título: jesus crucificado
data de publicação: 16/04/2021
quadro: picolé de limão – especial de páscoa 2021
hashtag: #jesus
personagens: cristiana e dona matilde
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei, pra mais um Picolé de Limão, do nosso Especial de Páscoa. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Dona Matilde e da Cristiana, quem me escreve é a Cristiana. [riso] Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Cristiana namorava há um ano e pouco mais ou menos com um cara aí que eu não vou nem dar nome, e era um relacionamento muito ruim assim, ruim mesmo, tanto que eu não vou entrar em detalhes aqui, a Cristiana não gostaria que eu fizesse isso. Então não vamos entrar em detalhes, mas resumindo um relacionamento abusivo, um cara péssimo e ela ali insistindo, né? Querendo um pouco de afeto. — O mínimo, né? — E enfim, um cara horrível. Só que a Cristiana fazia tudo pra conseguir o amor desse cara e esse cara tinha uma família muito religiosa, — Católica, aqui a gente tem que falar porque faz parte da história, né? — precisamos falar aí que é uma família muito católica, pai e mãe, e que eles comemoravam a Páscoa assim, com tudo o que tinha que comemorar aí na data festiva. — Não tão festiva, né? Enfim… — E aí no almoço do domingo de Páscoa a Cristiana foi convidada pra almoçar lá e pra levar a família dela, a família da Cristiana consistia em: avó dela. Era ela e a avó dela, Dona Matilde.
E aí Dona Matilde que já não gostava muito do cara, não queria ir e a Cristiana “Não, vó, vamos comigo, é o momento da gente unir as famílias, porque aí ele vai gostar um pouco mais de mim, vai me dar mais atenção, nã nã nã”, Dona Matilde ali irritada, mas, né? Neta dela, ela que criou, falou: “Não, vou sim, fazer o quê? Vamos”. Chegou lá, uma família burguesa, uma família elitista, uma família que já tratava a Cristiana meio mal assim, e Dona Matilde percebeu ali a vibe ruim de tudo, tipo, uma hora ela falou baixinho ali pra Cristiana, tipo, “Ah, agora eu entendo de onde esse cara saiu, né?”. E aí rolou todo o almoço ali e uma família, — Pensa assim, ó — que você entra na casa tem vários símbolos da religião, tipo, então tem ali uma Nossa Senhora, tinha uma Bíblia com um Jesus crucificado que ficava no meio, sabe uma Bíblia bem grande assim? Tipo, quando você chega na casa de alguém, minha prima Janaína tem uma que não é dela, era do meu tio, que é uma Bíblia grande que você abre, sei lá, no Salmo 91 e deixa ali aberto, e no meio dessa Bíblia tinha um Jesus crucificado assim, — Uma estátua de Jesus — uma imagem de Jesus crucificado.
Passou o almoço, Cristiana e Dona Matilde foram embora, Dona Matilde falando mal até da quinta geração do cara. [risos] — Já amo. — Dois dias ali se passaram. Na quarta-feira este cara virou um demônio com a Cristiana. Por quê? Porque a única pessoa de fora, as únicas pessoas de fora que tinham frequentado a casa dele de domingo até ali, na quarta, era a Cristiana e a avó, e o Jesus crucificado da mãe do cara tinha sumido. E aí, óbvio que eles colocaram a culpa nas duas, né? Quem pegou o Jesus crucificado do meio daquela Bíblia, que era um Jesus crucificado que ah, sei lá, tinha vindo de não sei onde, foi feito por não sei quem, sabe assim? E aí era um assim, um escândalo, né? E o cara estava muito, muito puto e acusou a Cristiana e a Dona Matilde de serem ladras e que… — Isso era na quarta — até na sexta-feira, pós Páscoa ali, ele queria esse Jesus de volta, porque a mãe dele estava adoecendo, que isso que aquilo e, que se esse Jesus não voltasse pra família dele em dois dias, ele ia largar a Cristiana.
E a Cristiana, nossa, primeiro que ela ficou muito ofendida, né? Como que alguém pensaria que ela e a avó dela roubassem um, que seja, um símbolo religioso, da família dele assim do nada, pra quê? E ela chorando muito, ficou meio estremecida, foi a primeira vez que ela ficou meio estressada com ele, porque assim, além de acusar a Cristiana, — Coisa que ele sempre fazia, tá? Sabe aqueles caras que te acusam de tudo? — com a Cristiana ele já fazia, só que ele mexeu com a avó dela, né? Acusou a avó dela de ser ladra, e isso mexeu com ela. E aí óbvio que até sexta-feira essa imagem ai de Jesus crucificado não apareceu, o cara falou horrores pra Cristiana, bloqueou ela em tudo e sumiu. A família… A Cristiana seguia toda a família ali dele nas redes, também a família bloqueou ela em tudo e ela ficou muito mal, gente, porque assim né, aquela sensação, né? De injustiçada, de ser chamada de ladra.
