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título: guarapari
data de publicação: 05/06/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #guarapari
personagens: viviane e um cara

TRANSCRIÇÃO

Este episódio contém conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão e hoje eu vou contar para vocês a história da Viviane. — Essa história tem gatilhos aí de tentativa de suicídio. — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Viviane, uma estudante universitária, conheceu um cara na faculdade e se apaixonou. Era uma paixão, assim, muito intensa, os dois se gostando muito e faziam tudo juntos… O tempo foi passando, Viviane foi cursando a faculdade ao lado desse cara, os dois se formaram, ela em administração, ele em direito. Ele demorou ali um ano para conseguir o OAB, conseguiu a OAB, começou a trabalhar na área… A Viviane num emprego muito bom — na área administrativa de uma construtora — e eles resolveram aí fazer os planos para o casamento. Tudo indo muito, muito bem… — Então, assim, o pai da Viviane ajudou ali a organizar e a pagar as coisas da festa. — Eles alugaram um apartamento mobiliaram, fizeram todas as coisinhas. 

Conforme ia chegando perto da data — do casamento — este cara foi mudando… A primeira coisa que ele falou para a Viviane foi que: “Ah, depois que eles casassem, como agora ele estava num emprego bacana, ela podia sair do emprego e se dedicar a ele”. — Palavras dele… — “A ele, a casa e um projeto de ter um bebezinho”. A Viviane assustou porque, assim, eles vinham de uma trajetória muito bacana, um namoro monogâmico muito livre assim… Conforme chegava perto do casamento, o cara foi mudando o discurso. Faltando uns dois meses para o casamento eles iam ao cinema e a Viviane botou uma roupa, ele passou na casa da Viviane para buscá—la e ele reclamou da roupa e disse que não ia ao cinema com a Viviane vestida daquele jeito. Daquele jeito era: um decote e ela estava com um shorts ali no meio da coxa — porque estava super calor — e ele disse que ele não ia. E aí eles já brigaram ali e a coisa foi ficando estranha… A Viviane ia casar no civil numa sexta-feira e no religioso no sábado. 

Quando foi na quinta-feira antes do casamento, ele deu o ultimato em relação ao emprego, ele queria que ela pedisse demissão naquele dia. E a Viviane falou: “Não vou pedir demissão, eu não vou deixar meu emprego e isso não vai acontecer”. E aí eles tiveram uma enorme briga, ele segurou o braço da Viviane e, a partir do momento que ele segurou o braço da Viviane, a Viviane falou: “Daqui para frente eu não sei o que ele pode fazer, então eu não quero mais casar”. — E isso, gente, na véspera do casamento civil… — Viviane — eles estavam lá no apartamento, né? — chegou na casa dela e comunicou os pais: “Olha, eu não vou mais casar”, e aí o pai e a mãe da Viviane tiveram uma reação que ela não esperou, assim, eles ficaram contra ela… — Contra ela… — Mesmo ela falando das coisas que o cara vinha fazendo, eles achavam que era pressão do casamento, que depois que casar melhora. Ela falou: “Não, eu não vou arriscar”. 

E aí a Viviane brigou na casa dele e, na quinta-feira, ela fez as malas e foi para o apartamento que eles tinham alugado. O apartamento foi alugado no nome da Viviane. — Porque ela estava no emprego há mais tempo, então o cadastro dela tinha sido aprovado, né? — E ela foi, pegou todas as coisas dela… — Então pensa, gente, na véspera do casamento, na quinta-feira, tipo na hora do almoço e e levou tudo lá para o apartamento… — Ela já tinha levado bastante coisa, mas ainda faltava e se mudou da casa dos pais na véspera do casamento, começou a etiquetar os presentes pra devolver. A geladeira ela tinha comprado, mas o fogão o cara que tinha comprado o fogão e o micro-ondas, então ela também fez as coisas ali. E na sexta-feira, na hora do casamento, o cara com a família foram para o cartório. O cara não avisou a família dele foi para o cartório com a família, sendo que ela tinha rompido o casamento. 

E aí a família começou a ligar para o Viviane… Viviane ele não estava nem vestida, ela não ia… [efeito sonoro de celular vibrando] Ela não ia casar mais. E aí foi uma briga por telefone, Viviane se aborreceu mais ainda e acabou conseguindo um carreto e, enquanto eles ainda estavam sei lá onde, porque não deviam estar mais no cartório, ela entregou na portaria do prédio do cara, o fogão, o micro-ondas, as coisas dele, tudo… Tudo o que ele tinha comprado do apartamento ela entregou na portaria dele. E aí isso virou uma guerra, porque as famílias ficaram do lado do cara e a Viviane bateu o pé que não ia casar. Não ia mesmo… Aí o pai dela falou que ela teria que devolver o dinheiro da festa e ela falou: “Pois pai, eu vou te pagar tostão por tostão, eu só não tenho agora, mas eu vou te pagar… Mas não vou casar”. Ela com vestido comprado, gente, tudo… — E ela não casou. — Passou o final de semana que seria do casamento, aquele escândalo, ela teve que fazer um aviso no Whatsapp, porque ela falou: “Nas redes sociais também não vou postar”, mandou WhatsApp… Sabe quando você manda para todo mundo? 

