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título: enfermagem
data de publicação: 16/10/2025
quadro: alarme
hashtag: #enfermagem
personagens: júlia

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Atenção, Alarme. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história do quadro Alarme, o quadro onde além de contar histórias, a gente presta um serviço à comunidade. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo é a UMANI. A UMANI é uma organização da sociedade civil que fomenta iniciativas do âmbito da saúde pública, com o objetivo de contribuir com um sistema único de saúde mais resolutivo e melhorar, assim, a qualidade de vida das pessoas que vivem no Brasil. Comemorando 35 anos de existência e sendo um dos maiores sistemas de saúde pública e gratuita do mundo, referência em diversos países, hoje eu trago pra vocês números que mostram a grandiosidade e a complexidade do nosso patrimônio nacional, o SUS. — O nosso Sistema Único de Saúde. —

Então, anota aí: o SUS está presente em 100% dos municípios brasileiros. Ele é a maior política pública de inclusão do Brasil, realizando cerca de 2.8 bilhões atendimentos por ano. — Eu vou repetir esse número porque ele é demais: 2.8 bilhões de atendimentos por ano. — O SUS emprega mais de 2.5 milhões de pessoas… — Se fosse uma empresa, o SUS seria o maior empregador do mundo… Sério. — São mais de 50 mil unidades básicas de saúde — as UBS — funcionando no Brasil com equipes multiprofissionais altamente qualificadas. São mais de 260 mil agentes comunitários de saúde acompanhando famílias em seus próprios lares, com escuta ativa, orientação contínua e monitoramento de condições de saúde. — Inclusive, as agentes que passam aqui são incríveis. Funciona muito… —

Dependendo do estado, o uso exclusivo do SUS como sistema de saúde varia de 70 a 95%. — Vocês têm ideia que tem estado que 95% usa somente o SUS? — Foram distribuídas mais de 604 milhões de doses de vacina pelo SUS entre 2023 e 2024. — 604 milhões de doses de vacinas gratuitas incríveis pelo SUS em 2023 e 2024. — O SUS atua na identificação de surtos, controle de arboviroses — que são o quê? doenças virais transmitidas por mosquitos e carrapatos —, vigilância sanitária e ambiental. O abastecimento de água, esgotamento sanitário e a gestão de resíduos fazem parte da rede de proteção do SUS. — Então, gente, dizer “Viva o SUS” é reconhecer a relevância desse sistema complexo de geração de saúde na vida de todas as pessoas que vivem no Brasil. E assim, gente, de forma universal, equânime, eu gosto dessa palavra: igual para todo mundo e integral. —

E eu vou deixar aqui para vocês um link para vocês conhecerem a UMANI, que está trazendo o SUS aqui para o podcast. A gente vai conhecer a história da Júlia, que viu de perto uma história sensível e tocante de uma paciente que ela acompanhou. — Ai, gente, estou tão feliz de trazer o SUS no podcast… Vocês não sabem o quanto eu sou fã. SUS, te amo. — Hoje eu vou contar para vocês a história da Júlia. Ela é técnica de enfermagem há uns 11 anos e ela sempre trabalhou no SUS. Então, vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Júlia trabalhava num grande hospital público no litoral norte de São Paulo e um dia ela estava escalada para auxiliar nos partos normais… Ela estava auxiliando nas cirurgias — seja uma cesárea ou qualquer outra cirurgia no âmbito ginecológico — e ela tinha que abrir os materiais estéreis, ajudar a vestir os médicos, ficar na sala operatória ajudando a equipe médica, cirurgiões, anestesistas, os médicos, os pediatras… Então, o que eles solicitarem durante os procedimentos, ela estava ali para auxiliar. Faz os primeiros cuidados com os bebês, então, assim, ah, o bebê nasceu? Auxilia naquele parto. Então, vacinar, tirar as medidas, colocar o bebê para amamentar ali naquela primeira hora de vida… A Júlia higieniza os pacientes, retira os materiais usados, prepara a sala para os próximos atendimentos, enfim, o trabalho do técnico de enfermagem é muito importante.

