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título: gruta
data de publicação: 16/03/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #gruta
personagens: thiago e robertinho

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar pra vocês a história do Thiago. — Ê, Thiago… [risos] — Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


O Thiago tem um grande amigo — o Robertinho — e um grupo no WhatsApp com dez amigos. — Eles são em dez ali… — E eles resolveram que em determinado ano aí eles iriam pra um país que tinha uma festa, que é tipo um carnaval e que as pessoas ficam muito, muito, muito à vontade. O nome desse grupo de WhatsApp — eu vou falar um nome parecido, não vou falar o nome do grupo, lógico, mas… — é tipo “bonde das passivas”. Então são dez homens gays que são ali passivos. Qual é a ideia dessa festa que eles iam? Pra soltar geral… Então eles alugar uma casa no PôneiBNB. [risos] E essa festa tem uma lenda de que não importa se você é gay ou hétero, nessa festa meio que todo mundo é gay, então os héteros meio que entram nessa.


Então a ideia era ir esse bonde aí, ir pra lá e aproveitar. Então, Robertinho fez ali a reserva, todo mundo pagou, não teve nenhum problema, foi tudo certinho… O pacote da viagem — que eles pegaram ida e volta, avião — tudo certo. Só que acontece que, nosso amigo Thiago, ele é geólogo. Então, pra esse lugar que eles foram e iam passar esses dez dias, — passaram esses dez dias — além de ter essa festa, essa coisa e tal, tem também um lugar que tem muitas trilhas e muitas grutas. — Então já odeio… [risos] Jamais irei. — E o Thiago tava doido, doido, doido pra explorar esse lado, mas aí o Robertinho falou pra ele, falou: “Mano, ninguém que está aqui vai querer fazer trilha com você. A gente não está indo lá pra fazer trilha, a gente está indo lá pra curtir e você não vai fazer trilha sozinho”.


E aí o Thiago ficou com aquilo na cabeça, beleza, foram… Estão lá aproveitando, dia e noite, enfim… A casa que eles alugaram é pra dez pessoas. Então, às vezes, assim, não estava todo mundo lá… Então, pô, um saía à noite e voltava só no outro dia de manhã, o outro saía de manhã, voltava à noite, enfim… Mas o Robertinho ele é meio neurótico. — Robertinho sou eu na vida. — Então, o Robertinho ficava aqui meio que de olho em quem apareceu, quem não apareceu, quem está aqui, quem não está, quem chegou muito bêbado, está mal, não tá… — Já amo Robertinho. — E o Thiago curtiu três dias muito bem, assim, conheceu uns caras lindos e tal, ficou e nã nã nã… Só que no quarto dia ele falou para mim: “O bichinho ali do geólogo já começou a me pinicar. E, assim, eram lugares muito lindos pra não explorar… Com cavernas, com grutas, enfim, na minha área… Eu tinha que ir”.


E aí ele começou a procurar na cidade pelos guias, mas estava todo mundo nessa onda desse carnaval, dessa coisa, né? E ele não achava um guia pra ir com ele. E o Robertinho viu que ele tava no celular procurando isso e já deu uma bronca nele, falou: “Escuta…” — Robertinho chama todo mundo de bicha. — “Bicha, você veio até aqui pra você ficar numa caverna? Você é o quê? O batman?”. [risos] Aí já deu uma bronca ali no Thiago, mas o Thiago ficou com isso na cabeça, de que pelo menos um dia ele ia fazer trilha e ia conhecer algumas grutas ali. O Robertinho sempre de olho em todo mundo, quem chegou, quem não chegou, quem tá aí, quem não tá, se tá todo mundo seguro, todo mundo salvo e nã nã nã… — Robertinho sou eu, é muito eu, é muito minha cara. —


E aí um dia Robertinho virou a noite, saiu, encontrou um boy maravilhoso, ficou com esse boy e Robertinho chegou na casa que eles alugaram por cerca de onze da manhã. Então tinha uns ali dormindo, tinha uns já acordados tomando café, tinha outros saindo e Thiago já não estava, mas ele não encanou. — O que tinha acontecido aquela manhã? — Aquela manhã estava um dia muito lindo e o Thiago falou: “Quer saber? Eu vou fazer uma trilha sim. Vou tirar umas fotos dessas grutas sim e vou dar uma volta…”. E aí ele fez uma mochila, ele colocou ali duas garrafas de um litro cada uma de água, fez dois sanduíches e pegou três maçãs. Ele falou: “Bom, eu posso passar o dia nessa floresta vendo essas grutas e tal, que vai dar tudo certo”. E aí foi ele… Então, até determinado ponto, tinha sinal de celular. Então ele tirou umas fotos, ele postou uma foto no Instagram dele no meio do mato, da floresta lá. [risos]


