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título: ignorada
data de publicação: 16/06/2025
quadro: picolé de limão
hashtag: #ignorada
personagens: salete

TRANSCRIÇÃO

Atenção, estamos no YouTube. Sim, este mesmo episódio que você está ouvindo aqui agora você vai poder ouvir a partir das 10h00 no YouTube. Então avisa sua mamãe, sua vovó, sua titia ou coleguinha. Vai lá, segue a gente, curte alguns episódios, ativa o sininho e vem acompanhar a gente no YouTube. 

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a Liv Up — Amo… — Sabe aquela fome que bate no meio do dia ou da noite, que você não sabe o que quer comer e pensa logo em pedir um delivery? Em vez de pedir um fast food, você pode ter praticidade sem abrir mão de qualidade com as refeições de Liv Up, que são opções ideais para esses momentos em que dá aquela fominha. — Sabe aquela fominha que você: “Ai, não sei o que eu quero”, com ingredientes frescos, direto de pequenos produtores, com aquele toque de comida de verdade — porque sim —, a Live Up te entrega comida de verdade. Além de praticidade, você tem sempre uma refeição feita, prontinha, no seu freezer. Prontinha em poucos minutos pra você comer aí. — Delícia… —

Sem culpa, sem conservantes, com ingredientes 100% naturais. — Gente, é o melhor dos mundos, sério… — Você não precisa abrir mão do sabor com refeições deliciosas como as de 300 gramas pro dia a dia, as turbinadas com um pouco mais de proteínas, tem as de baixa calorias, tem as massas que são deliciosas e as vegetarianas e veganas. — Alô, eu… [risos] Amo. — É só você escolher a sua … — Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio e fica comigo até o final que tem desconto exclusivo. Então, ó, clica no link já vai navegando e ouvindo a história. — E essa história pode ter aí uma zona cinza, alguém pode considerar zona cinza… Eu admito que não considerei, mas vamos ver vocês. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Salete. Então, vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Salete casou aí quando ela tinha seus trinta e pouquinhos e o marido dela também, eles já vinham focando na carreira profissional e focaram mais um pouco. — Porque eles queriam ter uma estabilidade financeira, enfim… O ramo deles de trabalho proporcionava isso. O tempo foi passando, eles foram adiando ter filhos, até que resolveram ter… E tiveram dois filhos, um seguido do outro. — Assim, escadinha. — Dois meninos. Na casa dela, tudo era ela que fazia… O marido ajudava bem pouco, porque, na verdade, a palavra não seria “ajuda”, né? Ele teria que fazer metade das coisas, mas ele não fazia nada. Na época, ela passou ainda num concurso e entrou para trabalhar na prefeitura. Então, ela tinha o trabalho dela, tinha que cuidar das crianças, tinha que cuidar da casa, tudo sozinha. Ah, era um marido legal? A Salete hoje, ela diz: “Andréia, sinceramente, eu acho que não… Porque aqui a gente pode falar, ele não era grosso comigo? Não. Ele não me batia? Não. Isso é suficiente? Ele não me tratava nem mal, nem bem, assim. A gente tinha uma vida onde eu era totalmente atarefada, eu fazia tudo, eu não tinha tempo pra parar pra pensar o quanto eu era explorada e maltratada naquela casa, assim, porque ele não me tratava bem, nem mal… Ele me ignorava, era estranho, enfim”. 

Os meninos foram crescendo com aquele mesmo ar do pai, assim, ignorando a mãe — a Salete — como pessoa. Eles chegavam, eles deixavam as coisas fora do lugar e não adiantava muito ela dar bronca… A Salete fala pra mim assim: “Andréia, eu não sei também até que ponto eu errei, mas eu tentava… Eu botava de castigo, eu tentava que eles fizessem as coisas, mas eles não tinham um exemplo também em casa e eles foram crescendo assim, adolescentes também que não faziam nada, nunca fizeram nada, assim, pra me deixar mais leve do trabalho”. Eles foram para a faculdade, mas assim, não saíram de casa, então a Salete continuava tendo as roupas deles para lavar, enfim, tudo. Nesse meio tempo, eles adquiriram um patrimônio que é o apartamento que eles moravam e um apartamento na praia, que era praticamente a mesma configuração do apartamento deles, um apartamento de três quartos e eles iam em família. E a Salete ficava cozinhando, fazendo as coisas do apartamento da praia, enquanto o pai e os filhos iam pra praia se divertir.