Mandou WhatsApp pra todo mundo, avisou que não ia ter mais casamento, avisou isso na sexta-feira de manhã ali, pra todo mundo… Então, quem ia no sábado na cerimônia já ficou sabendo que não ia mais ter o casamento e ela pegou um mês de férias, então ela tinha tempo ali pra se organizar. E ela comprou um fogão e uma geladeira nova, com o dinheiro das férias dela. Eles tinham combinado que eles não iam viajar de lua de mel porque o cara estava no emprego novo, né? Então ela estava com o dinheiro das férias, ela comprou um fogão e um micro-ondas, que geladeira ela já tinha e ela devolveu o fogão e o micro-ondas para o cara e um rack, umas coisas assim… A TV… Ela ficou sem TV mesmo e começou a seguir a vida dela. Só que o cara começou a atormentar… E qual era o jeito dele atormentar? Ele postava nas redes sociais que ele não conseguia viver sem ela, que ele tinha sido humilhado e ele dava a entender que ele ia se matar. Isso todo dia. [efeito sonoro de tensão]

E, conforme ele ia fazendo aqueles posts tristes de que ele não fez nada e que ela largou ele, provavelmente, ele falava assim: “Provavelmente ela tem outra pessoa” e não tinha, gente… Foi realmente porque ele foi mudando o comportamento, né? As pessoas foram ficando contra a Viviane. Viviane disse que viveu um pesadelo nessa época, com família, alguns amigos e a galera toda contra ela. E esse cara começou a fazer posts dando a entender que ele ia se matar. — E Viviane aqui, gente, ela fez uma coisa que eu sempre falo que é para fazer mesmo: Se você tem um ex, uma ex e ela diz que vai se matar, o máximo que você vai fazer é comunicar a família dela, falar: “Olha, fulano/fulana entrou em contato comigo e está dizendo que vai se matar. Isso é uma questão para vocês familiares e amigos. Eu não tenho nada a ver com isso”. E você nunca, nunca, nunca vá se encontrar com uma pessoa que ameaça se matar, porque numa dessas ela te mata e se mata… Ou só mata você. Então não vá, não é mais um problema seu. A partir do momento em que você terminou o relacionamento com a pessoa, o que ela vai fazer dali para frente com a vida dela não é um problema seu. Então, o máximo que você vai fazer é mandar uma mensagem ou dar um telefonema, mas eu sugiro que você mande uma mensagem para deixar escrito ali, comunicado que você avisou a família e não é um problema seu mais. Seu problema é ficar em segurança e levar a sua vida. É isso. —

E a Viviane fez isso, ela avisou a irmã do cara e falou: “Olha, ele está ameaçando se matar, tá mandando mensagem, tá ligando e eu não vou encontrar com ele”. E aí a irmã do cara xingou a Viviane de tudo quanto é nome e a Viviane falou: “Olha, não vou… Não vou mais atender ninguém da família e já avisei que ele me mandou esse tipo de mensagem, te mandei os prints, é isso”. Viviane não errou em nada, pelo menos eu acho… — Não errou em nada. — Um tempo se passou… Uns três meses após o não casamento, Viviane acorda um dia com o celular dela entupido de ligações e mensagens e muitos xingamentos, muitos xingamentos… Esse cara tinha pulado de uma ponte [efeito sonoro de tensão] num rio e tinha deixado em cima da ponte a mochila com uma carta, o celular, etc. Os bombeiros começaram a procurar esse cara nesse rio, procuraram por quatro dias e um bombeiro chegou a falar para um dos amigos em comum ali da Viviane com o cara que depois de três, quatro dias, se o corpo está afundado e não está preso em nada, amarrado em nada, ele sobe por causa dos gases internos que formam no corpo da pessoa. Depois do quarto dia eles não acharam… E aí os bombeiros eles espaçam as buscas, né? — Vira um outro protocolo de busca ali para tentar achar o corpo do cara. —

E uma semana depois ninguém achou o corpo do cara. Oito dias após o cara se jogar da ponte, um senhor chamado “seu Hélio”, que era um sapateiro do bairro e que conhecia tanto a Viviane quanto esse cara — por causa das famílias e tal, enfim, era um conhecido da família —, tinha viajado para Guarapari e quem esse senhor viu em Guarapari, na praia, tomando água de coco e comendo um queijinho coalho? O cara. — E aqui a gente vai pular lá pra família do cara, que também estava desesperada e que ele fez isso com a própria família também. — Ele não pulou no rio… Ele simulou um suicídio falso e estava hospedado num hotel na praia de Guarapari. — É mole? — As famílias foram avisadas, tanto a família da Viviane que estava muito preocupada com o cara ainda quanto a família do próprio cara… Polícia, bombeiro, todo mundo foi avisado e ele voltou de Guarapari. O que ele disse? Que ele chegou lá na ponte, deixou as coisas, porque as coisas estavam lá e subiu na ponte, mas não teve coragem de pular e resolveu tirar um tempo para ele… — Sem avisar ninguém. E as pessoas desesperadas procurando o corpo dele no Rio. Eu acho que ele fez de propósito mesmo, assim, que ele nem chegou a querer pular. —