Quando é um parto normal, Júlia fica ali orientando, explicando, dando apoio… Ajudando nas medidas de conforto… Ela estava seguindo o dia dela normal lá, até que ali no final da tarde a equipe estava ali esperando o próximo atendimento, quando receberam o aviso ali de que uma jovem grávida de 34 semanas estava sendo internada naquele momento. — Naquele hospital de grande porte ali do SUS. — Ela estava com descolamento da placenta e precisaria ser realizada uma cesariana de emergência. — Ela estava chegando pelo SAMU. — Essa paciente sairia direto do Pronto Socorro Ginecológico Obstétrico — que eles chamam de PSGO — e ela nem passaria pelo pré—parto, ela iria direto para o CO, salas ali de parto normal. Prontamente, a equipe começou a agir… A pediatra foi chamada, o material de incubação, suporte respiratório e o material para a reanimação foi preparado e aquela jovem grávida chegou. Dava para perceber bem que ela estava ansiosa, estava com medo… A Júlia perguntou se ela estava sozinha, se ela estava acompanhada, e a moça explicou que ela passou mal em casa sozinha, que o marido dela estava trabalhando e que ela chamou o SAMU. — Então, ela estava ali totalmente sozinha. —

Como era um caso de descolamento de placenta, cada segundo conta… Aquela cesárea foi feita muito rápido, em três minutos os médicos já tinham feito ali o parto daquele bebezinho. Infelizmente, o bebezinho tinha nascido sem sinais vitais e a equipe se empenhou ali para reanimar o bebezinho. — Era uma menininha. — Eles fizeram de tudo para reanimar aquela bebezinha, mas não teve jeito… Aquela bebezinha realmente já nasceu sem os sinais vitais. No hospital, foi chamada uma equipe interdisciplinar ali, o médico foi conversar com aquela mãe que tinha acabado de perder a sua bebezinha, mas também já tinha uma psicóloga lá para conversar com ela. O médico obstetra explicou o que tinha acontecido, falou sobre esse descolamento prévio da placenta, que por isso ela teve uma hemorragia, e aí veio a pediatra explicar o que tinha acontecido com a bebezinha, porque ela nasceu provavelmente sem os sinais vitais e tal, e a psicóloga estava ali para conversar com aquela moça e dar esse suporte emocional. 

Ela estava ainda sozinha — e a Júlia falou que aquilo marcou ela naquele momento, porque era uma moça muito nova e ela estava chorando muito, e ela estava sozinha ali, enfim —, toda a equipe finalizou ali o que tinha que finalizar… A cirurgia tinha sido finalizada, a moça já tinha sido higienizada, Júlia saiu da sala justamente à hora que o marido, um rapaz muito novo também estava chegando, eufórico com as malas: a mala da maternidade, a mala do bebê, da mãe… Sorrindo, feliz, perguntando sobre a esposa ali e a bebezinha. E ele chegou já dizendo: “Ai, meu vizinho me avisou, eu estava trabalhando… Passei em casa, peguei as coisinhas. Cadê minhas meninas?” e Júlia ali na frente daquele rapaz, todo animado, tendo que ver ele receber a notícia de que a bebezinha dele não tinha sobrevivido. O rapaz foi chamado por essa equipe interdisciplinar para explicar tudo o que tinha acontecido e o casal ficou desolado, assim, a Júlia teve essa incumbência de levar a moça para o quarto. — Porque ela tinha que se recuperar ali da anestesia. —

Júlia teve cuidado de colocar a moça num quarto separado de outras mães que estavam com seus bebezinhos, porque ela não teria um bebezinho ali naquele quarto. Júlia fez ali o trabalho dela e, quando ela estava saindo do quarto, ela falou: “Olha, o que vocês precisarem, vocês podem me chamar. Eu chamo Júlia, sou a técnica de enfermagem aqui e tal”, e aí a mãe tirou uma roupinha rosinha bem clarinha, com lacinho e um sapatinho, e falou pra Júlia: “Você pode vestir a minha bebê e trazer pra eu segurar ela no braço um pouquinho?”, ai, gente, não aguento… Júlia foi lá e limpou a bebezinha, aquele corpinho, vestiu e entregou ali nos braços daquela mãe que estava ali com o pai e saiu do quarto para que eles tivessem esse momento de despedida ali daquela bebezinha. — Ai, olha… — O pai tinha falado para Júlia que era o sonho deles, que eles tinham esperado muito, né? Aquela menininha, apesar de um casal muito jovem e tal, né? Aquele dia foi um dia triste, um dia difícil. Júlia saiu com uma sensação estranha, sabe? Vazio… Casal recém—casado, novinho. Ainda bem que eles estavam juntos ali, né? Um dando força para o outro e tal… 