E quando ela ia junto, ela era ignorada… Essas são as palavras da Salete, ela era ignorada. Ela não percebia, porque ela falava: “Eu não tinha tempo, Andréia… Eu não tinha tempo. Eu tinha muita coisa pra fazer pra eles. Tudo era pra eles. E eu achava que Sei lá, aquilo era normal, meio que normal”. Mas aí acontecia que, gente, pensa, a Salete casou com este cara e eles demoraram para ter filhos e, mesmo antes de ter filhos, esse cara nunca lembrou dos aniversários da Salete. Então, eles nunca comemoravam o aniversário dela, mesmo quando ela falava antes. Então, vai, vamos dizer que o aniversário dela, sei lá, 10 de junho, quando era 5 de junho, ela avisava o marido e os filhos: “Ó, não esquece que dia 10 é meu aniversário” e ninguém fazia nada… Ninguém fazia nada. Ela não entende, assim, por que os meninos ficaram tão iguais ao pai, tão juntos, vendo a Salete como uma empregada realmente da casa. E o tempo passou, e muito tempo se passou… Os meninos foram para a faculdade, continuaram morando em casa, o que também é normal hoje em dia, né? Se você tem a oportunidade de continuar na casa dos seus pais, você meio que economiza também, né? 

Terminaram a faculdade, o pai marcou uma viagem em família para comemorar que os dois tinham se formado. — Porque eles têm diferença de um ano e um esperou o outro para começar a faculdade juntos, né? E eles se formaram e o pai marcou uma viagem. Uma semana antes da viagem, Salete já tinha organizado tudo. — Inclusive, ela tem um cachorro e dois gatos, então já tinha visto uma pessoa para ir lá, uma cat sitter para cuidar dos gatos, já tinha visto um hotelzinho para o cachorro. — Ela descobriu que eles não tinham incluído a Salete na viagem… Eles tinham comprado um pacote para os três. Ela era tão ignorada que ninguém se dignou a avisar a Salete com mais antecedência, né? Ou eles, sei lá, fizeram de propósito para ela arrumar, ajeitar todas as coisas de viagem para eles e até a mala, né? Ela já foi ajeitando uma semana antes e aí ela descobriu que ela não estava no pacote. Era um pacote para três, um quarto triplo, que o pai comprou para comemorar com os meninos. 

Ele veio com essa ideia de: “Ah, é uma viagem só de homens e nã nã nã”. Excluiu totalmente a Salete. E foi nesse momento, só nesse momento — agora os filhos da Salete, os dois com mais de 26 anos nas costas — que ela parou para pensar o quanto ela era ignorada e o quanto tempo se passou nessa família com ela totalmente ignorada, em termos de sentimentos, de desejos, de tudo. Ela simplesmente não existia para aquela família, a não ser como uma empregada. Salete ficou muito mal e eles foram viajar… E, nesse momento, Salete tomou uma decisão. A casa, digamos que seja um apartamento em São Paulo e um apartamento em Praia Grande, sei lá, na praia, litoral. Os móveis, as coisas de São Paulo eram melhores que as coisas de Praia Grande. O que a Salete fez? Ela contratou uma empresa de mudança para trocar todos os móveis. Nos três quartos ali ela não mexeu, mesmo porque ela queria uma cama nova. — Foi a única coisa que ela comprou pra ela nova. —

Ela desmontou os quartos dos meninos da praia, fez um quarto pet. [risos] Amo… Fez um outro espaço pra ela fazer yoga, essas coisas, na casa de praia, levou toda a sala e toda a cozinha. Inclusive, tirou os móveis da cozinha de São Paulo e instalou na praia, trouxe a cozinha da praia, instalou em São Paulo. — Tudo isso enquanto eles estavam viajando. — E se mudou com o cachorro e os dois gatos, levou todas as coisas dela para morar sozinha na praia. Ela, funcionária pública já, podendo se aposentar, deu entrada na aposentadoria dela e mudou… Quando os três voltaram, eles não entenderam nada, assim, a casa tava diferente, mas não a ponto deles repararem tanto… Que nem a TV grande da sala, que é uma coisa que pra ela não fazia muita questão, ela deixou. Então mudou o sofá e eles nem perceberam tanto que mudou o sofá. Ah, mudou os móveis da cozinha? Mas eles não perceberam tanto. Até você abrir uma geladeira e ver que não é aquela geladeira que você tinha antes, né? Só aí que eles perceberam que a Salete e os bichos não estavam em casa. 

