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título: mãe
data de publicação: 30/03/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #mae
personagens: juliana e seu pai

TRANSCRIÇÃO


[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. — Vim aproveitar a minha dor de garganta, a minha voz um pouco rouca [risos] pra contar um Luz Acesa pra vocês. — E hoje eu vou contar a história da Juliana. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Juliana mora com o pai e o irmão e, infelizmente, a mãe da Juliana morreu na pandemia. Foi tudo muito triste… — Podemos chamar aqui a mãe da Juliana de dona Aparecida. — Dona Aparecida ficou internada, faleceu e, desde então, a família sofre muito essa perda e relembra muito da Dona Aparecida e não se sabe se por isso, — se por esse clima de tristeza absoluta que se instaurou ali naquela casa — um dia Juliana estava no computador, ela não está trabalhando no momento, então ela estava ali preenchendo umas vagas, enfim, e ela sentiu uma presença… — Sabe quando você está no computador e você sente que tem alguém chegando atrás de você? — E, quando a Juliana olhou, a mãe dela estava na porta do quarto. — O computador da Juliana fica ali no quarto dela. — Estava na porta do quarto e ela… — por um segundo — Sabe quando você não lembra se sua mãe está viva, se não está viva, assim… Porque foi muito nítido, né? E aí ela olhou de novo e não estava mais. [efeito sonoro de tensão]


Só que a partir daí, a Juliana começou a ver a mãe dentro de casa. E como ela via a mãe? Via a mãe tentando fazer as tarefas que ela fazia. Então, a Juliana já viu a mãe dela no meio da sala, fazendo uma posição como se estivesse varrendo, já viu a mãe dela tentando mexer em coisas da cozinha e, assim, achando, sei lá, que estava mexendo. Só que nessa, o pai da Juliana, — que a gente pode chamar aqui de seu João — seu João foi ficando estranho. O seu João não vê a dona Aparecida só que ele começou a falar muito dela, do tipo assim: “Ah, a Aparecida veio me buscar”, “A Aparecida vai me levar”… E o seu João é um homem muito saudável, assim, e sempre foi um cara muito pra cima. Mesmo depois que dona Aparecida morreu, passado uns meses ali, ele foi o primeiro a ficar mais, assim, firmão, sabe?


No começo, a Juliana disse que ver a mãe assustava um pouco, nem tanto, mas não interferia no ritmo da casa. Com o passar do tempo, o ar daquela casa foi ficando mais pesado, assim… O clima foi ficando mais pesado. E agora a Juliana tem certeza que a mãe dela estar ali na casa influencia eles, assim, de uma maneira ruim. Por exemplo, o Cleiton, irmão da Juliana, ele começou a ficar muito brigão, muito agressivo em casa, até o dia que ele falou para Juliana e pro seu João que não aguentava mais morar lá. Pegou as coisas dele e foi morar com os amigos. E aí a saída do irmão de casa deixou a Juliana mal, deixou o seu João mal… Ele quase não entra em contato mais. O seu João foi ficando cada vez mais triste, cada vez mais sem vontade de fazer as coisas… E, às vezes, a Juliana vê que seu João está ali sentado no sofá assistindo TV e a mãe dela está sentada do lado. 


E aí o seu João levanta pra ir na cozinha pegar uma água, a mãe levanta e vai junto… — Volta junto e senta junto, do lado. — No começo, a Juliana via a mãe sozinha pela casa, tentando fazer as coisas… Agora só vê ela junto com o pai, assim, pra lá e para cá, junto com o pai. Juliana já chamou todas as correntes religiosas aí que vocês puderem imaginar, de todas as igrejas, centros e terreiros. A mãe dela some uns dias e volta… E já levou o pai dela também. O pai dela, mesmo sem acreditar, vai, porque ele vê que a Juliana está muito abalada, né? Então ele vai, mas não adianta, gente… Passa, no máximo, duas, três semanas, ela volta… Juliana, desde antes da pandemia, já fazia terapia e já tomava um remédio pra ajudar numas questões e tal… Então, assim, não é nem… O que Juliana falou para mim? “Não é nem falta de medicação, Déia… Ou medicação errada, entendeu? Eu estou bem ajustada com a minha psicóloga e o meu psiquiatra. Então, assim estou bem, estou lúcida, não estou vendo coisa. Eu vejo a minha mãe. E vejo de dia, vejo de noite… Às vezes tem noites que eu não consigo dormir porque ela fica andando mesmo pela casa e, às vezes, eu levanto…”, — ó a coragem também da Juliana — “e ela está lá no quarto do meu pai. Meu pai tá dormindo, assim, de lado e ela está lá sentada na cama”. — Deus é mais, hein, gente? — 


