Skip to main content

título: intercâmbio
data de publicação: 21/06/2021
quadro: amor nas redes
hashtag: #intercambio
personagens: miriam e tuca

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra uma fofura de Amor nas Redes e hoje eu vou contar pra vocês a história da Miriam. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Bom, a Miriam resolveu que ela iria fazer aí um intercâmbio. Aonde iria a Miriam? — Vamos chutar um país aí, sei lá, Holanda? Vamos de Holanda. Então a Miriam resolveu que ela ia fazer um intercâmbio e tinha um curso que ela queria fazer na Holanda que duraria um ano, e ela ajeitou as coisinhas dela aqui no Brasil e partiu intercâmbio. [efeito sonoro de avião decolando] E ela estava super nervosa porque ela não conhecia ninguém, ela é muito tímida, então pra se enturmar em grupos de brasileiros assim, não ia ser uma coisa fácil pra ela. E aí ela chegou lá, se hospedou na casa que ia abrigar ali a Miriam durante um ano, e estava tudo certo, tudo caminhando bem, e a vida da Miriam estava assim tranquila, ela estava com esse objetivo, né? De fazer um intercâmbio, quando ela voltasse ela já tinha algumas coisas ali na área dela profissional que ela queria fazer, ela não tinha intenção de morar fora, né? E tudo bem, a vida foi seguindo. 

Ela sempre ficava de um lado da cidade ali, perto de onde ela estudava, e aí um dia ela resolveu conhecer o outro lado da cidade, sozinha. — Dar uma volta. — E aí ela foi passear e achou uma lanchonete que ela viu que tinha ali uma coisa que ela gostava de comer, um doce, ela entrou nessa lanchonete e pediu o doce e aí a moça que atendeu ela na lanchonete notou o sotaque, falou: “Gente, esse sotaque só pode ser brasileira”, mas não falou nada, a moça era a Tuca. Aí a Tuca ficou na dela, fez ali, preparou o doce e lá nesse lugar que ela foi era um lugar assim meio chiquezinho, levava na mesa. Quando a Tuca foi levar pra ela o doce na mesa, a Tuca perguntou: “Você é brasileira?”, e aí a Miriam respondeu: “Sou, menina, eu sou brasileira. Ai que bom que eu encontrei alguém”, e elas ficaram conversando um pouco ali, e a Miriam achou a Tuca muito gracinha, mas até então, né? Não sabia se era hétero, se era bi, se era lésbica, não sabia nada, e aí ela foi embora, agradeceu a Tuca ali, elas não trocaram contato e nada. 

No outro final de semana a Miriam falou: “Ah, vou passear lá naquela lanchonete”, chegou lá na lanchonete, cadê Tuca? Tuca não estava, Miriam ficou arrasada, arrasada, mas o que ela pensou? Falou: “Bom, hoje é sábado, na semana passada eu vim no sábado, vai ver que ela tá de folga, então eu volto amanhã”. — Então quer dizer, já não era o doce, né, Miriam? — E aí ela voltou no domingo e a Tuca estava lá e elas trocaram contato, começaram a conversar e aí ela ficou super feliz porque ela descobriu que a Tuca era lésbica. E aí, gente, passou ali mais umas três semanas, elas começaram a namorar e aí a vida da Miriam ficou maravilhosa, porque assim, era tudo que ela queria, né? Encontrar uma pessoa que ela gostasse e tal, e ela estava assim, estava ok, não estava se sentindo sozinha lá na Holanda, mas foi legal encontrar alguém, né? Ter alguém junto e ela foi se apaixonando pela Tuca e a Tuca aparentemente apaixonada por ela e o romance foi crescendo, elas já faziam muitos planos assim juntas, né? A Tuca não tinha intenção de voltar para o Brasil então isso balançava um pouco a Miriam porque a Miriam queria voltar, né? E a Tuca não queria, queria continuar lá, tinha uns cursos que ela queria fazer lá, enfim. 

