título: guaraci
data de publicação: 06/01/2022
quadro: vai pra onde?
hashtag: #guaraci
personagens: dona marta, seu cido, seu guaraci e dona elvira
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para nossa penúltima história do Especial de Férias. E a história de hoje pode despertar aí alguns gatilhos sobre afogamento, então tenham cuidado. Bom, a história que eu vou contar hoje para vocês é a história do seu Guaraci e de seu amigo Cido quando eles foram com as famílias para a praia pela primeira vez, conhecer o mar, enfim… Ficaram na praia ali dez dias. Bom, então vamos lá, vamos de história.
Quem me escreveu foi a dona Marta, que é esposa do Seu Cido e essa história tem muitos e muitos, muitos anos. E a família, tanto da Dona Marta e seus Cido quanto a do seu Guaraci, eram vizinhas numa cidade aí do interior que não tinha praia e eles cresceram meio que sem conhecer a praia mesmo, né? E já adultos organizaram uma viagem para conhecer o mar e ficar dez dias. Era uma viagem muito esperada, né? As crianças eram pequenas ainda, então foram os dois casais. Então Dona Elvira e seu Guaraci, a Marta e o seu Cido e as crianças, né? Cada um aí tinha três crianças, então foi aquela galera.
E assim que eles chegaram na praia… Gente, é muito bom, né? Essa sensação de ver o mar pela primeira vez. E eu acho que ver o mar sempre, acho que é uma coisa que não acaba, você ver aquele mundo de água… E eles ficaram muito impressionados assim, né? Mais os adultos do que as crianças até. E com aquele medo também chegar muito perto da água, então foram lá, molharam os pés… Aí o seu Guaraci ficou com a agonia daquela… Eu não sei, como chama aquilo que quando a gente pisa na areia dá a sensação de que a gente está andando assim, deslizando? E o seu Guaraci ficou com aflição daquilo. [risos] Mas toda hora ia ali botar o pezinho e tal na água.
E aí eles foram para passar dez dias, ali pelo terceiro dia eles brincavam só ali na beiradinha da água, né? Então Dona Elvira e Marta ficavam mais focadas nas crianças e ali, seu Guaraci e o Cido bebendo uma caipirinha, uma cerveja e ali pela beirinha do mar. Como que o Cido fazia para brincar no mar? [risos] Ele fechava o olho… Ia até, assim, mais ou menos a altura do joelho, fechava o olho, esperava a onda vir e saía correndo. [risos] E aí eles ficaram ali brincando, enfim, curtindo o mar. Seu Guaraci tomou uns caldos assim, da onda e levar e ele meio que cair, mas assim, tudo muito de boa.
Até que num determinado momento ali do quarto dia, a praia muito lotada, as mulheres focadas nas crianças, né? Porque pra criança se perder na praia e ir para o mar é muito perigoso, e Cido e Guaraci ali juntos. De repente, gente, uma hora o seu Guaraci desapareceu. E aí o Cido começou a gritar e juntou, gente, veio salva-vidas, enfim… Eles começaram a procurar o seu Guaraci ali no mar e não achava, não achava, não achava… Cada pedaço da praia tinha um posto ali de salvamento e eles trocaram um rádio para ver se o seu Guaraci aparecia em algum posto, né? Seu Guaraci não apareceu e posto nenhum.
E deu-se o início ali das buscas pelo seu Guaraci no mar. E, gente, as equipes de busca e salvamento procuraram seu Guaraci ali, assim, por horas, até anoitece e não encontraram. A Dona Elvira estava destruída e a Marta e seu Cido também. Seu Cido ficava gritando na beirada ali da água: “Guaraci, Guaraci” e nada do Guaraci. E eles tiveram que voltar para casa que estavam… Eles estavam, tipo, num lugar que é uma colônia assim, sabe? De casas… Que funcionários têm desconto e tal. E aí eles voltaram para aquela casa, ninguém conseguiu dormir à noite e o planejamento era ficar lá até saber o que ia acontecer, porque o Guaraci também não sabia nadar, então eles passaram uma noite terrível.
