Skip to main content

título:  leitinho
data de publicação: 06/10/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #leitinho
personagens: vania e jairo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e essa é uma história meio complicada e que é melhor que as crianças não ouçam. Então ouve de fone ou ouça quando não tiver uma criancinha por perto, tá? Hoje eu vou contar para vocês a história da Vânia. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Vânia casou com Jairo tem uns cinco anos, e os dois muito bem sucedidos assim, num ponto da carreira que não dava para ter filhos… E eles resolveram esperar um tempo e tal. —  Pra ter filhos. —  E aí na pandemia eles tiveram um bebezinho. —  Agora, final do ano. —  E aí, nossa, felicidade, o Jairo é muito companheiro dela, ajuda bastante em tudo. E o Jairo, ele gosta de ver a Vânia dando de mamar… Então ele acha lindo, ele tem foto, ele tem vídeo e nã nã nã. E aí um dia, lá por janeiro, ela acabou de dar de mamar pro bebezinho e ele não quis mamar tanto, e a Vânia ela tem muito leite. —  Muito leite. —  Então, o que ela faz? Depois que o bebezinho mama, ou às vezes ele não mama tudo, ou se ela tem muito leite e tal, ela higieniza ali os peitos, né? Têm um procedimento e tal, ela faz tudo certinho e bota o leite ali nuns vidros. —  Dá uma ordenha, pá. — 

E aí um dia quando ela estava se preparando, se higienizado para fazer isso, o Jairo fez um pedido para ela. —  O que o Jairo pediu? —  O Jairo pediu pra mamar. —  Na Vânia. [risos] — E a Vânia ficou em choque, começou a rir porque ela achou que era zoeira, né? E aí quando ela olhou pro Jairo ele tava com uma cara séria e uma cara assim, meio que pedindo mesmo pra mamar. E aí a Vânia ficou tão em choque, que ela estava ali higienizando os peitos que ela virou o peito para ele e o Jairo já caiu de boca. Só que foi uma sensação horrível para ela, de ter um adulto… — Porque uma coisa é você que não tem leite e tal, está ali no rala e rola e o cara mamar no teu peito, é uma coisa… Agora você cheia de leite e o cara mamando… —  

A Vânia falou que foi bizarro… E aí ela tirou o peito e falou: “Pelo amor de Deus”, só que o cara ficou alucinado. E aí o detalhe era: ele não tinha fetiche em mamar o peito da Vânia, ele queria — Na real. — tomar o leite. E aí a Vânia foi lá, higienizou de novo e falou pra ele: “Olha, não vai dar”. Vânia já foi bem direto, falou: “Não vai dar… Não dá pra um adulto, o meu marido, mamar no meu peito, não tem como… Eu dou mama pro nosso filho e depois dou mama pra você, não terei essa dinâmica de casal. Não vai dar”. E aí ele falou pra ela: “Mas eu posso então tomar o leite do vidro?”. —  E aí aqui na história eu tenho que fazer uma pausa pra contar um trauma que eu tenho de infância, quando eu tinha uns… Eu tinha dez anos e a Janaína tinha 8. — 

[efeito sonoro de voltando a fita] A gente tem tinha uma prima que faleceu até recentemente, minha prima Marlene, que ela tinha tido filhos, ela teve muitos filhos e tal, a gente tem contato com todos eles e ela veio na minha casa com o bebezinho, e eu e a Janaína, porque assim, gente, criança… Eu tinha uns dez anos e a Janaína tinha uns oito. Quando ela foi dar de mamar pro filhinho dela, pro bebezinho, eu e a Janaína a gente começou a rir, porque “ah, a Marlene está com o peito pra fora”, e aí a minha mãe, que sempre foi uma mulher muito fina, muito educada e muito brava. A minha mãe, o que ela fez? Ela viu a gente rindo da situação… A gente não estava rindo da Marlene, a gente estava rindo da situação, vimos um peito… Criança idiota, enfim… A minha mãe olhou para a Marlene que nem tava reparando, que ela estava ali dando de mamar, curtindo o bebezinho… Ó, eu falo e me dá até ânsia, gente… 

