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título: espiã
data de publicação: 01/04/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #espia
personagens: milena e uma moça

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está patrocinando este episódio é o Telecine. — Telecine por quem eu tenho todo um amor especial, porque foi aí o primeiro publi do podcast. — E o Telecine está aqui hoje para falar do movimento “Mulheres que fazem cinema”, que é uma iniciativa que faz parte do Telecine desde 2018. O objetivo desse movimento é dar voz a mulheres reais com foco nas desigualdades da atuação feminina na indústria audiovisual, aliando aí a especialidade do Telecine em cinema através de curadoria, conteúdo e também destacando talentos femininos que sempre estiveram presentes no Telecine. 

O Telecine acredita que mulheres que fazem cinema inspiram outras mulheres e, agora em 2022, o Telecine vai além, oferecendo apoio na profissionalização de mulheres que estão iniciando no mercado, apoiando a formação de mulheres no audiovisual e em parceria com o Cinema Nosso. Eu vou deixar o link com todas as infos aqui na descrição do episódio, é muito massa aí essa iniciativa do Telecine. — Telecine que eu amo, meu clientinho… — E hoje eu vou contar para vocês a história da Milena. — Ê, Milena. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Milena ela está namorando há quase sete meses, então, assim, um namoro que começou aí na pandemia, né, Milena? — Ê, Milena… — E aí ela conheceu aí essa moça num aplicativo de relacionamento [efeito sonoro de notificação de celular] e elas conversaram poucos dias, assim, uns dois ou três dias, já se encontraram e o namoro começou. E o namoro começou meio que sério já, assim, a Milena meio que ficou apaixonadinha, a moça também e a coisa foi rolando… Chegou ali pra abril, a Milena notou uma coisa estranha, assim, por exemplo… Se ela falasse pra uma amiga: “ai, amiga, sei lá, hoje eu estou com vontade de comer lasanha”, acontecia que naquela semana a namorada de Milena fazia lasanha… E à Milena ficava: “Nossa, meu Deus, que sintonia, né? Como a gente está integrada, nós duas… Eu penso uma coisa e ela capta isso e tal”. 

E muitas coisas foram acontecendo nesse sentido, né? De que a Milena, sei lá, tinha uma vontade ou um aborrecimento, qualquer coisa, e sempre parecia que essa namorada captava as coisas. E uma vez comentando com uma outra amiga, a Milena falou: “Nossa, minha namorada é sensacional, a gente se resolve muito rápido, até quando a gente discute, mas também tem um lado bom que ela sempre adivinha as coisas que eu quero, parece que ela está dentro da minha cabeça e sabe tudo o que eu estou pensando e nã nã nã…” e foi falando, né? Essa amiga ficou olhando para ela assim e falou: “Então, Milena, eu vou te falar um negócio que talvez isso você não acredite, mas tá com cara”. E aí a Milena falou: “Nossa, né? O que será? Fala…”, ela falou: “Olha, eu acho que a sua namorada botou algum aplicativo espião no seu celular”. 

E, assim, Milena ficou até revoltada… Falou: “O que? Meu amorzinho? Jamais faria”… — “Jamais faria, não, não, não, não… Não, imagina… Você não acredita em ninguém, que nã nã nã…” — Deu o maior sermão na amiga dela e passou, né? Só que aquela pulguinha atrás da orelha ficou. E aí Milena deu uma pesquisada ali na internet e tal, mas continuou achando a ideia muito absurda, né? E aí ela resolveu fazer um teste pra ver se isso era verdade ou não… E ela fez um texto falando muito mal da namorada. — Não era algo real, ela estava fazendo um teste… — [efeito sonoro de teclado de celular] Com coisas muito específicas e mandou pra uma amiga… Assim que a amiga recebeu a mensagem, a amiga respondeu: “Nossa, que isso? Não entendi nada” e ficou por isso mesmo… Pois no mesmo dia, — tipo, sei lá, uma hora depois — a namorada dela ligou… Assim, como quem não quer nada… 