E ali uns três meses após esse evento foram bem complicados pra Cristiana, né? Só que aquela coisa que eu sempre falo aqui: “Vai doer? Vai. Vai passar? Vai”, pode até demorar, gente, mas dor de amor passa. — Passa, confia em mim, passa. — “Ah, mas agora não tô conseguindo, tô mal…”, vai passar, cada dia vai diminuir um pouco e vai passar, no seu tempo, mas vai passar. E foi o que aconteceu com a Cristiana, o tempo foi passando e, conforme aquela dor foi diminuindo, ela foi percebendo o relacionamento abusivo que ela vivia e que era muito abusivo, que era muito ruim pra ela. E aí um dia ela conversando com a avó dela sobre isso, a avó dela que antes já alertava, já falava: “Esse cara não é pra você, olha o que esse cara te faz, nã nã nã”, ela conversando sobre isso com a avó dela, né? Que ela agora estava se sentindo livre assim, tirou um peso do peito, ela falou: “Vó, eu sinto que eu tirei um peso do peito e isso só aconteceu porque ele acusou a gente de uma coisa absurda, né? Que foi roubar um Jesus crucificado, que doideira”.
E aí a avó dela estava sentada na mesa da cozinha conversando com ela, né? Passou um café, pôs o café pras duas. Pegou um pote lá com um queijo, deu uma fatia de queijo pra Cristiana, abriu uma gaveta do armário da cozinha, e tirou [falando e rindo ao mesmo tempo] o Jesus crucificado de dentro da gaveta. [Déia rindo muito] A Dona Matilde pegou o Jesus crucificado, a [risos] Cristiana estava em choque. [risos] E aí ela falou: “Vó, o quê que você fez?”, aí a Dona Matilde falou: “Ah, uma família esnobe, uma gente horrível, peguei mesmo, [risos] eles não mereciam Jesus naquela casa, peguei mesmo”. [rindo muito] — Gente, sério? — Dona Matilde? Olha, eu sei que é errado, tá? Porque sempre acontece isso quando eu fico de um lado da história, sempre aparece alguém pra escrever “Ah, você ficou do lado da pessoa que roubou”, [risos] eu não sou perfeita, desculpa, eu tô do lado da Dona Matilde 100%. [risos] — Eu não consigo. — Eu não vou fingir, ok? Dois mil e vinte e um, a gente no meio de uma desgraceira danada, eu não vou fingir, eu vou me permitir [risos] amar Dona Matilde. —
E vou além, o roubo do Jesus crucificado foi o que livrou a Cristiana de um relacionamento abusivo, olha o milagre aí, gente, sabe? [risos] Quer mais milagre que isso? Jesus operando da maneira mais inusitada. Eu fiquei tão feliz com essa história, sério… “Ah, mas a mãe dele ficou triste porque não tinha Jesus”, ela já não tinha Jesus, né, gente? — Naquele coração… — Ter o Jesus no meio da Bíblia [risos] não ia ajudar em nada. [risos] Bom, este é o meu milagre de Páscoa, ok? [risos] Desculpa se alguém aí vai me escrever depois que foi errado roubar, mas se poupem, porque eu achei ótimo, essa é a real, eu achei bem ótimo, eu amo Dona Matilde, entra aí pros meus ícones de senhorinhas como Dona Clementina, Dona Vanda, e [risos] agora Dona Matilde. E a cena dramática delas tomando café e Dona Matilde tirando o Cristo crucificado da gaveta… Olha, é lindo, é lindo e eu tô feliz.
[trilha]Assinante 1: Eu sou a [Bel] de São Paulo e… Cristiana, Dona Matilde foi como toda a avó, foi mãe duas vezes, né? Ela te livrou de uma situação horrorosa e ainda livrou Jesus de ter que passar um perrengue de mais uma Páscoa desnecessária naquela casa, porque uma família mesquinha e abusiva como aquela não pode ter Jesus no meio de uma Bíblia, não pode ter Jesus em lugar nenhum. Então o livramento já foi dado, Dona Matilde foi maravilhosa e com muito carinho te tirou de lá. Deixa o tempo passar, minha filha e vai ser feliz, porque dor de amor como a Déia disse: passa, viu? Boa Páscoa.
Assinante 2: Olá, pessoal, meu nome é Jade, sou do Rio de Janeiro, queria dizer que amo Não Inviabilize, amo a Déia. Cheguei aqui através das meninas do Afetos, a Karina Vieira e a Gabi Oliveira e nunca mais fui embora. Bem, Dona Matilde, só queria dizer que você é muito maravilhosa, Cristiana você não tem uma avó, você tem um anjo na sua vida e, assim, o que fica de lição pra mim depois de ver essa história é que… Sabe aquela nossa amiga? Quem nunca, né? Passou por um relacionamento abusivo, e a gente fica tentando alertar a pessoa, “Sai dessa, esse cara não é legal pra você”, e às vezes não adianta absolutamente nada, então um pequeno gesto pode mudar tudo. Então assim, fica o ensinamento de Dona Matilde, maravilhosa. Um beijo. [riso]
[trilha]Déia Freitas: [risos] E feliz Páscoa. [risos] Um beijo, gente.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]