Porque até então eles viajaram, digamos que para passar 15, 20 dias fora e você pensa que ficavam mandando mensagem para saber como ela está? Não, a Salete era totalmente ignorada pela própria família, pelos três. Quando o marido mandou mensagem e falou; “Ué, cadê você? O que aconteceu?” e ele mandou mensagem porque os três chegaram e não tinha janta. Não tinha nada na geladeira, na verdade, porque ela tinha levado tudo, mas ela trabalhando, os filhos agora formados já trabalhavam também na área, mesmo antes de se formar. Então, quer dizer, dinheiro ali eles tinham, né? Ela falou: “Olha, eu preciso de um tempo e eu vim morar na praia”. Foi um choque para eles… Mas por que eles sentiam falta da Salete? Não, porque agora não tinha mais uma empregada em casa. Quem que ia lavar a roupa deles? Ela falou para eles: “A máquina… Tem uma máquina aí, você põe na máquina de lavar, a hora que terminar o ciclo, você põe na máquina de secar”. Na praia, ela comprou para ela uma lava e seca. Salete, depois de escutar o meu testemunho, [risos] comprou uma máquina de lavar louça, que, gente, realmente muda a vida. A Salete está aí de prova.

Agora a Salete mora na praia, o marido não pediu divórcio, não se separou… Pediu algumas vezes para ela voltar e ela disse que não vai voltar. E sabe o que eles fizeram? Eles contrataram uma empregada, que agora faz tudo o que a Salete faz, remunerada. Ou seja, a Salete fazia tudo de graça. O marido, que negligenciou a Salete a vida toda, disse: “Ah, deixa assim mesmo… A gente não precisa se divorciar, não. Você tá morando aí na praia? Tudo bem”. Ninguém foi visitar Salete na praia. Os meninos falam que eles sentem falta dos bichos, dos pets e ainda assim não vão lá visitar os pets, mas não falam que têm saudade da Salete. Se eu achei zona cinza ela levar os móveis? Não achei. Porque era dela também, ela só trocou, ela não deixou a casa vazia. Ela pegou os móveis melhores para ela, não mexeu nos três quartos, os quartos ficaram lá. Então não alterou nada na vida deles, ela só tirou as coisas dela do quarto de casal e levou para a praia. E já tem um ano, um ano e pouco, Salete na praia começou a passear com o cachorro mais, fazer coisa pra ela, voltou a fazer yoga, que era um negócio que ela gostava, montou lá na casa dela um espacinho pra ela fazer ginástica, um espaço zen, pra ela e tal, fez umas amigas na praia, que ela não tinha tempo pra nada… Salete não tinha tempo pra nada e agora ela tinha tempo.

Com o tempo, ela foi se percebendo como mulher também, que era uma coisa que ela não se percebia antes. E a Salete arrumou um namoradinho… Tá aí a zona cinza? Porque ela é casada. O marido não quer separar, fala: “Deixa assim mesmo… Vamos mexer com isso, não”. Nunca foi na praia, pediu pra ela voltar nesses termos assim: “Você precisa voltar, quem vai lavar nossa roupa? Quem vai fazer comida pra gente?”. A partir do momento que eles contrataram os três lá uma empregada, eles pararam de pedir pra ela voltar. Ou seja, ela era irrelevante pra família dela? Os filhos, machistas como o pai, acham que ela tinha que estar lá pra servir os dois, assim. Eu falei para ela: “Mas e o amor de mãe, aquela coisa?”, ela falou: “Andréia, não sei, não sei em que ponto da vida isso se perdeu. Porque acho que nem eles por mim e o tanto que eu fui negligenciada e ignorada, também nem eu por eles, acho. Sei lá, lógico que são meus filhos… Se eles precisarem mesmo de alguma coisa, eu vou ajudar, mas dizer que eu faço questão da presença deles aqui na praia comigo? Não faço. Eu tenho meus pets, eu tenho minhas amigas e agora eu tenho um namoradinho”.

A família toda acha que eles são casados, um mora na praia, um mora na cidade, que “ah, normal”, mas continuam casados, continuam sendo uma família só, entendeu? Mas a Salete, ela acha que ela nunca foi da família. Nunca foi considerada família. Nem ela sabe explicar direito. Agora ela tá felizinha, tá com o cara que aprecia ela e agora ela tá ensaiando pra realmente pedir o divórcio. — Que é uma coisa que o marido dela já falou que, “ah, não precisa”, “não quero dar”, sabe assim? — Mesmo antes de sair o divórcio, casada, ela tem um namoradinho que ela não vai largar. — É errado ela ter um namorado enquanto ela tá casada? Eles estão separados de corpos há mais de um ano, mas todo mundo acha que eles ainda são casados. É errado, gente? — Como que os três combinam uma viagem? Compram uma viagem, pacote triplo… Nem consideram, nem perguntam se ela quer ir. Porque podia, pelo menos falar: “Ô, sua qualquer aí, você quer ir?”, nem isso, gente… É como se realmente ela não existisse. Foi a gota d’água de muitas coisas. 

