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título: joãozinho
data de publicação: 11/07/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #joaozinho
personagens: dayane e joão

TRANSCRIÇÃO

Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo é a minha amada, idolatrada, salve, salve, Hidrabene. — Eu preciso agradecer muito, porque é por conta desses publis, né? Dos patrocinadores, que eu consigo trazer aí os episódios gratuitos pra vocês, editados bonitinhos. Então, prestigiem… — O inverno chegou e a nossa pele precisa de um reforço no quesito hidratação e, para esse reforço, a Hidrabene tem o Creme Ultra Repair Facial, que acalma, regenera e prove aí a sensação de conforto da pele por maio de ativos que reforçam aí a barreira lipídica, protegem a microbiota e retém aí também a hidratação.

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[trilha]


A Dayane se casou com o João quando ela tinha 23 anos e o João tinha 25. — Então eles têm ali idades próximas. — Quando a Dayane fez 30 anos, eles resolveram que era hora de ter um bebê, então eles se planejaram, fizeram tudo certinho, do jeito que eles queriam e montaram o quartinho e nã nã nã, a Dayane se programou no trabalho… — Então como é o esquema de trabalho da Dayane? — Ela tem que ir três dias na semana presencial e dois dias ela pode trabalhar de casa, então ela já grávida pensando como que ela ia fazer, né? Pros dias que ela teria que trabalhar presencial porque o João trabalha todos os dias presencialmente. Dayane ali decidiu que era melhor ela trabalhar grávida até o máximo que ela conseguisse, pra depois começar ali a sua licença maternidade de quatro meses assim que o bebezinho nascesse. Bebezinho nasceu, [efeito sonoro de bebê chorando] uma coisa fofa, menininho… Colocaram o nome de “João”, então ficou o “João” e o “Joãozinho”. — Porque o avô da Dayane também se chamava João, então, além de ter o nome do pai, é uma homenagem, enfim… —


Aquela rotina dos primeiros quatro meses, a Dayane fazendo tudo e o João dividindo as tarefas. A Dayane disse: “Andréia, eu não tenho do que reclamar do João”. — Mas mesmo ele fazendo bastante coisa, o pesado fica com a mãe, porque é você que tem que amamentar, tem hora que é só você que parece que a criança chora e sabe que, sei lá, é só você que vai resolver, enfim, eu não tenho filhos, então eu estou passando aqui a experiência da Dayane. — Além do trabalho, a carga mental maior é da mãe também e eu acredito que realmente seja, né? Aqueles quatro meses foram bem intensos, o primeiro filho também, então muita coisa você não sabe, né? — Sei lá… Depois, no segundo filho, acho que já fica um pouco mais tranquilo e no terceiro você praticamente entrega a mamadeira para a criança e fala: “Se vira, dá seus pulos”. [risos] Que horror, mas eu já ouvi uma brincadeira assim, né? Que na primeira criança tudo você fica em cima, no segundo você já fica mais relaxado e no terceiro [risos] é só Jesus ali guiando a criança. [risos] É uma brincadeira tá, gente? Aí depois vai aparecer aí gente que tem três filhos falando: “Você falou que eu não cuidei do meu filho”, enfim, não te conheço, não estou falando de você, é uma brincadeira. —

Esses quatro meses foram bem intensos e a Dayane começou a se organizar pra voltar para o trabalho. Não tinha choro, é isso, três vezes presencial e dois dias home office. Ela também não podia trocar os dias, então de segunda, quarta e sexta ela ia para o escritório e de terça e quinta ela trabalhava de casa. Qual foi o primeiro esquema que a Dayane fez? O primeiro esquema foi: Segunda, quarta e sexta, ela deixar o Joãozinho com a mãe e de terça e quinta o Joãozinho ficava com ela em casa, só que, assim, a Dayane percebeu que ela trabalhando em home office com o bebê em casa, ela não estava rendendo e isso aparecia ali no trabalho dela, a coordenadora chamou ela para conversar, enfim… — Então não estava funcionando daquele jeito. — Ela percebeu que a mãe dela também estava cansada, e aí a Dayane conversou com o João e eles decidiram que era melhor, mesmo a Dayane tendo dois dias home office que o João ficasse numa creche de segunda à sexta, porque aí de segunda, quarta e sexta ela levava o João e ia trabalhar e de terça e quinta ela levava o João e voltava para casa.