E aí no dia seguinte cedo, eles voltaram para praia e aí tinha bombeiro fazendo buscas logo cedo, tipo, seis horas da manhã, mas também nada de encontrar nada. E aí o seu Cido saiu desesperado gritando pela praia: “Guaraci, Guaraci”, ele estava muito desesperado, né? E aí uma hora ele estava andando pela praia gritando, que era só isso que seu Cido sabia fazer, né? Gritar. Quando, de repente, ele escutou de longe: “Cido, Cido”, quem que vinha? [risos] Que que vinha vindo lá de longe? Todo vermelho, assado? [risos] Seu Guaraci. Seu Guaraci. [risos] A praia toda procurando este homem, a praia toda… O Corpo de Bombeiros procurando esse homem… E o que aconteceu com seu Guaraci?
Ele estava ali brincando com o Cido, nessas de Cido fechar o olho, o mar foi meio que afastando os dois. Seu Guaraci já com umas cachaças na cabeça, tomou um caldo e saiu rolando… Quando ele, assim, voltou na areia, que ele falou que ele teve tipo um apagão, ele não sabia mais onde ele tava. [risos] A praia lotada, ele começou a procurar pelo lugar errado e ele bêbado tentou voltar para as casinhas da colônia, só que as casinhas eram todas iguais. [risos] E o que seu Guaraci fez? Isso era tipo, sei lá, uma da tarde… Ele deitou numa grama e dormiu. Deitou numa grama e dormiu, pegou todo aquele sol de praia na grama. Quando ele acordou, já era noite e ele não conseguia se mexer porque ele estava todo queimado de sol. [risos].
E aí ele ficou deitado na grama, [risos] até conseguir levantar de manhã, pegou no sono, voltou, passou a bebedeira, enfim… E aí ele voltou para a praia para tentar achar alguém. [risos] Em vez de perguntar também, falar: “Olha, eu estou perdido”, ele ficou com vergonha. [risos] E aí, assim, de muito longe ele escutou o Cido gritando o nome dele e ele começou a gritar “Cido”. Então ficava assim o Cido “Guaraci” e aí o Guaraci lá na outra ponta: “Cido”. [risos] O Cido achando que estava ouvindo coisa, ou que era a alma do seu Guaraci pedindo ajuda. [risos] E aí o seu Guaraci chegou perto deles ali todo vermelho, todo cheio de insolação, queimadura… [risos].
Ele não estava mal, né? Ele estava ótimo, só estava vermelho de sol porque tinha queimado muito, enfim… [risos] E aí o bombeiro meio que ficou incrédulo assim, tipo: “Mas como assim o senhor apagou e quando voltou não procurou um posto de salvamento, nada?” Sabe nada? Dona Elvira que tinha chorado a noite toda agora olhava para o seu Guaraci com ódio. [risos] Mas pelo menos graças a Deus está vivo, tá vivo até hoje. [risos] Todo mundo olhando com ódio pro seu Guaraci… [risos] E ele ótimo, eles acabaram ficando na praia, né? As férias, os dias que eles tinham contratado lá a casa.
E aí agora todo mundo em vez de ficar de olho só nas crianças, tinha que ficar de olho também no Guaraci e no Cido, porque o Cido é outro também, que fechava o olho ali e o mar ia levando. [risos] Então os caras só deram trabalho aí para as esposas, né? Pra dona Marta e dona Elvira e ainda bem, um final feliz, né? Seu Guaraci não estava perdido no mar, não se afogou, nada, ele só estava meio bêbado e perdido ali, porque as casinhas eram todas iguais e a praia toda igual… Ele até falou: “Podia ter, né? Fincar umas bandeiras ali no meio do mar pra gente saber [risos] onde que a gente tá localizado, né?” Ele podia ter prestado atenção nos postos de salvamento, num quiosque, mas não…[risos] Falou: “Ah, vou deitar aqui na grama, depois eu vejo isso”.
Gente, pensa o ódio da dona Elvira? [risos] De todo mundo, né? Mas dela mais, de saber que passou a noite toda pensando mil coisas, como é que ia ser dali pra frente e tal. [risos] E o seu Guaraci bêbado dormindo na grama. Que ódio. [gargalhando] Ai, eu amei essa história, porque o final é feliz, enfim, né? Deu tudo certo. Um beijo e eu volto amanhã pra nossa última história do Especial de Férias, um beijo.