título: estágio
data de publicação: 14/11/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #estagio
personagens: jader e raquel
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Bom, a história de hoje é do Jader e da Raquel. Eles são de Minas e é o Jader que me conta a história.
[trilha]O Jader conheceu a Raquel compartilhando um táxi por aplicativo, sabe esses que vai mais de uma pessoa, tipo um mini ônibus? [risos] — Então… — ele pegou uma corrida dessa, era ele e a Raquel, e ele seria o próximo a descer, mas aí deu um problema ela ia descer antes, era longe e eles acabaram conversando e trocando telefone dentro desse carro. E depois de uns dias o Jader quis ligar pra ela, tentou e não conseguiu telefonar. — Quem telefona também, né? Podia ter mandado uma mensagem. — Adicionou ela lá no WhatsApp e chamou, aí passou mais um dia e ela respondeu. [efeito sonoro de mensagem enviada/recebida] A Raquel com vinte e dois anos, estudante de Direito, estagiária num escritório grande, então ela tinha um dia muito assim tomado, lá no escritório ela fazia um monte de coisa e eles realmente sugavam muito, então ela não tinha tanto tempo pra ficar batendo papo assim, né?
E o Jader ele trabalha com T.I., então ele meio que faz o horário dele, consegue ter mais uma flexibilidade de horário e ficar assim mais solto pra conversar, e esse foi o primeiro empecilho do casal. Porque, assim, a Raquel estava interessada no Jader, o Jader estava interessado na Raquel, só que a Raquel com uma rotina frenética não conseguia dar tanta atenção para o Jader, e o Jader do começo deu uma cobradinha, então aí, [risos] a Raquel colocou ele no lugar dele. — O que eu acho correto, porque a gente não tem que ter à disposição também, né? Você tá ocupada, você tá ocupada. Trabalho é trabalho, né? — E aí o Jader deu uma desacelerada e falou: “Bom, eu já conversei, já falei que eu queria sair com ela e tudo, e ela falou que ela tá muito ocupada, então eu vou deixar em aberto, se ela quiser me ver, ela que tem que dar o próximo passo”, e aí ficaram assim.
A Raquel passou ainda mais umas duas semanas sem entrar em contato com ele, e aí a Raquel tomou a iniciativa [efeito sonoro de mensagem enviada/recebida] e chamou ele pra sair. E eles combinaram esse primeiro encontro num cinema. — Não é esquisito primeiro encontro no cinema? Por que você não tem que conversar mais com a pessoa? Sei lá, olhar a pessoa num lugar claro, [risos] sei lá, eu penso assim, né? — Mas eles marcaram aí numa rede de cinema famosa, marcaram num domingo, então quer dizer, lotadaço, né? Uma fila imensa pra comprar o ingresso, eles não compraram antes pela internet, não sei porque. — Tem aqueles totens também, né? Enfim, ficaram na fila pra comprar o ingresso. Chegou na hora lá na bilheteria não tinha o filme que eles queriam ver, acabaram vendo um filme ruim, [risos] e segundo Jader assim, ela não deu nenhuma abertura pra que ele, sei lá, tentasse dar um beijo nela, alguma coisa assim, então ele ficou na dele e eles assistiram o filme.
Acabou o filme, eles saíram da sala de cinema, o Jader falou: “Bom, então, sei lá, vamos tomar alguma coisa, comer alguma coisa”, ela falou: “Ah, então eu tenho que ir” [efeito sonoro de erro no Windows], “E foi legal que a gente veio no cinema, adorei, tá ótimo, beijo, tchau” e foi embora. O Jader ficou sem saber se tinha agradado ou não, falou: “Bom, também não vou ser o pegajoso, não vou ficar mandando mensagem”, [efeito sonoro de envio de mensagem] ele mandou só uma mensagem: “Ah, adorei te ver de novo, adorei nosso cinema, um beijo, boa semana”, — Tá ótimo, né? — e ela respondeu: [efeito sonoro de mensagem enviada/recebida] “Ah, adorei também, um beijo, boa semana”, ou seja, Jader falou: “Miou, né? Não vai rolar nada”.
E assim, ele tinha gostado dela já naquele dia, na corrida que eles fizeram juntos e estava gostando ali do cinema, estava querendo mais e ficou meio chateado. Mais uma semana se passou e a Raquel mandou a seguinte mensagem para o Jader: “Oi, Jader, o quê que você vai fazer esse final de semana? Se você não tiver nada pra fazer, topa ir até um batizado comigo?” — Oi? [risos] — O Jader ficou sem entender, porque eles passaram um tempo sem falar mais nada e batizado é uma coisa tão íntima, né? Geralmente, sei lá, vai só a família da criança, poucos amigos, né? Não é uma coisa assim pra você levar estranho, mas ele queria muito ver a Raquel, e aí ele falou: “Ah, eu topo então o batizado. Preciso levar alguma coisa? Tem algum traje especial?”, ela falou: “Não, não, não precisa nada, só não vai de bermuda, regata, essas coisas. Mas não tem nenhum traje especial, não”.
