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título: gisele
data de publicação: 14/03/2022
quadro: amor nas redes
hashtag: #gisele
personagens: gisele camargos

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Amor nas Redes. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje de novo é a Meta. Esta é a segunda história que eu conto para celebrar junto com a meta o Mês Internacional da Mulher e prestigiar o seu programa “Ela faz história”, que apoia e dá visibilidade a pequenas e médias empresas lideradas por mulheres. Além de celebrar, o foco é incentivar o consumidor a comprar os produtos e serviços destas mulheres. Inclusive, lá no meu Instagram tem um filtro de histórias onde você, mulher, pode divulgar o seu negócio e aí ao longo do mês de março eu vou reportar os seus stories. — Fazendo publi grátis para vocês junto com a Meta. E aí vocês podem falar os seu: “meu publiii”, que eu vou repostar tudo, tá bom? Amo. — 

Gente, hoje eu vou contar para vocês uma história que é meu mundo todo., assim… Eu trabalhei 10 anos na indústria de calçados e, assim, eu tô em casa com essa história. Eu vou contar para vocês a história da Gisele Camargos. A Gisele criou um negócio muito massa, uma loja chamada ContaPraEla de calçados femininos de tamanhos especiais, que vão aí de 39 ao 44 e tem modelos ótimos. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Em 2008 a Gisele trabalhava numa grande empresa, uma multinacional e trabalhava ali na área de tecnologia, ela era uma trabalhadora ali na área de TI. E aí ela foi mandada embora… Na sequência, ela engravidou e depois que ela teve o bebezinho, ela tentou voltar para a área dela, — para a área de TI — só que ela não conseguiu. [música de tensão] — Por que ela não conseguiu? Que dificuldades vocês acham que aí uma mãe tem no mercado de trabalho? Já adianto para vocês: todas. — Quando a Gisele ia procurar emprego ali na área dela de TI e estava lá na entrevista, quando ela falava que ela tinha filhos, aí já perguntavam para ela: [efeito de voz grossa] “Mas e aí, e se seu filho ficar doente?”, “Ah, mas e se você tiver que sair mais cedo por causa dos seus filhos?”, “Ah, você sabe que o departamento de tecnologia tem que implantar o sistema à noite, né? Como é que você vai fazer com as crianças?”. 

Então, assim, depois que as empresas sabiam que ela era mãe, ninguém queria contratar a Gisele… — Agora pergunta se quando um cara chega numa empresa e ele é pai se ele recebe essas mesmas perguntas… Não. — E aí como a Gisele não conseguia se recolocar ali na área dela, ela foi dar aula. — Porque ela precisava ganhar uma grana e tal, ajudar em casa, enfim… — E ela foi dar aula na área dela, mas assim, não era o que ela queria. E um dia assistindo televisão, ela viu uma reportagem sobre uma feira de calçados que estava acontecendo. — Isso era meio do ano, então a feira era a Francal. Se fosse no começo do ano era Couromoda. Ai que saudade… Fiz tanto essas feiras, mas tanto… — E aí ela começou a cogitar a ideia de ter uma loja de calçados infantis, mas ela pensou melhor porque, poxa, quem é que compra calçado de criança, né? Geralmente vai repassando aí, o pezinho vai aumentando e você acaba doando aquele sapatinho para outro criança e, assim, as famílias vão remanejando os sapatinhos, né? — 

E aí a Gisele olhou para os próprios pés… — Ela tem o pé no tamanho que tem poucos calçados, né? Que a grade geralmente vai até os 39, né? A grade feminina até o tamanho 39. — E ela falou: “Poxa, eu tenho dificuldade de comprar calçado para mim, para o meu pé”, e ela começou a pesquisar e viu que em São Paulo só tinham duas lojas especializadas em calçados femininos de tamanhos maiores. E aí ela vendo aquela reportagem da feira ela falou: “É isso… É isso que eu quero fazer”. E aí Gisele correu, — lá para Francal. — só que na Franca, gente, só entra se você tiver CNPJ . — E isso é fato. — Então ela não tinha um convite, ela não tinha CNPJ, mas se você for lá sem convite e tiver CNPJ ,você consegue entrar . — E ela não tinha. —. 