E aí ele foi caminhando, caminhando, tipo, ele saiu umas sete horas da manhã, caminhou até umas dez, então pensa: Três horas de caminhada até chegar numa das grutas, assim. Então, o que ele fez? Ele falou: “Bom, eu não estou com um calçado tão adequado” — ele tava de tênis e tal — “Eu não sei se é tão liso, então eu vou ficar nessas grutas que eu estou, que eu consigo, que tem a entrada maior e eu consigo ver até onde eu consigo ver e nã nã nã”. E aí ele entrou na primeira gruta, ela tinha uma abertura grande e tal, tirou umas fotos, saiu… E aí, quando ele virou, ele viu que tinha uma série de grutas, assim, que parecia mais assim, quase subterrâneas assim… Que você descia um pouco, ele falou: “Bom, aqui acho que também dá, né?”. E aí nessa, o Thiago ele foi entrando na gruta e foi vendo e tal as coisas lá que geólogo gosta, vendo coisinhas de geólogo, coisinhas de geólogo… E, quando ele viu, ele estava numa gruta que tinham vários lugares pra ele ir, pra direita, pra esquerda, pra frente… E ele foi para um lado, que ele acha que era direita… Mas quando ele voltou, ele já estava perdido… — Dentro da gruta… Em outro país. —


E aí ele falou: “Não, eu não vou me desesperar… Acho que eu vim por aqui, vou por aqui”. Só que, conforme ele andava, ele ia mais fundo na gruta. Ele achava que ele estava saindo porque ele conseguia ver às vezes algumas frestas assim… — Olha o perigo… — Ele foi até determinado ponto e o que ele pensou? Ele falou: “Bom, o meu celular está funcionando ainda, tem luz… Então, até aqui onde eu sei que eu já vim, é seguro. Eu não sei mais para frente”. Então, chegou uma hora que ele rodou, rodou, rodou, que ele parou… Por que qual era o medo dele? Que os reflexos que ele estava vendo dentro daquela gruta de alguns espacinhos, assim, alguma claridade, não claridade de luz, era de água. E à noite — porque ele passou a noite na gruta — ele veio a descobrir que realmente era isso… Que se ele andasse um pouco mais, tinha uma queda pra água de oito metros… — Na rocha. E ele podia até morrer, dependendo de como cai, né? —


E ele ficou ali parado… E aí foi comendo pouquinho as coisas que ele tinha, meio desesperado, não tinha como mandar mensagem regulando ali o celular… E ele tinha saído com uma roupa leve, mas estava meio que com um abrigo na mochila assim, sabe? Se ficasse meio frio a tarde, ele pensou, né? E, gente… O Thiago ficou… Passou a noite nessa gruta… Não conseguia sair da gruta mais. Nisso, lá na casa do PôneiBNB, o Robertinho já tinha dado falta do Thiago… — Isso no final da tarde, assim… — Ele chegou e Thiago não tava… Até final da tarde Thiago não voltou. O Robertinho pensou: “Hum, será que encontrou um cara? Ficou? Vamos esperar até amanhã”. Chegou no dia seguinte que Robertinho falou: “Bom, mando mensagem e nem dá sinal aqui… Onde está, Thiago?”. E aí ele resolveu olhar no Instagram e viu que no Instagram tinha uma foto dele na floresta. Robertinho falou: “Filho da puta, a bicha foi pra gruta”. 


E aí ele super desesperado, começou a falar com os amigos ali… Mas, assim, a galera tinha dia que chegava bêbado, estava bêbado ainda… Aí todo mundo meio que ficou preocupado, mas assim “ah, ele deve ter encontrado um bofe na trilha”. [risos] — Ó, as ideias… [risos] — “Ah, tá com alguém na trilha”, sabe? Ninguém pensou que ele poderia estar perdido, machucado, ou qualquer coisa assim, só o Robertinho. E aí, no dia seguinte, o Robertinho foi até a polícia e, com a ajuda do Google Tradutor, ele explicou a situação e o policial falou a mesma coisa que os amigos, falou: “Ah, como a gente está aqui em festa, ele deve estar por aí, né?”. E aí o Robertinho insistiu mais um pouco, mas o policial falou: “Vamos aguardar mais um pouco? Se ele não retornar até à noite, você volta e a gente pede uma busca. Pode ser?”. E aí o Robertinho, já desesperado, voltou para casa, nem saiu aquela noite… E o Thiago não voltou… Porque Thiago estava lá na gruta, comendo maçã, comendo as coisinhas que ele tinha e desesperado… Desesperado. 


Porque agora ele falou para mim assim: “Andréia, eu nunca tinha ficado num lugar tão escuro que chega uma hora que você não… A escuridão parece palpável, assim… Parece que você não sabe mais como é o dia… Se é dia, se é noite… Eu tinha meu celular ali, meu celular foi acabando a bateria… Quando acabou a bateria, eu não sabia mais que horas era, nada…”. E aí foi batendo aquele desespero… E aí, sem o celular, ele resolveu, fez a coisa certa de não andar mais. E aí ele falou que durante a noite às vezes ele sentia um bicho ou outro andando nele… — Deus é mais, gente… — E, no dia seguinte, logo cedo Robertinho voltou na polícia e falou: “Ele está desaparecido mesmo… E ele estava, ó… Olha essa foto aqui que ele postou, ele estava nessa floresta”. E aí acharam lá meio que a parte da floresta, andaram, chamaram… O Thiago não ouviu nada… E aí começaram a entrar nas grutas. Mas como eram muitas, eles trouxeram um cão farejador. — Olha o trabalho que o Thiago está dando… —