E por que só a Dayane levava o João? Porque eles têm um carro só, então era melhor ela ficar com o carro para fazer as coisas do Joãozinho e o João ia trabalhar de metrô, de ônibus, enfim, dava aí os pulos dele e ia trabalhar. Isso ficou melhor para os dois… — Dayane preferia também levar, porque era também mais um pouquinho de tempo que ela ficava com o bebê e ela achou que funcionou pro trabalho dela deixar o João na creche. — O tempo foi passando, tudo se ajeitou ali, o trabalho da Dayane pegou o ritmo normal, o bebezinho também agora já um pouquinho maior, com um ano e meio… — As coisas fluindo. — E esta era a rotina do casal: O João saía cedo — mais cedo que a Dayane — pra poder pegar o ônibus, metrô, enfim, e a Dayane saía mais tarde para deixar o João na creche e ir trabalhar ou voltar pra casa para trabalhar de casa. — Essa é a rotina, funcionando ótimas as coisas de casa ali, eles dividindo, tudo certinho. —Quando ela tinha alguma consulta médica ou qualquer coisa, ela evitava de fazer as consultas no dia de trabalho presencial e tentava marcar consultas médicas no horário de almoço de terça e quinta, enquanto ela estava de home office. 


Só que tem determinados exames que não dá, que você tem que fazer de manhã, que você precisa de um jejum, enfim… E a Dayane precisava fazer um exame muito cedo. Então, naquele dia, o que foi combinado? Que o João ia levar o Joãozinho na creche — quem ia buscar na creche depois era a Dayane — e ele ia para o trabalho depois e ela ia fazer o exame. A Dayane acordou, aprontou as coisas do Joãozinho, fez o café da manhã ali, ela e o João tomaram café, conversaram um pouco, ela deu um beijo no Joãozinho e um beijo no João. Dayane foi para o exame e ela tinha que fazer uma série de exames de sangue e um ultrassom. — Ela estava ali sentindo um desconforto na área da bexiga e o médico acabou pedindo. — O tempo que ela chegava no laboratório, era o tempo do João deixar ali o Joãozinho na creche e ir pro trabalho.  Dayane foi lá, fez os exames dela, demorou um pouco pra chamar, fez o ultrassom, demorou porque ela precisava tomar mais água, então foi, tentou, não deu, “Ah, toma mais água”, fez… — Tinha que fazer ultrassom da bexiga, enfim… — Fez os exames, depois “nossa, estava explodindo”, foi até o banheiro do laboratório e dali ela tinha que voltar pra casa de ônibus. 


Então ela foi até o ponto de ônibus, o ônibus pra casa dela demorava um pouco, mas entre fazer o exame, o exame de sangue, o ultrassom e voltar para casa, demorou 3 horas. Dayane chegou em casa um pouco aflita porque já tinha dado uma hora pouco do início do trabalho dela, ela pegou atestado, mas enfim, tem empresa que cobra mais, então ela já se logou para começar a trabalhar e bater o ponto dela virtual… Quando, de repente, deu um estalo na Dayane e, esse estalo, a Dayane diz que foi Deus. — Deus… — Ela resolveu ligar na creche para saber como estava o Joãozinho. — Ela nunca fez isso, ela nunca precisou ligar na creche, mas deu um estalo nela… — Pegou o celular, ela não tinha nem ali aqueles números que a gente mais liga, né? Tipo, não tinha da creche ali porque ela não ligava na creche, procurou o telefone da creche e ligou… [efeito sonoro de telefone chamando]  “Ah, oi, aqui é a Dayane, mãe do Joãozinho, eu quero saber como o Joãozinho tá”, a moça da creche falou:” Pera aí que eu vou ver, já volto”. Demorou uns 15 minutos… Era muito… — No telefone? Pensa, 15 minutos é muito. —