E aí ela viu que tinha um moço lá preenchendo para entrar, ela tinha caneta, mas espertinha, ficou esperando o moço preencher, pegou a caneta dele emprestada. [risos] — E aí ele teve que ficar lá esperando. — E aí na hora de colocar o CNPJ, ela falou: “Ai meu Deus, precisa do CNPJ”, aí o cara falou pra ela: “Bota o meu”. — Porque é feira, né? É mais pra cadastro mesmo, né? — E aí a Gisele botou o CNPJ do cara e conseguiu entrar na Francal. [música feliz] E aí com a credencial você consegue ir em vários dias na Francal, — porque não dá para ver tudo num dia só, precisa de mais dias. — E aí a Gisele começou a ir de estande em estande vendo ali quem tinha tamanho feminino, tamanho grande… 

Só que poucas empresas investem aí em tamanhos maiores femininos, — porque tem menos saída e, para você desenvolver um calçado, cada número ali é uma forma, então se você tem a forma lá do feminino, né? Do 33 que sai pouco também, mas sempre tem a forma, do 34, do 35 e assim vai… Aí chega ali no 39, para você economizar, você pensando que a maioria das pessoas que usam calçados femininos calça até 39, você para por ali. Porque para você desenvolver a forma que vai o solado, que é a parte de baixo e o cabedal que é a parte de cima de um calçado, fica caro. Então, para você desenvolver o 40, o 41, 42, 43, 44 daquele modelo… Porque aí cada modelo é uma forma. Você pode fazer, às vezes, é aproveitar o solado .com o mesmo solado desenvolvido você consegue desenvolver outros cabedais. Então, sei lá, num solado você consegue colocar uma sapatilha X que vai ter pedrinha e uma sapatilha que não vai ter pedrinhas, sabe? Mas você não consegue, por exemplo, no mesmo solado colocar uma sapatilha de bico redondo e uma sapatilha de bico fino, são solados diferentes. Então tudo custa, tudo é desenvolvimento. Eu amo falar dessa área, gente… — 

E aí a Gisele encontrou essa primeira dificuldade inicial, mas ainda assim ela conseguiu estabelecer ali contato com alguns fornecedores para ter ali uma primeira grade, mesclando calçados do tamanho convencional com algumas marcas que ela conseguiu lá de calçados de tamanhos maiores. Isso já era 2010, o bebezinho da Gisele ainda era pequeno e ela conseguiu o primeiro espaço físico que era dentro de um condomínio empresarial, assim, não tinha nem loja de sapato lá. E aí ela foi e montou esse espaço, era um espaço compartilhado com outra pessoa… Só que, gente, com pouquíssimo tempo de loja aberta, com uma semana de loja estabelecida, [efeito sonoro de som de chuva] veio uma enchente e destruiu todos os sapatos da Gisele. Tudo… — Não sobrou um sapato para contar a história. — E aí eu Gisele, vendo sapatos boiando e pensando: “Meu, o que eu vou fazer? E, assim, ela ficou tão focada no que ela tinha que fazer para resolver que ela não conseguiu nem chorar”. 

E aí eu falo para você que trabalhar com calçados, além de você ter que se empenhar muito, você precisa de bons relacionamentos. — Então, assim, você precisa estabelecer ali uma relação muito boa com seus representantes, que são os representantes da fábrica. Às vezes direto com a fábrica você consegue lidar, fazer essa negociação direto com a fábrica, e aí você conseguir prazos melhores e, enfim, ir trabalhando esse relacionamento… E a Gisele conseguiu isso. — Ela começou, investiu uma grana e aí os sapatos foram todos perdidos na enchente, ela ficou sem nada, só que ela tinha um bom relacionamento com as fábricas que ela tinha contato, que ela tinha comprado. E aí um cara lá que era representante falou: “Bom, você não tem dinheiro, mas você tem credibilidade. Eu vou continuar fornecendo calçado para você até você se ajeitar aí e conseguir pagar”. — Bacana, né? —

