: “Por que você não vem morar aqui com seu marido?” e, nessa época, ela já tinha um filho, “vem morar aqui, porque aí você faz as coisas para mim”. O que ele queria? Ele queria continuar tendo comida pronta, roupa lavada, passada, enfim… 

E para Marta era vantagem, porque eles iam deixar de pagar aluguel… Então, assim foi feito… Eles saíram da casa que eles tinham alugado e foram morar com o pai da Marta. — Isso em dez dias, assim, que Dona Elvira tinha falecido. — Passado duas semanas do falecimento de Dona Elvira, algumas coisas começaram a acontecer naquela casa. Uma casa muito simples… Na cozinha tinha um pequeno móvel com duas gavetas e não tinha, assim, nem móvel de cozinha das Casas Pôneis que é mais simples, não, não tinha… Tinha alguns cestos para você botar as coisas e tinha um móvelzinho ali com duas gavetas, que eles colocavam ali. — Na segunda gaveta ela falou que tinha pilha, uma lâmpada, talvez assim, sabe? Na primeira gaveta ali uns talheres e umas facas também, enfim… — E um dia a Marta está lá fazendo as coisas na cozinha, quanto a gaveta com os talheres e facas sai do lugar e cai no chão, de uma maneira que a gaveta espatifou. — Soltou sabe? As madeiras, assim, soltaram dos pregos. —

Marta estava sozinha na cozinha, ela ficou sem entender… Era uma casa de dois quartos, então agora o pai e a criança dormiam num quarto e o casal dormia no outro quarto. Ela chamou o pai, o pai catou as coisas ali do chão e pegou a gaveta para levar lá fora para martelar a gaveta. Não perguntou o que tinha acontecido e Márcia também não sabia explicar e não falou o que tinha acontecido. Dali meia hora, ele voltou com a gaveta arrumada — pelo menos ele não era 100% inútil, conseguiu consertar a gaveta aí —, só que ele voltou com uma enorme marca roxa, assim, ele estava com uma regata, no ombro. E aí a Marta perguntou: “Pai, que que é isso?”, porque um senhor já, assim… Na época com 78 anos, ele era dez anos mais velho que Dona Elvira, e aí fica achar aquele roxo que já fica bem feio na hora, né? E aí ele falou: “Olha, eu tava martelando a gaveta, me virei e botei o martelo em cima da bancada ali e eu não sei como esse, mas esse martelo voou no meu ombro e bateu no meu ombro”. 

Então, quer dizer, ele tinha tomado uma martelada no ombro. Gaveta colocada no lugar, Marta terminou de fazer as coisas ali, o pai voltou para o quarto… A criança estava ali com ela — tipo num cestinho ali no chão da cozinha, bem longe de onde caiu a gaveta, enfim —, daqui a pouco este homem começa a gritar no quarto. Marta correu para ver o que estava acontecendo com o pai e o pai falou que tinha visto duas mãos, assim, bem enrugadas, pegando no pescoço dele. — Ele não viu porque, assim, pensa alguém que vai atrás de você e pega o seu pescoço, então alguém tentando enforcar ele… A pessoa atrás dele pegou ele pelo pescoço e tentando enforcar… — E esse tipo de coisa começou a acontecer, principalmente no quarto do pai, a ponto da Marta tirar a criança de lá e botar no quarto junto ali do casal. E, a partir do momento que tiraram a bebê de lá, aquele homem não conseguia mais dormir… Ele gritava, ele chorava, ele falava que estava sendo perseguido… Ele andava a noite, falava que tinha gente andando atrás dele… 

Até que um dia, a Marta ajoelhou ali no quarto dela e rezou e pediu, falou: “Meu Deus, o que está acontecendo com o meu pai? Ele está enlouquecendo?” e pediu ajuda, né? Qualquer ajuda. E, nessa noite ela sonhou com a Dona Elvira e a Dona Elvira falou pra ela assim: “Eu não morri dormindo, eu pedi ajuda para ele e ele não me socorreu” e ela acordou. E aí ela ficou pensando: “Será que meu pai seria capaz de deixar minha mãe agonizando e não socorrer?” e ela ficou com isso na cabeça, mas não falou nada com o pai. Na noite seguinte, ela ajoelhou de novo, rezou de novo e sonhou com a mãe de novo. E aí, Dona Elvira falou para ela assim: “Filha, se prepara, porque em poucos dias eu vou levar seu pai comigo… Não era para eu ter morrido, eu tinha muito que fazer ainda aqui e, como eu vou ficar andando por aí, eu vou levar seu pai junto comigo. Eu vou arrastar ele comigo” e ela acordou e falou: “Meu Deus, que tipo de sonho que eu estou tendo?”. 