Certo dia, do nada a Tuca sumiu, sumiu gente, su-miu.  Engraçado que, assim, a Miriam falou, elas tinham muita intimidade, elas conversavam muito, mas por exemplo, a Miriam não saberia localizar alguém da família da Tuca aqui no Brasil e a Miriam muito tímida assim, não ia ter uma iniciativa de fazer um post no Facebook, sei lá, qualquer coisa assim, sabe? Pra tentar localizar? E aí lá na lanchonete ela perguntou e uma moça lá muito seca falou pra ela que a Tuca tinha ido embora. — Não trabalhava mais lá. — O quê que a Miriam pensou? “Poxa, tomei um toco, né?” — Toco da Tuca [risos] [ba dum tss] — “A Tuca me largou, não falou nada, nossa”, ficou péssima, ficou mal, mal, mal. E isso, ela tinha mais seis meses, seis, sete meses ainda pra ficar ali na Holanda, ela ia terminar o curso, ela ainda ia fazer um brevezinho curso de tipo, de verão assim, pra depois voltar. E aí, gente, nossa, foi o fim da Holanda pra Miriam, tudo ficou cinza… — Tudo ficou cinza. — E ela não conseguia entender como um relacionamento que estava tão legal acabou daquele jeito, porque a Tuca foi embora, sabe? Do nada, sem falar um tchau, sem nada. 

E aí o tempo foi passando, né? Ela não superou aquilo, mas, né? Acabou se conformando, ela terminou o curso lá, ela ia fazer esse cursinho, ficar mais um tempo, resolveu que não ia, não queria mais ficar lá na Holanda, né? Queria vir embora, queria ver os amigos, queria ver a família [efeito sonoro de avião decolando] e ela veio embora. Miriam voltou para o Brasil e voltou com uma saudade, né? Da Tuca, ainda um pouco antes dela voltar ela procurou mais a Tuca assim, nos lugares que elas iam. — Tipo, ficou tentando, sei lá, encontrar qualquer conexão. — E não achou nada. Aí ela chegou aqui no Brasil e retomou a vida, retomou as coisas, mas ainda pensando na Tuca, né? E aí o tempo passou mais um pouco, uns três meses que ela estava aqui, ela não tinha emprego ainda e ela voltou a fazer mais uns cursos, a tentar, né? Se virar. 

E um dia ela tá saindo gente da casa dela, — Que ela morava com os pais, a Miriam. — Do outro lado da rua ela viu, tipo uma moto, não era bem uma moto, era meio que uma mobilete, uma motinho, uma motoquinha, parecia a Tuca na motoquinha, mas ela falou: “Nah, já tô tão doida que eu tô vendo a Tuca em todo lugar”, e aí quando ela atravessou a rua, a Tuca começou a gritar “Miriam, Miriam, Miriam, Miriam”, e assim, detalhe, a Tuca não sabia, sei lá, se a Miriam estava com alguém, se estava namorando, ela não quis saber, ela correu e abraçou a Miriam e começou a chorar e a Miriam, né? Com aquela surpresa. — Surpresinha de Tuca. — Ela ficou mais passada do que emocionada, porque ela não estava entendendo, né? E aí, gente, que a Tuca foi explicar pra ela… — Olha só que louco. — A Tuca estava lá na Holanda ilegalmente e ela foi deportada, ela precisou fazer não sei o que lá, e aí ela foi deportada, e foi tudo muito rápido, ela foi deportada com mais quatro pessoas. — Quatro brasileiras, né? — As circunstâncias aqui nem cabe dizer, mas assim, ficou tudo bem, mas ela foi deportada e ela não podia voltar e ela não tinha também, do mesmo jeito que ela não tinha como encontrar… — Quer dizer, a Miriam não tinha como encontrar a Tuca, a Tuca não tinha como encontrar Miriam. —

E aí ela voltou, e nessa que ela voltou, o que ela pensou? Como que a Tuca ia achar a Miriam? Porque ela procurou em redes sociais e não achou, porque tipo, a Miriam tinha um nome comum, tipo Miriam Pereira. E aí ela procurou, procurou, procurou… Porque se ela achasse uma Miriam Pereira ela ia mandar mensagem assim, né? Se tivesse a foto da Miriam. — E, gente, não achou, tipo, sei lá, oitocentas Miriam Pereira, não achou. — E aí tinha dado um estalo por esses tempos de procurar no LinkedIn — Olha que doido… — Ela procurou no LinkedIn, achou umas coisas da Miriam, achou a Miriam no LinkedIn depois de procurar muito, porque ela sabia onde a Miriam tinha trabalhado, enfim, achou. Pelo LinkedIn ela viu que a Miriam tinha um domínio de um site, — Que ela tinha um site, ela tinha feito um site, sei lá, alguma coisa — ela conseguiu achar um endereço pelo domínio desse site — Eu não sei como que ela fez isso. — e esse endereço ela falou: “Eu vou arriscar” e era o endereço da casa da Miriam que estava nesse site, sei lá, no domínio. 

