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título: estrada
data de publicação: 04/08/2021
quadro: luz acesa
hashtag: #estrada
personagens: seu osório e filha

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E cheguei num clima de Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do seu Osório. E essa história tem muitos anos, o seu Osório já é um senhor de 72 anos e foi a filha dele que me escreveu. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

O seu Osório ele trabalhava na estrada. — Fazendo o que? — Na época dele — Eu não sei como funciona isso agora, mas na época dele… — Durante algumas madrugadas, existia um sistema de limpeza de estradas — Coisa que caiam na estrada as vezes de um caminhão caia, sei lá, um pedacinho de carroceria ou, sei lá, alguém largava um pneu ali no acostamento, esse tipo de coisa. — pra minimizar acidentes. E ele era um jovem, tinha acabado de casar, tinha seus vinte e poucos anos e ele dirigia o caminhão que levava as pessoas para fazer essa limpeza nas estradas. Então era tudo sinalizado com as luzes ali — Sei lá, algumas coisas de sinalização — e eles iam limpando os trechos de estrada. 

E aí podia ter pedidos pontuais, tipo, aconteceu um acidente e tem que limpar o trecho tal ou só mesmo a rota que eles tinham que cumprir. E, numa dessas vezes, eles foram limpar as coisas da estrada ali em um acidente que tinha acontecido. Eles foram lá de madrugada, que era o horário que eles trabalhavam pra limpar. — Eu achei isso meio perigoso, limpar a estrada de madrugada, mas enfim… Ele falou que era assim que era feito e era relativamente seguro assim, né? — E aí lá foram eles limpar as estradas. Então, essa parte da sinalização e de onde estacionar o caminhão e esperar era o seu Osório que fazia. E aí os outros funcionários ali, numa equipe de uns cinco, seis recolhiam as coisas que tinham perdidas ali pela estrada e colocavam no caminhão. 

E beleza, seu Osório tá lá fumando cigarro dele, esperando a galera fazer o que tinha que fazer, e era uma esquina que tinha tido um acidente de carro e que algumas pessoas tinham morrido nesse acidente. Então o carro em si não estava mais lá, mas tinha uns pedaços do carro lá. E ele estava vendo aquela galera recolher os pedaços do carro, fumando cigarro, ele olhou para o chão pra bater a cinza do cigarro, quando ele voltou a olhar de novo pra ali onde estava a galera catando os pedaços, ele viu um homem. E assim, o cara que ele viu estava no meio daquele destroços, mas não era muita coisa, era tipo, sei lá, um pedaço do para-choque ali, um pedaço de vidro mais pra lá… E o cara tava no meio desses poucos destroços sentado no chão com as pernas esticadas. 

A equipe trabalhava de uniforme da prefeitura, né? Claramente você via que não era uma pessoa da equipe que estava sentada descansando, e ele continuou fumando e resolveu não ir lá, porque assim, o trabalho dele era dirigir o caminhão, fazer a sinalização e ficar por ali esperto para ver se, sei lá, não vem um louco com um carro para atropelar os funcionários, enfim… Ele ficava meio que de vigia, e ele fica olhando esse cara de longe. Só que ele percebia que os funcionários ali estavam catando as coisas que estavam no chão e parecia que aquele cara não existia. Ele achou aquilo interessante, mas em nenhum momento, na cabeça do seu Osório, aquilo podia ser um fantasma. — Um espírito, um vulto… — Ele não pensou em nada disso, ele pensou que tinha um cara sentado na estrada e que ninguém em volta estava dando confiança pra ele. — Foi isso que passou na cabeça do seu Osório. —

Ele fumando ali o cigarro e olhando… De repente, o cara que estava sentado no chão olhou para ele e, quando o cara virou e olhou para ele, ele viu que o outro lado do rosto do cara que ele não conseguia ver, porque o cara estava sentado de lado para ele, ele estava na lateral do cara, não tinha nada… Era como se o cara tivesse sido partido ali no meio. E cara olhou pra ele com só com aquele lado de olho que ele tinha. E aí o seu Osório ficou petrificado, ele não conseguia falar, o cigarro dele caiu no chão, sabe se apagou ou se não pagou… Até hoje não tem lembrança do que foi feito de cigarro. 

E quando aquele cara viu ele, porque até então o cara parecia que estava sentado olhando pro nada, para ninguém e quando aquele cara viu ele e viu que estava sendo visto, o cara levantou… E muito rápido veio pra perto dele. E aí, gente, o seu Osório desmaiou… Ele caiu. Caiu duro onde ele estava. E aí todo mundo correu, acudiu, ele não sabe o que aconteceu nesse tempinho aí. E aí jogaram uma água no rosto dele, ele voltou e ele não conseguia falar o que tinha acontecido. E aí os caras já tinham terminado o trampo ali, eles tinham que entrar no caminhão e ir embora. Só que o seu Osório só não conseguia mais dirigir, porque ele estava totalmente abalado. 

