título: emergência
data de publicação: 13/10/2025
quadro: alarme
hashtag: #emergencia
personagens: sabrina
TRANSCRIÇÃO
Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.
[vinheta] Atenção, Alarme. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais uma história do quadro Alarme, o quadro onde, além de contar histórias, a gente presta aí um serviço à comunidade. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje é a Umani. A Umani é uma organização da sociedade civil que fomenta iniciativas de saúde pública, com o objetivo de contribuir com um sistema único de saúde mais resolutivo e, assim, melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem no Brasil. Completando 35 anos de existência, o Sistema Único de Saúde é grandioso. — Viva o SUS. — Tá presente em todos os municípios brasileiros, é essencial para a prevenção e manutenção da saúde de todas as pessoas que vivem no Brasil e é referência para diversos países por ser aí um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo. — Viva o SUS, eu sou apaixonada, sério… —
O SUS é a maior política pública de inclusão no Brasil, ele realiza cerca de 2, 8 bilhões de atendimentos por ano. — Vocês notaram esse número? 2,8 bilhões de atendimentos por ano. — O SUS emprega mais de 2,5 milhões de pessoas. Se fosse uma empresa, seria o maior empregador do mundo. Gente, vocês têm dimensão do que é o nosso SUS e de como ele é elogiado nos outros países? Além da promoção e manutenção da saúde, o SUS está em outras frentes que talvez você nem saiba, por exemplo: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária — a ANVISA —, que fiscaliza comidas, cosméticos e medicamentos, ela é vinculada ao SUS. Vigilância Sanitária de Zoonoses, que faz a imunização de animais, castração, controle de pragas, é uma ação do SUS.
A FUNASA é integrante do SUS e promove ações de saneamento básico em municípios com até 50 mil habitantes. A rede de bancos de leite humano dá acesso ao leite para bebês que nascem antes do tempo e que não podem ser amamentados pelas próprias mães, essa rede é coordenada pela Fiocruz, uma instituição que compõe o SUS. — Sério, é muito orgulho… É bastante coisa, não é? — Conheça a Umani clicando no link que eu vou deixar aqui na descrição do episódio. E a gente tem que comemorar esses 35 anos do SUS assim, com muita alegria. Eu sou SUSnática, quem me acompanha sabe… Então, assim, sou suspeita… — Pra celebrar e reconhecer a importância do SUS na vida de todos os brasileiros, a gente vai conhecer um pouco da história da Sabrina e um caso que ela atendeu como enfermeira, que mostra a complexidade e a integralidade do SUS. — Palmas, tá? Nesse momento aí na sua casa, bata palmas para o SUS. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Sabrina. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Era 2021 e Sabrina era enfermeira de Estratégia de Saúde da Família em uma USF — uma Unidade de Saúde da Família — e essa Unidade de Saúde da Família ficava numa zona rural em Mogi das Cruzes. Era uma terça—feira de carnaval, mas o carnaval estava suspenso por conta da COVID—19 e a unidade que a Sabrina trabalhava ficou de abrir normalmente. E a médica que era responsável por aquela unidade não estaria lá naquele dia, mas a equipe estava trabalhando normal: os técnicos, o pessoal da enfermagem, o pessoal ali dos serviços gerais, recepcionista, os agentes comunitários de saúde, dentista, auxiliar dentista, auxiliar de farmácia, enfim, não estava a médica, mas ali não era um lugar onde você passava de urgência, emergência, nada disso… A rotina daquela unidade aconteceria normalmente.
Tinha um dia que ela fazia agenda de pré-natal, no outro dia ela fazia atendimento de criança de zero a um ano — que é chamado de “puericultura” —, no outro dia as enfermeiras faziam um atendimento domiciliar também. Tinham também ali alguns atendimentos de acolhimento — de gente que já estava cadastrada ali na unidade familiar —, então, ah, sentiu uma febrezinha, uma cólica, dor de garganta, um negocinho? Vamos passar lá, encaixar uma consulta e tal, ver a agenda… Uma unidade muito integrada naquela comunidade e que fazia esse apoio base às famílias. Como enfermeira, Sabrina também fazia ali a gestão daquela unidade, orientava toda a equipe sobre protocolos, as atividades que teriam, enfim, bastante trabalho… Também tinham vacinas, atendimento de farmácia, já tinha agente comunitário — mesmo na época da COVID — passando, tinha curativo… Um monte de coisa.
Não era uma unidade que recebia urgência ou emergência, se acontecesse alguma coisa ali eles precisariam contar com o apoio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o nosso queridíssimo SAMU. Sabrina foi almoçar, quando uma das funcionárias do Serviço Geral entrou esbaforida ali na copa e falou: “Olha, tem uma mulher… Ela entrou aqui correndo na unidade, gritando, pegou a maca e foi com a maca lá para a calçada, ela dizia que a gente tem que salvar o filho dela, que o filho dela está no carro, não sei o que” e a Sabrina largou o almoço ali e já saiu correndo para tentar entender o que estava acontecendo. Quando a Sabrina chegou na calçada, ela viu que a mãe já estava colocando ali um jovem na maca e, quando a Sabrina olhou, ela falou: ‘Meu Deus”, parecia que ele estava morto real.