E aí nesse meio tempo ela conseguiu colocar uns calçados consignados numa loja e foi batalhando… Até que um dia a Gisele estava andando ali por Osasco, quando ela ficou sabendo de um programa da prefeitura de Osasco chamado “Economia solidária”, e que aí eles te davam todo ali apoio, as informações e também faziam feiras. E aí a Gisele falou: “Poxa, por que não, né?”. E aí a Gisele foi fazer uma feira — dessa da economia solidária ali da prefeitura de Osasco — foi no calçadão de Osasco e, quando ela estava estacionando o carro, ela viu que ali no calçadão tinha uma loja disponível para alugar. E aí ela falou: “Não, imagina…”. Só que ela ficou com aquilo na cabeça e foi pra casa conversar com o marido, — porque, assim, os dois administravam ali a grana da casa e, enquanto ela vendia esses calçados, ela ainda era professora para complementar a renda e tal. —

E aí ela fez as contas e viu que o dinheiro que ela ganhava como professora dava para ela pagar o aluguel da loja. E ela foi comentar isso com o marido, — porque ele teria que segurar as pontas. — Ela foi perguntar o que ele achava, aí o marido dela virou para ela e falou: “Meu, com esse brilho que você está no olho, eu já sei o que você vai fazer, então não adianta nem eu falar nada, que eu sei o que você vai fazer”. [risos] E dito e feito… Gisele foi lá e alugou essa loja. Pra botar a loja para funcionar, ela botou o padrasto dela, a mãe, o marido, todo mundo pra trabalhar …ela foi nessas lojas de móveis usados. — Tem muita loja de móveis usado de loja, né? — E ela conseguiu preços ótimos e montou a loja toda com móveis usados e começou a vender. E aí, logo no começo, ela vendeu muito bem… [efeito sonoro de caixa registradora] E foi vendendo muito bem… Até chegar ao ponto dela não precisar mais do salário de professora para conseguir montar a loja. 

E o que acontecia nessa loja? Nos primeiros dois anos, a Gisele vendia os tamanhos convencionais e os tamanhos grandes e começou a ter um problema na loja. Então, digamos assim, uma moça ia lá comprar um calçado de 35 e a Gisele tinha ali do lado uma outra pessoa comprando um calçado tamanho 44. — O mesmo calçado 35. — Esta pessoa, esta criatura que ia lá comprar o calçado 35, pegava um sapato grande e falava: [efeito de voz grossa] “Nossa, quem ia comprar essa lancha?”, “Nossa, que sapato enorme”, e a pessoa que estava ali para comprar um sapato de tamanho grande ficava constrangida. Então a Gisele tomou a decisão de não vender mais calçados do tamanho convencional, ela ia vender só calçados tamanho grande. Só que ela ficou com medo… — De, sei lá, não dar certo e tal. — 

Só que ela apostou nisso e falou: “Não, vou bancar e tal”. E aí, gente, a loja deslanchou de vez, porque aí as pessoas não tinham mais aquele constrangimento de chegar lá e, de repente, alguém tirar sarro do tamanho de seu pé, né? E aí ela falou que agora é até engraçado, que às vezes tem alguma cliente lá na porta ou entrando e entra alguém falando: “Ah, você tem esse aqui tamanho 37?”, a cliente já responde: “Não, aqui é só tamanho pra gente, não tem tamanho pra vocês”. [risos] — Adoro. — Então agora ela se especializou realmente do 39 ao 44 e só vende esses tamanhos. Ela consegue dar um atendimento aí bem melhor para as pessoas que vão na loja, que querem calçados desse tamanho e evita todo o constrangimento aí que os clientes tinham com pessoas que vão lá e que não tem a menor noção, né, gente? 

