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título: iluminado
data de publicação: 16/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #iluminado
personagens: manuela, fabiano, amanda e menininho prana

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Voltei. Hoje eu vou contar a história pra vocês da Manuela e do Fabiano. Eles se conheceram num retiro espiritual e a história se passa em Goiânia. Então vamos lá.


[trilha]


[inicia trilha sonora zen]

O Fabiano ele é professor de yoga, fez educação física então ele é todo fitness assim e bem zen, bem espiritualizado e a nossa amiga Manuela trabalha num salão de cabeleireiro, um salão desses grandes assim famosos, só que ela trabalha na parte administrativa, ela não trabalha no salão especificamente, é no escritório do salão. E ela tem um emprego que ela gosta, ela ganha relativamente bem, ele também ganha relativamente bem e estava tudo lindo. Então eles se conheceram aí nesse retiro espiritual, começaram a conversar, saíram, e aí o namoro engatou, virou um namoro sério e é daí que nós vamos partir agora [risos] pra alguns percalços aí que rolaram esses quatro anos e na situação que a nossa amiga Manuela se encontra agora. 


Então, no começo de namoro era tudo muito assim fofinho, o cara todo zen, Fabiano todo espiritualizado, rolava aquela coisa do incenso na sala pra limpar o ambiente e, às vezes, ele achava que a Manuela estava com a aura assim mais pesada, [risos] então ela tomava cuidado pra aura não ficar aí ruim e as coisas foram caminhando, o namoro deles muito sério. E ali com uns dois anos eles resolveram que “Ah, a gente vai começar agora um plano de vida para casar”. — E aquela coisa, né, meus amigos? Quem casa, quer casa. — Então eles decidiram que eles iam juntos em partes iguais começar a pagar um consórcio de casa, de uma residência aí, você paga lá um X valor e tem os sorteios e tal, se você for contemplado você pega a casa antes, mas era assim, um plano longo de consórcio. Aí o Fabiano fez toda aquela coisa de ver a data certa ali do astral pra os dois assinarem o contrato do consórcio, que isso que aquilo, ele tomou a frente de tudo, ele que cuidava aí do consórcio. 


Todo mês ela perguntava: “e aí será que a gente foi sorteado?”, e nunca tinha sido sorteado porque essas coisas demoram. — Eu, assim, falando bem a verdade eu nunca vi ninguém ser sorteado em consórcio, mas deve ter os sortudos que são contemplados aí logo no começo, sei lá. — Mas eles nunca eram sorteados e toda vez que a Manuela perguntava do consórcio Fabiano falava “Ah, mas você fala já nesse tom de voz negativo vai atrair aí maus fluidos [risos] aí pra…”, sei lá, pro planeta, né? Pra situação e não vai dar certo porque tem que pensar positivo, você tem que falar “Nossa casa já saiu”. — Aquela coisa, né? Ele era praticamente um coach aí. — [risos] Enfim, Fabiano era uma pessoa bem astral lá em cima, não gostava de nada com negatividade e a Manuela mais pé no chão, né? 


É importante a gente falar aqui da personalidade do Fabiano porque ele é uma pessoa assim, além de ser professor de yoga, todo zen, todo preocupado com o meio ambiente, aqueles caras que só usam roupas de algodão orgânicos, sabe essas coisas assim? Ele é bem engajado mesmo. Dois anos de consórcio pagos praticamente a Fabiana precisou do dinheiro pra resolver um problema que ela teve lá na família dela e, assim, no consórcio tinha uma taxa lá que se você desistisse ou não conseguisse passar pra outra pessoa, você perdia uma parte, mas você recuperava uma porcentagem do dinheiro. Só que por sorte a Fabiana conseguiu uma pessoa pra passar que era da própria família dela que era ali a irmã dela, e a irmã dela falou: “Não, eu fico com esse consórcio aí, eu te dou esse dinheiro e você resolve o problema que você tem que resolver”. 


