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título: girassol
data de publicação: 16/10/2020
quadro: amor nas redes – especial afetos
hashtag: #girassol
personagens: renato e maurício

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. É sexta-feira, dia do quê? De história de amor com final feliz. E por causa do feriado de segunda-feira que não teve história de terror, hoje a gente vai ter duas histórias de amor, então a primeira que se chama “Girassol” e depois uma outra que já era uma história lá do Telegram, que quem me acompanhava no Telegram vai lembrar que se chama “Soneca”, essa “Girassol” eu contei no Twitter, assim, muito rápido, porque o Renato me mandou mensagem lá rapidinho assim, eu contei por cima e eu quero agradecer aqui o Bruno Engel, que agora eu contratei [efeito sonoro de crianças gritando de felicidade] pra juntar todas as coisas que eu fiz por aí e trazer pra cá, pra eu poder transformar em história de áudio. Alguns textos eu vou retomar, então, mexer em algumas histórias que estavam paradas. Então é o Bruno que tá aí fazendo essa busca pra mim e organizando todos os textos, as minhas coisas e o Facebook que tá lá parado, em breve o Bruno também vai tá mexendo lá. 

Então a gente tá aí, olha, várias coisinhas, né? E isso tudo graças a vocês que me ouvem, tanto as pessoas que me ouvem nas plataformas gratuitas, quanto os meus assinantes, né? Que colaboram aí com o meu trabalho e que proporcionam coisas bacanas que eu tô trazendo. Então, chega de papo. Não, não chega de papo, porque como sempre toda sexta-feira eu tenho que falar aqui do podcast Afetos, né? Das lindas Karina Vieira e Gabi Oliveira, [efeito sonoro de beijo] que essas sextas-feiras de outubro são dedicadas a elas, podcast Afetos, então são histórias de amor, histórias de afeto com final feliz. Então vamos de história, agora pra vocês “Girassol”.

Quem me escreveu foi o Renato, como eu falei, foi rapidinho no Twitter, mas ele tinha me mandado as DMs assim depois com a história um pouco mais completa, o quê que aconteceu? O Renato, ele já sabia, lógico, desde criança que ele era gay, mas com aquela coisa da pressão familiar e tudo mais, e tinha também a questão religiosa da família, ele sempre namorou meninas. Então ele namorou muito tempo meninas, quase casou, mas ele sabia que não era a vida dele, né? Só que pra, sair do armário, pra contar, então ele não tinha realmente forças pra isso, né? Não tinha chegado o momento dele ainda e ele tinha muita vergonha. Então a gente sabe, a opressão que a gente vive aqui no país com tudo, né? É racismo, é homofobia… E o Renato sentia isso na pele, então ele não estava preparado pra sair do armário.

E ele foi fazer um curso… E, nesse curso, ele conheceu o Maurício, o Maurício gay assumidíssimo assim, e eles ficaram amigos, ele me escreveu que o Maurício meio que sacou que ele também poderia ser gay, mas como o cara não falava nada, como o Renato não falava nada, o Maurício ficou na dele. E eles tinham amizade nesse curso, e o Maurício sempre falava que ele era, palavras de Maurício “Ele era um gay pra casar”, que não queria namorinho, ele queria um amor, viver um amor mesmo, né? E ele contava no curso ali, muito divertido o Maurício, como ele queria que fosse, que ele queria um dia receber flores e que fosse uma coisa como se fosse um filme de Sessão da Tarde, sabe? E o Renato ficava ouvindo aquilo e, assim, ele tinha atração pelo Maurício, mas ele falou: “Gente, jamais, jamais”, e na época ele até estava namorando uma garota e ele resolveu terminar porque ele pensava muito no Maurício, né?

E o Maurício sempre muito divertido, muito brincalhão. E nunca, jamais imaginou que o Renato saísse do armário, né? Ele falou: “Bom, tem caras que passam a vida toda assim, é problema dele”, mas o Maurício já sentia uma coisinha pelo Renato e lamentava isso, ainda falava: “Poxa, a gente podia viver uma história, mas o cara tem lá as questões dele, então também vou ficar na minha”. E a coisa foi crescendo dentro do Renato, e ele tinha um puta conflito, né? De se declarar pra família e até pros amigos que ele era gay, mas o que ele sentia pelo Maurício ia crescendo dentro dele e ele não estava mais conseguindo segurar… Ainda bem, né? — Ainda bem, né Renato? Que você não estava conseguindo segurar. —