Agora com a pandemia e com as coisas do jeito que estão, a Gisele está fazendo a migração aí, com planos agora para esse ano, da loja física para a loja online, focando na loja ali no Instagram, Facebook e WhatsApp Business. — Eu também logo terei a minha lojinha aí no Instagram, fiquem ligados. — E, gente, é uma ferramenta ótima, né? Eu comecei a estudar também para colocar os nossos ímãs de geladeira no Instagram e é muito fácil. Eu vou deixar aqui o link na descrição para vocês, um tutorial de como fazer isso, de colocar essa lojinha no Instagram, no Facebook e no WhatsApp já tem o link na semana passada. Então vai lá no episódio passado e clica no link para você ver como você instala aí o WhatsApp business. Agora a gente vai ouvir a Gisele contar um pouco aí dessa história. 

[trilha]

Gisele Camargos: Meu nome é Gisele Camargos e sou a proprietário da ContaPraEla – Sapatos femininos de tamanhos especiais. Atendemos do 39 ao 44. A ContaPraEla realmente se fortaleceu dentro da numeração especial, do público do 39 ao 44, a gente tem demanda também do 45, mas aí é um sufoco conseguir fazer, mas às vezes a gente consegue. E em 2010, em julho de 2010 foi quando a gente nasceu. Em janeiro de 2011 eu consegui o meu primeiro espaço físico. Então, nesse período, era só online… Não tinha loja de sapato, era dentro de um condomínio empresarial… E aí eu vi a necessidade de ter a numeração pequena, tradicional, do 33 a 39. Então comecei a fazer compras desses sapatos também, fiz uma parceria com uma outra loja aqui na Barra Funda. Só que, infelizmente, com uma semana de loja estabelecida, teve uma senhora enchente em São Paulo e eu perdi todo este estoque… Tanto o meu, quanto o consignado. 

Não sobrou um sapato para falar: “esse aqui ainda dá pra vender”. [risos] Então, naquela hora foi um misto de: “Gente, não estou acreditando”… Eu não chorei, não me bateu desespero… Olhava para aqueles sapatos boiando naquele mar de água e falava assim: “Gente, como que eu vou resolver isso?”, porque chorar não ia resolver. Eu olhava aquilo lá e falava assim: “eu vou resolver, só não sei como”. Então, foi, assim, muito complicado… Eu tive que primeiro ir lá dar a cara para bater para a pessoa que fez a parceria… A gente fez um contratinho onde eu me dispus a deixar alguns sapatos dos próximos pedidos que já estavam feitos nas fábricas com ela e pagando em partes, né? Em dinheiro. E comprei devagarzinho. 

E aí veio uma outra coisa muito legal… As primeiras fábricas que eu conheci, você acaba fazendo amizade com os fornecedores, né? Com os representantes. E um deles falou assim: “Não, eu vou continuar te fornecendo produto porque eu vi que você realmente está determinada, você quer fazer acontecer e, até o momento, você tem credibilidade. Você pode não estar com o crédito, mas você tem credibilidade”. Então, essa fala dele marcou muito essa minha retomada, né? Eu me apoiei muito nisso, falei: “poxa, eu não caí… E tem gente ainda apostando em mim”. Então foi um ano de um sacode logo no início, para ver se realmente eu estava disposta a fazer a ContaPraEla virar. 

Colocamos novamente a coleção, entrei com um pouco de produtos de numeração pequena, novamente para esse público e trabalhei ainda dentro desse espaço mais um ano. Olha, qual é o empreendedor pequeno que está nascendo ali, ó, na raça, na força do ódio que não passa um perrengue, né? Eu já passei dificuldades no sentido de fazer evento e você ter que fazer você… Levar o produto, montar o estande, estar bela, bonita, linda e cheirosa no dia do evento… Acabou o evento, desmonta tudo, guarda tudo, põe no carro, chega no seu estoque na sua loja e desmonta tudo… No mesmo dia você não consegue fazer mais nada. E, no dia seguinte, eu não ter forças para abrir a loja pra poder vender. 

Esse foi um dos perrengues que eu falo: “eu não passo mais por esse sufoco”, agora eu tenho o time que me ajuda em dia de evento. Então são duas pessoas que ficam focadas para os eventos, porque a desmontagem é surreal. Você tem que guardar tudo, conferir se os pares estão corretos, guardar a embalagem que voltou, fazer o atendimento dos clientes que você prospectou no dia do evento… Então, eu falo: esse é um dos grandes perrengues, porque você investe para estar num evento desse e trazer novos clientes para casa e, no dia seguinte, você não tem forças para atender?  