Essa irmã da Manuela é irmã só por parte de pai, elas têm o mesmo o pai e tem mães diferentes, e o problema que a Manuela precisava resolver era de uma cirurgia da mãe dela, então ela precisava desse dinheiro em mãos e, olha só que legal, o consórcio eles pagavam dois mil reais por mês, era mil cada um. — Então faz as contas aí, vinte e quatro meses: dois mil reais… — Quarenta e oito paus, fora a taxa administrativa lá, sei lá, sei que estava quase cinquenta pau e essa irmã dela falou: “Não, tudo bem eu compro esse consórcio, só precisa ver direitinho como é que a gente faz pra passar”, aí pelo menos o cara também o namorado dela não ia sair no prejuízo, porque se ela tivesse que pegar o dinheiro de volta além de tudo ela tinha que descontar a parte da taxa do cara porque o cara não queria terminar o consórcio, só ela que queria, né? E aí mudar os planos de casamento, sei lá, eles iam pagar mais dois anos pra ver se com cem mil que dava entrada, se não saísse a casa lá, enfim.


Aí ela chamou o Fabiano pra conversar pra explicar a situação. — Um caso de saúde, sua mãe precisando operar você não ia nem pensar duas vezes… — Ela adiantou mais ou menos o assunto, ela não queria falar ali na casa dela na frente da mãe, ele morando sozinho, falou: “Ah, eu passo na sua casa e a gente conversa”, e já tinha ali uns três meses que ele falou que o apartamento de cima do apartamento dele estava em obras e estava uma zona, já tinha estourado um cano molhado a casa dele, então o quê que eles faziam? Eles ficavam na casa da Manuela ou eles faziam pequenas viagens assim, viagens curtas, vai pra uma praia, vai sei lá pra uma estância, uma fazendinha, assim, esse tipo de coisa, né? Pega uma promoçãozinha ali, um aviãozinho aqui outro ali e assim eles iam curtindo e fazia então uns três meses que ela não ia na casa dele. E aí ela falou: “Ah, eu vou na sua casa”, ele falou: “Não, vamos marcar”, lá no lugar lá, numa casa de chá que eles tomavam chá sempre. — E aí, minha gente, se preparem que agora veio o baque. —


O cara zen, espiritualizado, o cara que usa canudinho de inox desde sei lá dois mil e quinze, Fabiano, tinha uma notícia pra dar pra Manuela e não sabia como dar, e aí começou com um papinho de que o universo conspira, porque o cosmos, [risos] que isso que aquilo, porque as oportunidades aparecem, nã nã nã… Resultado, depois de muita conversa fiada o Fabiano contou a seguinte história pra Manuela que eles assinaram lá a pelada do consórcio, os dois, e ele foi com a papelada levar lá pro corretor, que é tipo o cara do banco que é como um corretor de seguros, ou não é um corretor de seguros? Não sei bem… E no caminho, ele deixou um dos papéis que tinha a assinatura cair numa poça d’água no chão e ele achou que aquilo era um sinal pra não fechar o consórcio, ele não fechou o consórcio. — Então veja bem, durante dois anos a Manuela pagou religiosamente em dia porque se atrasasse tinha juros a mensalidade lá, a parcela do consórcio, e não tinha consórcio, onde estava esse dinheiro então? Cadê os vinte e quatro mil reais da Manuela? Será que o Fabiano então colocou aí numa aplicação pra render? Fez uma outra coisa com o dinheiro, assim, ele teria que ter contado pra ela de qualquer forma porque era o dinheiro dela, mas será que ele investiu esse dinheiro? —


Sabe o quê que o Fabiano respondeu pra ela? Que ele tinha recebido orientações espirituais de que ele investisse aquele dinheiro que era dela na elevação espiritual dele. [risos] — Olha, eu estava contando tudo muito sério até agora porque assim, a Manuela tá triste e então assim não dá pra ficar rindo, né? Quando a gente sabe que a pessoa tá machucada e tal, mas pelo amor de Deus, né? Olha esse cara, gente. — Ele investiu o dinheiro dela, coitada, sabe? Fazendo das tripas corações pra pagar ali mil reais por mês na data certa e o cara vem falar que investiu nele? No espiritual dele. — Que espiritual? O cara mentiu, enganou por dois anos, você vem falar de elevação espiritual? Tomando ali o suquinho verde no canudinho de inox? Ô, gente, não dá pra mim, eu fico inconformada. —


