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título: laços – parte 3
data de publicação: 09/02/2023
quadro: amor nas redes
hashtag: #laços
personagens: luis felipe, marília e anselmo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Amor nas Redes… — Que você provavelmente não vai entender nada se você não escutar as outras duas partes da história que são Picolé de Limão, então essa história aqui é a história Laços parte 3. Então, se você não ouviu ainda a 1 um e 2, volta e procura lá em Picolé de Limão que você vai achar a primeira e a segunda parte, tá? E pra quem ouviu as duas partes [risos] do Picolé de Limão, hoje a gente vai ouvir o final da história, que é um Amor nas Redes. — Bom, eu já contei pra vocês a história da Marília, a história do Anselmo e agora eu vou contar para vocês a história do Luís Filipe. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]


[efeito sonoro de bebê chorando] 

Luís Filipe nasceu… Que alegria. A Marília não se aguentava de tanta emoção, de tanta felicidade… Finalmente o que ela queria tinha acontecido, ela era mãe. E aquilo parece que apagou tudo, tudo o que ela sofreu com a distância do Anselmo, tudo o que ela passou pensando que ela não ia engravidar e, enfim, ela estava feliz, ela estava plena e ela não pensava em mais nada. Por outro lado, Anselmo também estava muito feliz, finalmente ele via que a Marília estava feliz e que ele era pai também… — E não importava de que forma que ele era pai, mas ele era pai e era uma coisa que ele queria viver. — Mas, ao mesmo tempo, Anselmo tinha uma angústia… Ele ficava pensando: “E se o amante da Marília aparecer e reivindicar essa paternidade? Eu vou perder tudo”. Só que na cabeça de Anselmo não tinha o que fazer… Era deixar rolar e aproveitar os momentos que ele podia ser pai. — Porque eu não sei se vocês notaram, o Anselmo ele tem uma questão dele, que é a antecipação do sofrimento. Então, ele não sabe se ele vai sofrer ou não, mas aí ele já começa a sofrer. E ele percebeu que ele estava começando a fazer isso com o Luís Filipe… Luís Filipe, ainda um bebê… —

O Anselmo percebeu que ele estava se afastando do bebê pra não sofrer caso o pai verdadeiro aparecesse. E aí Anselmo teve uma luz… Ele falou: “Eu tô doente… Eu não estou bem, porque eu não quero ficar longe do meu filho. Ele é meu filho”. Aí ele começou a fazer terapia e, na terapia, ele descobriu o quanto ele fez a Marília sofrer, né? O quanto ela estava disposta a batalhar por eles ali, por tudo, pela relação e o quanto ele se fechou pensando só nele, nos problemas dele e tal. Isso foi uma grande evolução para o Anselmo… Isso não aconteceu de uma hora pra outra. — O Luís Filipe, nesse processo também estava crescendo. — E a Marília estava ali levando a vida dela plena de mãe, sem fazer terapia, sem nada… — Quem estava só ali na terapia era o Anselmo.  — Até que chegou num ponto da terapia que o terapeuta do Anselmo fez uma provocação pra ele, né? — Que, assim, ele estava conseguindo superar essas questões da falta de diálogo, das paredes internas que o próprio Anselmo construiu… — Quando ele ia conseguir dialogar de fato com o Marília? Quando ele ia conseguir falar pra Marília que ele viu o beijo e que, na cabeça do Anselmo, este caso da Marília poderia estar até acontecendo até hoje, tipo, depois que o Luís Felipe nasceu, porque ele não sabia. 


E aí o terapeuta dele, o psicólogo fez essa provocação, falou: “Até quando você vai aguentar não saber? Não é melhor saber? Já que você está estabelecendo aí uma frente de diálogo, não é melhor você saber?”. Até que quando o Luís Filipe estava ali com seus cinco anos, o Anselmo resolveu contar para a Marília que ele tinha visto beijo. — Porque, gente, até então, Marília esqueceu completamente do Antônio. Completamente. E, na cabeça dela, não passava nem essa hipótese de que o Luís Filipe podia ser filho do António. Não passava… Gente, apagou completamente. — E aí o Anselmo tomou coragem e um dia — Luís Filipe foi pra casa da avó — ele resolveu conversar com Marília. Numa conversa de boa, tipo, ele abriu um vinho, uma coisa, assim, suave, né? [efeito sonoro de líquido sendo despejado] Porque a questão da traição para o Anselmo não era nada, não era nada… — Não era uma questão. Aconteceu… Ele encarou como uma coisa que a Marília precisava naquele momento, então, assim, ele não queria discutir a traição, ele queria discutir a paternidade. Essa era a questão. —