Minha mãe falou o que pra Marlene? “Ah, Marlene, quando você terminar de amamentar, você me dá aqui o bebezinho e você vai encher essas duas colheres de leite porque elas vão tomar, elas estão com vontade”. E a gente não estava com vontade, a gente não quer a gente não queria… Mesmo. Só que minha mãe é dessas, né? Ela falou: “ah, vocês tão rindo? Então agora vocês vão ver”. E sem a Marlene sacar nada… A Marlene falou: “Ai, nossa, tadinhas, crianças… Com certeza, né?” Aí terminou de dar de mamar, minha mãe fez a gente sentar, ficar ali olhando a Marlene dar de mamar e ela atrás da Marlene olhando pra gente. Então era aquela coisa, né? Se a gente risse… 

E a gente não riu mais, eu e Janaína a gente estava ali sentada em choque esperando a nossa colherada de leite materno, já assim como ânsia… Porque, gente, não era uma coisa que a gente queria tomar mesmo. E aí a Marlene terminou de dar o mama pro bebezinho, entregou o bebezinho pra minha mãe, minha mãe deu as duas colheres pra ela, pegou o peito, direcionou na colher, encheu as duas colheres e botou na nossa boca… E a minha mãe atrás com o bebezinho olhando pra gente falou: “engole, vocês não estavam com vontade? Agora vocês matam a vontade”. E a gente teve que tomar aquela colherada de leito de peito. 

E, assim, o gosto era… Parecia uma água com maizena assim, não era bom. Pro bebê pode ser ótimo, é rico, é abençoado… Mas para mim e pra Janaína foi muito traumático tudo, entendeu? E tudo porque a gente estava rindo e a minha mãe não admite que você dê risada de uma visita ou que você tire sarro de alguém. Minha mãe não admitia. Então ela não entendeu que a nossa risada era por ter visto um peito, ela entendeu o que a gente estava rindo da nossa prima Marlene que já era bem mais velha que a gente, enfim… Aquelas primas que a gente tem e que tem quase a idade da nossa mãe… E aí a minha mãe fez isso com a gente. Então, a minha lembrança de leite de peito, que eu não lembro de ter mamado na minha mãe, eu lembro de ter tomado leite de prima Marlene. A colherada… E nunca mais a gente riu de mulher nenhuma amamentando, então meio que deu certo e a gente ficou com esse trauma… Janaína até hoje também… Às vezes a gente está conversando, a gente dá aquela parada e lembra que a gente tomou uma colherada de leite de peito, enfim…. 

Então, voltando à história… [risos] Eu conheço o gosto de leite de peito. Então não entendo porque ele queria tomar. E aí o Jairo falou para Vânia que ele queria tomar o leite de peito no vidro. —  Ele não estava interessado no peito, ele queria o leite. —  E aí ele tomou como se fosse água assim, copão, com vontade. E aí ele começou a tomar leite de peito, tipo, a Vânia já deixava uma squeeze… — [risos] Com leite de peito pra ele. —  E isso virou um segredo deles, porque ela não conseguia conversar sobre isso com ninguém. Mas foi uma coisa que foi deixando ela tão noiada, que ela acabou indo para a terapia para tentar entender porque que isso incomoda tanto ela. —  Porque, assim, gente, na real, me incomodaria se ele quisesse mamar nela, aí já acho… Aí já até para mim já é demais… Agora, ele tomar o leite de peito no vidro, lá na squeezezinha dele, assim, não me incomoda… Porque ele gosta do gosto, sei lá. Não sei… — 

Mas a Vânia está muito incomodada e ela está na terapia. E depois que ele começou a tomar o leite dela, ela não consegue mais transar com ele. Assim, parece que ele virou mais um filho, né? Tomando leite. Ela já tentou parar, ele ficou chateado, porque ele diz que ele gosta do gosto… E ela tem planos de amamentar o bebezinho tipo… — Livre demanda que chama, acho que é isso, né? —  Tipo, então até quando ele quiser ir tomando, tipo, dos, três anos de idade… Só que aí ela tem que amamentar o bebezinho e o Jairo. É complicado um pouco, né? [risos] Mas eu não sei, eu não acho que é uma coisa… Pelo menos pra mim… — E que também, né? A gente não está na situação de ver seu marido com a squeeze de leite de peito, né? — 