E a Manuela ficou em choque na hora, porque ele falou tudo com muita calma assim, sabe quando você fala como se fosse uma coisa boa, tipo, o universo deu a oportunidade de você trabalhar Manuela pra proporcionar isto a mim e eu com esse meu conhecimento adquirido, espiritual, vou poder ajudar o mundo. — Ô, gente, se o cara me fala um negócio desse, [risos] ai, socorro… — A Manuela não sabia bem o que responder, ela ficou tão passada e assim, ela precisava de nove mil reais pra fazer a cirurgia da mãe dela lá e agora que não tinha nada? Porque ele não tinha nada, só tinha luz, [risos] pra devolver pra ela em luz, e iluminação espiritual, me poupe, né? Então ela saiu lá dessa casa de chá assim, sem nem falar com ele direito, saiu andando e pensando no que ela ia fazer, como que ela ia conseguir esse dinheiro.


A sorte é que ela tem essa meia-irmã aí que tem uma graninha e ela correu pra casa dessa meia-irmã, contou toda a história, a meia-irmã ficou pê da vida com o Fabiano, mas falou: “Olha, eu te arrumo esses nove mil, você vai me pagando como dá, agora você não vai precisar mais pagar o consórcio, [risos] aí você vai me pagando quando dá, mas você precisa tomar uma atitude em relação a esse cara, esse cara te enganou durante dois anos. Daí assim, ela resolvendo essa coisa da mãe dela você tira o peso, né? Porque assim, a maior preocupação dela era resolver essa cirurgia da mãe, então agora que ela já tinha o dinheiro da mãe o quê que ela fez? Ela foi lá para o apartamento do Fabiano que agora ela ia brigar, agora não ia ter guru que ia fazer com que ela ficasse calma, ela ia soltar os cachorros nele, ia querer saber tudo e ela foi pra lá. 


Chegando lá esses predinhos que não tem porteiro ela tocou o interfone nervosa e ouviu uma voz: “Oi, quem é?”, ela falou: “É a Manuela, quem é aí?”, “Aqui é Amanda”. — Oi? Quem é Amanda, gente?”, a moça Amanda no interfone destrancou lá o portão e falou: “Sobe, foi bom que você veio, assim a gente conversa” — Gente, eu tô tremendo… — A Manuela subiu, abriu a porta, uma moça com um barrigão de uns seis meses e pouco, sete meses de gravidez. — Quem seria essa moça? — A Amanda se apresentou como prima do Fabiano, aí a Manuela já deu uma aliviada “Bom, deve tá aqui na casa dele, sei lá, veio ter filho aqui na cidade”, e aí a Amanda virou pra ela e falou: “Olha, foi bom que você veio porque o Fabiano tá muito triste com o desfecho aí da história dessa coisa do consórcio, mas eu queria que você soubesse que parte do dinheiro que você deu, além de ir para os cursos dele, também serviu pra gente alimentar esse sonho”. — Sonho? Que sonho, gente? [risos] Que sonho? Não acaba nunca isso? —


E aí ela contou que ela estava esperando um filho do Fabiano. — Gente, um filho do primo… — A Manuela disse que ela meio que perdeu os sentidos, ela quase desmaiou real assim, deu aquela escurecida na vista, como assim, um barrigão grávida? Como isso, né? E aí ela contou que ela e o primo tiveram um romance, mas que foi tudo muito [risos] cósmico, muito assim planejado. — Coisa de outra vida, sabe, de outras vidas? — E que esta criancinha — Que a gente vai chamar agora o menininho, vou dar um nome qualquer aí de “Prana”, o menininho Prana — o menininho Prana ia nascer pra mudar a vida dos dois e dela também, que eles podiam ter um relacionamento todos. — [risos] E, assim, eu já falei pra vocês eu não tenho nada contra relacionamento aberto, acho que realmente funciona, mas todo mundo tem que estar ok com isso, né? E não era o caso da Manuela, ela não queria ter um relacionamento aberto, ainda mais com a prima do Fabiano que já estava com o menininho Prana pra nascer, né? [risos] —