Nisso o pai já mal conseguia comer, vivia assustado, estava todo roxo… E aí a Marta perguntava, falava: “meu Deus, ele caiu, né?”, ele falava que ele era chutado, que ele era arranhado… Ele tinha vários arranhões em lugares nas costas que sozinho ele não conseguiria arranhar… Ele gritava toda noite a ponto da Marta pensar em colocar ele numa instituição, alguma coisa assim, né? E o dia que ela conversou com o marido, o marido falou para ela assim: — a gente chamar o marido de “Roberto”, que é um cara legal também —, “Eu ando sonhando com a sua mãe, com a Dona Elvira e eu acho que você não vai precisar colocar em uma instituição, não”. — Roberto já tinha meio que aceitado que tinha um espírito naquela casa, que aquele espírito era da Dona Elvira e que ela ia levar o sogro embora, o sogro dele embora. — Marta não se conformava… 

Ela achava que não era a mãe, podia ser qualquer espírito, sei lá, mas que não era mãe, ela achava que a mãe dela estava descansando em paz. Até que um dia, ela estava na cozinha temperando uns legumes para cozinhar, bater — fazer uma sopinha para criança — e ela tinha mania de cozinhar os legumes e bater com os temperos e Dona Elvira achava isso muito irritante… Ela falava: “Não, primeiro você cozinha os legumes só com sal, você bate e depois você tempera, você não bate com tempero”, Dona Elvira ficava irritada. E, nesse dia que ela estava fazendo sopa, quando ela foi colocar o tempero pra bater, ela ouviu a voz da mãe dela falando: “Não, bota o tempero depois”, [risos] que ódio… [risos] E aí ela falou: “Não, é minha mãe… É minha mãe”. E, a partir desse dia, que Marta ouviu  voz de Dona Elvira, agora ela conseguia ouvir a mãe dela sempre. E o que ela ouvia? A mãe dela no quarto do pai falando: “Velho maldito, seu desgraçado, eu vou te levar, eu vou te matar… Você vai comigo, a gente vai junto para o inferno”, esse tipo de coisa. E o pai foi definhando, definhando, definhando… 

Até que um dia, a Marta entrou no quarto do pai e ele estava morto. Fizeram lá um enterro do pai e nunca mais teve nenhum tipo de manifestação na casa. — Então, Dona Elvira realmente levou o marido. — E aí a Marta começou a acreditar naquilo, que a mãe de repente pode ter passado mal, sei lá, um ataque cardíaco, um AVC, qualquer coisa, pediu ajuda para ele e ele só ficou olhando… Ele não socorreu, deixou ela morrer. E aí ela não foi embora, ficou para levar ele. — E levou… — Marta também ficou com medo de, sei lá, de repente, o pai voltar, né? Nessas… Mas não, assim, nunca mais teve nenhuma manifestação de nada. Ela começou a rezar para os dois, para que eles encontrassem a paz e tal. Marta sempre falou isso, né? A vó da Fabiana, falou para a mãe da Fabiana, enfim, essa história corre a família, de que provavelmente ele se não fez nada para matar, também não socorreu aí Dona Elvira. 

Dona Elvira tinha uma personalidade muito boa, muito doce antes de morrer, mas que depois que morreu, era facilmente confundida com um demônio. [risos] Eu amo… Porque ela espancava o cara, ela aterrorizava ele, ela xingava ele e a Marta ouvia. — Depois daquele dia do tempero, ela passou a ouvir a mãe dela. Não só aparecer, só em sonho, ela falou: “Eu nunca vi, mas o pai falava”. — E ele não reconhecia ela, porque ele falava: “Tem gente atrás de mim”, não falava: “A Elvira tá atrás de mim”, ele falava: “Tem gente atrás de mim, eu estou vendo, olha aquele vulto, olha aquela sombra”. Então ele via muitas sombras, ele via muitos vultos… De repente, não era também só a Dona Elvira, né? E ela falou que ela não tinha cumprido o tempo dela na terra, que ela ia ter que ficar vagando um tempo em que ela ia levar ele antes também, para ele também ficar vagando. — Vou culpar a Dona Elvira? Não vou. Errou? Se errou, foi tentando acertar aí enquanto fantasma, né? —

Essa é a história [risos] da bisavó aí da Fabiana, Dona Elvira, não se sabe se ele a matou ou se ele não socorreu enquanto ela passava mal, mas que ela sim contribuiu para que ele morresse e levou a alma dele junto com ela. — Para onde? Não sabemos. Espero que pelo menos ela, Dona Elvira, tenha encontrado a luz. — O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui quem fala é à Giovanna de São Paulo. Adorei esse Luz Acesa, pra mim foi um dos melhores. Tenho uma história parecida, porque a minha avó também sofreu muito na mão do esposo dela e eu acho que ela morreu por conta dele. E eu espero que a minha avó tenha perseguido aquele traste que nem a Dona Elvira perseguiu o pai da Marta, esse homem sofreu foi pouco. Espero que a Dona Elvira tenha encontrado a luz e que ela esteja num plano muito melhor e que esse homem tenha ido para o pior lugar possível. 

Assinante 2: Oi, nãoinviabilzers, aqui é a Mari de Piracicaba. E a gente é todo time com a Dona Elvira, ela tá certíssima, é muito triste, né? Que isso tudo tenha acontecido, né? Se a gente para pra pensar, que é terrível alguém omitir um pedido de socorro, ainda mais pra alguém que a gente divide a vida, né? Divide filhos, divide contas, divide tudo, né? Mas, infelizmente, aconteceu e Dona Elvira não me assombre. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com Dona Elvira. [risos] Que não errou… Não errou. [risos] Deus me livre me voltar um parente nervoso… É isso, um beijo, e eu volto em breve.


[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]