E falou: “Milena, tá tudo bem? Tá tudo bem entre a gente?” e aí a Milena já ficou esperta, né? E Milena falou: “Ué, não sei… Tá tudo bem?” e aí essa moça foi meio que tentando pescar as coisas que a Milena tinha falado naquela mensagem… — Então era verdade. — De alguma forma, essa moça conseguiu colocar um aplicativo espião no telefone da Milena. E aí a Milena na hora falou pra ela: “Então, sabe o que tá acontecendo? Você colocou um aplicativo espião no meu celular”. E aí a moça ficou desconcertada e falou: “Ah, agora não posso falar” e desligou. E a Milena ficou em choque… — Porque, assim, ela jogou um verde, né? A amiga plantou a desconfiança, ela fez o teste, a namorada caiu no teste… Só que ainda a Milena custava a acreditar, né? Porque, poxa… É uma coisa séria, né? — 

E aí depois de ali uns 15 minutos, a moça ligou para ela chorando e pediu desculpas [efeito sonoro de pessoa chorando] e falou que só tinha feito isso para conhecer a Milena melhor, que ela só conseguia ver o WhatsApp, né? E que era só a Milena excluir o WhatsApp e voltar que saía o espião e tal, e aí a Milena fez isso, né? — Desinstalou o WhatsApp e voltou de novo o aplicativo. — Mas ficou na dúvida, né? — Eu também ficaria. — Aí alguém orientou ela a formatar o celular de novo. — Tipo, “salva suas coisas e tal e formata”. — e foi o que ela fez. Passou mais um tempo… Tipo, sei lá, mais uns dois meses, ela tava mexendo, dessa vez no computador, e sabe quando… — Eu acho que é acesso remoto que chama isso, quando, tipo, a setinha mexe sozinha, sei lá… — E começou a acontecer coisas nesse sentido, assim… Às vezes a luzinha da câmera, às vezes o mousezinho… 

E Milena não queria acreditar, porque, assim, era um namoro tão bacana, né? Não tinha porque essa moça fazer isso, né? [efeito sonoro de pessoa chorando] De novo elas conversaram, a moça chorou, pediu desculpa e nã nã nã e Milena já com muito, muito, muito pé atrás falou pra ela: “Olha, não vai dar, não vai dar pra gente continuar… Você não acredita em mim, você tá me espionando”… — Enfim, né? Tiveram uma conversa dura lá e a moça mais chorava do que falava e terminaram. E aí, de novo, lá foi Milena formatar o computador… Mais um tempo se passou e essa moça meio que mandando e-mail ou mandando mensagem, pedindo perdão… E aí Milena resolveu dar uma outra chance. — Olha, eu não daria, né? Não daria… Mas Milena deu essa chance, elas voltaram aí a namorar, né? — 

E agora chegamos ao início do mês passado… Tem uma amiga da Milena que é muito amiga e mora no mesmo prédio que a Milena, então elas frequentam, assim, uma o apartamento da outra, e aí as duas estavam lá conversando, chegou essa namorada da Milena, falou “oi”, “oi, “oi” e ela estava mexendo no celular, aí ela falou: “Ah, eu vou no banheiro, né?” e botou ali as coisas dela em cima do sofá. A Milena e a amiga estavam conversando ali no sofá, e aí a Milena falou: “Ah não, né? As coisas dela aqui no sofá e tal, vou pôr ali na cadeira”, sei lá, tipo, assim, parece inadequado. — Por que ela colocou todas as coisas aqui, né? — E aí quando a Milena foi pegar as coisas dessa moça para colocar ali na mesa, ela viu que a moça tinha deixado o celular gravando… —Sabe quando você deixa… [risos] Você abre o gravador do celular e deixa ali gravando? — 

