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título: fundo de garrafa
data de publicação: 12/08/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #fundo de garrafa
personagens: sabrina e sua mãe

TRANSCRIÇÃO

[[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje de novo é a Zerezes. — Amo… — A Zerezes acredita que mais do que corrigir a visão, os óculos nos ajudam a contar a nossa história e expressar assim os diferentes lados de qualquer personalidade… Mas nem por isso os óculos precisam custar uma fortuna e também ser uma experiência chata e complexa. Na Zerezes os óculos saem do lugar de necessidade e viram aí o queridinho do seu dia a dia. Um óculos tem que ter a sua cara, tem que ser você… — E o meu, gente, sério, eu peguei um assim, meio tartaruguinha e um transparente rosa, lindos… Eu vou deixar depois a referência para vocês, lindos. —

Até dói chamar aí a Zerezes de ótica… As lojas das Zerezes são lindas e os seus óculos já vem com as lentes no seu grau. A Zerezes nasceu pra ser patrocinadora de quem usa óculos, transformando aquilo que pode ter sido incômodo um dia para você é motivo de orgulho. Conheça a Zerezes no Instagram e no TikTok: @Zerezes ou em: zerezes.com.br. — Eu vou deixar o endereço, link e o arroba certinho aqui na descrição do episódio e fica com a gente até o final que tem surpresinha. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Sabrina. A história da Sabrina pega num lugar muito específico de bullying com crianças em escolas… Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


Quando a Sabrina era um bebezinho ali de três anos, a sua mãe, a Dona Magda, percebeu que toda vez que ela colocava a Sabrina ali para TV — desenho animado, sabe? — a Sabrina descia do sofá, pequenininha, e ia se aproximando cada vez mais da tela. A Dona Magda por vezes pegou a Sabrina com o nariz colado na televisão… — Colado pra ver o desenho. — Sabrina com três aninhos, mal sabendo falar, ela chorava bastante, tropeçava nas coisas e ficava apertando os olhinhos tentando enxergar… — Ô, gente, num guento… — Dona Magda falou: “Tenho que levar essa criança no oftalmologista” e lá foi, que falou: “É problema de vista, com certeza” e a Sabrina também estava ficando cada vez mais estrábica e no oftalmo ele diagnosticou ali uma hipermetropia e astigmatismo, mas também achou que não era normal uma criança da idade da Sabrina — com três aninhos — usar um grau tão alto, tinha alguma coisa ali… Só ali ele tinha achado oito graus, era muita coisa. — O oftalmo falou: “Olha, leva pra uma consulta pediatra mais completa pra gente investigar isso.

A Dona Magda procurou ali um clínico, pediatra, enfim, especialistas e depois de muito investigar, foi parar num reumatologista… E esse reumatologista descobriu — por meio de exames de sangue ali, radiografias, enfim — que a Sabrina tinha uma febre reumatoide, o famoso reumatismo e era essa doença que estava prejudicando a visão da Sabrina. — Gente, olha isso… — E além da visão, esse reumatismo afetava ainda a pele da Sabrina, podia trazer problemas cardíacos e trazia muitas dores no corpo… — Aquele corpinho de três anos, bebezinho… — E aí ela começou um tratamento ali muito intenso e foram oito anos tomando uma injeção muito conhecida por todos — e que eu tenho que dizer que eu tomei muito na infância também —, Benzetacil.  A cada 15 dias a Sabrina tinha que tomar uma Benzetacil… — Eu também tomei muita, muita Benzetacil quando era criança. Tanto que quando eu, agora adulta, se eu chego num PS, a primeira coisa que eu pergunto é: “Tem Benzetacil? [risos] Benzetacil resolve?”, porque, assim, dói e resolve. Pelo menos quando eu era criança doía e resolvia, então ai hoje os médicos falam: “Não, Andréia, agora a gente tem remédios mais modernos e nã nã nã”, mas eu ainda sou antiga, sabe? Eu acho que dar uma Benzetacil resolve. [risos] — Eu estou errada, obviamente. —

Mesmo passando por esse sofrimento da Benzetacil quinzenal, o que mais doía em Sabrina era o uso dos óculos — porque era obrigatório — se não ela não conseguia enxergar, porque as lentes eram muito, muito grossas… — Aquele óculo conhecido como “fundo de garrafa”. — E por conta ainda do estrabismo, a Sabrina precisou usar um tampão. Pensa: ela tinha que usar um tampão e o óculos ainda, fundo de garrafa e tudo isso fazia com que aquela criancinha que foi crescendo assim, foram oito anos tomando Benzetacil, então esses oito anos com óculos fundo de garrafa, enfim, mais até… Mas ali, na sua pequena infância, tudo isso fazia com que a Sabrina não quisesse sair de casa, porque se ela tinha que sair, ela tinha que usar o óculos, ela tinha que usar o tampão e, muitas vezes, deixava para usar o óculos só para ver só para ver a lousa. — Então, ela ia tropeçando para a escola, ficava lá sem óculos, só para ninguém ficar tirando sarro, sabe? E ainda tinha a questão dos cabelos dos anos 90, que só quem viveu sabe, era uma época selvagem para os cabelos… —