A Sabrina foi explicar para aquela mãe que ela devia levar o menino para a UPA, que ali era uma unidade de saúde, mas a mãe só gritava: “Olha, você precisa salvar o meu filho”, Sabrina olhou para aquele garoto, uns 16 anos, ele estava muito pálido, cheio de sangue, com fratura exposta em uma das pernas, um sangramento intenso, e ele sangrava também pelos ouvidos… Sabrina já gritou para a recepcionista ligar para o SAMU enquanto a equipe tentava manter aquele garoto vivo até o SAMU chegar. Pelo telefone, a médica do SAMU foi orientando a Sabrina do que ela devia fazer. Já tinha feito uma ausculta pulmonar, já tinha visto que o garoto ainda estava respirando e, partir dessa informação, a médica do SAMU passou um passo a passo para a Sabrina seguir ali. Nisso, a mãe já tinha gritado ali, chorando, que tinha sido um acidente de moto e que ele tinha caído sem capacete…
E aí, a Sabrina foi passando ali que ele estava inconsciente, porém com sinais vitais, mas que não respondia a nenhum estímulo e a médica foi orientando a Sabrina como proceder, o que ela tinha que fazer, até a equipe de resgate com o médico chegar. Teve que puncionar a veia e colocar um soro ali — que é um ringer lactato, que é uma solução de infusão usada para repor água e eletrólitos, para o rapaz não entrar em choque, que eles chamam de choque hipovolêmico por causa da hemorragia —, teve que conter aquela hemorragia, imobilizar a perna dele, oferecer aporte de oxigênio, conter os espasmos que ele estava tendo muitos espasmos ali por conta do traumatismo crâniano mesmo, que era grave. Sabrina, com a sua equipe, foi ali mantendo aquele garoto vivo até o SAMU chegar. Só que o SAMU ia demorar mais ou menos uma meia hora, uns 40 minutos para chegar. Era uma corrida contra o relógio… O que dava para ser feita naquela unidade de saúde familiar era muito pouco pelos recursos que um traumatismo craniano precisa.
Sabrina, ali monitorando, percebia que aquele garoto estava piorando. — Era nítido que era um traumatismo crâniano… O cara caiu de moto sem capacete, um acidente grave, e que ele estava realmente piorando ali na frente da equipe. — Todo mundo ali estava fazendo o possível para poder manter aquele garoto vivo até que o SAMU chegasse. A unidade avançada do SAMU, que é a ambulância que vem com o médico, enfermeiro, tudo, chegou e, assim que o médico bateu, ele teve a mesma impressão que Sabrina teve quando o garoto chegou, ele falou: “Esse garoto não está morto?”, “não, ele está vivo”, e aí o médico viu ali, né? Poxa, está vivo mesmo, porque estavam condições, gente, críticas… E, a partir do momento que falaram: “esse garoto está vivo, então a gente vai fazer o máximo pela vida dele”. — E aí a Sabrina falou que ela ficou admirada com a coordenação daquela equipe do SAMU, com o conhecimento deles. —
Eles foram fazendo todos os procedimentos ali, colocando ele numa monitorização cardíaca, instalou respirador mecânico, eles fizeram outras. medicações porque ela já tinha sido orientada a fazer o soro e tal, as coisas lá, mas o menino continuava piorando… E você via pelas pupilas dele que cada vez estavam mais dilatadas, o que significa que estava agravando o caso dele, né? Pela gravidade ali de como ele estava, o médico do SAMU falou: “Olha, a gente vai precisar do apoio do helicóptero Águia da polícia militar para deslocar esse garoto, porque em via terrestre ele não chega”. — No caso, não chega com vida, né?” — E aí a equipe do SAMU já perguntou se tinha algum lugar perto para posar o helicóptero e tinha um campinho de futebol na rua de trás, de Várzea, e o Águia veio buscar esse garoto. Só que tem uma coisa: o paciente tem que estar minimamente estabilizado para entrar no Águia.
Para fazer esse voo, a equipe do SAMU já tinha entubado, medicado, aquecido, imobilizado, mas tinha que dar essa estabilização para poder ele ser levado para um hospital maior. — Na verdade ali não era nem um hospital, né? Era uma Unidade de Saúde Familiar? — O bairro já tava todo na rua — era uma unidade rural aquela, né? — e chegou um helicóptero… Todo mundo já tava sabendo que esse garoto tinha sofrido esse acidente. — Então, veja também: era um garoto de 16 anos, numa moto, né? Menor de idade. — E, cara, os médicos do SAMU são assim, vividão, né? O cara elogiou ali o trabalho da Sabrina e falou: “O trabalho de vocês foi primordial pra que esse garoto estivesse vivo até aqui”. O Águia levou levou, levou a mãe junto, né? O médico já explicou pra mãe que o garoto teria poucas chances, né? Porque, assim, era muito grave, gente… Era realmente muito grave. Depois de um tempo, porque aquela família também era cadastrada atendimento ali familiar, né? Daquela unidade, Sabrina ficou sabendo que o menino ficou um período longo na UTI, passou por reabilitação, foi se recuperando e meses depois voltou a vida.
