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título: enteada
data de publicação: 15/07/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #enteada
personagens: karina e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeitos sonoros de crianças contentes] Quem está aqui comigo de novo é o podcast “Crônicas de um Cuidado”. — Melhor publi. — O podcast Crônicas de um Cuidado é um spin—off do podcast Mamilos, este agora focado em falar sobre saúde mental. Ele é apresentado pela minha amada Cris Bartis e produzido por ela e pela maravilhosa — e amor da minha vida — Ju Wallauer. Você já se perguntou como você cuida de você? Crônicas de um Cuidado é uma jornada investigativa pra dentro da gente em busca de responder a pergunta: “Como eu cuido de mim?”. Um podcast pra conversar sobre saúde mental além do raso, partindo de múltiplas vivências, apresentando diferentes linhas de tratamento e explorando aí as nuances de viver e conviver com transtornos mentais.

Eu quero indicar pra vocês o episódio “Ansiedade – Aprendendo a tomar chá com seus monstrinhos”, esse é o primeiro episódio do podcast e ele conta a história da Bia, de como ela entendeu o que era o Transtorno de Ansiedade Generalizada e como ela encontrou maneiras de lidar com a doença, e a busca dela por uma melhor qualidade de vida. E a gente também vai ouvir nesse episódio a psicóloga Cecília Dassi, que estuda o assunto e atende muitas pessoas que enfrentam esse transtorno. Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio. O podcast Crônicas de um Cuidado traz sempre um especialista fera pra debater os assuntos e tá realmente, gente, muito bom… E hoje eu vou contar pra vocês a história da Karina. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Karina conheceu um cara muito bacana e começou a namorar esse cara. — Estávamos na pandemia… Ê, Karina… Mas começaram a namorar. — E um namoro, sabe aqueles namoros intensos, assim? Que as pessoas em pouco tempo já pensam em morar junto e nã nã nã? — Não entendo, mas ok. — E aí quando chegou em novembro — então, eles começaram no meio do ano — eles já estavam falando em morar junto. Só que a Karina precisava conhecer ainda a filha do cara… — Que o cara tem uma filhinha de seis anos. — E aí o cara enrolando pra apresentar, disse que ele tem um bom relacionamento com a mãe da criança, só que ela é um pouco ciumenta… — Já achei problemática aí a situação. — E que ela é um pouco ciumenta e nã nã nã, mesmo eles estando separados e nã nã nã, enfim…

E aí chegou o dia — antes do Natal — que a Karina seria apresentada aí pra essa menininha de seis anos. E quando a menininha viu a Karina, a menininha começou a chorar [efeito sonoro de criança chorando] e disse que queria voltar pra casa, que queria a mãe. E quando a Karina foi fazer um carinho na menina, falou: “Ah, vai ficar tudo bem, a gente vai se conhecer com calma e nã nã nã”, a menina deu um chute nela e, tipo, meio que saiu correndo, assim. Aí o pai foi correndo atrás… E foi um chute… [risos] A menina tava… — Eu sei que é errado rir… [risos] — A menina estava com uma espécie de botinha [risos] e a canela da Karina ficou roxa do chute. — É horrível, [risos] mas é engraçado a botinha, enfim… Tem esse detalhe da botinha. —

E aí a Karina ficou horrorizada, né? Mas pensou: “Bom, é a primeira vez que a criancinha tá me vendo, eu sou a namorada do pai dela e tal”… O pai já, quando trouxe a menina de novo pela mão, falou: “Olha, você tem que acostumar com a Karina, ela vai morar com o papai”. — Ai que a criança chorou mais e tal. — Ela começou a xingar a Karina — de nomes que eu nem vou falar aqui — e tudo ali na frente do pai… E a Karina ficou muito chocada, porque a criança foi muito agressiva com ela. E aí a Karina já tinha um contato com a irmã desse cara — do namorado dela — e comentou, falou: “Olha, a bebezinha lá me deu um puta chute na canela… [risos] Me xingou e nã nã nã”. E aí a irmã do cara disse que a mãe da menina que faz ela fazer isso, que fala que é pra ela chutar mesmo, que é pra ela bater mesmo nas namoradas do pai. — Então a gente já tem um histórico aí de uma mãe que está incentivando a filha a bater nas namoradas do pai, né? Essa pessoa péssima aí que é a mãe dessa criança. — 