Com seis anos de idade, a Sabrina falou:” Não vou usar tampão, não vou, não quero, não vou pra escola de tampão, prefiro ficar estrábica”, mas ela tinha que usar, né? Quando ela chegava na escola, todo mundo tirava sarro… As pessoas eram muito cruéis… — Eu não vou repetir aqui nenhum dos apelidos que ela ganhou, mas foram muitos, muitos apelidos… — E os apelidos deixavam a Sabrina cada vez mais retraída, mais sem jeito, enfim, acabou tornando a Sabrina uma criança tímida. Os óculos da Sabrina eles eram tão grossos que eles faziam com que os olhos dela ficassem estranhos assim, grandes… — Sabe tipo olho de desenho animado? Eu tinha um amigo na escola que tinha esses óculos e era muito difícil pra ele, era muito difícil… — Dona Magda fazia o que podia, comprava tampão com estampa de bichinho, mas não amenizava, né, gente? — Não amenizava… Era pior até. — E a Sabrina ela levava, como eu disse, os óculos na mochila e ia tropeçando mesmo, deixava para usar só quando ela não enxergava mais a lousa mesmo, porque ela estava forçando muito os olhos. 

O tempo foi passando, finalmente a parte do tampão acabou, né? O tratamento fez efeito — porque sim, funciona —, mas os óculos permaneciam ainda ali, aqueles fundos de garrafa. — A Sabrina se sentia o patinho feio, né? Aqueles óculos grossos, fundo de garrafa, o cabelo todo estranho, enfim… Mas, eu acho que na época, tantos anos 90, como os anos 80, que foram minha época, tinham umas crianças que eram muito bonitas, bonitas assim, crianças de comercial, poucas… O restante todo era feio, a gente era feio. Me desculpa… Era umas crianças mal arrumadas, os cabelo… Minha mãe ainda fazia tranças em mim, na Janaina e na Eliane e, assim, era impecável, você tinha que ir e voltar com o cabelo sem um fio fora do lugar, [risos] era um pouco tenso, porque se deixasse solto, sei lá, a gente ia ser levado pela… Na época era Febem, era isso. — Então minha mãe falava: “Criança preta não pode ir com cabelo solto, assim, vai todo mundo de trança e não pode soltar um fio de cabelo. Vai e volta, não bagunça”. 

Então, as crianças eram feias assim, no geral, não tinha aquela beleza… Porque gente não era cuidada, assim, era uma coisa mais assim, um brejo, eu acho… A gente brincava na rua, estava sempre meio suja… Não suja, suja, mas com poeira, com pó, terra, criança tinha terra, eu acho. Os anos 80, 90, assim, a criança tinha muita terra. Era bom, né? Porque a gente brincava na terra, no mato, voltava cheio daquele picãozinho de mamona, sabe? E eu chegava, tinha dia cheia de picão, minha mãe ficava uma fera, [risos] tava rolando pelo mato, né? Selvagem… Era uma época selvagem, então assim, Sabrina tinha o bullying, tinha tudo, mas ela tava acho que, assim, um pouco só fora do padrão da feiura da época para as crianças, que era todo mundo feio. Nessa época ali — criança, dez anos — a Sabrina até tinha possibilidade de usar lentes de contato, mas isso era pra rico, né? Só era pra rico, era lente cara, então não tinha como. — Mas é aquela coisa, né? Mãe é mãe… — Dona Magda economizou por anos com o foco pra comprar as lentes da Sabrina. Foi lá e comprou… — Mãe é mãe, né? Eu lembro também de alguns sacrifícios que minha mãe fez e economizou para comprar coisa que eu queria. Mãe é mãe. E aí, poxa, primeiro par de lentes… Agora sim a vida da Sabrina ia melhorar um pouco. —