Com muito jeito, o Anselmo contou pra Marília que tinha visto beijo e que sabia que ela tinha um amante. — Assim, no tempo presente, né? — E aí a Marília, que jamais imaginou, jamais passou pela cabeça dela que ele tivesse visto esse beijo ou qualquer outra coisa, ela quase desmaiou, real. E aí ela escutou calada o que o Anselmo tinha pra dizer… — Isso Marília me contando. — E, na cabeça dela, conforme ele foi falando do beijo, a Marília lembrou da transa e, conforme ela lembrou da transa, ela lembrou da época que ela engravidou e, conforme ela lembrou da época que ela engravidou, o mundo dela caiu. Porque aí sim ela pensou: “O meu filho é do Antônio”. Agora, toda aquela preocupação que o Anselmo tinha em relação a perder o filho pro outro cara estava passando para Marília. Tipo: “Meu Deus, o meu filho tem outro pai, o que eu faço agora?”.


E aí a Marília, depois de respirar fundo, porque ela ficou até sem voz, assim… Ela explicou o que aconteceu para o Anselmo. E aí ela falou que tinha beijado Antônio aquele dia e que depois tinha saído com ele mais uma vez e tinha transado e que tinha esquecido completamente, que depois da transa ela resolveu que ela investir no Anselmo, no casamento, enfim… Nunca mais teve contato com Antônio, inclusive pediu demissão por causa disso. E aí uma parte de toda a angústia que o Anselmo tinha, foi embora, porque, assim, ela não tinha mais contato com o cara. — Ela não tinha o cara mais como amante, nada assim… Era uma coisa completamente diferente do que ele tinha imaginado. — Só que agora, os dois tinham o mesmo questionamento: “De quem o Luís Felipe é filho?”. — Pra mim, de qualquer forma, o Anselmo já era pai, porque foi ele que estava criando o Luís Filipe, mas eles queriam tirar essa dúvida. da paternidade. — 


E aí o Anselmo voltou pra terapia e Marília começou a terapia. [risos] E Luís Filipe com cinco ali, cinco, seis anos… E o que os dois pensaram? Chegaram a mesma conclusão depois de um tempo de terapia: Que quem devia decidir se queria fazer esse exame de paternidade era o Luís Filipe. E tudo o que eles não conversaram até então, eles iriam conversar com o Luís Filipe quando ele tivesse idade. Então, eles foram levando isso até ali quando o Luís Filipe tinha 12 anos. Primeiro passo: Eles decidiram colocar o Luís Felipe na terapia e ele não queria ir, né? — Ele não entendia porque ele tinha que ir conversar com aquela mulher, que ele nem conhecia, que era a psicóloga… — E aí, com o tempo, ele foi gostando de ir na psicóloga. — Porque também estava com 12 para 13 anos, bullying na escola, enfim, questões dele, de menino. —


E aí passou mais um tempinho e a psicóloga já sabendo que a demanda dos pais era essa, eles resolveram contar… E aí meio que resumiram a história, né? Falaram que a Marília… A Marília contando pra ele que tinha conhecido um outro cara e que tinha passado uma noite com esse cara e que existia a possibilidade do Luís Filipe ser aí filho biológico de um outro homem. Mas o Anselmo estava ali, falando: “Eu sou seu pai, vou ser sempre seu pai” e nã nã nã… — Foi difícil pra todo mundo, uma conversa muito difícil. — E o Luís Filipe realmente deu uma pirada assim, tipo, “como assim?”. Um tempinho depois, o Luís Filipe falou para os pais que ele não queria fazer o exame. — Ele não queria saber de quem ele era filho biológico. — E isso foi muito frustrante para Marília e para o Anselmo, porque eles estavam já esperando que ele quisesse fazer o exame e já simulando situações do tipo: “Ah, será que a gente vai procurar o Antônio? Será que ele vai gostar mais do Antônio do que da gente?” Enfim, eles já tinham criado ali várias situações na cabeça achando que o Luís Filipe ia querer fazer o exame, mas ele não quis… Ele não quis fazer o exame…


Luís Filipe disse: “Olha, eu gosto da minha vida como ela tá. O único pai que eu conheço é você e eu gosto que você seja meu pai. Eu não quero ter dois pais”. E, na época, ele era uma adolescente ele falou: “Eu não quero ser o cara estranho da escola que tem dois pais [risos] e uma mãe, sabe? Todo mundo tem um pai e uma mãe, ou só um pai ou só uma mãe, dois pais e duas mães, mas ninguém tem dois pais e uma mãe… E eu não quero ser esse carinha da escola”. Agora que o Luís Filipe está com 20 e poucos anos, ele pensa em até fazer o exame, mas não já… — Antes não era uma possibilidade fazer o exame, agora nasceu nele uma curiosidade de saber como é… Se realmente o Antônio for o pai biológico dele, de saber como é o Antônio, como que está o Antônio, né? Mas, ao mesmo tempo, ele se acha muito, muito, muito parecido com o Anselmo.  O Luís Filipe me falou que dentro dele, assim, ele tem quase certeza que ele é filho do Anselmo. E muito por isso também que ele não quer tanto fazer esse exame. Mas agora pintou uma curiosidade, assim, de repente, se ele for filho biológico do Antônio, saber como é o Antônio. —