E aí ela foi, apareceu na casa e passou, tipo, ela passava de motinho lá tipo umas três vezes não via nada, porque ela falou: “Ah, eu não posso também parar numa casa e bater e perguntar do nada, né? Sei lá”, e aí ela perguntou ali na rua se alguém conhecia a Miriam, mas Miriam também é um nome comum, a Miriam não ficava nunca ali e aí ela sempre parava, parava e esperava pra ver se alguém saía da casa, até que um dia a Miriam saiu da casa e aí elas se reencontraram. E aí depois [risos] da explicação da Tuca, — Porque até então a Miriam sofreu, sofreu ficou puta, né? — aí a Miriam meio que falou: “Ah, então tá, se foi isso então tá”, “Se você foi deportada, ótimo”. — [risos] Antes deportada do que tivesse me abandonado… Ô, Miriam [risos] — E aí elas estão juntas até hoje e casaram, estão felizes e eu achei tão fofa essa história, porque assim, uma sofrendo lá, porque achou que tinha sido abandonada, e a outra sofrendo aqui porque não conseguiu avisar e, né? Falta de diálogo aí, de comunicação, sei lá, de deixar contato, gente. — Vocês têm que deixar, sei lá, um número de telefone alternativo, tipo, “Ó, fica, com o telefone da minha prima, se acontecer alguma coisa”, sabe assim? “Ó, toma o telefone dessa minha amiga”, né? Precisa ter um contato, por que vai que acontece alguma coisa? Porque muita coisa pode acontecer, a gente vê aqui no podcast, né? Umas coisas assim que você fala: “Puts, não achei que fosse acontecer isso e aconteceu”.

Então, gente, troquem contatinhos, deixem contato de emergência aí, de urgência. [risos] Lógico que para as pessoas que vocês acham que vão ter aí um relacionamento promissor, né? Não vai ficar dando telefone de todo mundo pra qualquer pessoa. Mas nesse caso, se tivesse um contato, se as duas tivessem trocado um contato de emergência ali, qualquer coisa já resolvia, né? Pô, se tivesse trocado um e-mail, eu falei: “Vocês não trocaram e-mail?”, ela falou: “Por que que a gente ia mandar e-mail? Não tinha porque mandar e-mail. Ia lá na lanchonete, a gente ficava, e a gente saía”, descobriu que ela morava perto, então não teve essa coisa do online, ficaram ali mais na parte boa que é o corpo a corpo, [risos] e aí esqueceram desses detalhes e, né? Aconteceu aí da Tuca ser deportada e agora a Tuca nem pode mais voltar pra lá não sei quanto tempo. E aí se um dia elas forem morar fora, porque agora a Miriam já tem essa opção também, né? Que antes ela não queria, mas agora que ela tá com a Tuca e estão casadinhas, pode rolar.

[trilha] 

Assinante 1: Oi gente, aqui é a Raiane de São Paulo. Ai, Miriam e Tuca cês tão morando no meu coração, a história de vocês são aquelas histórias que deixam o coração quentinho e era destino vocês, praticamente… Vocês duas tiveram que sair do Brasil pra vocês se encontrarem, pra, sabe… As vidas de vocês assim se cruzarem. É maktub total sim, felicidades pra vocês e um beijo. 

Assinante 2: Oi, Miriam, eu sou a Daniele, sou natural de São Paulo e moro atualmente em Londres e imigrante que sou, eu matei na hora: Essa mina foi deportada. Porque se você não tem muita experiência sobre isso, claro que você pensaria o pior, mas eu vi isso acontecer muitas vezes, então algumas vezes eu ligava a pessoa não atendia, assim, um colega de trabalho às vezes, né? E depois de um ano eu ia saber que a pessoa foi deportada, encontrava aleatoriamente no Facebook, isso acontece bastante. E, assim, tô precisando encontrar, inclusive, uma pessoa e gostaria de saber se a Tuca oferece, continua oferecendo os serviços dela, entra em contato aí, pago em libras. Beijo.

Déia Freitas: Então fica aí uma historinha de amor, de desencontros e que no final, depois de muita insistência da Tuca, né? Porque, gente, procurar uma Miriam Pereira que seja, né? Um nome comum assim, é difícil, eu já teria desistido, sei lá, mas aí o amor venceu. — Não é bonitinho? — Então tá, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.