Sabrina, agora com lente, 15 anos, começou a se cuidar mais… Já tinha surgido aí uns cremes para o cabelo, começou a dar ali uma up na aparência, sabe? — Eu gosto muito de trazer histórias dos anos 80, anos 90, porque vocês lembram também, assim, quando você era bem feio e, de repente, você dá uma melhorada? Não sei… A adolescência deu uma passada e você fala: “Poxa, agora eu estou aceitável”, eu lembro muito desse dia, assim, acho que foi até um domingo assistindo Faustão, que eu falei: “Não, acho que agora estou mais bonita um pouco”, sabe? Porque era uma coisa, assim, sei lá, me sentia um calango, era muito magra, enfim… Eu lembro uma vez que eu gostava de um menino, Sílvio, acho que eu já contei essa história, né? Não sei como ele está hoje, mas ele era o rapaz mais lindo da escola para mim e estava uns anos à frente. Eu tinha um conjuntinho, gente, de saia lápis… Pensa uma criança de saia lápis, que ridículo, né? Com casaquinho. Moda evangélica… Eu não sei por que que eu tinha aquele conjunto, mas eu amava aquele conjunto e não era pra ir pra escola, mas tinha um dia no ano na escola que você podia ir com uma roupa sua, sei lá, eu fui com essa roupa e eu achei que eu estava abafando perto do Silvio e eu vi ele com uns amigos rindo de mim. Nossa, foi um baque pra mim, ali foi um dia que eu me senti mais feia… Não, teve vários dias que eu me senti feia, mas foi um dos dias que eu me senti feia. —

E aí, depois daquele dia, acho essa época eu tinha 12 anos, 13… Lá pros 15 anos que eu falei: “Poxa, olha, acho que eu estou bonita.” Eu lembro uma vez que eu ganhei uma camiseta laranja e eu botei a camiseta laranja, falei: “Nossa, eu tô bonita… Esse laranja me caiu tão bem”, então é fase, a gente vai vivendo essa feiura. Se você é criança e tá me ouvindo agora, vai melhorar… E hoje também tem um monte de coisa que dá para a gente fazer pra dar uma tapeada. Na nossa época era só areia e terra, tinha nada. [risos] Bom, ainda bem, hoje tudo evoluiu, então as lentes não são tão grossas como era antigamente, fundo de garrafa, né? Sabrina hoje usa óculos, usa lente, enfim, tem um marido que ama, que elogia quando ela está com óculos. 

Então, assim, passou, gente, passou… Mas eu queria deixar aqui esse episódio para a gente pensar no bullying de hoje, como a gente lidava com o bullying nos anos 80, anos 90, porque, assim, não lidava… Você ia, você chorava, mas seu pai e sua mãe falavam: “Vai pra escola, tem essa, não”. No máximo falava: “Dá um soco naquela criança”. — E hoje, ainda bem, a gente pode conversar com a coordenadora nas escolas, enfim… — Os óculos evoluíram, as pessoas nem tanto, né? Mas essa questão do bullying hoje a gente tem muito mais ferramenta e muito mais recurso, então, hoje a gente tem que combater o bullying demais, a gente tem situações trágicas que se iniciam aí por conta de bullying, então é um assunto muito sério e que, ainda bem, a gente tem muita ferramenta para lidar hoje em dia. — Mas anos 80, anos 90, era selva. — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Camila, Petrópolis, Rio de Janeiro. Eu estava com meu marido do lado ouvindo e ele se identificou com tudo… Ele tomava também injeções semanais de Benzetacil, de recompensa ele ganhava uma coxinha de osso e um pirulito. Ele também usava óculos que deixava os olhos dele grandes e ele também era estrábico, fez com que ele fosse até hoje uma pessoa tímida e ele falou que nem na adolescência ele foi melhorar, não, só já adulto. E eu digo hoje que ele está um gato…

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Mirian e eu falo de Curitiba. Sabrina, eu me identifiquei muito com essa história, fui forjada nos anos 90, também tive hipermetropia, astigmatismo e olho preguiçoso, que também me fez usar o tampão durante minha infância e, além da Déia ter bem mencionado que as coisas melhoram com o tempo, a gente fica mais arrumadinho, eu também tenho certeza de que você se torna uma pessoa incrível. Por que nós, crianças estranhas da década de 90, a gente se vê forçado a trabalhar em outros aspectos da nossa personalidade, então a gente tem que ser um pouco mais bacana, mais engraçado, mais inteligente… E eu tenho certeza de que, apesar dessa história ter sido difícil, eu tenho certeza de que você se tornou uma pessoa incrível. Desejo tudo de bom para você, um beijo.

[trilha]

Déia Freitas: Com Zerezes, aquela pessoa envergonhada com seus óculos sai de cena e surge uma nova versão: A versão linda, confiante, interessante e com os óculos que te ajudam a dizer tudo isso só com o olhar. Conheça a Zerezes no Instagram e TikTok: @Zerezes ou em zerezes.com.br e entenda porque até dói chamar de ótica. E usando nosso cupom: DEIAFREITAS15 — tudo junto ,letra maiúscula e o 15 numeral —, você tem 15% de desconto em qualquer pedido. — Online ou nas lojas físicas. — Valeu, Zerezes, te amo… Amei meus óculos, amei a parceria e espero ter vocês aqui novamente em breve. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]