Júlia saiu com aquilo na cabeça, mas quem trabalha na área da saúde sabe: cada plantão é um plantão. E todo dia que você tá trabalhando tem casos novos. O tempo foi passando, Julia foi trabalhando ali naquele mesmo hospital e, assim, a vida seguiu… Um dia, Júlia chega ali no seu plantão e foi olhar o quadro dos pacientes… Era a rotina ali, né? Técnico de enfermagem, você vai ver qual é o seu trampo ali naquele dia, e ela viu que uma moça que ia fazer uma cesárea, de uma cesárea que tinha acontecido há menos de um ano… Júlia e as outras técnicas estavam comentando o quão isso era prejudicial, né? De ter um parto seguido do outro, ainda mais, né? Cesárea e tal, intervalo nenhum praticamente entre eles, né? E que a mãe poderia correr alguns riscos como aderência e acretismo placentário, que são complicações que podem ocasionar ali hemorragia e tal ou lesionar outros órgãos… E elas estavam comentando ali sobre isso e poxa, tá bom, né? Tá aí, vamos fazer essa cesárea e nã nã nã…

Era uma outra técnica que ia ficar, só que ela tava ali terminando de almoçar e falou: “Júlia, quebra essa? Você vai lá?”, “vou e tal”. E quando ela chegou, o que era pra ser uma cesárea, tava se encaminhando ali pra uma dilatação total pra um parto normal. A Júlia ali, junto com a equipe, com as enfermeiras e tal, a mãe foi orientada e foi um parto lindo, assim, sem nenhuma intercorrência. — Tanto lindo no sentido de um parto bonito, emotivo, o casal ali e tal, como assim, lindo na questão médica, sem nenhuma intercorrência. — A bebezinha nasceu forte e saudável. O pediatra, os médicos, o pessoal que tava lá, todo mundo foi acabando o seu procedimento e ficou a Julia ali no quarto pra finalizar tudo, higienizar a mãe, explicar ali sobre a amamentação, o trampo da Julia. Julia pegou aquela bebezinha que ela já tinha limpado, já tinha feito as coisinhas de bebezinha ali e foi botar a bebezinha no colo daquela mãe… Foi quando aquela mãe olhou pra Julia e começou a chorar muito. 

Na hora, a Julia assustou, porque, gente, o bebê tá aqui, será que a mãe tá com alguma dor, algum desconforto, né? E ela ficou olhando pra mãe, perguntando: “O que foi? O que eu posso ajudar e tal?” e a moça olhou pra Júlia e disse: “Moça, acho que você não tá lembrando de mim… Há menos de um ano você me entregou a minha neném” e essa história tinha impactado a Júlia no dia, mas depois, até por uma questão de saúde psicológica da pessoa que trabalha na área da saúde, a gente precisa esquecer os casos, né? E foi o que aconteceu… Da cabeça da Júlia, aquilo já tinha sumido. Aí ela falou: “Você entregou a minha neném arrumadinha, bonitinha, mas de um jeito que nenhuma mãe gostaria de receber o seu filho, sem vida. E agora você tá me entregando novamente a minha neném com vida, saudável” e foi aí que a Júlia lembrou e ficou muito emocionada e tal… — Gente… Ai.. —

“É aquela mãe e aquele pai, novinhos”, então ela ficou já grávida na sequência de novo. Os pais tinham tirado uma fotinho da bebezinha falecida no colo ali da mãe. Tava arrumadinha… A Júlia falou que parecia que ela tava dormindo. E elas eram idênticas, iguais assim, né? As coincidências. Aquele primeiro parto foi dia 17/06, o segundo parto foi dia 17/05 do ano seguinte. Ambos os partos foram na parte da tarde, com uma diferença de 40 minutos, quase na mesma hora… Nem era pra Júlia estar naquele parto, era pra colega dela, outra técnica de enfermagem, estar… — Só que, né? Ela tava ali almoçando e a Julia acabou rendendo e fazendo esse parto. — Julia disse que viu ali a foto, né? E viu a bebezinha ao vivo, né? Ela que limpou, preparou tudo, a bebezinha viva, né? Outra bebezinha… E falou que a diferença delas era só o tamanho, porque a primeira nasceu prematura, né? E que isso marcou muito a Júlia, porque assim, isso de perder o bebê acontece, né? Outros plantões isso tinha acontecido com a Júlia, mas nunca dela estar no mesmo hospital… Detalhe, gente: mesma equipe, mesmo médico, mesmo pediatra, e ninguém, assim, lembrando, né? Porque são muitos atendimentos, né? 

