título: irmãs
data de publicação: 22/07/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #irmas
personagens: vera, cida e outra irmã
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeitos sonoros de crianças contentes] Quem está comigo mais uma vez é o podcast Crônicas de um Cuidado. — Publi queridíssimo. — O podcast Crônicas de um Cuidado e um spin-off do podcast Mamilos. E este agora está focado em falar sobre saúde mental, ele é apresentado pela apaixonante Cris Bartis e produzido por ela e pela incrível Ju Wallauer. Você já se perguntou como você cuida de você? Crônicas de um Cuidado é uma jornada investigativa pra dentro da gente em busca de responder a pergunta: “Como eu cuido de mim?”. Um podcast necessário pra conversar sobre saúde mental além do raso, partindo aí de múltiplas vivências, né? Apresentando diferentes linhas de tratamento e explorando aí as nuances de viver e conviver com transtornos mentais.
Eu quero deixar destacado o episódio “Família — Sacrifícios em nome da saúde mental”. Nesse episódio, os convidados são a Anette, que contou como foi importante ela se distanciar de pessoas que ela ama muito… — A gente já falou disso, né? Em algumas histórias aqui, sobre romper com parentes e tal… — E pra Anette poder se enxergar, enxergar a si mesma e cuidar da saúde mental foi essencial aí esse afastamento de algumas que ela ama muito. E o episódio traz também a psicanalista Elisama Santos, que fala sobre o sentimento de culpa, a importância de se afastar de ambientes difíceis e como novas leituras da vida ajudam a evitar o acúmulo de mágoas. — Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio. —
Crônicas de um Cuidado já abordou temas como: Ansiedade, Burnout, família, autocobrança, traição… Tá realmente muito legal. — E hoje uma história um pouco tensa, hein? — Eu vou contar para vocês a história da Vera. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Vera tem mais duas irmãs — a Cida e mais uma — e elas sempre se deram muito, muito, muito bem, assim, as três. Então as três casaram na mesma época, tiveram filhos na mesma época e os filhos cresceram e foram viver a vida deles e tal e elas continuaram amigas ali, né? Os três casais, as irmãs e os maridos, todo mundo muito amigo. E as três fazendo tudo junto mesmo, assim. Então, por exemplo, de domingo tem feira livre, elas iam às três na feira. Ah, vão fazer compras de mercado, elas iam as três no mercado… —Muito unidas mesmo, assim, as três, né? — Até pra comprar pão, assim… Ia uma e as outras duas em iam junto. E elas morando, assim, duas numa rua, — a Cida e a Vera numa rua — e a outra irmã na rua de trás. Então, assim, muito perto mesmo… E entre os maridos aí das irmãs, — muito unidos também — um deles, que é o marido da Cida, gosta de fumar cachimbo.
E a Vera — que é quem me escreve — falou que o cachimbo tem um cheiro muito característico, assim, né? E que todo mundo conhece, enfim, todo mundo sabe que ele fuma cachimbo. E aí a vida foi seguindo, ela sempre nessa amizade… Então, se viajava, viajava junto, Natal, Ano Novo, todo mundo passa junto, aquela festa… Os pais das três já faleceram, então são as três ali, os maridos e os filhos que já estão longe… — Um estudando, outro viajando, um casou, enfim… — É mais a vidinha ali dos seis. Até que um dia, a Vera — do nada, porque elas se falam muito ali por celular — estava com o carregador ruim — então o celular dela descarregou — e ela tinha que pegar uma forma na casa da irmã. E aí ela foi e, geralmente, elas já vão entrando assim, né? Mas dessa vez, o portão dessa irmã — que não é a Cida, é a outra — que sempre ficava aberto, estava trancado.
E aí ela chamou, a irmã dela veio e falou: “agora eu tô ocupada, não posso abrir”. — Isso nunca aconteceu, gente… Isso nunca aconteceu. — E quando ela chegou perto ali no portão pra falar que ela não podia abrir e que ela estava terminando uma faxina… — Tudo muito estranho… — A Vera sentiu nessa irmã o cheiro de cachimbo do marido da Cida. E aí ela falou: “Não pode ser, não pode ser…”. — Na hora, a Vera me falando que, assim, parece que ela sentiu o coração dela partindo mesmo assim, porque não tinha como pensar isso da irmã dela e do cunhado, sabe? — Só que Vera, muito esperta, falou: “Ah, tá bom, então tá. Eu volto outra hora então pra pegar a forma”. — Porque pra pegar a forma, ela teria que abrir o portão, não dava pra passar. Então, acho que ela ficou até com medo de abrir o portão e a Vera entrar, né? Então ela falou que [efeito de voz grossa] “ah, tô sem chave”, inventou um monte de coisa, assim, nada a ver.