Voltou e a moça da creche falou: “O Joãozinho não veio hoje”. — O mundo da Dayane parou e o coração dela quase… — Não tinha como, eles saíram pra ir pra creche. Ela desligou e começou a ligar para o marido, só que o telefone do marido só chamava e ninguém atendia. O que você pensa de cara? “Sofreram um acidente, estão em algum hospital”, o seu primeiro pensamento é esse. A Dayane ela não sabia o que fazer, ela estava sozinha em casa, ela começou a gritar, gritar, gritar… [efeito sonoro de pessoa gritando] Sem falar nada, gritar, gritar, gritar. E aí a vizinha dela de apartamento começou a esmurrar a porta dela: “Dayane, Dayane, Dayane”, a gente vai chamar essa vizinha de “Vanda”. “Dayane, Dayane”, começou a esmurrar a porta, vieram outros vizinhos e aí a Dayane conseguiu chegar na porta e ela só gritava, gente, ela pensou: “Meu marido e meu filho morreram”. E aí ela conseguiu destrancar a porta e ela não conseguia parar de gritar. Vanda, num ato de desespero, deu um tapa na cara da Dayane e falou: “Cala a boca, para, fala o que está acontecendo”. — O apartamento já estava cheio de gente. —


Alguém pegou um copo d’água para Dayane e ela contou o que tinha acontecido, um vizinho começou aligar para os hospitais, IML, alguém ligou 190… — Só que a Vanda, gente, a Vanda ela teve um pensamento que eu jamais teria. — Ela ligou na empresa do cara, ela falou: “Me dá o telefone da empresa, o seu marido não está atendendo? Me dá o telefone da empresa” e ela ligou na empresa, falou na recepção… Ela não pediu pra falar na sala do João, a Vanda pediu para falar na segurança. — Gente, Vanda foi luz. — A moça transferiu para a segurança e a Vanda falou: “Por favor, cheque o carro placa tal, se não tem um bebê dentro do carro”. [voz embargada] A segurança na hora foi checar, quebrou o vidro e o João tava lá dentro do carro… [efeito sonoro de tensão] Já muito molinho, mas ainda com vida. E isso a Dayane em casa e a Vanda no telefone… E aí a Vanda só perguntava pra ele: “Tá vivo? Tá vivo?”, lá fora, ela já estava lá no corredor e aí o segurança falou: “Tá, a gente já tá chamando aqui a emergência da empresa”, que é uma empresa grande, dessas que tem ambulatório e a gente já vai chamar o SAMU e tal.


E aí socorreram o Joãozinho, ele estava só começando a desidratar porque ele tinha ficado umas três horas dentro do carro… A sorte é que era um estacionamento coberto, porque se fosse um estacionamento totalmente no sol, eles não teriam essa sorte. O João ele nunca teve a rotina de levar o Joãozinho na creche e ele acabou fazendo o trajeto do ônibus e foi trabalhar de carro. Esqueceu que o Joãozinho estava dormindo na cadeirinha no banco de trás… — E aí a gente pode pensar: “Mas que pessoa faz isso?”, gente, se você jogar no Google, você vai ver o tanto de caso que tem e não só de pai e mãe que acaba esquecendo o filho na cadeirinha… E, assim, é por puro desvio de rotina… E eu fico tão apavorada porque eu sou tão distraída que eu poderia ser essa pessoa. Eu acho que qualquer um poderia ser essa pessoa. E aí, assim, é uma tragédia para o resto da sua vida… Como que você se recupera de uma coisa dessas? Eu fui até dar uma olhada na internet, tem casos de perua escolar que pega o seu filho pra levar pra escola, pra creche e esquece seu filho dentro da perua, não checa.. Parece que eu não sei se ano passado ou esse ano, três casos, quatro casos… — 