A Raquel com vinte e dois, o Jader com vinte e quatro, e o Jader ficou tenso, né? Falou: “Poxa, batizado vai família, tudo, como que vai ser isso?”. E aí chegou o dia, [som de sino, inicia trilha sonora calma] eles marcaram direto lá na igreja e ele apareceu lá, aí ele chegou lá na igreja, assim, eles estavam lá na frente o pessoal do batizado, ele conseguiu reconhecer a Raquel, ela estava no meio ali das pessoas e tinha um casal com um bebezinho no colo. Ele chegou já tinha meio que começado e esse casal que estava tipo com a criança lá com a cabeça numa pia lá pra batizar, e ele não manjando nada, né? Ficou na dele, ficou lá atrás, fez de um jeito que ela pudesse ver que ele estava ali e esperou terminar tudo lá.
E aí quando o casal terminou com a criança lá e jogou água na criança, o casal entregou a criança pra Raquel, e aí a Raquel veio, cumprimentou as pessoas, não sei o quê, e depois foi lá conversar com ele com o bebezinho no colo. E aí falou: “Oi, Jader, tudo bem?”, falou: “Ah, tudo”, “Então, esse aqui é meu filho” [risos] [efeito sonoro de susto] — Era uma coisa que ela devia ter falado, né? Que ela tinha um recém-nascido… — E aí ela falou: “Ah, então, eu já te chamei aqui pra ser bem direta com você, que é por isso que eu fui devagar porque eu tenho um filho, né? Eu acabei de ter um filho, não estou com o pai do meu filho e eu queria que você soubesse que eu tenho um filho”. — Ela podia ter falado, né, gente? Não precisava chamar ele no batizado, não é estranho? —
O Jader ficou surpreso porque ele assim, não se lembra direito se ele perguntou ou não, mas parece que no começo, sabe quando você pergunta: “E aí? Você é casado, tem filho?”, ele lembra vagamente dela ter dito que não, mas pode ser também que essa conversa não tenha acontecido, mas na hora ele ficou surpreso e falou: “Ah, legal que você tem um filho, você podia ter me falado, né? Eu não vejo problema nenhum”, e aí ela explicou que ela tinha voltado agora a trabalhar, que ela tinha voltado a estudar, que ela tinha trancado e voltou, e que a vida dela estava corrida por causa disso, porque ela tinha o trabalho, que ela tinha um filho, mas que ela agora tinha uma babá pra ficar com o bebezinho enquanto ela não estava e que ela tinha todo o suporte, isso e aquilo.
E o Jader achou estranho porque assim, ela tinha um padrão de vida tipo, sei lá, classe média baixa normal, e a babá estava lá no batizado e era uma babá tipo de uniforme, não era assim uma pessoa que você contratou da sua vizinhança pra cuidar da criança, era uma babá, babá. E pra você pagar uma babá integral, a gente sabe que custa caro, então ele ficou com aquela dúvida, tipo, “Será que o pai da criança é rico e ele que paga a babá? Porque só isso que justificaria, né?” e ele ficou pensando nisso. Ia ter uma festinha pós batizado e a Raquel chamou ele pra ir, mas ele declinou, falou: “Não, então, eu não me sinto à vontade”. — Falou a verdade, né? — “Vai ter só seus parentes e tal, eu não conheço ninguém, então quando você quiser, você me manda mensagem, e a gente volta a conversar e tal”.
E no dia seguinte ela mandou mensagem — Porque eu acho que até então ela estava preocupada com essa questão do filho mesmo, de falar pra ele que ela tinha um filho. — E, no dia seguinte, eles conversaram e passaram a sair. Aí saíam esporadicamente, isso durou uns dois meses, até que Jader pediu ela em namoro e a Raquel aceitou. Namoro monogâmico, só os dois. — Tudo do jeito aí, dos conformes que o povo gosta. — Eles começaram a se ver bem mais, né? E ela apresentou ele pra família e a mãe dela foi meio hostil com ele, mas ele também não entendeu muito, né? Ficou na dele, ele apresentou ela pra família também, família dele gostou dela, todo mundo ficou já sabendo do bebezinho. E era uma coisa do Jader, se aquilo evoluísse pra um casamento era um filhinho que ele ia também ter que ajudar a tomar conta, né? O filhinho dela, porque faz parte, é o pacotinho. — Achei tão bonitinho isso: pacotinho. —
Passou mais um tempo, e a Raquel resolveu fazer uma revelação pra ele, porque ia ter uma festa na firma dela e ele estava empolgado pra ir porque como ele era de T.I. e lá era um escritório grande, ele pensou que talvez ele conseguisse um cliente lá, alguma coisa assim, né? E aí a Raquel falou que ele não ia poder ir na festa, por que que o Jader não ia poder ir na festa? Porque o pai do bebezinho era o dono do escritório. A Raquel teve um caso com o dono da firma e teve o bebezinho, e agora o cara pagava tudo, inclusive, a babá cara lá que o Jader não sabia como que ela fazia pra pagar. Era o cara que pagava. Mas a questão é: o cara faria tudo se a Raquel não colocasse o nome dele lá na certidão de nascimento do bebê e ficasse tudo por isso mesmo, porque o cara era um cara casado e, aquela coisa: “Ah, teve um caso com a estagiária”, e a Raquel aceitou.
