título: espelho
data de publicação: 12/10/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #espelho
personagens: mário e eunice
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E cheguei pra mais uma história do nosso quadro — menos ouvido, porque vocês são medrosos, o nosso quadro — Luz Acesa. E hoje eu vou contar pra vocês a história do Mário e da Eunice. — É uma história que eu já contei lá no Twitter antes até do podcast existir, e é essa história que eu trago pra vocês hoje. — Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Essa história se passa em 1972, no Rio de Janeiro, e a gente vai começar falando do casamento de Mário e Eunice. Bom, o casamento teve um festão, muitos presentes. Mário, um advogado, Eunice, uma professora, eles ali na classe média carioca, tudo lindo… Apartamento recém financiado e, depois da lua de mel, eles foram abrir aí uns últimos presentes que eles receberam ali no dia da festa. E, entre os presentes tinha um espelho enorme, uma moldura antiga, maravilhosa, oval, assim… E por ser grande esse espelho, ele não estava embrulhado em papel, ele veio embrulhado num tecido, um tecido também muito bonito, tudo muito chique. E junto tinha um cartãozinho de um antiquário. E nesse cartão não tinha mais nada, nem o nome de quem enviou o presente, nem nada… Nenhum parabéns, nada… Só tinha ali o cartãozinho do antiquário.
E como era um espelho, assim, muito lindo, o casal resolveu botar no corredor do apartamento, né? Então, eles acharam ali um aparador, assim, vistoso pra botar embaixo e tal, pra dar bastante destaque no espelho. E aquele tecido bonito que veio embrulhado no espelho, a Eunice dobrou e botou num saquinho e guardou num baú junto que… — Ela tinha as peças ali de enxovais, as peças mais chiques e ela botou esse saquinho ali no mesmo baú, um baú que ficava no pé ali da cama do casal. — E, logo na primeira noite — que esse espelho foi pendurado — o Mário acordou assustado de madrugada, com um barulho de coisas caindo… E ele foi até o corredor para olhar e, uma das bonequinhas de enfeite que estavam no aparador, tava no chão. Mas o mais curioso é que esse bibelôzinho… — Sabe quando alguma coisa cai no chão, mesmo sendo de louça, ela pode cair, trincar, sei lá, e quebrar um pedaço, mas essa bonequinha estava esmigalhada no chão assim, sabe? — Parecia que alguém realmente tinha pisado no bonequinha.
Mas o Mário não achou nada demais, tava sonolento ali e voltou pra cama, deixou pra recolher os cacos do enfeitinho ali na manhã seguinte. Quando ele acordou, a Eunice já tinha levantado e estava catando todos os enfeites do chão. Além daquele que parecia pisado, todos os outros enfeitinhos que estavam no aparador, eles estavam no chão. [efeito sonoro de tensão] Só que o casal nem encanou achou que fosse, sei lá, um desnível do aparador… — Gente, como assim? — E o Mário ficou pra ver aquilo depois… Se ele ia botar um calço ali, enfim… Nã nã nã, passou… Ambos saíram pra trabalhar, a Eunice dava aulas numa escola — pertinho ali de onde eles moravam — e ela almoçava em casa. E, na hora do almoço, ela chegou em casa, [efeito sonoro de botão de fogão elétrico sendo apertado] foi pra cozinha preparar ali alguma coisa pra comer, quando ela ouviu um barulhão vindo do quarto… [efeito sonoro de algo caindo]
A Eunice correu pra ver o que estava acontecendo e encontrou o baú — aquele baú do enxoval que ela botou o pano que veio no espelho — tombado. E aquele pano bonito — que tava embrulhado o espelho — ele estava como se tivesse sido arrancado do baú e ele estava metade puxado quase até a metade do corredor ali, perto do aparador de onde estava o espelho. E, na hora, a Eunice sentiu um mal estar e se sentiu mal assim… E foi sentar na cama. E, conforme ela sentou na cama, a Eunice teve a impressão, assim, de ter visto certinho a marca afundada no colchão, como se estivesse alguém muito alto e muito pesado deitado no colchão do lado ali onde Mário dormia. [efeito sonoro de tensão] Nessa hora, Eunice perdeu os sentidos e, quando ela acordou, ela estava sentada no corredor com aquele pano do espelho enrolado nos pés dela… Mas tão forte que os tornozelos estavam até marcados. A Eunice, desesperada, começou a gritar, algum vizinho chamou o zelador que tinha ali a chave do apartamento, abriram uma porta e conseguiram socorrer aí a Eunice.