E aí a Karina ficou em choque, mas falou: “Bom, não… Acho que eu vou conseguir reverter, porque ela tem só seis anos e tal”. Só que toda vez que ela encontrava a criança, a criança batia nela, cuspia nela e xingava a Karina… E tudo isso na frente do pai. E aí a Karina foi ficando aborrecida e falou pro namorado dela, falou: [efeito de voz fina] “Poxa, você tem que repreender ela pelo menos quando ela faz isso comigo… Não é possível. Eu estou apanhando de uma criança de seis anos”. E aí o cara falou pra ela: [efeito de voz grossa] “Ah, mas vamos ter um pouco de paciência, ela vai acostumar com você e nã nã nã”. Só que a coisa ficou tão, assim, ruim que a Karina não pôde passar o Natal com o namorado, porque a criança disse que se ela fosse passar o Natal lá na casa do namorado — com os pais, do namorado, a irmã do namorado, enfim — a criança não ia.

Então aí para a criança ir, a Karina não foi, enfim… E ainda assim — não sei como — Karina ainda estava pensando em morar com esse cara. E agora, no final de janeiro, eles foram morar juntos. — Enfim, a Karina foi morar na casa do cara, né? — Ela morava na casa dos pais. Ela deixou o quarto dela montado… Montado do jeito que era e foi morar com o cara para fazer uma experiência aí pra ver se rola, né? Só que aí a criança ficou mais agressiva. E o que a Karina fez? A Karina chamou esse namorado e falou: [efeito de voz fina] “Olha, é melhor você colocar sua filha na terapia, porque o que a sua ex tá fazendo com ela é uma coisa que vai prejudicar ela bastante, entendeu? Porque ela está sofrendo… Ela me bate e tudo, mas ela está sofrendo também”. E aí, gente, o cara virou pra Karine e falou desse jeito: [efeito de voz grossa] “Você nunca mais ouse chamar a minha filha de maluca”. — Uma pessoa que, né? Não sabe nada de terapia, porque terapia não é pra gente maluca… Enfim, né? —

E aí ele falou isso: [efeito de voz grossa] “Você nunca mais ouse chamar a minha filha de maluca… Você nunca mais ouse dar opinião na educação da minha filha. Quem decide como minha filha vai ser criada, sou eu e a mãe dela”. — Desse jeito, gente… — Aí a Karina falou: [efeito de voz grossa] “Mas quem está apanhando aqui sou eu”. Aí ele virou pra Karina e falou assim: [efeito de voz grossa] “Eu acho que quem precisa de terapia é você, porque você não consegue lidar com uma criança de seis anos. Se alguém tem problema aqui, quem tem problema é você”. — Gente… Na hora eu pegava minha malinha, sabe? — E aí Karina chorou muito, ficou muito magoada com o que ele falou, eles ficaram uns dias ali na mesma casa, sem conversar e depois foi voltando aí a conversa aos poucos. — Eu jamais conversaria. [risos] Jamais. —

E aí a Karina tá assim… Ela tá em dúvida entre voltar pra casa dos pais, — que é o correto, na minha opinião — ou lutar… — Ela usou essa palavra, então eu vou reproduzi-la aqui — “lutar por este amor e essa família”. — Gente, olha, eu vou ser bem sincera pra vocês… A Karina tem 34 anos, então também já passou aí por bastante coisa… Mas você que é jovem que me ouve, eu vou dar um conselho de quem está com 46 anos e já viveu bastante coisa: Não vale a pena, tá? Aquilo que você vê na Sessão da Tarde, nos filmes românticos, de ter um relacionamento péssimo pra no final ser uma coisa felizinha, não vale a pena e às vezes não acontece. Às vezes você tem uma vida péssima com pequenos momentos de alegria. Então, é melhor você ficar sozinha, tá bom? [barulho ao fundo] Meu gato até pulou aqui. Não compensa, tá? Então, assim, você vai ficar nesse relacionamento onde você está apanhando dessa criança, uma criança que não vai fazer terapia porque os pais não querem que ela faça terapia e você vai ficar apanhando dessa criança… Ah, pode melhorar? Pode, mas tá compensando pra você? Daqui a pouco você tem que andar de caneleira dentro de casa, sabe? —