E aí com o cão, ele foi até a porta da gruta que o Thiago tava e latiu, latiu, latiu… [efeito sonoro de cachorro latindo] — Pra vocês verem como o Thiago estava lá pra dentro da caverna e tal, ele não ouviu o latido. — E aí os caras começaram a entrar lá e tal e acharam o Thiago. E aí, nossa… Thiago estava mal já, porque ele estava mais desesperado do que com fome, porque tinha um pouco de água e tal ali… Um dia só você sem água você não morre e tal, mas ele já estava muito abatido, assim, muito assustado e tal. E aí ele saiu e tinha um procedimento ali que ele tinha que responder… Tipo um inquérito, né? Eles abriram tipo um inquérito pra saber o que tinha acontecido e ele foi levado para o hospital… E eles todos com medo de precisar pagar alguma coisa, mas ele tinha o seguro viagem. — Graças ao Robertinho, que fez todo mundo fazer o seguro viagem, né? — Deu tudo certo, ele voltou lá pro PôneiBNB e eles tinham ainda mais uns dias… E aí o Robertinho puto, puto, puto, puto… E deu sermão no Thiago, assim, um monte e começou a chamar o Thiago de “a bicha da gruta”. [risos] Que horror… [risos] 


Qualquer coisa que o Thiago tentava falar, ele falava: “Cala a boca, bicha da gruta”. [risos] Robertinho ficou muito puto, mas é graças ao Robertinho, né? Porque você está ali numa casa, na zoeira, na bebida, um pouco de entorpecentes rolando também, pô, é cada um por si, né? Se não fosse o Robertinho ali, preocupado com todo mundo, vendo todo mundo, o Thiago, sei lá, podia ter acontecido pior nessa gruta, né? E aí o Robertinho falou pra ele: “Você agora… Você não vai nem na grama mais”. [risos] O Thiago ficou meio de castigo, mas ele também estava se sentindo meio mal fisicamente, né? E aí depois meio que acabou a viagem e eles voltaram pro Brasil… E até hoje às vezes o Robertinho chama o Thiago de “bicha da gruta”, [risos] dependendo do que ele fala. “Você não tem poder nenhum aqui, bicha da gruta”. [risos] Já amo o Robertinho. [risos] Tá vendo, gente, como trilha dá errado? Aí o pessoal fala: “Ai, Déia, hater de trilha e nã nã nã”. Sou hater de trilha, me desculpa, mas é isso aí… Ó o que deu, né?

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, eu sou Verônica de Goiânia e eu estou morrendo de rir dessa história da gruta, [riso] porque eu sou total bicha da gruta também. Amo trilha e é o seguinte, Thiago: Você teve muita sorte… Muita sorte mesmo de ter um amigo como o Robertinho, porque ele foi maravilhoso do começo ao fim com você. Já me perdi em trilhas também… Felizmente não aconteceu nada e conseguimos achar o caminho, mas sempre vão em trilhas específicas, especialmente com grutas com os guias e os guias cadastrados pela região que você está visitando. Um beijo e fique bem. Boas trilhas. 

Assinante 2: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, eu sou Camila, falo de Santa Maria aqui no Rio Grande do Sul. E queria dizer, me declarar Team Robertinho, porque, assim, que ideia maluca que o Thiago teve de sair para fazer trilhas sozinho num país desconhecido? Tem a receita completa pra dar errado, né? Mas que bom que no fim deu tudo certo. Isso me lembrou até de uma história de um livro que eu li que uma moça também ficou presa numa gruta, mas pra ela não terminou tudo bem, deu uns sérios problemas lá… Mas enfim, não façam isso… Não façam trilha. Primeiro que eu também sou hater de trilha, [risos] mas se for fazer, faça em conjunto, com segurança e com guia… É isso. 

[trilha]

Déia Freitas: Então, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis aí com Thiago e Robertinho. Um beijo e eu volto em breve.


[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

Pra você que ficou aqui depois da vinheta, eu tenho um spin off dessa história, [risos] que é a história do Robertinho. Robertinho estava nas buscas, né? Robertinho estava ali preocupado e, nessas buscas, tinha lá um bombeiro… Não era bem igual ao nosso bombeiro aqui, mas era tipo um policial florestal, alguma coisa assim… E Robertinho ali trocou olhares com o policial florestal e nã nã nã, eles saíram no dia seguinte. E, gente, o cara veio para o Brasil e o cara é marido do Robertinho. [risos] Aí o Thiago que diz que ele tem que erguer as mãos para o céu, que ele ficou preso na gruta, porque se ele não tivesse se perdido na gruta, o Robertinho não ia conhecer o marido. E é verdade, né? Thiago tem razão. Então, quando o Robertinho chama de “bicha da gruta”, ele fala: “Você só tem marido por minha causa. Fui eu que te dei esse marido”. [risos] Ai, gente, já amo esses dois. [risos] Então, agora eu vou mesmo. Um beijo.

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.