Ela, muito traumatizada, foi pra casa da mãe e mandou avisar o Mário que ela não voltava mais para aquele apartamento de jeito nenhum. Só que o Mário foi lá e acabou convencendo a Eunice que, sei lá, ela podia estar cansada da lua de mel e tanta coisa e cochilou e sonhou… Enfim, né? E eles voltaram pro apartamento. Só que agora, a Eunice passava o tempo toda grudada no Mário. Assim, até a hora de dormir… E ela não ia mais almoçar em casa sozinha, de jeito nenhum. Ela só ia pro apartamento quando ela estava com o Mário ou com a mãe dela. Até que um dia, o Mário levantou pra ir ao banheiro no meio da noite… [efeito sonoro de descarga] Ele foi lá, fez o seu xixi e resolveu tomar uma água. Quando o Mário passou na frente do espelho, naquele corredor escuro, dentro do espelho ele viu a imagem de uma vela acesa. Sem ter como explicar aquilo, porque o Mário não acreditava em nada, né? Ele chegou mais perto para ver melhor, achando que, sei lá, estava alucinando, sei lá, qualquer coisa… E o Mário viu o rosto de um homem, assim, um homem jovem, com a cara muito, muito bravo, assim, de muita raiva…
Só que tinha uma coisa: No lugar dos olhos tinha um buraco. [efeito sonoro de tensão] E, assim, um buraco muito preto, muito fundo e que chegava a juntar os dois olhos num buraco só. E o Mário atônito… Porque ele não acreditava em nada, ele bateu a mão ali no interruptor pra ver aquilo com a luz acesa e a figura do espelho sumiu. O Mário resolveu não contar isso pra Eunice — que já vivia apavorada no apartamento — e ela queria mudar de lá de qualquer jeito. E o Mário começou a ver esse jovem, gente, muito alto e muito forte, parado no corredor da casa… E às vezes até saindo pelo espelho. Às vezes o Mário acordava no meio da noite e via esse homem, esse jovem raivoso, sentado no baú, no pé da cama e sempre com essa cara aí de raiva e sem os olhos, assim, perambulando ali pela casa. E essas visões do Mário duraram ali uns dez dias, até o dia que a Eunice sentiu um cheiro forte no quarto, mas era um cheiro, assim, de podre e ela começou a procurar, falou: “Gente, será que tinha um rato aqui e o rato morreu?”, enfim… E procurou e viu que o cheiro estava vindo do baú.
Quando ela abriu o baú, todas aquelas peças de enxoval que ela tinha, que eram de luxo e tal, tudo muito chique, estava tudo podre, gente… As peças estavam, assim, escuras, puídas e com um cheiro de podre. [efeito sonoro de tensão] E aí ela começou a tirar tudo do baú ali pra botar num saco de lixo… Ela falou: “Sei lá o que aconteceu também” e, quando ela passou pra pegar esse saco de lixo, ela viu esse cara que o Mário já via, saindo do espelho. — Só que no caso do Mário, o Mário conseguia vê—lo, mas o cara não fazia nada com ele. — Só que quando a Eunice viu esse cara, ele veio pra cima dela muito rápido, como se fosse realmente atacar, né? E aí ela não viu mais nada, desmaiou… E quando ela acordou já tinha um monte de vizinho dentro do apartamento, porque eles começaram a ouvir um monte de barulho. — E aí ela olhou em volta, gente… — E a cristaleira da sala — que era um móvel pesadíssimo — estava caída no chão… Toda a louça da casa deles tava quebrada, a casa tava uma bagunça, como se alguém tivesse tirado tudo do lugar… E tudo isso aconteceu enquanto ela estava ali, desmaiada e tal e os vizinhos só ouvindo o barulho.