O João não estava atendendo o celular porque ele estava numa reunião na hora que a Dayane estava ligando, então ele nem levou o telefone lá para a sala de reunião.  Localizaram o João, avisaram o João, o João também ficou desesperado. João foi junto com Joãozinho na ambulância para o hospital, e aí Joãozinho ficou lá um dia e meio até hidratar e tal, mas tava tudo bem. A empresa teve que chamar a polícia também — porque precisava rolar um boletim de ocorrência — e o João ele não se perdoava do que aconteceu… Ele ficou muito mal. — Eu dei nome pra ele aqui porque eu entendo que não era a rotina dele e eu acho importante trazer essa história aqui, porque é muito triste e tem muito caso… E é bom que a gente alerte, né? — De praxe acontece uma investigação ligada até ao Conselho Tutelar para ver se a criança não está sofrendo maus tratos e eu acho isso ótimo. Tem que ter… — Esse é o desdobramento para o casal, porque não é só o pai e tudo é checado e é pelo bem—estar da criança e é ótimo que isso aconteça. — Na empresa isso gerou um processo administrativo em relação ao João, que acabou não dando em nada ali, numa advertência, enfim… 

Só que, principalmente as mulheres, que estavam sabendo do que aconteceu, elas ficaram muito putas com o João e algumas se recusavam a trabalhar com ele, inclusive. Pelo clima se formou ali na empresa, o João pediu as contas e ele também não estava legal da cabeça. Então ele falou que o melhor era sair. — No primeiro mês que tinha acontecido, falou isso para a Dayane… — Por outro lado, a Dayane ela não conseguiu aceitar, gente, o que o João fez e ela falou: “No momento que eu soube o que aconteceu e o quão perto eu fiquei de perder o Joãozinho, parece que o meu amor pelo João secou, morreu, na hora. Pra mim era como se fosse um estranho que eu queria longe de mim e que eu queria que ele morresse. Eu fiquei com muito ódio dele e o meu amor secou, acabou… Eu esperei esse mês porque ele também estava mal pra pedir o divórcio. Não aguentei. Não aguentei… A minha família também ficou muito estremecida com o João e a própria família do João também ficou muito desapontada com ele”.  O Joãozinho ficou bem, talvez ali no carro ele tenha acordado e chorado um pouco que ele tava… — Sabe quando a criança chora que está assim com ranhozinho, assim, com secreção no nariz e tal? Então pode ser que ele tenha acordado, chorou, ninguém ouviu no estacionamento ali e voltou a dormir ou começou a desidratar já… —


A Dayane acha que não ficou nenhum trauma porque ele era muito pequeno e tal, hoje o João já tem dez anos, então só a partir dos oito anos que a Dayane permitiu que o João pegasse o Joãozinho pra dormir. — Não tinha Cristo que fizesse a Dayane deixar na casa do João. Aí o que ela fazia? — Ela levava pra casa da mãe do João, porque na mãe do João ela confiava e também a mãe do João não confiava mais no João com o Joãozinho. — Então, mesmo quando o João fica, até hoje, gente, sozinho com o Joãozinho, a, sei lá, a gente pode dar um nome pra ela, a Dona Mirtes vai lá e checa. Essa história me deixou apavorada… Apavorada. Porque é muito fácil de acontecer com a gente, com todo mundo. Quer dizer, comigo não porque eu não tenho um bebê, mas eu vi na internet que tem gente que esquece pet também, gato, cachorro… Então a gente precisa criar uma segunda rotina… — O meu desenho preferido é daquele urso com a pá, que o desenho dele era só sobre dicas de segurança, de incêndio, de como atravessar a rua, de várias coisas. Então, esse era o meu desenho preferido, então eu acho que principalmente quem tem bebê, quem tem criança pequena ou até se você vai levar mandar, levar seu pet para pra creche ou para lavar, sei lá e começar a checar no lugar… 


