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título: interesse
data de publicação: 18/10/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #interesse
personagens: anderson e família

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje de novo é a Cobasi, que comemora os seus 37 anos neste mês de outubro. [efeitos sonoros de fogos de artificio] A Cobasi, que apoia mais de 160 ONGs que atuam na causa animal, pra comemorar lançou uma campanha para arrecadar ração de cães e gatos para essas ONGs. [efeito sonoro de miado de gato] A cada um quilo de ração seca que você comprar das marcas participantes, a Cobasi doará quatro refeições de 100 gramas para ONGs protetoras de cães e gatos que participam do projeto Cobasi Cuida. [efeito sonoro de latido de cachorro] — Cara, receber doação de ração boa é tão, mas tão importante pra gente que é da causa animal. Sério, faz muita diferença. — 

Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio e com o cupom: PICOLE10 — “picolé” sem acento — você ganha 10% de desconto para as compras no site ou no aplicativo. O cupom é válido até o final de outubro. E hoje eu vou contar pra vocês a história do Anderson. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

O Anderson ele nasceu e cresceu numa família muito religiosa. Os pais e a irmã sempre seguiram muito certinho aí os preceitos da igreja lá que eles seguiam e assim o Anderson foi crescendo… E quando ele estava ali, com oito anos, Anderson já sabia que era gay, mas também sabia que não poderia se assumir ali naquela família, porque, enfim, era todo mundo muito, muito, muito religioso. — E contra tudo isso que está aí… A gente já sabe, né? Esse pessoal… — Na escola também não podia — como ele disse — dar pinta porque senão tinha os meninos lá que batiam nele e tal. Então, ele cresceu nesse ambiente péssimo, tanto escolar quanto em família.

Quando ele fez 18 anos, ele não podia mais esconder quem ele era, — isso estava adoecendo o Anderson — então ele resolveu contar para a família dele que ele era gay. — Porque com 18 anos, a família dele, os pais, começaram a pressionar o Anderson de que ele tinha que arrumar uma namorada e que tinha que ser uma namorada da igreja. Então ele resolveu contar que ele era gay e que ele não iria arrumar uma namorada, né? — Ele tinha 18, a irmã dele tinha 20 e já estava noiva de um rapaz da igreja. — E o que aconteceu? — O Anderson contou para a família dele e a família do Anderson expulsou ele de casa. [efeito sonoro de tensão] E aí o Anderson se viu ali sem ter pra onde ir… Uma amiga dele, que era uma amiga da escola, conversou com a mãe… — Morava só ela e mãe e acolheram o Anderson. —

Na época, ele assim — era tipo jovem aprendiz, não tinha um trabalho que ganhasse muito bem, né? — e teve que se virar, porque ele tinha que ajudar nas contas da casa, né? A amiga que acolheu ele só podia acolher se ele também contribuísse ali nos gastos. Então, assim, foi uma luta. Uma coisa que a gente tem que falar aqui — antes de prosseguir com a história do Anderson — é que, quando ele foi expulso de casa, o pai dele fez um sermão, a mãe dele chorou, mas não ajudou o Anderson em nada… Inclusive, botou prazo pra ele sair até o dia seguinte… — A mãe… — E a irmã ficou rindo, debochando e falando que era isso mesmo. E, nessa conversa lamentável, que foi uma conversa em família, o noivo da irmã estava lá e ele ficou quieto, calado o tempo todo. E quando Anderson foi fazer as malas, foi fazer… Pegar as coisas dele pra ir embora, este cara, noivo da irmã escondido, foi lá e deu o equivalente pra ele hoje a 500 reais… Sem falar absolutamente nada. — Deu esse dinheiro pra ele e foi um dinheiro que ajudou muito o Anderson. — 

