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título: identidade roubada
data de publicação: 15/02/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #identidade
personagens: sandra e cíntia

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] Mais um dia é que a Netflix está aqui comigo do meu ladinho, juntinho. [som de abertura da Netflix] A convite da Netflix eu fiz uma curadoria de histórias de golpe pra gente comemorar a estreia da minissérie Inventando Anna da Shonda Rhimes, estreou agora na última sexta-feira, dia 11. A série é inspirada na história real da golpista Ana Delvey e, além de contar aqui oito histórias de golpes, ontem a gente já fez um espécies Spaces um pouco da história da Anna. 

Quase no finalzinho do mês vai ter um outro Spaces para a gente e poder falar um pouco mais da série e eu vou avisando vocês aqui das novidades. E hoje eu escolhi uma história de um golpe um pouco diferente do que eu venho contando aqui. — Eu escolhi uma história de roubo de identidade. — Eu vou contar para vocês a história da Sandra. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Hoje a Sandra tem 30 anos, essa história tem quase 10 anos e a gente precisa voltar mais ainda, até a adolescência da nossa amiga Sandra. [efeito sonoro de fita voltando] A gente está falando aqui de uma história um pouco antes aí do celular e a Sandra ganhou uma câmera digital. Então era aquele boom do Fotolog e tal, ela tirava mil fotos… — Tirava o que na época se chamava de autorretrato e hoje a gente fala as nossas selfies aí. — Ela tirava muitas fotos dela, assim, em várias ocasiões e postava tudo no Fotolog. Os pais da Sandra acompanhavam ali de perto as coisas que ela postava, mas incentivavam que a garota ali, adolescente, postasse realmente ,ela tirava fotos ótimas, bonitas e tal, não só dela, como de paisagens, enfim …ela tirava várias fotos. E ela foi ganhando seguidores e admiradores por conta dessas fotos que ela postava. 

A Sandra ganhou fãs a ponto de pessoas quererem marcar, assim, de conhecer, de tirar uma foto. — De, sei lá, pegar um autógrafo da Sandra, sabe — Mas ela nunca foi, ela aí uma adolescente, né? Mas ela tinha muitos fãs e as pessoas acompanhavam o dia a dia, né? — Ainda uma época pré blog, Nem tinha ainda esse rolê do blog. — E as pessoas acompanhavam ali a vida da Sandra pelas fotos que ela postava no Fotolog. E os anos foram passando… — O tempo passou… — Ela foi tendo mais coisa para fazer ali em relação à escola e tal e foi deixando um pouco de lado esse Fotolog, mas com todas as fotos, com tudo aberto ali na internet o tempo todo. 

E aí o tempo passou mais um pouco, a Sandra foi para a faculdade, começou a namorar… Chegou a era do Facebook e, no Facebook ali, você podia escolher com quem você compartilhava as coisas, então aí ela já estava mais seletiva, mais cautelosa com as coisas. Só que ela deixou aquelas fotos que ela postava no Fotolog ali abertas, né? — Nem lembro mais. — E aí aquela febre dos grupos que começaram ali no Facebook, a Sandra entrou em alguns, então ela entrou num grupo que era só para mulheres ali, um grupo mais fechado que elas tratavam de temas mais sensíveis e tal… E um dia ela estava lá no grupo e fez um comentário e alguém o marcou uma pessoa, — Um ADM do grupo.—  e escreveu assim: “Eu não sabia que era permitido fakes nesse grupo”. 

Aí a Sandra olhou, — Era meio que uma resposta na resposta dela. — mas passou batido. Ela não entendeu o que a moça estava falando… aí numa outra oportunidade, num outro post de outro assunto, essa mesma moça comentou… — Assim, a gente vai chamar essa moça de Cíntia — A Cíntia comentou assim no post que a Sandra tinha comentado: [efeito de voz fina] “Não é possível que a gente esteja num espaço seguro e aqui tenham perfis fakes”. — E marcou o @ da Sandra. — [efeito de voz fina] Tipo: “A Sandra X é um fake”. E aí a Sandra se ligou que a moça estava falando dela mesmo. 

E aí a Sandra respondeu que não tinha entendido o que aquela moça, Cíntia, queria dizer e, ao mesmo tempo, ela mandou mensagem privada para Cíntia. Daí a Cintia foi super grossa com Sandra, dizendo que ela era uma desonesta, que ela estava usando fotos de uma amiga dela… — Tipo, essa Cíntia falou: “Olha, você é desonesta, você está usando fotos da minha amiga no seu perfil”. — E a Sandra incrédula… E a Sandra começou a falar que devia ser um engano ou que a amiga da Cíntia era muito parecida com ela, ela até brincou: “Vai ver tenho uma irmã gêmea por aí não estou sabendo e nã nã nã”. Só que essa moça, a Cíntia, estava muito brava e ela falou: [efeito de voz fina] “Você tá brincando com uma coisa séria. Eu sou amiga dessa pessoa há mais de sete anos”. — E eu vi, tipo, né? As fotos foram evoluindo ali e tal… — “E você que está roubando as fotos dela”. 

Nessa hora, a Sandra ficou muito brava, mas ela não queria ser grossa com essa Cíntia, porque ela queria descobrir qual era esse perfil dessa pessoa que estava se passando por ela há mais de sete anos. Só que essa Cíntia estava muito desconfiada. — Óbvio, né? — E não queria ceder, E aí a Sandra falou: “Olha, esse aqui é o link do perfil do meu namorado, pede para ele te adicionar que você vai ver as minhas fotos com o meu namorado. esse aqui é o link do meu perfil que eu estou aqui falando com você, eu vou te adicionar para você olhar minhas fotos e ver outras fotos que não estavam postadas no Fotolog para você saber que eu sou eu”. E aí essa Cíntia fez isso e conseguiu ver outras fotos da Sandra… E aí ela ficou em choque, porque ela estava há sete anos falando com uma pessoa que ela não tinha ideia de como essa pessoa era. 