Só que a Vera não foi embora… A Vera ficou quase na esquina, mas de um lugar que ela conseguia ver a casa da irmã. E ela ficou ali por duas horas no sol, com ódio… [risos] E ela pensava assim também: “Poxa, eu mereço também estar nesse sol aqui, porque eu estou desconfiando da minha irmã”. Só que depois de duas horas, o portão [efeito sonoro de tensão] se abriu e o marido da Cida saiu, muito discretamente, muito rápido de lá… Só que o que a Vera não tinha percebido é que onde ela estava, ela estava perto do carro dele. Ele tinha deixado o carro bem mais pra lá… E aí a Vera ainda teve que sair correndo pra ele não ver, porque ele foi indo para o lado dela, né? Só que aí, naquele momento, ela tinha acabado de descobrir que a irmã dela estava saindo com o marido da Cida. — E aí, o que fazer? —
Ela não tinha coragem de contar pra Cida… — Porque a outra também era irmã dela, né? — Ela ficou com a cabeça muito ruim. — A Vera… — Não tinha coragem de contar para as amigas com medo de alguma fofoca e tal. E aí ela chamou o marido dela… — Pra contar, né? Tipo, pra dividir esse choque. — Só que quando ela contou para o marido, o marido fez uma cara de quem já sabia… E aí a Vera ficou olhando pra ele, assim, meio em choque. E ele falou: “Olha, eu desconfiei uma época”, ela falou: “Que época, quando?”, ele: “Bem, uns 15 anos”, — 15 anos… — “Eu falei com ele, ele negou, mas depois eu fiquei esperto de novo e eu peguei e é isso, assim… Eles têm um caso muito, muito antigo”. E aí a Vera ali ela começou a chorar — porque até então ela não tinha chorado — e ela ficou magoada também do marido não ter contado. — Mas eu entendo meio que o marido dela, assim, eu não sei também se eu contaria. —
E aí ele explicou isso, ele falou: “Vocês, três irmãs, muito unidas e tal, como eu ia chegar e contar uma coisa dessas, né?”. E aí superado um pouco esse ranço do marido, né? — Porque o marido não contou para ela, ela foi querer saber detalhes do marido, o que ele sabia. — Então ele falou: “Olha, não sei de nada… Porque, assim, quanto mais eu soubesse, mais eu ia me comprometer. Então eu sei que o caso existe e é uma coisa que eu sei é que um dos filhos da sua irmã pode ser dele”. — Gente… — E aí a Vera mau, mau, mau… Isso foi em setembro do ano passado. Aí elas passaram o Natal e Ano Novo junto, a Vera já sem muito olhar na cara da irmã e a irmã meio que talvez sacando ou com medo de perguntar o porquê também não foi tirar satisfação… A Vera ensaiando um jeito de contar — esse ano agora — pra Cida da traição… — Porque era uma coisa, assim, era fato, ela ia contar pra Irmã, elas iam romper com a outra e, enfim… Alguma coisa ia rolar. —
E quando ela estava ainda tomando coragem, a Cida apareceu lá na casa dela chorando [efeito sonoro de pessoa chorando] e ela falou: “Pronto, agora a Cida descobriu, pelo menos vai me tirar essa carga de ter que contar”. E a Cida estava chorando porque o marido tinha feito alguns exames e ele está com câncer na próstata. — O marido da Cida, que é o traidor, que tem um caso de, sei lá, 20, 30 anos com a irmã da Cida e da Vera. — E aí a Vera ficou em choque, né? Porque agora a Cida está cuidando dele, está fazendo tratamento, tudo e o marido da Vera falou: “Olha, você não vai contar nada, porque, né? O cara está com câncer, o cara tá se tratando…”. E a outra irmã lá, tipo, se dedicando muito pra ajudar a Cida pra cuidar do cara. Então, a Cida tá tipo assim: “Nossa, porque a fulana”, — que é irmã, né? — “Nossa, ela está me ajudando tanto e nã nã nã”. — Sem saber de nada… —