Então, o Anderson não conhecia… Ele tinha, sei lá, visto aquele noivo da irmã dele umas três vezes só. E esse cara fez isso… Deu esse dinheiro aí para o Anderson e foi o que ajudou muito. E o Anderson nunca esqueceu isso, né? E aí o tempo foi passando… O Anderson conseguiu um emprego melhor, conseguiu alugar um quartinho pra ele… Passou mais um tempo, ele conseguiu estudar, fazer faculdade e conseguiu alugar um apartamento e as coisas foram melhorando bastante aí para o Anderson. O Anderson virou um professor de inglês, começou a viajar pelo mundo e a postar muitas coisas, né? Das viagens que ele fazia… E nisso brotou ali a família de Anderson. [efeito sonoro de notificação de mensagem] Que agora, vendo que ele estava muito bem de vida, que ele tinha um carro bom, que ele estava num apartamento legal, viajando bastante, a família resolveu dar um “oi”… — Olha que coisa. — Agora o Anderson também já dava cursos, enfim, ele estava… — Ele está muito bem de vida o Anderson… Ainda bem. — E aí a primeira coisa que os pais ali pediram nesse retorno… — Ninguém pediu desculpa, tá? Ninguém pediu desculpa pro Anderson. Voltaram, assim, fazendo a linha sonsa… Família sonsa. Ninguém pediu desculpas. — 

A primeira coisa: Pediram um aparelho auditivo para o pai, que ele estava precisando e custava 7 mil reais e nã nã nã… E o Anderson — que agora ele tava por cima aí, né? No topo — o Anderson falou: [efeito de voz fina] “Tá bom, eu vou bancar esse aparelho auditivo”. E aí foi lá, bancou o aparelho auditivo, começou a ajudar a mãe dele com as contas da casa e, por outro lado, a irmã… — A gente está falando aí de coisa de quase 20 anos passados, tá? — A irmã, com uma filha ali de 12, 13 anos, que na época falou que o Anderson era o demônio, que ele era uma má influência e nã nã nã, agora queria que ele levasse a filha dela, sobrinha do Anderson, para viajar o mundo aí com ele. — Olha só… Então agora ele não é mais uma má influência, né? — E aí o Anderson até que chegou mais perto da sobrinha e tal, mas também não tinha interesse nenhum de viajar com uma criança, enfim, né? E o tempo foi passando…

Esse cunhado, sempre de boa, cumprimentava, “oi”, “oi”, “oi”… Até que um dia, o Anderson vai num shopping conhecido aí, entra no banheiro desse shopping e lá ele encontra o cunhado dele bulinando outros rapazes no banheiro do shopping. E aí o Anderson ficou em choque… E o cara viu ele, ele viu o cara, o Anderson saiu do banheiro e ele achou: “Pô, agora o cara vem falar comigo, né? Vem atrás de mim”. Não veio… Não conversou com ele e, assim… O cara estava transando no banheiro do shopping com outro cara. — O marido da irmã dele. — Na hora ali, no dia, o Anderson ficou chocado, mas não surpreso… — Porque ele disse que é muito comum homens casados frequentarem banheiros de shoppings e enfim, e afins… — Só que ele ficou chocado por seu cunhado dele, né?

E aí no Anderson despertou dois sentimentos. Um: Contar pra família dele e falar: [efeito de voz fina] “Olha aí o que está acontecendo, bem feito para vocês”. Porque, assim, a família endeusa o cara, mas ao mesmo tempo rolou um sentimento no Anderson de: “Eu não posso ferrar o cara, o único cara que me ajudou na época em que eu fui expulso de casa”. — E eu meio que concordo com o Anderson assim, eu não sei… Se a irmã dele fosse uma pessoa legal, seria ok contar? Também não sei se seria ok… Se a irmã dele fosse uma pessoa legal e o cara também fosse legal, você contaria pra sua irmã? Mas ela não é uma pessoa legal, é uma pessoa péssima… E a família toda do Anderson, palavras dele, é uma família péssima, que agora só voltou a ter contato com ele por causa de dinheiro. Única e exclusivamente. Tanto que quando tem algum evento, tipo, foi aniversário dessa sobrinha dele… Ele não foi convidado, mas a irmã dele pediu um presente pra sobrinha. E o presente que ela pediu foi um iPônei. [risos] E ele ignorou… Enfim, não deu iPônei. Então é essa relação, entendeu? Eles acham que agora que o Anderson está bem de vida, ele tem obrigação de deixar a família bem de vida também, mas eles não aceitaram o Anderson. E o único que é mais bacana com ele, assim, é o cara que frequenta os banheiros de shopping, que é o marido da irmã dele, que é péssima com ele. —

