título: laços – parte 1
data de publicação: 07/02/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #laços
personagens: marília e anselmo
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje a história é um pouco diferente. Nunca aconteceu isso aqui no podcast. Pela primeira vez eu vou contar a história de três ângulos diferentes. Então, essa história, a primeira parte vai ao ar hoje, a segunda parte amanhã e a terceira depois de amanhã. Então, babado, né? — Hoje eu vou contar para vocês a história da Marília. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]
A Marília e o Anselmo eles se conheceram na faculdade. — Isso tem uns quase 30 anos e eles começaram a namorar… — Mas era um namorico assim, uma coisa mais leve. Na época, o Anselmo ainda estava enroladinho ali com uma garota e a Marília estava focada nos estudos, então Marília pensou “Bom, se der, deu, né? Se não der, parto pra outra”. Só que aí eles foram saindo, foram se conhecendo melhor, assim, um gostando do outro e a coisa foi evoluindo sem que se desse o nome de namoro ali, sem ninguém pedir ninguém em namoro. E a coisa foi tão bem que eles se formaram na faculdade — os dois — e resolveram casar. E aí foi um casamento, assim, mais simples, coisa só de cartório e depois eles fizeram uma viagem. E aí eles começaram a vida. Cada um tinha ali a sua profissão. Marília ia dar aula, Anselmo na área de engenharia, continuou ali no trabalho dele e a vida seguiu mais um pouco.
Até que Marília e Anselmo resolveram ter um bebezinho. Então eles começaram a tentar, a previsão era que acontecesse logo, mas passou um mês, dois, três, meio ano, um ano, dois anos e Marília não engravidava… E aí Marília — depois de dois anos — ela fazia os exames ginecológicos de rotina, só que ela não se aprofundou pra saber se tinha alguma questão ali que impedia os dois de terem filhos. — Porque eles estão ali há dois anos transando sem nenhuma prevenção, era, sei lá, pra vir um bebezinho aí, mas não vinha. — Aí Marília foi lá, fez uns exames complementares e aparentemente ela não tinha nenhuma questão ali pra tratar que deixasse a Marília com menos fertilidade ou infértil. Já o Anselmo, ele tinha uma resistência em procurar um médico pra fazer os exames… Ele achava que… Ele falava isso pra Marília: “Ah, é bobagem, a hora que tiver que vir, vem e tal”. Mas aí ela acaba convencendo o Anselmo. — Porque dois anos, né? Então alguma coisa tinha… Ela tinha feito os exames, não tinha dado nada, então ele tinha que fazer os exames. —
E lá foi Anselmo fazer os exames… E descobriu—se ali que os espermatozoides do Anselmo tinham pouca mobilidade. — [risos] Eu pensando aqui na academia, né? Mobilidade, não, é motilidade. — Os espermatozoides do Anselmo tinham pouca motilidade. “Ai, Déia, o que é isso? Espermatozoide com pouca motilidade?”. —Digamos assim, o espermatozoide ele tem que correr até o óvulo, né? Lá dentro do corpo da mulher, ele tem que ir lá e, enfim, fazer o trabalho dele. Quando ele tem pouca motilidade, ele não consegue chegar lá, ele não consegue andar rápido… [risos] Andar eu imaginei o espermatozoide com perninha. [risos] Ele não consegue chegar lá… Acho que eu vou resumir assim, né? Pra acabar não falando besteira. —
E aí foi descoberto ali que o Anselmo tinha essa questão de pouca motilidade dos espermatozoides e, na hora, quando saiu os resultados e ele foi receber no médico e Marília foi junto, ele já ficou mais fechado assim com a Marília. Porque aí o médico falou que ele teria que fazer mudanças significativas ali dos hábitos que ele tinha… Tanto alimentares quanto no trabalho. Até as cuecas mais apertadas que ele usava ele tinha que mudar… Enfim, ele tinha que fazer várias coisas pra que esses espermatozoides aí corressem até o óvulo, né? — Chegassem lá. — E aí, a muito contragosto, ele fez… A Marília que se esforçou ali pra fazer todas essas mudanças de alimentação e nã nã nã, dando uma força ali pra ele… Pra que as coisas melhorassem ali, os espermatozoides ficassem mais espertinhos e conseguissem chegar até o óvulo.