E era aquele começo de Facebook que, assim, nem todo mundo tinha câmera no computador e tal, celular muito menos, né? Então não era fácil como hoje a gente pode fazer um FaceTime e tal, era uma época que não rolava. E essa Cíntia já estava há sete anos conversando com essa moça que tinha roubado a identidade — Virtual, né? — da Sandra. E aí ela foi contando, foi mostrando as fotos que ela tinha da Sandra, né? Só que com outro nome. Inclusive, essa moça — Que se passava pela Sandra. — se dizia lésbica, né? Isso também chocou a Cíntia, porque ela viu que a Sandra era hétero, tinha um namorado e tal… — E aí, gente, o mais surreal é que… — A cada foto que essa pessoa — Que a gente não sabe nem… Essa pessoa, enfim… — pegou lá do Fotolog da Sandra, ela criou uma história… 

Então, se tinha ali, sei lá, a Sandra tirando foto numa sorveteria, ela contava pra Cíntia, essa pessoa, — Essa ladra de identidades. — contava pra Cíntia uma história. [efeito de voz grossa] “Ah, nesse dia e tal eu fui lá tomar sorvete e nã nã nã e aconteceu tal coisa”. Todas as fotos ela tinha criado uma história fake também por trás e, conforme a Cíntia ia contando a história, a versão da foto dessa suposta amiga dela se passando pela Sandra, a Sandra ia pegando a foto e contando a história real. A Cíntia ficou arrasada, a Sandra não sabe muito o nível de intimidade que elas tinham, mas era uma amizade de sete anos e ela era, tipo, confidente, né? Essa Cíntia tinha essa fake — Que roubava a identidade da Sandra como uma confidente. — e agora ela estava descobrindo que ela não sabia com quem ela estava conversando. — Gente, olha que perigo. Podia ser até um cara, né? —

E aí finalmente ela deu os links dessa ladra de identidade — Ou ladrão de identidade, a gente não sabe… — pra Sandra e a Sandra escreveu uma mensagem pra esse perfil, assim, com muito ódio, falando tudo… Que essa pessoa tinha sido descoberta e nã nã nã e a resposta foi, abre aspas: “Foi uma vida divertida e uma carinha feliz”, fecha aspas. Só isso. E aí essa pessoa deletou o perfil e, assim, ela deletou o perfil de tudo, inclusive, sem dar uma explicação, sem falar um A para Cíntia. — Nada. — E aí a Sandra não teve mais muito contato com a Cíntia, mas ela manteve a Cintia ali no Facebook dela, paradinha ali. Então se a Cíntia quisesse ver alguma coisa, alguma foto, podia ver, né? Ela não tem ideia de quem foi essa pessoa que se passou por ela em sete anos, mas podia ser qualquer pessoa… Porque o Fotolog dela era aberto e ela fazia realmente ali todo o dia a dia dela, com fotos e tudo, então podia ser qualquer pessoa… 

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é a Pâm de Campinas e eu queria dizer que estou amando essa parceria com a Netflix, essas histórias são muito boas e eu acho que sempre é bom a gente lembrar de todos os tipos de golpe que dá pra gente acabar caindo e acabar ficando mais ligado. Sobre essa história de hoje, eu estou chocada… De todas, foi a que mais me assustou, não só pelo roubo de identidade, mas como a forma que terminou antes de deletar as redes sociais, o recado que a pessoa deixou… Eu achei muito sinistro. Fico feliz que a Sandra seguiu bem depois de tudo isso e que não aconteceu nada que afetasse, de fato, a vida dela, né? Mas é sempre bom lembrar pra gente tomar cuidado onde posta nossas coisas, quem a gente deixa ter acesso a nossas fotos e as nossas informações, que a gente nunca sabe quem está de olho. Um beijo pessoal e até a próxima. 

Assinante 2: Déia, que história assustadora, sério… Eu acho que como a gente vive online acabamos nos expondo muito e todas essas informações estão lá na internet disponíveis para quem quiser usar e como bem quiser usar. O que me deixou mais aflita não é nem somente pela Sandra que teve a sua identidade totalmente roubada e utilizada por outra pessoa que poderia, literalmente, fazer tudo o que quisesse no nome dela, mas a Cíntia que passou sete anos confidenciando, tipo, informações da sua vida e acreditando que aquela pessoa com quem ela falava era sua amiga, e ela hoje nem imagina quem seja essa… Enfim, é muito assustador, eu estou louca para assistir Inventando Anna e descobrir mais sobre como Anna conseguiu construir essa identidade dela. 

Déia Freitas: A sorte é que essa pessoa que se passou pela Sandra durante sete anos não cometeu nenhum crime, né? Pelo menos não chegou nada, Nenhum tipo de informação assim até a Sandra, mas podia ser bem pior, né, gente? Essa história tem tudo a ver também com a minissérie inventando Anna, né? Dessa coisa da gente achar que sabe com quem a gente está lidando e não ter a menor ideia de quem seja aquela pessoa que está interagindo com a gente. Assistam Inventando Anna da Shonda Rhimes, já tá aí na Netflix. Comenta lá no nosso grupo do Telegram, é só usar a #Anna com dois N’s e tamo junto, Netflix. Eu estou aqui de novo no sábado contando mais uma história para vocês sobre golpes. Um beijo e até breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.