Então ele está entre não contar e foda—se, não é problema dele e contar e meio que dar uma desmoronado na família toda, mas também vai prejudicar o cara. Ai, gente não sei, eu não contaria, não… E, assim, eu vou mais além: Eu não teria retomado o contato com a minha família. Se me expulsam de casa, gente…. Nunca mais… Nunca mais eu dou notícia. Pode ir no programa de televisão chorar, que eu vou no programa de televisão e falo: “Não quero contato com eles, eles fizeram isso, isso e isso… É uma gente horrível”. Então, eu não retomaria contato e, na minha opinião, Anderson, corta essa família. Você sabe que eles não te dão afeto… Eles querem só o seu dinheiro. Corta essa família. Corta contato, bloqueia todo mundo e enfim… Eu não voltaria o contato. Eu não vou falar aqui as coisas que os pais e a irmã do Anderson falaram pra ele quando ele foi expulso, mas foi tudo muito duro. E agora, quando eles voltaram, eles ainda dão dessas…

Quer dizer, o Anderson tem o demônio no corpo, mas, ah, o dinheiro do demônio eles aceitam? Então, gente, pra mim não dá… Pra mim não dá. Não conta nada, corta essa família de vez e é isso, sabe? Porque também seu cunhado pode ser legal, mas ele está lá vendo esse monte de atrocidade e não faz nada? E também não vai viver a vida dele de outro jeito, já que ele está enganando lá também a outra, a bruaca… Então não sei… Acho que está tudo errado. Eu acho que você não tem que contar e tem que sair fora. Por que também vai fazer essa vingança e aí depois você vai sair fora? Tem que ver também. — Porquê de repente você bota um dinamite lá e vira as costas e vai embora… —

Não sei, gente, não sei… Tenho conflitos, mas eu não contaria. 

Mas essa hipótese nem aconteceria comigo, porque eu não retomaria esse contato familiar. Cortaria na raiz. A partir do momento em que me botaram pra fora de casa, sem nada, sem ter para onde ir, acabou essa família pra mim. — Eu penso assim. — Lógico que tem a galera do perdão, “ai, é seu pai”, “ai, é sua mãe”, mas enfim… Essa não sou eu.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Luiz, sou aqui de João Pessoa, na Paraíba. Primeiramente, eu gostaria de mandar todas as minhas forças e todos meus abraços para o Anderson. Eu acho que, principalmente por fazer parte da comunidade LGBTQIAP+, é mais importante a gente escutar histórias de superação, histórias que dão certo no final, que a pessoa consegue sair de uma situação ruim para uma situação boa e que não acontece apenas histórias trágicas. Sobre a sua situação, gostaria de aconselhar duas coisas: A primeira é que você não entregue o seu cunhado. Que, nesse caso, ele foi uma pessoa que, querendo ou não, estendeu um pouco a mão na situação que você foi expulso. Então, na minha cabeça, eu reagiria como se isso fosse um pagamento, essa dívida. né? E a segunda coisa: se afaste desse familiares. Eles são uma família de sanguessugas, interesseiros e de pessoas assim a gente tem que se afastar. Um beijo e até a próxima. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a [Clauta] de São Paulo. E a história do Anderson me tocou muito porque eu também tenho uma questão de aceitação da minha sexualidade dentro da minha família. Não passei pelo que o Anderson passou, mas isso me toca muito. Eu queria só deixar um recadinho do que eu aprendi… Eu aprendi que família é uma coisa que a gente pode construir com os nossos amigos, a nossa rede de apoio… É quem caminha do nosso lado, é quem dá o amor que a gente precisa na hora que a gente precisa. Diferente do que a sociedade ensina pra a gente, que família é tudo, família não é tudo e a gente pode construir a nossa. Então, Anderson, boa sorte na sua caminhada. Deixa pra lá essa família que não te aceita e está com você só pelo interesse, tá bom? Um beijo. 

[trilha] 

Déia Freitas: O aniversário é da Cobasi, mas quem ganha o presente são as ONGs da Proteção Animal. E você também ganha presente: basta clicar aqui no link da descrição do episódio e participar da arrecadação de ração que você ganha 10% de desconto nas suas compras com o cupom PICOLE10. — “Picolé” sem acento. — Participe. Saiba mais em: cobasi.com.br/aniversario. Tamo junto, Cobasi. Obrigada por me incluir aí nessa campanha. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.