Então, [risos] eu sei que vocês, como eu, vão ficar um pouco decepcionados, porque a gente sempre espera um desfecho tipo “Ai, agora a gente já sabe”, mas a história está nesse ponto… — Pra a gente ver como a vida real é, né? — O Luís Filipe está levando a vida dele, sem a menor pressão dos pais pra fazer exame de nada. E ele, por enquanto, não vai fazer, mas ele não tira da mesa essa possibilidade de um dia ele fazer esse exame e saber do Antônio. Aí eu perguntei isso pra ele: “Mas você nunca teve curiosidade de procurar o Antônio, sei lá, só de pesquisar nas redes sociais, ver se ele existe, em quem ele vota, [risos] sabe? O que ele gosta de comer, sei lá”. E o Luís Filipe acha que se ele fizer isso, ele vai entrar numa nóia, que vai ser ruim pra ele. Então ele nunca fez, ele nunca procurou. 


Essa história não tem um fim ainda, ou já tem… Porque pode ser que ele nunca faça o exame, né? E que Marília e Anselmo lidem com isso na terapia deles e tal. E essa é a história que eu recebi de três ângulos diferentes, de três pessoas da mesma família… Isso nunca aconteceu. Isso só pode voltar a acontecer se alguém me escrever de novo uma história desse tipo assim, cada um dando uma visão. Então, [risos] eu não sei o que vocês vão achar disso que eu dividi em três partes, mas eu achei que era a maneira mais fácil de entender, né? Cada lado da história… E da gente entender também que aqui a gente acaba contando um lado só. Por isso que eu acho importante preservar as identidades e trocar algumas informações que não deixem descobrir, porque a gente está contando um lado só. A gente não sabe como os outros lados da mesma história foram afetados. 


E é isso, aqui encerra a história Laços e eu gostei muito de contar e vou dizer: Com essa história aqui, [risos] eu aceito sim que eu sou uma boa contadora de histórias, porque os fatos chegaram muito bagunçados, assim, e muito difíceis de botar numa ordem e tal. E eu fui bem nessa, [risos] eu fui bem. [risos]


[trilha]


Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Nayara de São Paulo. Que história gostosa de ver, apesar de ficar com um pouco de medo, dar aquela sensação de “ai meu Deus, o que vai acontecer?”. [risos] É muito interessante ver como a vida real ela é interessantemente mágica e diferente, porque o olhar de “não vai ser igual uma novela”, “não vai ser o desfecho que a gente espera”, “fulano não vai ter a atitude que eu acho que ele iria ter” e que eles seguem sendo uma família é muito bonito, porque entender que as relações elas são diferentes e cada relação vai ser de uma forma… Os moldes, as formas que a gente vê por aí não únicas, é muito importante… Então um beijo pra vocês três, fico muito feliz com essa história. Um abraço.

Assinante 2: Nossa, que história mais bonita, que maravilhoso… Que gostoso ouvir em capítulos, nossa… Que perfeição… É isso aí, Déia, pode se orgulhar, você é uma excelente contadora de histórias… E essa história me trouxe uma reflexão muito importante, né? Sobre o quanto a gente não deve antecipar sofrimento e o quanto a gente deve se comunicar com calma, com juízo… E me fez lembrar de uma coisa muito bonita que eu ouvi de um rabino uma vez, que ele disse que “amor” em hebraico é “decisão” e é óbvio nessa história o quanto o amor foi a decisão dos três… Apesar de tudo… Tinha tudo pra dar errado, mas eles decidiram… Que bom, que reconfortante que é ouvir  uma história bonita assim… Um beijo pros três e até.


[trilha] 


Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo.


[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

E pra quem ficou aqui até depois da vinheta, eu tenho que contar aqui um ódio de Luís Filipe. Né, Luís Filipe? Luís Filipe me escreveu até a parte que ele ia dizer para os pais o que ele queria. E aí ele disse que me mandaria um novo e-mail… [risos] Eu fiquei desesperada porque eu não sabia mais o que tinha acontecido da parte dele. E aí depois, no mesmo dia, ele me mandou o complemento do e-mail só de sacanagem. Então, garoto… Pra quê? [risos] Ah, pra quem vai perguntar do Antônio, o Antônio segue sem saber de absolutamente nada. Nem que Marília engravidou, nem que ele tem a possibilidade de ser pai… Segue a vida dele. Achamos. Porque também ninguém sabe onde está Antônio. Então, agora eu vou embora mesmo, gente. Um beijo.

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.