E um dia ela tava lá, né? Naquela unidade de saúde da família e quem entrou? Acompanhado pela mãe pra pegar uma medicação? O garoto. Toda a equipe ficou feliz, passada assim, né? Vendo aquele garoto entrar com a mãe ali, depois de tudo que aconteceu ali… — Eles salvaram gente, salvaram a vida desse menino, né? — E aí não rolou nem um valeu, aí um… mas a Sabrina sabe que eles não estão ali pra isso, pra receber o obrigado, né? Mas se fosse eu, nossa, eu ia fazer uma faixa: “Obrigada, equipe”. [risos] — Sabrina tem 25 anos como enfermeira, tem outras histórias que marcaram a vida dela, mas essa, como ela tava numa unidade básica, sem recursos, nada e ele era um paciente de traumatismo craniano grave, marcou. Ela não achou até que ele fosse sobreviver quando ele chegou ali, mas com aquele primeiro atendimento que eles deram — e depois a equipe do SAMU, enfim, do hospital que ele foi —, o menino ficou bem. — Sabrina, você é tudo. —
Sabrina ama a profissão dela, ama o SUS e a gente vai ouvir agora ela falar um pouco e, na sequência, a gente vai ouvir a Maria José Evangelista, ela é assessora técnica do CONAS, Conselho Nacional de Secretárias do Estado de Saúde.
[trilha]Sabrina: Meu nome é Sabrina, eu sou enfermeira há 25 anos e o que eu mais gostaria de destacar foi como a integralidade do SUS, toda essa rede de atenção à saúde que existe no SUS, com a atenção primária, com a atenção secundária, com a atenção terciária, como que isso tudo foi importante para esse jovem ter sobrevivido, né? Nossa, não tem nem como descrever a importância do SAMU para sociedade e essa integralidade do SUS que é tão linda e que é tão importante. Isso tudo para mim foi um grande aprendizado, uma vitória, onde a gente vê que mesmo com pouco recurso, a gente consegue salvar vidas. Lógico, com uma equipe incrível que estava trabalhando comigo, pessoas realmente comprometidas. Um beijo.
Maria José Evangelista: Meu nome é Maria José Evangelista, ouvindo a história, a gente se emociona, porque mostra claramente a potência da atenção primária na rede de atenção à e percebe-se o compromisso com o trabalho, que mostra que o trabalho é centrado nas pessoas, porque a UBS não seria o local para essa situação, mas foi onde a mãe chegou num caso como esse, que foi um trauma, a porta de entrada, o fluxo correto seria o próprio local de emergência, mas foi ali que ela chegou… E na PS a gente também tem que ter preparo para atender situações agudas, que foi o que a moça fez. Fez tudo aquilo que seria feito se tivesse ido lá, por exemplo, na UPA. É um exemplo de uma rede de atenção à saúde funcionando como deve… É um exemplo que toda atenção primária brasileira deve seguir: ter educação permanente, ter competência, ter o olhar centrado no cidadão, enfim, é uma rede de atenção sendo coordenada pela atenção primária. Parabéns.
[trilha]Déia Freitas: Sabe aquele restaurante que você gosta de frequentar? Aquele barzinho que você vai ali comer um negocinho? Por meio da vigilância sanitária, lá também tem o SUS. A vacina que você deu no seu PET? O SUS. — Por meio da vigilância sanitária de zoonoses. — O saneamento básico que chega em pequenos municípios? É o SUS também. O bebezinho que precisa ser alimentado com leite humano, mas que não pôde ter acesso a esse leite pela própria mãe e recorre a um leite de banco? — que, aliás, os bancos são excelentes — Também é o SUS. Esse sistema complexo, um dos maiores sistemas de saúde pública gratuita do mundo acaba de completar 35 anos. — Esse jovem querido SUS. — Então, gente, bora comemorar? Viva o SUS, porque, olha, nem sei nem o que dizer… Eu sou assim, SUS… Sabe aquele meme da menina que está de faixa com o SUS? Disco do SUS, tudo do SUS? Eu sou essa pessoa.
Estou muito feliz que a Umani trouxe o SUS para o podcast, então viva o SUS, vamos valorizar, porque é um sistema, gente… O nosso SUS é estudado em outros países, ele é elogiado, ele é copiado, tá? E ainda assim, a gente tá quilômetros na frente, tá? Num sistema público tão complexo de saúde, assim, gratuito… Grátis. Tudo nosso, 0800, tá? Então, é orgulho demais, eu fico muito feliz e é isso… Um beijo, gente — SUS, te amo — e eu volto em breve. — Vou ficar aqui só elogiando o SUS… Léo, sobe os créditos que eu vou continuar aqui elogiando o SUS. [risos]
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Alarme é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]