Eu não sei, eu não terminaria um casamento por causa disso, sei lá… Mas ela está já, sabe? Pensando nisso… Por quantos anos ela vai ter que amamentar o Jairo? E aí com o tempo, se ela tiver menos leite, é lógico ela vai dar pra filho dela, né? O Jairo vai ter que tomar ali um calicezinho só de leito de peito. [risos] Ai, gente… Olha, eu ri com a Vânia. A gente riu porque, enfim… Ela está até com uma certa leveza, agora que ela começou a terapia, para falar sobre isso, mas ela quis dividir essa história com a gente porque ela falou: “o Jairo me ajuda em tudo, cuida do nenê, não tenho do que reclamar dele e tal, faz a parte dele, sabe?” —  Porque não é ajudar, né? A gente já falou sobre isso. —  Fazer a parte dele… Ele faz a parte dele e tal. 

Só que ele sempre fica esperando… Tipo, tem um ritual, depois da última mamada, que é quando ela enche os vidros ali ou de manhã, quando ela acorda com o peito muito cheio, o Jairo já fica por ali, tipo um cãozinho assim em volta, meio que esperando a squeeze de leite de peito dele. E aí ele gosta de tomar logo que ela tira, porque já sai meio morno… — [risos] Ai meu Deus do céu. —  E ela já perguntou pra ele de onde vem isso e ele falou: “eu não sei, eu vi você dando de mamar… E ele toma com tanta vontade e me deu vontade, assim”. Eu acho que o Jairo também deveria ir para terapia, mas ele não quer, ele acha que não tem nada demais, que é só leite de peito e, sim, ele gosta do gosto. 

Ainda perguntei para ela: “mas e aí? Ele põe um açuquinha? Põe, sei lá, um toddy?” [risos] E ela falou: “Não, ele toma puro assim. Assim que eu tiro ele quer, tá morno… Se sobra ele esquenta no micro-ondas e toma”. Então, gente, é isso, o Jairo toma leite de peito. E ele não tem interesse em mamar no peito. —  O que já acho que ajuda bastante, né? —  Ele tem interesse pelo leite mesmo, tomar leite de peito. E deve ter uma galera adulta aí que curte leite de peito, né? Porque tem de tudo nessa vida. Então, não sei, não vejo muito problema, mas a Vânia não está conseguindo mais enxergar tesão no marido dela depois dessa história do leite de peito e, realmente, fica meio complicado, né? Então deixem aí seus recados para nossa amiga Vânia. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Vânia, tudo bem? Meu nome é Fernanda e eu falo aqui da Austrália. É o seguinte, eu super te entendo, eu tive o meu filho faz quatro anos, ele mamou até três anos e meio e, assim, o meu peito ele virou um tabu pra mim assim. Até hoje eu me sinto um pouco, hoje já tá melhor, mas é desconfortável se meu marido faz “fom fom” no meu peito. Então eu realmente te entendo, sabe? E eu acho que se isso está te incomodando muito, você precisa e deve conversar com ele, abrir o jogo mesmo. Se ele é um marido muito bom, um pai excelente, não tem porque você se separar por causa disso. Eu acho que o diálogo é a principal arma nesse quesito, falar que você se sente invadida, por exemplo. Beijo e que tudo dê certo para você pro seu bebezinho. 

Assinante 2: Oi, aqui é a Natália de São Paulo. E sobre esse caso, eu acho que se você não está confortável, isso tinha que ter parado já. No momento que você não se sentiu confortável, você tinha que ter falado com ele, embora ele tenha ficado chateado e tudo… Não dá, né? Mas eu acho que ele precisa realmente procurar uma ajuda, precisa procurar terapia. Não é nada bizarro, não é nada horroroso assim, ao meu ver, né? Mas eu acho que ele precisa descobrir de onde vem isso e o motivo, né? Até porque o seu leite vai secar, em algum momento você vai parar de amamentar o seu bebê e como é que vai fazer? Como é que ele vai saciar essa necessidade? Se é que dá para chamar dessa forma, né? Então acho que é valido para ele e para você, para vocês descobrirem isso e conseguirem se reconectar, porque isso claramente está afetando a relação de vocês. É isso, um beijo e tchau, tchau. 

Déia Freitas: E é isso, gente. Jairo quer leitinho. [risos] Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.