Quando começaram a questionar ele, ele disse: “Não está escrito que eu pulei, não tá escrito que eu ia pular, só está escrito as coisas que estavam ruins na minha vida” e realmente na carta não estava escrito que ele ia pular. Esse cara não foi acusado de nada, a família acabou perdoando, falou que ele estava com questões emocionais e psicológicas e nã nã nã… Viviane até hoje ainda ainda é xingada, porque muita gente ainda acredita que ele pulou e ele não pulou… — E mesmo se ele tivesse pulado, não era culpa da Viviane, né? — E ele segue a vida dele, pleno… Nem xingado ele é, só que é xingado até hoje ainda é a Viviane. Viviane pagou o pai, — isso já tem uns anos — pagou o pai de volta. Depois desse não casamento, o relacionamento familiar dela ficou estremecido porque realmente ela não teve nenhum apoio. E vira e mexe ainda esse cara entra no Instagram da Viviane, mesmo ela bloqueando, ele faz outra conta, faz questão de colocar o nome dele na conta e entra para ver storys e essas coisas da Viviane e ela não pode fechar a rede dela por questões de trabalho, enfim, não vamos entrar nesses detalhes. 

Pra mim e pra Viviane ele fez tudo de caso pensado assim, porque na hora ele falou lá: “Aí eu resolvi ir pra Guarapari com a roupa do corpo…”, mas ele tava com uma mochila em Guarapari. Ele voltou com roupa, com coisa. Comprou tudo lá será? Não sei… Eu acho que ele forjou realmente o suicídio. Ele queria dar uma lição, dar um susto, sei lá, nas pessoas e tava na praia, gente, tava na praia… Uma hora ele ia ter que voltar, mas quando? A Viviane acha até que a família dele sabia. Eu acho que não, porque a família dele não ia fazer aquilo com os bombeiros, sei lá. — Eu acho que não… — Mas a Viviane acha que até a família do cara sabia. Eu acho que não, eu acho que ele fez sozinho, mas que ele fez sim de caso pensado. — Então, o recado que eu quero deixar nesse episódio para vocês é: Se você terminar com alguém, ou se qualquer pessoa ameaçar se matar porque você não quer encontrar com ela, não vá. Não vá. Não é culpa sua, não é problema seu… Avise os familiares dessa pessoa por mensagem e se cuide. Fique longe. Não frequente nem os mesmos lugares que essa pessoa. Não vá… Muita gente vai e acaba morta. Essa é a realidade, então não vai. —

Viviane fez certinho e, pra mim, o cara simulou esse suicídio aí, o falso suicídio. E é isso que a Viviane queria saber, primeiro, se ela errou… — Eu aqui, Andréia, acho que ela não errou em nada. — E segundo, ela queria saber de vocês se vocês acham que ele fez de caso pensado ou se na hora ali ele decidiu não pular e ir pra uma praia qualquer.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Raquel do Distrito Federal e, cara, Viviane, você foi corretíssima. Sabe, às vezes nós mulheres não seguimos a nossa intuição, não percebemos os primeiros sinais, e aí a gente cai numa situação horrível, num relacionamento abusivo, então, você foi certíssima, sabe? E uma dica que eu deixo para todas as mulheres é: Se você está num relacionamento, você termina e o cara fica fazendo chantagem emocional, falando que vai se matar, falando que não consegue viver sem você, que quer te encontrar, não vá, porque a chance desse cara fazer alguma coisa com você, sabe, porque você vai dizer não, porque ele não sabe escutar um não é altíssima. Então, primeiro você do que as outras pessoas, do que esse cara. Então é isso, um beijo e tchau, tchau, gente. 

Assinante 2: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Lilian, eu falo do Rio de Janeiro. Embora essa história não tenha acabado como a gente gostaria que tivesse, com esse cara sendo desmascarado, todo mundo vendo, eu fiquei muito feliz que a Viviane se manteve posturada ali, firme até o final. Ele esperneou, fez showzinho, inventou mentiras, mexeu com coisas seríssimas e ainda assim ele não conseguiu o que queria. Não com a Viviane… E ainda foi desmascarado pelo sapateiro em Guarapari, um lugar que tem 51 praias… Qual a possibilidade dele encontrar alguém conhecido num lugar que tem 51 praias? Muito bem, né? A justiça foi feita. Que bom que Viviane não carrega culpa nenhuma e, se a família dela não apoia, a gente está aqui para apoiar e dar toda a força para a Viviane. Você foi, assim, incrível, um exemplo, uma inspiração de mulher. Um beijo. 

[trilha] 

Déia Freitas: Eu acho que ele fez de caso pensado. Bem manipulador, maquiavélico mesmo, mas jamais saberemos, né? Então, comente lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Viviane. Um beijo e eu volto em breve

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.