Aí ela falou que, assim, a mãe dela está igual quando faleceu, assim, só que ela é opaca… Ela falou que ela não sabe explicar, que dá pra perceber que não é gente viva. Que é uma pessoa que já partiu, assim… Outra coisa que a Juliana me falou que me impressionou é que parece que a mãe dela não a vê… Tirando aquela vez do computador, que a mãe dela estava na porta do quarto, parece que ela só vê o pai. Só vê o seu João, não enxerga a Juliana. Então, essa é uma história que está acontecendo agora. Esse é um pedido de ajuda da Juliana. Então, se você conhecer um lugar que ela pode entrar em contato e chamar ou pedir oração pra mãe dela, enfim… Me manda um e—mail que eu encaminho pra ela os endereços, né? — Lembrando aqui que a gente não revela a identidade de ninguém. Então, se você tiver um endereço de um de uma instituição, que seja religiosa, não sei, pra passar para a Juliana, eu encaminho pra ela… Endereços pessoais e telefones pessoais a gente não encaminha. —


A Juliana disse que o pai agora apresenta alguns comportamentos que a mãe apresentava, do tipo: A mãe dela falava muito sozinha, assim, mas de boa. — Sabe quando você fala sozinho? — E o pai dela nunca foi assim e agora ele está igual. Tem algumas coisas, até alguns trejeitos que ele faz igual à mãe… E a Juliana está muito preocupada.


[trilha]


Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Samanta, de Curitiba. Juliana, eu acho que é o seu pai ele poderia fazer uma oração, assim, em voz alta, e dizer para a sua mãe, falando o nome dela, o quanto ele amava ela, que a família toda vai sentir muita falta dela, mas que é hora de descansar e que está tudo bem ela descansar pra ela poder fazer essa passagem tranquila, sabe? Digamos assim, pra dar um basta. Talvez ela precise ouvir isso da boca dele. Como você falou, ela só acompanha ele, né? Eu acho que não adianta chamar mais nenhuma outra corrente religiosa, porque é um apego, talvez emocional, que está ali muito forte. Talvez ela realmente precisa do seu pai dizendo isso, tá? Então, espero que dê tudo certo, que vocês fiquem bem e que seu irmão volte pra casa, viu? Boa sorte.

Assinante 2: Oi, pessoal, aqui é Duane de São Paulo. E, Juliana, sinto muito por toda essa situação, é realmente muito complicado, mas assim, em relação aos trabalhos que você já fez, você já foi em várias religiões e afins, é importante que mesmo fazendo, resolvendo só por um tempo, e aí a sua mãe voltando ou o que quer que seja esse espírito, que você continue fazendo isso, tá? Às vezes um trabalho só não é suficiente justamente porque o espírito está com uma força muito forte ali, querendo ficar com o apego e ainda tem a questão do seu pai não acreditar, né? E ele que está mais ali com a sua mãe em cima. Então, continue orando, fortaleça muito aí a energia dessa casa, peça proteção e, independente da fé do seu pai, é importante que ele também faça o que ele acredita para melhorar, tá bom? Um beijo e boa sorte com essa situação.

[trilha]

Déia Freitas: Sejam gentis com a Juliana lá nosso grupo do Telegram, lembrando que é uma história que está acontecendo agora e lembrando que é a mãe dela. Então, né? Sejam delicados aí nas palavras. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.