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título: enterro
data de publicação: 25/09/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #enterro
personagens: cássia e alberto

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… E hoje, [risos] a história é a história da Cássia e do Alberto. 

[trilha]

É um relacionamento muito recente, muito mesmo. Eles estão juntos desde o ano passado, assim, outubro. Eles não passaram as festas juntos, porque assim, eles se conheceram no final de outubro, e aí novembro eles ficaram conversando por WhatsApp, papinho vai, papinho vem, trocaram uns nudes, e aí em dezembro eles saíram pela primeira vez. E ficaram naquela enrolação, né, de começo de namoro e depois das festas, depois do começo do ano, o Alberto pediu a Cássia em namoro, então eles estão namorando desde janeiro, então é tudo bem recente. 

E aí [risos] algumas questões. A Cássia quando ela conheceu o Alberto, foi um encontro, assim, inusitado. Ela estava enterrando a avó dela, não era uma avó que ela tinha assim, muita proximidade, era uma avó por parte de pai, não era tão ligada nela, então ela não tinha tanto contato, mas ela foi no velório logo cedo, né, enterrar a vozinha dela às quatro horas da tarde. O pai dela já morreu também, então estava só os tios dela lá e ela ficou por ali, né, porque a mãe dela estava lá com os cunhados, porque foi a sogra da mãe dela que morreu, a avó dela…

E ela ficou por ali, velório você sabe como é, né? Você fica um pouco ali dentro, aí você sai, dá uma andada e ela não conhecia ninguém por ali direito, não pra ficar jogando conversa fora. E aí lá no velório… Porque são várias salas, né, então tem outras pessoas sendo veladas, e aí tem uma área em comum, com lanchonete nã nã nã… E ela ali na área comum, às vezes, que ela passava, ela via um cara, e um cara bonitão assim… E ela passava, o cara olhava para ela, ela olhava para o cara, mas aquele clima de velório, de enterro, ninguém vai ficar paquerando, né? Mas ela falou: “Hum, que gato”, e passou.

Ali pelo meio-dia e pouco, uma hora, acho que o velório que o cara estava ia já para enterrar, porque o dela era só às quatro. O cara fez um papelzinho com o telefone dele e entregou para Cássia, e a Cássia “Meu Deus, gente, no velório?”, mas ela ficou feliz porque o cara era gato e ela pegou aquele papelzinho, guardou na bolsa dela. Aí teve o enterro da avó dela, passou. E ela falou: “Puts”, ela ficou com aquele cara na cabeça, assim, ela achou ele muito gato, e ela ficou “Chamar ele no WhatsApp no dia seguinte? É complicado, né?”, e aí ela deu umas duas semanas e chamou o Alberto no WhatsApp. E eles começaram a conversar, aquela coisa, o clima, e aí eles falaram sobre tudo assim, falaram sobre as carreiras e tal, o Alberto tem uma filha. Mas, assim gente, uma coisa muito, sei lá… — Mas só que, né, vocês vão entender a minha, a minha, as minhas reticências… —

E aí eles conversaram, como eu disse, eles trocaram nudes, a coisa esquentou e eles se encontraram. E assim, deu liga total, liga total… A Cássia ficou completamente apaixonada, de quatro por ele, mesmo. E eles começaram a sair, mas aquela coisa, não tinha nada muito sério, não passaram as festas juntos, eu até entendo, é uma coisa mais de família, né? Vocês acabaram de se conhecer. Em Janeiro ele pediu ela em namoro e aí ela falou: “Bom, agora a gente tá namorando sério mesmo, vou apresentar ele para minha mãe” — Aquela coisa de encontro de família —, e ele foi e, nossa, super fofo. A mãe da Cássia amou ele, então ele era super bem-vindo na casa. Só a Cássia e a mãe, tudo perfeito. 

E a Cássia queria muito conhecer a filha dele e a família dele, e ele nunca que apresentava, falava: “Não, então, a menina está nova ainda, tem doze anos. Vamos deixar mais para frente”, enrolava. Só que assim, o Alberto tinha uma coisa. Sabe cara que é muito, assim, sedutor? Então, ao mesmo tempo que ele era muito galanteador com a Cássia, ela notava que se eles iam num restaurante, em qualquer lugar com as amigas dela, ele sempre flertava. Não que ela acha que ele fosse fazer alguma coisa, né, mas ele sempre dava uma flertadinha assim. Aí, gente, chegando perto do carnaval agora, o Alberto sumiu… Sumiu e ela mandava mensagem, assim, foi ficando puta da vida, né, e o cara não respondia. 

Gente, na quarta-feira de cinzas… Minto, nem na quarta-feira de cinzas, na quinta-feira ele mandou mensagem e falou que não tinha procurado ela todos esses dias porque a filha dele estava internada — Quem que não consegue mandar uma mensagem, gente? —, óbvio que ele estava pulando carnaval, né? E a Cássia não é besta também, e só constatou que devia ser isso mesmo, que ele estava pulando carnaval em algum lugar ou viajou e não falou nada para ela. E aí eles quebraram o pau, ela brigou e tal, e ela acabou perdoando. Nessa de perdoar, eles voltaram e tal e, numa conversa que eles tiveram, ela falou: “Bom, então assim, eu quero conhecer sua filha, eu quero conhecer sua família. Se a gente vai ficar junto, então a gente vai ficar junto, eu tô achando tudo muito estranho.”