E aí outro cara falou: “Não, tudo bem, vamos que eu dirijo”. Quando ele deu a volta pra entrar no caminhão, ali no banco do passageiro, quem estava no banco do passageiro? O cara que não tinha um lado do rosto e do corpo. Porque aí só então o seu Osório conseguiu ver mais de perto, e ele estava justamente do lado que o cara não tinha nada, parecia que tinha sido cortado. E aí o seu Osório não desmaiou de novo, mas não conseguiu subir no caminhão e fez o que? [risos] Saiu correndo pro meio do mato. — Agora eu fiquei pensando, você corre pro meio do mato da assombração e a coisa mais fácil é a assombração ir atrás de você, né? — 

E aí o pessoal começou a correr atrás dele no meio do mato, porque ele não falava nada, ele só corria. E aí conseguiram segurar ele e trazer de volta, enfiaram ele ali no caminhão e todo mundo achando que ele estava bêbado, na real… E aí depois quando chegou lá de novo, tipo, no galpão que eles ficavam, ele foi falar com o encarregado… E aí ele contou pro encarregado o que ele tinha visto, e aí o encarregado falou para ele: “Era só isso? Ali naquele trecho tem um monte de acidente, vira e mexe a gente já vê… Todo mundo já viu. — Como se fosse a coisa mais normal, sabe? — E aí esse encarregado falou pra ele: “um dia eu estava lá cobrindo um funcionário e tinha tido um acidente, o rapaz da bicicleta tinha sido atropelado e eu vi o rapaz que tinha sido atropelado. Era um conhecido de todo mundo e ele veio perto ali dos caras que estavam limpando a estrada e entrou… Tentou passar do corpo de um dos funcionários ali e o cara não sentiu nada. O cara não sentiu nada… E aí o espirito desapareceu, eu não sei se entrou no corpo do cara ou se não entrou no corpo do cara… Eu fiquei chocado” e e contando isso pro seu Osório como se fosse assim, a coisa mais normal do mundo. — Ele era concursado na Prefeitura, e aí ele pediu transferência. —

Falou: “Olha, eu preciso sair daqui, eu preciso ir pra um cargo de dia, longe da estrada”, e aí conseguiu lá na área de serviços gerais um outro trampo, mas ele falou que nunca nunca tinha visto nada parecido e que depois disso ele também nunca mais viu nada… Mas ele não consegue esquecer o rosto dessa pessoa que ele viu, desse homem que ele viu. E mesmo o cara tendo só metade do rosto, ele consegue lembrar do cara assim, do rosto todo, sabe? — Como se tivesse vendo o cara inteiro. — É um dos medos dele, tipo, de reencontrar esse cara que, sei lá para onde ele vai, mas já deve estar… [barulho ao fundo] — Ai, olha esse susto que eu levei… A minha gata, gente. Quase morro. Olha, se eu não infartei agora com a minha gata batendo aqui no arquivo eu não infarto mais. [barulho de cachorro] Até o Kiwi e a Mioja assustaram. —

Então é isso, gente. Essa é a história do seu Osório e o que será que era isso? Será que era o cara tinha sofrido aquele acidente? Que eles tinham ido recolher as coisas ou será que esse cara já estava por ali há mais tempo? O que vocês acham? 

[trilha] 

Assinante 1: Olá, eu sou a Tati de Itapetininga, São Paulo. Seu Osório, como o senhor sobreviveu a essa cena horripilante? Tô aqui me tremendo até agora, sem acreditar. Meu Deus… Que medo. 

Assinante 2: Olá, meu nome é Samantha, eu sou de Gravataí no Rio Grande do Sul. E, olha, eu entendo perfeitamente o medo dele assim, nossa… Eu, pelo menos assim, eu não sou acostumado a ficar vendo assombração… A minha mãe ela é super acostumada, a minha mãe não veria problema nenhum, mas para quem não está muito acostumado a ficar vendo assombração, quem não tolera muito, trabalhar de noite com essas coisas, olha é complicado, hein? Deus me livre… Eu faria a mesma coisa, [risos] eu sairia correndo, meu Deus do céu. E depois, olha, ia me benzer, ia fazer alguma coisa, né? Pra não ter o perigo de daqui a pouco essa coisa voltar a aparecer para mim. 

Déia Freitas: Então um beijo e até a próxima. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.