Então, se é você que levou seu filho pra creche, você sabe que você levou, mas vai lá, dá uma olhada no carro de novo. Não custa. Você mandou seu marido, a sua mãe, a sua irmã, levar o seu filho na creche? Dá dez minutinhos ali, cinco minutinhos, que é o horário que tá todo mundo já, as crianças estão todas lá, liga para a escola… Porque as escolas elas não têm como, é muita criança, não tem como você: “Ah, o fulano faltou, vou ligar em casa para ver o que faltou”, então eu acho que isso tem que partir da gente… Tem que partir da gente. Você pediu para outra pessoa que não tem aquela rotina levar seu filho na escola, sei lá, levar seu pet para tomar banho, liga no lugar. “Ô, meu filho está aí já? Chegou? Ele está bem?”, “ah, está aqui sim” e fala: “Vai lá checar, sei lá, manda uma foto, X”. Você não vai fazer isso todo dia, mas os dias que a rotina mudar, faz isso. Faz isso, sei lá eu… Eu acho que eu já não tenho filho porque eu seria uma pessoa muito paranóica, eu já ia botar uma airtag na criança. [risos] Pra checar onde ela tá pelo celular… Eu ia, desculpa… Bebê? Eu ia… Bota na mochilinha do bebê e você sabe que tá lá na creche a mochilinha, então a criança tá na creche. Desculpa, eu ia botar um airtag. De Android também tem, né? Aquela tagzinha, custa R$30… 


Você olha no celular ali, tá piscando ali na creche, endereço tal… “Pô, tá piscando aqui num lugar que eu não conheço, nesse estacionamento?”, sabe? Ai, olha, essa história me abalou demais, porque uma coisa é a gente, sei lá, ver na internet, ver na televisão, outra coisa é você ouvir o relato de uma mãe contando isso e você imaginar que você podia quebrar o vidro do carro e seu bebê estar morto ali dentro, que ficou no sol, sabe? É uma coisa… É inaceitável pra mim. [voz embargada] Eu não sei explicar, assim, me abala muito. A Dayane, além de dar esse alerta, ela não consegue entender direito como que esse amor que era enorme pelo João morreu no exato minuto que ela soube o que aconteceu. Morreu… Ela falou para mim: “Andréia, eu não queria nem saber se ele tava vivo, se ele tava morto, eu não estava nem aí se ele estava sofrendo, se ele não estava, ele quase matou meu filho”. E aí eu falei pra ela: “Mas é filho dele também”, ela falou: “Então, por isso mesmo, pra mim é pior ainda. Se fosse um estranho, sabe? Agora, ele era o pai, ele tinha que ter tido esse cuidado”. — Mas eu entendo isso da rotina do cara, sabe? Então, por isso que eu dei nome para ele também, porque eu não sei se vocês sabem, dependendo das circunstâncias de um acidente onde seu filho, sua filha, acaba falecendo por uma negligência sua ou uma falta de atenção, os juízes acabam fazendo com que a pena, eu não sei explicar juridicamente isso, mas tipo, a pena é o que você já está passando, é você ter perdido seu filho, entende? —


Então eu dei nome aqui para o João porque até hoje ele paga essa pena. O Joãozinho está vivo, está com dez anos, mas podia não estar também. Então, eu entendo a Dayane e eu não posso nem dizer que entendo o João, mas eu imagino que pra ele também deve ser horrível. Então, eu acho que essa história tem um monte de camadas, assim… Tem a questão das mulheres da empresa lá que começaram a realmente ser hostis com ele e também dá pra entender, né? Porque tipo, poxa, você só tinha uma coisa pra fazer, deixar seu filho na creche… E Vanda  já tinha visto um caso onde ela trabalhava que aconteceu a mesma coisa… Só que não escalou para uma coisa pior por quê? Porque na empresa da Vanda, quando você é funcionário, você chega com o carro, o segurança checa o seu carro. Olha se você é você que está no carro e se tem mais alguém dentro e o segurança falou e era uma mãe… — Que tinha mudado a rotina… — Falou: “E esse bebê?”, e aí a mãe assustou e começou a chorar de uma maneira que tiveram realmente que chamar uma ambulância e todo mundo ficou sabendo…