E aí galera, — senta — olha o quê que o Alberto falou para ela: “Então, Cássia, você lembra aquele velório que a gente se conheceu e tal?”, ela falou: “Lógico que lembro, né? É até uma história engraçada a gente contar que a gente se conheceu no velório e tal”, “Aquele velório era da minha esposa.” — Oi? — Gente, o cara deu o telefone para ela no velório da esposa. A esposa dele num caixão e ele deu o telefone para ela. A Cássia ficou sem acreditar, porque assim, não é uma coisa que você vai omitir se você tá conhecendo uma pessoa… E a Cássia falou que até lembra de ter comentado com ele que era o velório da avó e ele não ter falado nada assim, então ela achou que ele tinha ido, sei lá, num velório de um amigo ou de um parente distante, porque não foi uma coisa que ele destacou, entendeu?

Como que alguém esquece de falar esse detalhe: que o velório que ele conheceu a atual namorada foi o velório da esposa? — E é óbvio que é por isso que ele não quer apresentar ela para ninguém, muito menos para filha, porque a esposa dele acabou de morrer, nem esfriou no caixão. — Não é muito estranho? Ela me escreveu, porque assim, esse lance de ele ser muito paquerador, muito cheio de charme com as pessoas já era uma coisa que incomodava ela, apesar dela ser muito apaixonada. E aí agora teve esse lance da esposa dele, quer dizer, o cara estava distribuindo telefoninho no velório da esposa — Gente, [risos] não dá, né? —

E aí a questão dela é: “Ai, Déia, você acha que ele é uma má pessoa?” [falando e rindo ao mesmo tempo] — Não sei se ele é uma má pessoa — Eu não sei dizer isso, mas que não é uma coisa bacana você trocar telefone e paquerar no velório da sua esposa, não é, né, gente? Não é uma coisa bacana de se fazer. Então aí agora ela tem essa dúvida, que pra mim já tá [risos] super esclarecida, né? Se o cara não teve consideração com a esposa dele que ele estava há treze anos, como que ele vai ter consideração por você agora? Sei lá. Que ainda a Cássia perguntou, né, como que tinha sido e ela parece que ela teve um derrame lá, um aneurisma, alguma coisa assim e morreu.

Então quer dizer, além de tudo não foi uma doença que ele estava preparado, foi repentino, então não era para o cara tá em choque? Para o cara estar mal? E ele estava paquerando a Cássia e deu o telefone para Cássia no velório da esposa? Aí ela queria saber de vocês se ela investe nesse relacionamento ou se ela termina. — Ai, gente, para mim não dá. Me poupe, Cássia. — Não tem a menor condição esse Alberto, já deu um sumiço no carnaval e depois vem falar de história de filha internada? Ele te paquerou no velório da esposa, a esposa dele, a ESPOSA dele, a ESPOSA dele, entendeu? Faleceu…

Não esfriou ainda, tá no umbral ainda, sei lá, não foi para o céu ainda [risos], né? E o Alberto já estava refazendo a vida, e ainda a Cássia acha que ele tem essa vibe mulherengo… Deve ser mulherengo mesmo. Ai, não sei, já estou julgando o Alberto, não dá para mim, não dá. Mas ela disse que ela é muito, muito, muito apaixonada por ele e queria, sei lá, que ele fosse uma pessoa boa [risos]. Então, né, tem que ver o que você acha que é uma pessoa boa, porque para mim uma pessoa que paquera no velório da esposa não é a pessoa mais incrível do planeta, né? Tem um probleminha aí para mim.

Mas eu vou deixar para vocês, por favor aí, aproveitar que esse relacionamento da Cássia tá no começo, então se tiver que sofrer e terminar, por mim, já separa já, do que ficar nessa, né? O cara te deu o telefone dele no velório da esposa, no velório… A esposa deitada lá num caixão, sei lá, há cinco metros de você e ele te dando o telefone em escondido, é complicado, né? Ainda perguntei pra Cássia — Porque eu quando vou num velório, eu dou sempre uma olhadinha nos outros velórios assim, não sei porque também, para ver o morto? — Se ela tinha dado uma olhada, né, para ver os outros velórios. Mas não, a Cássia só foi no velório da avó dela e não olhou nenhum outro velório, porque se ela tivesse dado uma olhadinha, ela podia ter até visto a filha dele, né, ter visto a mulher dele no caixão e isso criaria um impacto, eu acho, que talvez seria bom para Cássia se separar desse cara.

Olha, não é um relacionamento que eu apoio e vocês sabem que eu sou SUPER tolerante, né? Super vejo os dois lados. Mas, gente, não tem como, não tem como. Velório? Ele foi enterrar a mulher uma hora da tarde e antes deixou o telefoninho dele com a Cássia? Quer dizer, vida que segue na hora. Detalhe: ele nem tinha enterrado a mulher, porque ele deu o telefone e foi enterrar a mulher. Ai, se eu sou a mulher dele eu levantava daquele caixão, assombrava ele. [risos]

Mas é isso, gente, então deixem aí as suas opiniões, os seus conselhos pra Cássia. Pra mim é furada, porque além do cara ter dado toda essa volta de não ter falado antes que era o velório da esposa dele, agora tem isso, porque também ela não sabe quando que ela vai conseguir conhecer a filha dele, porque a filha dele ainda tá mal, né, a mãe morreu tem nem seis meses. Então ele não quer apresentar agora, com razão. Mas e aí, né? Não sei, gente, o que vocês acham? Deixem seus recados lá no Telegram pra Cássia. [risos] Eu, por mim: tchau, Alberto. Já odeio. Um beijo e até amanhã.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.