E só quem marcou a mãe foi a Julia, porque a Julia preparou ali a bebezinha pra que ela tivesse aquele último momento, né? Então, pensa: mesmo dia, mas de meses diferentes, né? Quase na mesma hora, mesma equipe e uma bebezinha… Agora, ainda bem, um final feliz, bebezinha saudável. Chocada… Julia segue a sua vida profissional aí no hospital e ela lembra com carinho desse casal, dessa bebê e dessa situação que foram muitas coincidências. Então, agora a gente vai ouvir a Julia falar um pouquinho e, na sequência, a gente vai ouvir a Doutora Erdnaxela Fernandes. — E aí, eu quero deixar uma curiosidade aqui: que o nome Erdnaxela é “Alexandre” ao contrário… Eu achei isso muito legal —, supervisora de Enfermagem da CRON, Central de Regulação Obstétrica e Neonatal do município de São Paulo.

[trilha]

Júlia: Oi, meu nome é Julia. Em um dos nossos plantões, nós recebemos uma paciente com descolamento de placenta. Apesar de todo esforço da equipe, infelizmente, a sua bebê nasceu sem vida. Foi muito doloroso presenciar aqueles pais recebendo esse tipo de notícia… A mãe me pediu para arrumar a sua filha e, eu, com todo carinho, coloquei a roupinha, o lacinho, os sapatinhos e levei até ela para que ela pudesse conhecer a sua neném. Saí aquele dia extremamente triste e com a sensação de impotência mesmo. Quase um ano depois, nós recebemos uma paciente em trabalho de parto normal… Foi um parto rápido e nasceu uma bebê forte, uma bebê saudável. Fui colocar a bebê para amamentar e a mãe começou a chorar e ela me reconheceu… Há um ano atrás, eu entreguei a sua filha, mas sem vida… E, de novo eu estava ali, entregando a sua filha, só que viva e saudável. Foi aí que eu reconheci a paciente e eu fiquei muito feliz, muito emocionada. 

Quando eu fui fazer a descrição do parto, eu comecei a ler o prontuário… Foi aí que eu descobri toda essa coincidência: os dois partos aconteceram praticamente no mesmo mês, quase no mesmo horário e a mesma equipe. Saí daquele plantão muito emocionada. Eu presenciei um verdadeiro recomeço… A vida, de alguma forma, devolveu para aquela família, a oportunidade de viver o amor que, infelizmente, foi interrompido. Me senti muito privilegiada de testemunhar esse momento tão especial para essa família. 

Erdnaxela Fernandes: Eu sou a Erdnaxela Fernandes. Os serviços de saúde do SUS oferecem assistência a gestantes de risco habitual e de alto risco. As gestações de alto risco têm uma alta incidência e os profissionais de saúde têm a oportunidade de prestar assistência nos momentos mais incríveis e felizes das famílias, como o nascimento, mas também, infelizmente, podem testemunhar os mais tristes pela perda. Um dos pilares das políticas públicas em apoio ao nascimento seguro, é a regulação de vagas. Ainda no pré-natal, as mulheres já sabem a maternidade de referência para o parto. E, se por algum motivo haja a necessidade de transferência, a central de regulação está preparada para a busca do recurso mais adequado. Atuam na regulação profissionais especializados, médicos e enfermeiros obstetras, empenhados na busca do recurso mais adequado e de acordo com o quadro clínico, resultando em diminuir sofrimentos, riscos e, por que não dizer, a morbimortalidade materno-infantil?

[trilha]

Déia Freitas: O SUS acaba de completar 35 anos de uma trajetória extensa em todo o território nacional, onde a sua abrangência vai muito além de saúde, são milhões de pessoas que vivem no Brasil atendidas com acesso ao maior e mais complexo sistema de saúde pública gratuita do mundo. — Do mundo… — Tem vigilância sanitária, cuidados com PET, saneamento básico, distribuição de vacinas… — Gente, a comida que chega no prato da gente, a fruta que você come, tudo, tudo… O SUS está lá, sabe? — O SUS promove uma saúde de forma universal, equânime — igual para todo mundo — e integral. — Gente, o SUS ele é o nosso bem maior, eu acho, né? A nossa política pública que é mais complexa e que dá muito certo. Eu sou SUSnática, então viva o SUS, eu agradeço demais a UMANI por ter trazido o SUS pra cá, que a gente faça mais histórias sobre o SUS. E é isso, gente… Vamos valorizar o que a gente tem, a gente tem tanta coisa incrível, né? E o SUS, eu acho que é uma das mais incríveis que a gente tem aqui no Brasil. Viva o SUS… SUS, te amo. — Então, é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Alarme é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]