Porque ela sabia que se ela tivesse entrado com o bebê com o carro, o que você faz? Você pega a bolsa aqui, ó, do lado e sai… E aí as pessoas podem falar: “Ah, mas a nossa visão periférica aqui, a gente vê a cadeirinha atrás”, dependendo do que você está pensando na hora e do que você está fazendo, você não vê… Você está distraído. Você não tem aquela preocupação, porque você não vai sacar que seu filho está ali, você esqueceu completamente. A moça que fez isso ela ficou muito mal e olha que o segurança viu ali o bebê, assim, ela estava no volante ainda… Mas a Vanda teve essa sacada. — Te amo, assim, do fundo do meu coração, sei lá, tinha que dar uma estátua para Vanda, fazer uma estátua da Vanda. Que se não fosse Vanda, tudo bem, ia demorar, sei lá, mais uma ou duas horas até ela conseguir falar com o marido dela, pensar nisso… Porque ela ia começar a procurar nos hospitais e não na empresa, então podia demorar mais ainda. E aí era o tempo que o Joãozinho não teria mais… Então, essa história me abalou, assim, de um jeito que, olha, vai cinco meses de terapia, porque me deixou apavorada. E eu acho que a gente tem que que pensar nisso e pensar em rotinas de segurança. Eu espero que essa história entre na sua cabeça do jeito que entrou na minha e você cheque, comece a checar as coisas porque pode acontecer… — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, gente, aqui é a Catarina, moro em Portugal. E essa história só me fez pensar como a rotina extremamente engessada e sem chances de variações fazem com que a gente esqueça ou perca totalmente a capacidade de raciocínio em situações adversas. É um alerta para todo mundo não fazer rotinas engessadas, não praticar sempre a mesma coisa… A gente tem que enganar o cérebro. Eu entendo a Dayane, mas eu sinto muito, muito pelo João, porque eu acredito que ele também se culpa e até hoje, acredito que ele não se reparou até hoje, não sei se ele fez terapia… Eu espero que a Dayane consiga perceber que não foi por mal, não foi displicência, foi mais uma vítima da rotina cruel que é essa vida que a gente tem hoje, é isso. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, meu nome é Pâmela, eu falo de Nova Serrana, Minas Gerais. Dayane, eu entendo quando você diz que perdeu o amor instantaneamente… Aconteceu uma situação semelhante comigo em que eu achei que uma pessoa fosse agredir o meu filho e eu virei uma outra pessoa nesse momento. Só quem é mãe sabe como é que a gente vira bicho. Aliás, a gente é bicho, mas com isso vem instintivamente na gente quando a gente acha que o nosso filho tá em perigo. Mas eu sinto muita pena do João, porque ele passou por uma barra sozinho e todos ao redor dele fizeram ele se sentir ainda mais culpado por uma coisa que acontece… Já aconteceu comigo. Eu distraí, quando eu percebi: “Opa, meu filho está aqui no banco de trás”, já aconteceu com meu irmão… Eu sinto muito pelo João e espero que ele esteja bem hoje em dia. 

[trilha] 

Déia Freitas: Nesse inverno, pra uma ótima hidratação da sua pele, conheça o Creme Ultra Repair Facial, desenvolvido com ingredientes calmantes e testado dermatologicamente em peles sensíveis. Usando o nosso cupom: PICOLE10 — tudo em maiusculo, sem acento, o dez numeral —, você ganha 10% de desconto em todo o site sem valor mínimo, exceto nos kits. — Valeu, Hidrabene, te amo… — Um beijo, gente, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.