Ela ficou cega, cega de ódio, aí deu uma xingada ali na prima Amanda, mas a prima também toda da yoga, toda do espiritual, achou que, sei lá, era coisa do chakra da Amanda. — Te juro, gente. — Te juro que o papo que ela falou pra Manuela foi esse: “Seus chakras estão desalinhados, eu entendo” — Ai, gente, não dá pra mim, sério. — E aí ela saiu de lá batendo porta, berrando, louca, Manuela saiu de lá louca. A Manuela ela trabalha aí nesse salão famoso, e ela conhece bastante gente, né? E ela conhece um advogado, desses advogados caros, bons, que ficou tão revoltado que falou: “Não, eu pego isso aí de graça pra você, você tem os comprovantes”, por que o quê que ele fazia? Eles inventavam uns comprovantes lá do consórcio, inventavam sorteios e mandava tudo pra ela, então ela tem provas de que ele enganou ela nesse lance do dinheiro, né? Então o quê que ela fez? Ela processou o Fabiano. — Que é o que a maioria das pessoas fariam, ou sei lá, uma boa parte das pessoas faria isso. —


Nisso já tinha se passado ali uns cinco meses e, nesse tempo, o menininho Prana nasceu. — Que é o filho do Fabiano com a prima Amanda, os dois iluminados, tiveram o menininho Prana. — Só que o menininho Prana nasceu doentinho, então ele precisa de uns tratamentos, precisa de umas coisas, e o Fabiano foi lá implorar pra Manuela pra ela retirar esse processo, tirar essa ação aí contra ele porque ele precisava dedicar, não ia ter grana e ele não estava nem conseguindo ter cabeça pra cuidar do menininho Prana, e ele chorou e ela ficou com dó, a Amanda telefonou pra ela também, então assim, ela tá num dilema porque ela tem dó da situação e do menininho Prana, e ao mesmo tempo ela queria um pouco de justiça pra ela. Eu vou ser bem sincera, no começo da história eu fiquei muito pê da vida e achava que ela tinha que, nossa, tirar tudo dele, mas depois que nasceu o menininho Prana, eu tenho dó, gente. 


Ai, eu não sei, eu falei pra Manuela: “Ai, você não vai usar esse dinheiro que você já não estava contando, sei lá, entrega pra Deus, sabe?”, ai, tô falando assim o que eu faria, né? Eu acho que eu não ia conseguir levar isso adiante, ou sei lá, espera o menininho Prana ficar bem. Mas aí também ela não sabe falar direito se o menininho Prana vai precisar de cuidados especiais sempre, ou se ele vai precisar de cuidados especiais só agora, sabe? Eu não ia conseguir levar esse processo adiante, essa ação aí contra o Fabiano é uma coisa que atinge a Amanda também e acaba atingindo o menininho Prana, porque parece, que olha só como são as coisas, né? Que agora ele estava todo catando cavaco, teve que sair do apartamento que era alugado, voltaram lá pra cidade da prima pra morar na casa da mãe da prima, mas aí o menininho Prana tem que vir pra Goiânia pra fazer o tratamento, então assim, a vida dele não tá fácil, sabe? Então, sei lá, de repente o universo já resolveu? Eu não sei. 


E ela queria a opinião de vocês sobre isso, se ela deve continuar com essa ação pra tentar tirar alguma grana aí do que ela pagou para o Fabiano, dá uma complicada na vida dele porque eu acho que grana ele não tem, ou se ela retira esse processo, encerra, o que vocês acham? Eu sei lá, eu pelo menininho Prana eu acho que eu tirava e vocês? Então a história de hoje é essa, né? Sejam gentis aí no grupo com a Manuela, ela está presente no grupo e eu desejo toda melhora do mundo pro menininho Prana porque ele não tem culpa de nada, ele é um bebezinho que tá aí lutando pra sobreviver. E a minha opinião é essa, por mim eu tirava e, sabe, joga para o universo mesmo. Então é isso, um beijo e eu volto logo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.