Chegar em datas de grandes vendas e você também não ter recebido o produto… A gente sabe que os fabricantes passam situações de chegar no momento, buscar matéria prima e aquele produto faltar… E a programação de entrega muda completamente… Você está esperando um produto chegar no dia 5, ele vai chegar no dia 15… E aí você tem que fazer todo um trabalho de marketing, divulgação, de ligar para clientes que já estavam esperando…  Com o passar do tempo, a gente começa a entender: quem são os fabricantes que conseguem realmente cumprir prazos? Qual é o prazo? Quanto tempo você pode dar uma margem de segurança para receber aquele produto? Mas isso leva tempo… 

Não é uma fórmula, né? Ninguém vai chegar e ensinar isso para você. O fabricante hoje pode estar super bem, entregando no prazo e, daqui um tempo ele está ruim, e aí não depende só dele… Então a gente aprende a ter esse jogo de cintura. Hoje tenho as minhas clientes como amigas, porque toda vez que eu faço live, eu tento mostrar a minha verdade, de rir, de falar errado, de falar de um sapato que não deu certo ,de mostrar uma sandália que veio, mas eu pedi menos, errei na demanda… Então, quando você mostra as verdades, a cliente chega na loja e não fica aquela conversa de vendedor: “Ai, esse aqui é o último par”, as clientes que me conhecem e são clientes frequentes, elas sabem, se eu falar que é o último par, é o último par. Eu não me sinto bem em mentir para a cliente. 

Aqui em Osasco nós temos um grupo de mulheres empreendedoras e eu tive a honra de fazer parte do primeiro calendário das empresárias de Osasco. Foi gratificante, foi marcante… Outras ações também, inclusive, pelo Facebook, de ter sido convidada para gravar materiais, para a Impulsione… Ter sido convidada para rede de líderes… A gente tem apoio aí da Feira Preta da Adriana Barbosa, é ímpar a ajuda que ela traz para o empreendedor negro. Muita coisa já aconteceu pra ContaPraEla e eu falo: Esses méritos também, eu sinto que, para o meu lado pessoal, que é um empenho muito meu. Então, todo reconhecimento, a marca ContaPraEla é para mim também e eu fico muito honrada com tudo isso. 

E eu acho que é isso, né? A confiança dos fornecedores, por mais que em algum momento você tenha as dificuldades, atrasa um boleto, liga lá, renegocia, programa novamente… Isso eu vejo que é comum. Eu que sou pequena, eu falo com o fabricante e ele fala: “Ah, um vizinho seu aí que compra 40 mil pares também pediu prorrogação de boleto”, eu falei: “Então eu estou no pau a pau com o grandão”. [risos] Eu sou mulher, sou negra e a gente sabe o quanto é difícil, ainda essa marca do racismo ainda existe, estrutural, disfarçada, ainda existe… Eu já fui em algumas feiras de calçados e senti isso lá. Mas eu tiro isso de letra, falo: “Gente, esse mal estar tem que ficar na pessoa, não pode ficar em mim”. Então, hoje eu já não enxergo mais isso… Eu sei que tem, mas eu abstraio e passo batido, porque eu estou ali feliz, sabe? Eu estou muito, muito alto astral para essas coisas me incomodarem. 

Então, tudo o que veio da ContaPraEla de 2010 para cá, tirando esses perrengues, eu falo: “Tudo me faz sorrir…” Até você acordar desmontada após um evento… Me faz sorrir. Eu, quando criança, acredito que com 12 anos eu já devia calçar 39, 40 e o meu sonho era ter uma Melissa, era ter sandalinhas que meninas de 12 e 13 anos usavam. E minha mãe e meu pai passavam muito constrangimento de chegar na loja, não ter e comprar o que tivesse. E eu cheguei ao absurdo, de meu pai estar estressado de não achar nada para mim e um dia chegar com um sapato masculino e eu tinha que ir para a escola com esse sapato masculino… Era muito ruim. Nunca chorei, né? Nesse momento, não, porque eu sabia que eles estavam fazendo o que podiam para poder resolver essas questões e não tinha o que fazer, né?