[inicia efeito sonoro de chuva] 

E aí um dia, gente, que estava uma puta chuva, o Renato estava em casa e, assim, o Renato tinha ido no mercado e tinha comprado umas flores pra casa, o Renato morava sozinho, e pela primeira vez na vida, porque ele era um cara que tudo ele achava que “Ah, não, eu não posso fazer isso porque vão achar que eu sou gay”, e flores era uma coisa que ele gostava e ele não comprava porque ele achava que alguém ia achar que ele fosse gay, e de fato ele era gay. Só que ele sabia que o Maurício gostava muito de girassol, e um dia ele foi no mercado e comprou esses girassóis e colocou lá, enfeitou a casa dele, e à tarde, gente, uma chuva, uma chuva, mas uma chuva assim que não parava e ele fazia um curso junto com o Maurício, mas sabia que naquele dia o Maurício estava fazendo um outro curso, em outro lugar, não era o dia do curso deles, né? Então ele não ia ver o Maurício. 

Ele foi olhando pra aquele girassol que ele sabia que era a flor preferida do Maurício e foi dando uma coisa no coração dele, e ele pegou um daqueles girassóis e foi pra porta do curso do Maurício. E aquela chuva, ele ficou do outro lado da rua todo molhado com o girassol na mão esperando o Maurício sair do curso, gente. E aí o Maurício saiu do curso, aquela chuva, tinha um toldinho assim, então ele meio que saiu pela porta ali, era um sobrado e ficou no toldinho meio que esperando a chuva passar, e você olha pra um lado, olha pro outro, quando ele olhou pra frente, pro outro lado da rua [finaliza efeito sonoro de chuva e inicia trilha romântica] lá estava o Renato, e ele “Gente, tipo, o Renato todo encharcado?” e o Renato estava com a mão pra trás assim, meio que tentando esconder o girassol, o girassol todo molhado já também.

E aí o Maurício atravessou a rua, só que do lado onde estava o Renato não tinha toldo e o Maurício atravessou e ficou meio ali na angústia, tipo, vamos sair da chuva. E o Renato segurou ele na chuva, e aí, gente, ele falou pro Maurício que ele amava o Maurício, que ele não conseguia tirar o Maurício da cabeça e deu o girassol na mão do Maurício e falou: “Maurício, você é meu sol”. — Eu já tô aqui querendo chorar, né? — “Maurício, você é meu sol e eu estava perdido e, assim que eu te vi, eu soube tudo o que eu queria na minha vida, e não importa o que eu tenha que enfrentar, eu te amo”, e aí eles se beijaram. E o Maurício estava com o girassol na mão e foi como uma cena mesmo de filme. 

E quando o Renato me escreveu, eles já estavam a nove anos juntos, eles estavam na fila de adoção pra adotar uma criança. Aí eu resolvi contar essa história de novo, porque o Renato me escreveu, que agora eles acompanham o podcast e eles conseguiram… — Ai, eu tô chorando… — [tom de voz embargada de choro] Eles adotaram uma criança, eles adotaram um menininho e agora estão terminando a papelada pra adotar a irmã do menininho, não é lindo, gente? Pelo amor de Deus. Que história maravilhosa. Então eles estão juntos, tem uns anos que eu contei essa história já. O Maurício e o Renato continuam juntos, continuam casados e agora eles têm um filho e a menininha tá a caminho que é a irmã do menininho, sabe? Não vai ter história mais linda que essa, gente, não vai ter. Então a coisa do girassol, falei: “Gente, vocês têm que transformar isso num filme, isso é coisa pra filme”. 

E, ai, chorei, chorei mesmo, choro mesmo, o amor é lindo, e que história maravilhosa. Maurício e Renato, sabe, que o universo abençoe vocês a ficarem juntos aí a vida toda, que eu sou aquelas que falam que não acredito em amor eterno, mas se ficar junto pra mim tá ótimo, eu acho lindo. E um beijo pra vocês e que história linda. Então daqui a pouco eu volto com outra história linda também, se chama “Soneca”, mas fala, gente, se Maurício e Renato não é a coisa mais fofa do mundo? Adotando ainda um casal de irmãos, sabe? Ai, olha, eu não sei porque que eu nasci hétero, sabe? Olha, sei nem o que dizer. Um beijo pra vocês e até daqui a pouco. [finaliza trilha romântica] [vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.