Esse namoradinho agora comemorou o aniversário dela — de uma maneira bem boa, [risos] se é que vocês me entendem. — Tá errada? É casada? Sim. — Ela tirou a aliança, né? Ela não usa mais aliança, mas o marido continua usando a aliança. E ela acha que realmente ele não tem ninguém, que enfim, ele só não tem interesse nela, assim, sei lá, como mulher, não dá pra entender também, gente. Completamente ignorada. E agora tá lá, ela falou que ela não, esse assunto encerrou pra ela, assim, ela não vai voltar a morar com eles e a divisão, ela falou: “Andréia, a única coisa que a gente tem são esses dois imóveis… Ele fica com o imóvel da cidade, que ele já mora lá, trabalha, enfim. Eu, que agora minha aposentadoria já está saindo, peguei umas licenças e tal, fico aqui na praia, gosto de morar aqui, vou ficar morando aqui”. E agora ela tem um namorado, que além de ser atencioso, cuidadoso com ela, leva ela para passear, como ela mesmo disse, “dá um trato nela”. Então, sabe? É zona cinza? Não sei pra vocês, pra mim… 

“Ah, mas ela é casada, o cara lá não tá sabendo que ela tá com um namorado”, não tá mesmo, nem os filhos, nem ninguém, mas ela agora já quer assumir… Então ela vai pedir o divórcio, ela espera que seja amigável e tal. Eu falei pra ela pedir o divórcio antes de assumir… Se o marido ver que tem um outro cara na jogada, ele pode fazer birra. Então, sabe? Fala: “Ah não, vamos separar… Você fica com o apartamento aí, eu fico aqui”. Cada um fica com as suas coisas, sabe? E aí, depois que você separar, pegar papel, aí você apresenta o namoradinho. Eu faria assim… Continuaria com o namoradinho? Sim. É errado? Sim. Talvez? Não sei… O que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, tudo bem? Aqui é a Giovana, de São Paulo. Aquele clássico, né? Uma das histórias femininas em que a gente trabalha e os homens não veem o que a gente faz, né? Aparece magicamente a roupa lavada, a comida feita… Tenho até algumas conversas aqui com o meu marido, em que às vezes ele acaba comentando alguma coisa aqui com a mãe dele, e aí eu falo: “Mas ninguém viu quando ela estava lavando a sua roupa, quando ela estava fazendo a sua comida, quando ela estava indo na sua reunião”. Então é isso, gata, vai viver aí a sua praia que você merece. Já fez muito por todo mundo, agora é a sua vez. 

Assinante 2: Olá, pessoal, eu me chamo Arielle, eu sou daqui de Iarocária, Paraná. Eu fiquei um pouco intrigada com as pessoas falando assim: “Nossa, ela fez tudo e ninguém reconheceu”, “ela fez tudo e os filhos não deram afeto”, “ela fez tudo e nem lembraram do aniversário, não lembraram dela na viagem”, como se o afeto, o carinho, o reconhecimento fossem justificáveis pra ela se sobrecarregar… E isso é muito uma lógica patriarcal, né? Bastante misógina… De nós, enquanto mulher, aceitar isso, de “não, eu faço, mas as pessoas me tratam bem, me agradecem, então está tudo bem”, quando na verdade não. O trabalho, seja ele doméstico, o trabalho do cuidado, ele precisa ser devidamente remunerado. Quando não remunerado, compartilhado, para ninguém se sobrecarregar. Nós mulheres precisamos parar disso de que se o outro agradece, então está tudo bem. 

[trilha]

Déia Freitas: Com muita qualidade e sabor, na Liv Up você encontra diversas opções de refeições que salvam aí a sua fominha. Com ingredientes 100% naturais feitas por chefes que ficam prontinhas em minutos… Dá para comer bem sem abrir mão de qualidade por um preço acessível e você ainda ganha tempo, já que terá menos louça aí para lavar. — Melhor parte, hein? [risos] — E usando o cupom: NAOINVEABILIZE — tudo junto, maiúsculo, sem acento —, você ganha 10% de desconto na primeira compra. É só acessar o link que eu deixei aqui na descrição do episódio. — Liv Up, te amo, deliciosa… — Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]