Só que o Anselmo não estava na vibe… Sabe quando você não tá na vibe? Ele não tava na vibe… E aí Marília fez tudo, eles mudaram tudo o que tinha que mudar, ele não se negou a participar. — Mas ele não se empenhava tanto quanto a Marília queria. — E aí voltaram no médico pra fazer de novo os exames, pra ver se aquela motilidade dos espermatozoides tinha aumentado e tal… E aí pouca diferença nos exames… E aí o Anselmo desanimou, falou: “Olha, eu não nasci pra ser pai mesmo… É isso. Se você quiser, a gente se separa e cada um toca a sua vida”. E aí a Marília ficou em choque, porque em nenhum momento ela pensou em se separar, né? Só que a partir daí o Anselmo começou a ficar muito na dele, assim, muito frio até com a Marília. E ela foi ficando mal, porque, assim, apaixonada pelo marido, mas não querendo ser tão invasiva… Porque ela entendia também que ele estava sofrendo, né? Que ele estava ali pensando “Poxa, não vou conseguir e tal”.
A Marília se afastou, eles se afastaram, continuaram ali dentro desse casamento, os dois tristes… Até que Marília, dando aulas, conheceu um professor. Era um professor recém contratado e eles tiveram uma afinidade, de cara… — Eles conversavam muito, eles riam muito… — E, numa dessas, a Marília se abriu com esse professor. — Que a gente vai chamar aqui de Antônio. — E aí Marília se abriu com Antônio e contou tudo o que estava acontecendo e tal, ele foi solidário ali e eles ficaram muito próximos, assim, mas somente colegas ali de trabalho, né? Nisso, Anselmo cada vez trabalhando mais, chegando mais tarde em casa e Marília se sentindo cada vez mais sozinha. — O combinado que eles tinham e que a Marília gostava muito é que, assim, ela dava aula de manhã e à tarde, pra ter a noite, pra a hora que ele chegar, né? Ele chegava ali em torno de seis horas o Anselmo, para que eles à noite pudessem conviver, ficar juntos e tal. E ele começou a chegar tarde… Tinha dia que chegava oito, dez da noite… Ficava no trabalho e tal. —
E aí a Marília foi se ressentindo… Eles não conversavam mais, ela ainda queria que o casamento desse certo, mas não via como. Até que um dia, — numa tarde em que estava chovendo muito — ela pegou uma carona com Antônio e eles se beijaram. [efeito sonoro de tensão] E aquele beijo trouxe pra Marília um monte de coisa que ela não estava tendo naquele momento. E ela pensou: “Opa, tô viva… Tô viva”. Só que rolou esse beijo, [efeito sonoro de porta de carro batendo] ela ficou super assustada e desceu do carro, foi andando na chuva, assim, andando rápido, chorou, enfim… Só que mais um tempo se passou ali, uns dois meses depois desse beijo, mais um beijo aconteceu e Marília transou com Antônio. [música de suspense] Mas ela se arrependeu e foi pra casa. Chegando em casa, ela olhou para o Anselmo e aquela dor, aquele remorso, mas ela falou: “Meu Deus, agora já foi. Eu vou esquecer isso, não vou contar pra ele e vou pedir demissão da escola”. No dia seguinte, ela pediu demissão da escola e, quando o Anselmo chegou à noite, ela falou que não queria mais trabalhar, que ela queria se dedicar pra ver se ela engravidava.
E parece que o Anselmo teve uma esperancinha ali, né? E aí eles começaram a transar mais, mas o Anselmo ainda muito distante. Passada ali umas cinco, seis semanas, Marília acordou enjoada, muito enjoada. — E não podia ser outra coisa, gente… Não podia ser outra coisa. — Marília estava grávida. Gente, a felicidade daquele casal… Anselmo nas nuvens, Marília nas nuvens, a gravidez correndo perfeitamente. O que Marília apagou completamente da cabeça dela é que ela tinha transado com Antônio. [efeito sonoro de tensão] — Então, eu paro a história aqui e volto amanhã contando a história do Anselmo. — Um beijo, gente, e eu volto amanhã.