E aí o casal não aguentou mais ficar ali, foi morar com a mãe da Eunice. E o Mário pegou aquele tecido, pegou o espelho, embrulhou e resolveu levar o espelho lá pro antiquário. — Porque tinha vindo de lá, né? — Pra tentar primeiro saber quem tinha mandado aquele presente, quem tinha comprado e, segundo, pra deixar lá de volta. Só que quando ele chegou lá, o espelho nem era de lá… Nenhum convidado tinha comprado o espelho de lá, porque o cara do antiquário nunca nem tinha visto aquele espelho. Só que era um espelho muito bonito e o cara do antiquário falou: “Bom, eu nunca vi esse espelho, ele não é daqui, mas se você quiser me vender, tudo bem. Eu compro, né?” e o Mário acabou negociando o espelho lá no antiquário mesmo e ficou por lá. — Mesmo sem o espelho, o casal não voltou mais pro apartamento recém comprado. Eles acabaram alugando e, depois de uns meses, vocês não vão acreditar… — Saiu no jornal que tinha acontecido um curto na fiação do antiquário e rolou um incêndio. E, no dia seguinte depois o rescaldo e tal, que o imóvel estava interditado, o dono do antiquário resolveu ir lá com um funcionário pra ver se tinha sobrado alguma coisa, pra ele tirar o que tinha sobrado de lá… Não era para ele ter entrado lá, ele entrou e o telhado desabou e acabou matando aí esse dono do antiquário e o funcionário.
A pessoa que me escreveu essa história foi o filho do Mário, e a questão era: Será que foi uma coincidência essas duas mortes no antiquário? Ou será que tem alguma coisa a ver com o espelho? Isso a gente nunca vai saber, né? Nem se o espelho sobreviveu ao incêndio… A gente também não tem essa informação. Então, essa é a história aí de um casal que ganhou um presente… — E Deus me livre, né? —
[trilha]Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é Chérie, de São Paulo. Escuto com muita frequência o Luz Acesa, por mais que eu tenha medo. [risos] E eu sou bruxa, né? Como eu estudo a questão de magia e tudo mais, o espelho ele é um instrumento mágico. A gente pode utilizá—lo como portal. Então, possivelmente, esse espírito ficou preso nesse espelho e ele atravessa pro outro lado. Então, quem sabe destruindo esse espelho, ele não teria mais acesso a qualquer lugar onde ele estivesse fisicamente. E sim, eu tenho praticamente certeza que o incidente no antiquário foi sim por conta do espelho. Eu teria tentado resolver antes de passar pra frente essa situação.
Assinante 2: Oi, galera do Não Inviabilize, aqui é Fiama de São Luiz do Maranhão, e essa história me deixou assustada, claro, como sempre. Mas eu fiquei com muitas pulgas atrás da orelha. Qual a origem desse espelho? O que é que tem dentro desse espelho? Será que é um espírito maligno? Será que é um demônio daqueles bíblicos que há séculos e séculos está lá preso dentro desse espelho e deve fazer de tudo para deixar quem possui esse espelho louco pra tentar quebrar ele e sair será? Qual a origem dele, de onde é que veio, como é que foi… Quem entregou esse espelho? Nossa, várias pulguinhas atrás da minha orelha, mas fiquei bem assustada, é uma história bem bizarra.
[trilha]Déia Freitas: Bom, [risos] eu vou ficando por aqui. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]