Se você não está fazendo uma entrevista, nada, por que você faria isso? — Seria pra escutar a conversa das duas, não é? — E aí a Milena ficou incrédula, disfarçou, — porque ela não quis ali contar na frente da amiga — mas deixou gravando, só tirou de lugar. E aí continuou conversando com a amiga e, assim, deixou o assunto ir morrendo pra amiga, tipo, se tocar e ir para casa, né? — Tipo, chegou a minha namorada e tal. — E aí quando a amiga foi pra casa… — E, assim, a moça não saía do banheiro jamais, então quer dizer, acho que ela estava esperando gravar mais, sei lá, né? Tipo, “o que elas vão falar enquanto eu não estou junto?”, né? E aí quando ela deve ter escutado a porta abrir, alguém sair, ela saiu do banheiro e aí a Milena pegou o celular que ainda estava gravando e falou: “Ó, se você quiser deixar gravando, essa vai ser a nossa última conversa”. 

E aí a moça chorou de novo e falou: “Não, pelo amor de Deus” e nã nã nã e a Milena mais uma vez perdoou, mas agora está com um pé atrás. Ô, Milena… — Ô, Milena… — E ela está escrevendo pra a gente, porque assim, ela queria entender por que a moça faz isso, porque quando ela pergunta ela só fala que “ah, porque eu quero saber tudo da sua vida e quero ficar perto de você”. — Gente, quanto sinais vermelhos tem aí, né? Nessa relação… Só nessa fala da moça, né? — Gente, continuar um relacionamento desse pra mim é não. Vocês já sabem, né? Eu não tenho nada de bom pra dizer, assim, não acho nem que isso aí vai evoluir pra uma coisa boa. Então, a Milena diz que gosta dela e que não entende porque ela faz isso e não consegue achar isso tão grave. — Isso pra mim é muito grave. — Então eu não tenho nenhum, nenhum conselho para dar… Tenho nada pra falar, assim, que seja bom para você em relação a isso, viu, Milena? 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, pessoal, oi, Déia, aqui é a Paula, eu falo de Florianópolis. Milena, antes de mais nada: faça um B.O., dá para fazer online. Esse B.O. você registra as datas que você sabe que a sua namorada entrou no seu celular, entrou no seu computador… Porque, apesar de ela provavelmente não ter entrado para acessar seus dados pessoais, ela pode ter esses dados e ela pode se passar por você. Da mesma forma que quando a gente tem um documento perdido ou roubado a gente vai e faz um B.O. pra evitar que pessoas usem as nossas informações pessoais pra fazer uma série de contravenções, você também tem que fazer isso porque você teve seus dados invadidos online. Então faça isso para você se prevenir de dores de cabeça futuras. Isso vai te ajudar caso ela queira, de alguma forma, te prejudicar mais para frente usando as informações que ela tem. Beije boa sorte. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Adriely do Rio de Janeiro. E, Milena, eu já estive na posição de me relacionar com alguém que me espionava e, no meu caso, eu acabei descobrindo que tudo aquilo que ele me acusava de fazer “ah, você pode estar me traindo, eu quero saber com quem você está falando, quero saber por onde você anda e nã nã nã”, ele estava tão desconfiado porque, na verdade, ele desconfiava que eu pudesse ser igual a ele… Porque quando a gente não estava próximo ele me traía, ele tinha conversas de cunho sexual com outras pessoas, ele era infiel comigo e ele me pedia por ele mesmo, né? Então eu acho que você tem que ficar atentas se não é isso que está te acontecendo. Uma outra hipótese pode ser essa mulher ser traumatizada, ela pode ter se relacionado com alguém que ela confiou muito e essa pessoa decepcionou ela de uma forma, assim, absurda… Sendo que você não precisa ser psicóloga dela, isso é uma questão que ela tem que resolver com ela mesma, procurar ajuda profissional e seguir a vida, sabe? Isso vai atrapalhar o seu relacionamento e você vai entrar num relacionamento abusivo e você com certeza não merece isso. Pensa bem aí, um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Valeu, Telecine, pela parceria. Eu vou deixar também aqui na descrição do episódio o link com uma lista de produções dirigidas, roteirizadas e protagonizadas por mulheres pra vocês assistirem lá no Telecine. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.