A partir do momento que minha mãe começou a me levar na loja e eu comecei a gostar de tênis, eu passei muitos anos da minha vida só usando tênis. Tênis, tênis, tênis… E aí acho que os meus problemas acabaram… Só que aí comecei a trabalhar, empresa quer um sapatinho, quer uma sandalinha, e aí voltei a ter os problemas. Só que, nessa época, já foram me dando as dicas de onde aqui em São Paulo tinham lojas, mas essas lojas até hoje são muito caras, né? Eles esquecem que tem essa população de classe baixa, com renda muito baixa e que não tem condições de gastar 300 reais numa sandália. 

Então, quando eu tive o insight da ContaPraEla, num primeiro momento, eu não pensei, nunca foquei em pessoas de renda alta. Eu sempre pensava assim: “Eu quero um sapato que a pessoa compre mais de um e que não saia dali sofrendo”. Então, quando eu falo que eu chorei com essa cliente… Ela chegou na loja, ela escolheu sapato, ela não se preocupou num primeiro momento com valores, porque, na verdade, ela chegou junto com a prima. Essa minha cliente veio de Pernambuco e, nas férias, o tio levou uma sapatilha para ela, ela gostou e, quando ela veio para São Paulo, a família toda se reuniu para dar presentes para ela. Eu não sabia disso, né? Então a prima chegou com ela na loja e ela experimentando… 

Experimentou um, experimentou outro e a gente… “Ah, eu gostei desse”, aí a prima que trouxe, a de São Paulo falou: “Deixa ali do lado, vai pondo ali do lado”. Eu sei que no final das contas, quando a prima de São Paulo perguntou para ela: “E aí, qual que você gostou?”, “Ah, eu gostei desses”, aí ela falou: “Soma pra mim, por favor”, eu somei, mostrei o valor, aí ela voltou a perguntar para a prima: “São esses mesmos? Não quer mais nenhum” e ela: “Não, são esses mesmo que eu gostei”. Aí ela virou para mim e falou assim: “Pode embrulhar, vou levar todos”, ali tinham 11 pares de sapatos… Aí a pessoa, que calça 43, chorava, chorava, chorava, chorava… A prima também chorava… Todo mundo chorava e ela falou assim: “Isso aqui é uma realização da família inteira. Lá em Pernambuco não tem loja que consiga atender nossa prima. Ela sempre usou sapato masculino, ela só vivia de tênis… Ela deixou de ir em festas porque não tinha sapato. Ela ia pra igreja, para o culto da Igreja de chinelo masculino”. 

Então quando ela começou a falar tudo isso, eu me vi na situação dela, porque eu passei por isso, né? Só que ali, naquele momento, era o momento de confraternização… Porque a família sabia que em São Paulo ela ia encontrar uma loja que atenderia a situação dela. Então, cada parente deu um par de sapato pra ela. Aquele momento foi muito marcante e eu falo até hoje… Eu não lembro do nome da moça, mas se eu encontrar o tio eu vou saber, eu lembro dele. Ele já veio na loja comprar mais coisas para levar de presente e eu sempre falo: “Ah, você é o tio da moça de Pernambuco”, mas esse foi o momento que marcou demais. Eu lembro que no dia tinha mais dois vendedores na loja e eles não quiseram chorar ali juntos e saíram de dentro da loja. Mas foi muito gostoso…  

[trilha] 

Déia Freitas: Gente, eu estou amando a parceria. Entra lá no meu Instagram e vai lá usar o filtro, o filtro tem o Coentro Nenê de gravatinha, gente… Vai lá tirar a fotinha junto com o Coentro Nenê que eu vou divulgar o seu negócio. Meta, estou amando essa parceria, tamo junto. Entra aqui na descrição, gente, do episódio, clica no link, vai saber mais e não esquece: usa la o nosso filtro. Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.