Então, a Vera está pior porque ela não pode contar — agora — e pior ainda porque a Cida tá tipo amando mais ainda a outra irmã, porque a outra irmã está se dedicando ao marido dela. — Olha que situação… — E aí a Vera escreveu pra gente porque ela não sabe mesmo o que fazer, mas tá enlouquecendo ela não poder contar que o cara e a irmã são os traidores e que a Cida está totalmente enganada nessa história. E, por outro lado, a Cida está cada vez mais próxima da outra irmã, porque a irmã está ajudando — no caso, o amante dela, né? — nesse tratamento aí contra o câncer. Eu não sei, gente… Eu acho que eu não contaria nada, assim… Torcer para o cara ficar bem, se recuperar, e aí pensar em contar. — Uma pessoa que até eu mesma esqueci, só depois que eu fui fazer perguntas, é do marido da outra irmã, que a Vera falou que ele é maravilhoso, ele é maravilhoso, assim… O cara é tudo de bom. Um cara muito bacana mesmo e que também está sendo enganado, né? —
Então tem Cida e tem o marido dessa irmã aí que também está sendo enganado, né? A Vera não sabe o que fazer, a Vera queria contar, mesmo com o cara com câncer ela queria contar e o marido dela que falou que não, né? Mas ela falou que tem hora que vê, assim, quando a Cida começa a elogiar muito a irmã e ela quase fala, que ela não sabe se ela vai aguentar. Então ela escreveu pra gente, pra ouvir conselhos, pra saber o que ela deve fazer, assim, como ela deve agir… Porque ela se sente traindo a Cida, né? Vendo a Cida tão enganada, tão se dedicando a esse marido traidor agora que está doente e sem poder contar. Ai, eu não sei, gente… Eu não sei se eu aguentaria guardar, — essa info — mas também não sei… Assim, porque o estrago que vai fazer contando, né? Não sei, gente, o que vocês acham?
[trilha]Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Keroly, de Massachusetts. E eu não me conformei só em mandar mensagem lá no grupo, eu tive que mandar esse áudio, porque é a minha primeira vez, inclusive, mandando um áudio, porque essa história me revoltou de uma forma que eu não sei explicar… Porque imagina que você dedica sua vida, anos da sua vida, porque quando você cuida de alguém com câncer, você para sua vida e se dedica a pessoa… E aí você para sua vida pra dedicar a cuidar do seu parceiro com câncer e, só depois de todo o inferno passado, você descobre que ele tem um filho com a sua irmã? Não, não me conformo. Pra mim não existe a opção “não contar”. Só tem que ter uma forma boa de contar, Pra eles não mentirem, né? Que “Ah, não é verdade”. A sua irmã merece essa chance de escolher se vai continuar com esse cara ou não, ela merece essa chance de escolher se vai passar por tudo o que ela vai passar enquanto tá cuidando dele com câncer ou não. E é isso, boa sorte, beijos… Torcendo muito pra felicidade de todos vocês, menos os traidores.
Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia, aqui que quem fala é Clívia, do Amapá. Então, Vera, que situação difícil, hein? Bom, eu acho que mais importante é você lembrar que a culpa de tudo não é sua, você não tem que se sentir culpada ou pressionada a tomar nenhuma atitude, porque você foi colocada nessa situação de forma gratuita. Mas a minha opinião é que a gente precisa deixar as pessoas lidarem com as próprias situações das vidas delas, lidar com a verdade e tomar suas próprias decisões. Então, eu acho que você deveria sim contar para sua irmã e deixar, sempre apoiá-la, não largar a mão dela, prestar apoio, prestar acolhimento, mas que ela tenha a liberdade de ter os sentimentos dela e saber da verdade, porque a verdade ela é sempre mais importante na nossa vida. Espero que você fique bem. Um beijo.
[trilha]Déia Freitas: Ouça o podcast Crônicas de um Cuidado gratuitamente no Gshow, Globo Play e em todas as plataformas de áudio. Novos episódios toda quarta-feira. Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]