título: leilão
data de publicação: 19/05/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #leilao
personagens: fernando, tio clécio e tia quitéria
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Tio Clécio. — Quem manda a história do Seu Clécio é o seu sobrinho, Fernando. — Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Tio Clécio sempre foi um cara muito bacana… Pensa numa pessoa divertida, aquela pessoa, sabe? Que faz o churrasco, são sempre na casa dele e ele está sempre disponível, sempre disposto… É o cara que te leva no hospital se você precisar, se você não tem carro e tem uma compra para carregar, ele te dá carona… E a família toda, toda, sempre amou muito o Tio Clécio. Fernando tinha aí seus 19 anos — hoje ele tem 38 — e ele lembra muito bem do tio Clécio feliz da vida por ter comprado um carro no leilão. E como era esse carro? Era um carro, sei lá, vou falar aqui qualquer carro… — Como era esse carro? — Uma PôneiW que valia muito comprar, porque, assim, o preço estava muito baixo, mas porque ela estava abatida. Mas o Tio Clécio, que tinha ali um amigo que era funileiro, que sabia mexer em tal coisa de carro, não sei o que lá, falou: “Eu vou fazendo esse carro com calma. Não importa quanto tempo demore, eu vou fazendo no meu tempo, no meu bolso, pra quando eu terminar eu ter aí uma PôneiW bacana”.
E o Fernando ficou muito empolgado: “Pô, vou tirar uma onda com meu tio na PôneiW, nem que seja daqui um, dois anos, enfim, eu espero”. Tio Clécio todo dia tinha alguma coisinha daquele carro pra fazer, para começar… Então, antes de mandar para a parte da funilaria, ele foi desmontando ali umas coisas, enfim — ele foi fazendo as coisinhas de carro que não vou saber dizer aqui —, acontece que o tempo passando, tio Clécio, aquele homem feliz da vida, de tudo, foi ficando tristonho, foi ficando doente e, muitas vezes, ele mal conseguia sair da cama. Sentia dores, começou a sentir umas dores, assim, nas costas, uma dor muito forte no seu braço direito e ninguém entendia, porque o Seu Clécio sempre foi tão feliz, tão animado. Ainda assim, ele adoentado e tristonho, ele fazia as festas de família e todo mundo ia… E, entre essas pessoas da família, tinha uma tia—avó do Fernando que era tia do tio Clécio — que a gente vai chamar aqui de “Dona Quitéria” — e Dona Quitéria ia nas festas, Dona Quitéria gostava de uma cervejinha e, assim que ela chegou, Tia Quitéria, que ela olhou o tio Clécio — sobrinho dela —, Tia Quitéria se afastou… Não beijou o sobrinho. — Como ela sempre fazia, aquela festa… Tio Clécio já vinha com o copo de cerveja no talo. —
E, nesse dia, tanto ele não veio, quanto Tia Quitéria não foi. Tia Quitéria ficou olhando de longe, e aí Fernando ali jovem — 19 anos, estava lá com os primos, enfim, música alta, bebendo também — então nem não notou nada dessa festa. Só que a mãe dele, que a gente pode chamar aqui de Dona Sônia, tava com os mais adultos ali e Tia Quitéria estava falando — não só pra mãe do Fernando, para a Sônia, como para outras pessoas da família ali — que tinha um homem sem a metade das costas… A Tia Quitéria falou assim: “Parece que pegaram um facão e cortaram do ombro dele aqui, tiraram a pele até o osso com a carne até aqui embaixo, na lombar assim, nas costas dele, todo o lado direito. Ele está todo machucado e ele tá grudado no Clécio”, palavras de Tia Quitéria. Ninguém entendeu nada, ninguém ali era de uma religião espírita, de umbanda, candomblé, nada… Tia Quitéria mesma assustou de ter visto aquilo — e o que Tia Quitéria fez? —, ela descreveu aquele homem que estava junto e foi embora a Tia Quitéria, porque ela ficou apavorada.
Ela falou: “Eu não consigo ficar mais aqui, porque não está encostado no Clécio, ele está como se o braço dele estivesse dentro do braço do Clécio. Eles estão unidos… Eu não consigo ver isso porque é uma imagem horrível para mim”. E Tia Quitéria foi embora, Tia Quitéria não foi mais em nenhuma festa familiar e depois de quatro meses, Tia Quitéria faleceu. Clécio veio de uma saúde totalmente perfeita para uma queda brutal, começou a ficar debilitado, começou a ficar cada vez mais triste, chorava pelos cantos e, por outro lado, era muito agressivo em relação ao carro. Não deixava que ninguém tocasse no carro, não levou o carro pro amigo dele funileiro, porque não queria que ninguém tocasse no carro. O carro virou uma coisa na garagem dele que ele polia — carro com a frente batida e tal —, ele polia o carro, o carro não funcionava, ele polia e ele fazia as coisas no carro como se o carro funcionasse. E aí o Tio Clécio ficava dentro do carro um tempo… A Sônia, mãe do Fernando, acabou contando em casa o que estava acontecendo, o que que a tia—avó tinha visto e tal e eles não acreditaram, mas era nítida a mudança do tio Clécio, de uma pessoa totalmente alegre pra uma pessoa triste, cheia de dores e doenças e que não saía de perto daquele carro ou estava dentro do carro, ou estava limpando o carro, ficava agressivo, não deixava os sobrinhos… — Porque jovem, né? Vê uma PôneiW, sei lá, quer tirar uma onda… — Não deixava…
E o carro não funcionava porque ele não levava no mecânico. Ele não queria que ninguém tocasse no carro. Mais ninguém viu esse espírito grudado no Tio Clécio e, passados sete meses da compra desse carro, Tio Clécio não acordou… E onde ele não acordou? Três semanas antes ele só dormia dentro do carro e um dia a esposa foi lá xingar ele e tal, falar que ele tinha dormido mais um dia ali e ele estava morto. Tanto ele quanto a mãe, eles acham que o Clécio comprou um carro de leilão de acidente, onde a pessoa que morreu ficou naquele carro — porque só isso faz sentido — e que ficou grudado no Tio Clécio e o Tio Clécio foi definhando, definhando, até a morte… E Fernando tem certeza que foi o carro de leilão o culpado. — O carro não, né, gente? O espírito. — E aí, como é que faz agora, se você estava pesquisando leilão de automóvel, de moto? De acidente? Não sei… Deus me livre.
Essa é a história do Fernando, Tio Clécio infelizmente faleceu e boa parte da família acha que foi sim um espírito que era dono do carro… Que abreviou aí a passagem do Tio Clécio pela terra. — Não sei o que pensar, nem quero sentir. Melhor não. — O que vocês acham?
[trilha]Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Catarina, de São Carlos. Muito triste ver que ele foi realmente consumido, né? Por talvez esse espírito obsessor do carro, me deixou muito arrepiada saber que ele morreu no carro, enfim… Um beijo.
Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui é Nicole de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Achei tensa essa história. Fiquei bem encucada em relação a Tia Quitéria ter visto o que que tava preso ali no Tio Clécio e também ter falecido… Claro que pode ter sido uma coincidência, mas ela foi a única pessoa que viu e faleceu logo depois, então fiquei com dúvidas. O que aconteceu com o Tio Clécio, eu realmente acredito, pode ter sido esse Espírito, essa coisa que grudou nele. Enfim, estou só por mais Luzes Acesas… Por favor, Déia, melhor quadro. Beijo.
[trilha]Déia Freitas: Então é isso, gente, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com o Fernando. Deus me livre, um beijo, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]