Então, assim, minha opinião, tá? A dúvida dela é: luta por esse amor e aguenta tudo os desaforos do cara, a agressividade da criança porque vai valer a pena? Já te digo: não vai. Essa é a questão dela. Ou volta pra casa dos pais e vai levando esse namoro até morrer o namoro… [risos] Eu te digo, no alto dos meus 46 anos, que nenhum relacionamento péssimo compensa pra no final você ser um pouco felizinha, sabe? Não compensa. Então, se não é legal, se não está legal, gente, larga… Tem tanta pessoa aí no mundo, sabe? Ou se não fica sozinha também, que não é o fim do mundo. Então a minha opinião é essa. Entre as duas opções que você deu aí, entre lutar pra aceitar tudo o que você está passando e que você tá fazendo um test drive na casa do cara ou voltar para a casa dos seus pais? Amiga, faz a sua malinha e vaza, entendeu? Volta pra casa, porque, sabe… Um cara que não te apoia, que deixa a criança te bater, que deixa a criança cuspir na sua cara e fala que você tem que ter paciência, que você tem que saber lidar com isso sem que ele interfira, sem que ele dê uma bronca na filha? — Ah, gente, sinto muito, sabe? —

Não há amor nesse mundo que me faça ficar com um cara desse, entendeu? — Não há amor nesse mundo. — E a criança também não é sua filha, a criança tem mãe… Então não pensa que, “ah, lá na frente, aquela criança que te cuspiu na cara vai ser boazinha com você, vai ser melhor com você”… Pode acontecer? Pode, mas pode também não acontecer. Você vai viver esse inferno pra que? Que já tá ruim, já tá um inferno, já tem dia que você me falou que você acorda chorando quando a criança está lá, entendeu? Então, assim, isso também está prejudicando a criança, mas não é um problema seu. Os pais estão lidando de maneira péssima com isso e não é problema seu, essa é a real. Então, essa coisa de “ah, vou salvar o relacionamento”, “vamos salvar este amor”, sabe? Pra mim é não. — Hoje é não, Karina. [risos] — A Karina ainda está, sabe, fortalecida e lúcida pra tomar uma decisão, mas daqui a pouco a coisa vai escalando, sabe? E você não consegue sair disso… Então eu acho que agora é a hora, sabe? Pega suas coisinhas e, ó, tic, tic tic, volta pra sua casinha… Vai por mim.

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, meu nome é Paloma, eu falo de Belo Horizonte. E, Karina, eu sou casada com um rapaz que tem uma filha também de 6 anos e uma coisa que a gente combinou desde o princípio foi: respeito. Respeito mútuo. Eu não queria ser mãe e falei pra ele isso desde o começo. Ele respeitou muito esse processo. Meu processo pra aceitar a convivência com ela sempre foi um pouco mais difícil pela educação que ela tem, mas ele também sempre exigiu respeito por parte dela, já que eu sempre respeitei a individualidade dela como criança. Então, Karina, busque respeito, esse homem não te merece, cai fora, isso não vai mudar. Você merece muito mais e você vai encontrar, cuidado com isso, não fique apegada.

Assinante 2: Oi, pessoal, tudo bem? Me chamo Isadora, sou de São Paulo, sou psicóloga e, olha… Essa menina pode até precisar sim de terapia, mas os pais precisam muito mais não é você que vai consertar o cara. Então, o meu conselho é: foge dessa. Não se fica em relacionamento com a expectativa de que o outro vá mudar, porque isso não tá no seu alcance. Se você não pode conviver com a filha dele sendo assim e ele não tem nenhum interesse que ela melhore, que a educação seja diferente, não é você que vai mudar isso. Desejo tudo de bom e que você tenha forças pra sair desse relacionamento, ou que a sorte te encontre. É isso… Abraços.

[trilha]

Déia Freitas: Ouça o podcast Crônicas de um Cuidado gratuitamente no Gshow, Globoplay e em todas as plataformas de áudio. Novos episódios toda quarta-feira.  Um beijo, gente, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.