E aí ela acabou contando tudo para o Jader, e aí Jader ficou em choque, né? Por estar no meio daquela situação, e o Jader acabou questionando, ele falou: “Tá bom, você não vai falar nunca para o seu filho quem é o pai dele? Vai ser sempre assim, ele sem o nome na certidão? Ele apresentando o RG sem o nome do pai? Você não pensa nele?”, e aí ele quis dar uma liçãozinha de moral nela, eles acabaram brigando, ela falou que fazia o que ela queria da vida dela, não sei o quê, brigaram. Depois o Jader se arrependeu de ter dado palpite na história, pediu desculpas e eles voltaram as boas, mas ficou aquela coisa, né? Agora ele tem a informação de que ela é bancada lá pelo cara, porque ela faz um estágio só, e ela tem muita coisa boa, e a criança tem muita coisa boa, então assim, o cara realmente banca. — O pai do bebezinho. —
E ele assim, ele pensa ainda em ter um futuro com ela… Se caso eles se casem, ela não pode continuar assim, sendo bancada pelo cara, o correto seria o cara pagar uma pensão pra criança, né? Mas o cara não quer assumir nada, ele é advogado, deve saber que aí a criança vai ter direito a tudo que é dele, né? Uma parte dos bens é do bebezinho, e a Raquel não tá pensando nisso, ela tá pensando no agora, em manter o filho dela agora, manter o padrão que ela tem agora e eles estão nessa agora. Ela não coloca ele nas redes sociais, nada, o que ele acaba desconfiando: se ela tem alguma coisa com ele ou não, ela diz que não. Eu não sei, pela história toda que ele me contou, eu acho até que ela não tinha motivo de mentir porque que ela estaria saindo com o cara ainda ou não, ele tem essa dúvida… — Eu acho que ela não sai com o cara, que ele paga, tipo, pelo silêncio dela, e não pra manter aí um relacionamento com ela. Mas é tudo muito bizarro, né? —
E ela fala de casar com ele, ele também quer muito casar com ela, isso já tem três anos que eles estão assim, quer dizer, o bebezinho não é um bebezinho mais, ele tem essa dúvida. E às vezes ele fica atormentado porque ela trabalha até tarde, o cara tá lá e aí ele fala: “Puts, será que é só trampo mesmo? Será que o cara tá pagando pra ela não contar que tem um filho com ele e é só isso?”. Então aí é isso, gente, ele queria a opinião de vocês, eu sei lá, eu não conseguiria viver num relacionamento que eu me sinto atormentada, eu acho que se ele ficar com ela, vai ter que confiar. Não acho certo também isso que ela tá fazendo, inclusive com o bebê, mas sei lá, mais pra frente, de repente, ela fala e aí vai ter que pedir a pensão até dos atrasados. — O que eu ia achar ótimo. [risos] — Porque eu sou a favor sempre de colocar o cara no pau, pensão é sagrada, então o cara tem sim que pagar pensão, tem filho tem que pagar pensão. O mínimo, né? Porque tem pai que é ausente e tal, mas no bolso ali pelo menos tem que mexer, não tem essa, não, é lei.
Então vai que mais pra frente ela resolve pedir os direitos do bebezinho, o nome na certidão… Porque pelo que o Jader estava me falando, você pode pleitear isso a qualquer tempo, não importa que passou três anos, ela poderia pedir isso na justiça. Então é isso, ele queria saber de vocês o que vocês acham, se ela tem um caso com o cara… Eu acho que isso ele tem que perguntar pra ela, né? E só pra ela. Mas ele tá muito confuso, não sabe se continua com ela, também a minha opinião pra ele foi: “Você gosta dela? Você segura essa onda?”, se segura a onda, fica. Se não segura a onda, ninguém é obrigado também, né? Então é isso, o quê que vocês acham? Um beijo e amanhã eu tô de volta.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]