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título: mais escuro que a noite
data de publicação: 16/05/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #maisescuro
personagens: noberto

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Norberto. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]


O Norberto ele é um funcionário público… Sabe aquele concurso que você passa, tem um salário bom e você não tem que lidar com pessoas? Para ele é o emprego dos sonhos. Ele lida com muitos papéis, só que ele não tem chefe. Ele distribui esses papéis pelos departamentos, então ele pode organizar o trabalho da maneira que ele se entende ali e o tempo passa muito rápido, porque tem muito trabalho, mas é um trabalho que ele consegue levar de boa. — Então ele é um funcionário público, ele tem um salário bacana e ele não tem chefe, não tem que lidar com pessoas. Apesar de ter um bom relacionamento com o pessoal da repartição pública que ele trabalha. — Ele foi casado mais de 20 anos, o casamento terminou porque realmente acabou o amor, a mulher dele seguiu a vida… — Na separação, eles tinham duas casas, a mulher dele ficou com uma, ele ficou com outra. —


Ele com um filho, o filho casou recentemente, Norberto não tem problemas familiares, um cara de 53 anos, que se cuida muito… Duas vezes na semana ele faz musculação, três vezes na semana ele caminha bem forte, assim, quase chega a correr no parque. — Tem um nome, né? Acho que é marcha? Sei lá, enfim… — Ele é muito da ginástica.  Então a rotina do Norberto é essa, ele trabalha de segunda a sexta—feira, entre as 08h, sai às 16h, Norberto volta para casa, coloca uma roupa de ginástica — uma roupa esporte [risos] — e vai para o parque ou vai para musculação. — Se for terça ou quinta, mas de segunda, quarta e sexta ele vai para o parque. — No parque ele faz essa caminhada forte aí durante uma hora… Então, digamos que ele chegue no parque 17h30, até 18h30, 18h40 ele está no parque. Em época de calor, ele volta para casa ainda claro, pega só ali o final mesmo dessa andada dele fica mais escuro, mas o parque é bem iluminado, muita gente frequenta, não tem assim lugar ermo… — Sabe assim matagal? — É um parque muito arborizado, com muitas árvores, muita vegetação, um lugar muito bem cuidado. — E também com policiamento. —

Numa segunda—feira de frio, Norberto vestiu a sua roupa para andar no parque e, como eu disse, é quase correndo, então assim, é muito rápido… E ele esvazia a mente, ele: “Andréia, eu esvazio a minha mente, eu tenho uma facilidade para esvaziar a mente, assim, e estou lá fazendo meu exercício, andando rapidamente, quando de longe eu vejo me olhando um homem em frente a uma árvore”. Como era este homem? Norberto é um pouco mais alto que eu, tem ali seus 1,75, este homem tinha mais ou menos entre 1,55, 1,60, era muito magro… — Muito magro mesmo. — Estava completamente nu, era um dia de frio, ele estava completamente nu… Ele tinha o cabelo liso meio irregular, assim, como umas pontas, mas curto… — Um cabelo estranho. — E a pele dele era meio acinzentada, meio amarelada, era uma cor estranha. Parecia pele de gente morta, mas não era um cara morto, porque ele estava olhando para Norberto de uma maneira até muito penetrante, assim, não chegava a ser com raiva, mas também não era um olhar amistoso e ele estava de pé.

E aí o Norberto pensou: “É uma pessoa em situação de rua que tem alguma questão psiquiátrica para tratar”. — Você vê uma pessoa no frio, totalmente nua… — Ele não se sentiu seguro para abordar o homem e falar: “Você precisa de alguma coisa? Quer o meu casaco?”, mas ele estava totalmente nu, estava descalço… Norberto pensou em tirar o tênis e dar para o cara e dar o casaco, mas a cara do cara não estava para amigos. E aí o Norberto, andando daquele jeito rápido, deu uma corridinha e foi até o posto da Guarda Municipal. — No parque ali tem um posto da Guarda Municipal e também o parque é monitorado por câmeras. — O Norberto chegou no posto ali e falou que tinha um homem nu em determinado trecho tal do parque e pensou que eles fossem ali olhar nas câmeras e, sei lá, tomar providência, né? Dois guardas saíram de dentro daquela guarita e falaram para o Norberto: “Leva a gente lá” e já passando o rádio para um outro. E um que ficou ali dentro daquela cabine da guarda, começou a olhar as câmeras. — Por que uma pessoa nua no parque, né? É uma ocorrência. —


E aí eles foram chegando no local e não tinha nada. — Não tinha nada… — E aí alguém falou alguma coisa no rádio ali pra um dos guardas e o guarda virou pro Norberto e falou: “Quanto tempo faz isso?”, ele falou: “Não tem cinco minutos que eu corri até vocês”. Aí o cara falou: “Dá uma olhada aí, [risos] sei lá, QAP”, [risos] algum desses códigos que eles falam nesses rádios, assim, né? E aí o cara deve ter olhado na câmera de novo e falou: “Não tem nada, não vi nada”, foi isso que ele entendeu pelo rádio, e aí o cara respondeu: “tudo bem” na língua do rádio lá — QAP [risos], sei lá, gente, tô falando da minha cabeça porque já ouvir falar QAP, mas deve ter um monte de código, né? — e meio que dispensou o Norberto. Não falou: “Você viu coisa”, mas deu a entender que não tinha ninguém ali. Norberto pensou: “Não viram direito, né? É pouco caso… Um parque desse tamanho com certeza o cara tá nu andando por aí, mais gente vai lá reclamar…”, mas já era quase horário também de fechar o parque, a Guarda faz uma ronda ali, capaz que ache.

Ele estava preocupado, porque assim, se ele tivesse voltado lá com os guardas, ele ia dar o tênis dele e ele ia dar a blusa de frio, a camiseta, que ele estava de carro,  então pra ele era mais fácil ir de meia e de calça de moletom até o carro, né? E aí não acharam o cara e Norberto foi embora com aquela sensação de “poxa, eu não tive coragem, não fui corajoso porque o cara de ir lá oferecer a roupa, de repente, eu mesmo resolvia, né?”, foi embora também, chegou em casa e esqueceu. E a rotina do Norberto em casa era chegar — da academia ou do parque —, já tomava um banho, ele já tinha feito a comida para a semana que ele gostava de fazer de sábado, ele mesmo fazia a comida dele, ele mesmo limpava a casa, então ele gostava de manter tudo meio limpinho já, né? Pegava a comidinha dele na Pôneiware dele, comia assistindo jogo, assistindo televisão, já tinha tomado banho, quando ele chegava ele já tomava banho, escovava o dente, ficava um pouco no celular, cama, dormia… 


E Norberto era uma pedra pra dormir, uma pedra. Só que aquela noite foi diferente… Ele deitava mais ou menos 23h da noite, 23h30 nada, meia—noite, nada… Norberto fritando naquela cama, virando pra lá e pra cá, pra lá e pra cá e nada. Não conseguia dormir. Quando deu 01h40 da manhã, Norberto, fumante, resolveu levantar e ir até o quintal fumar um cigarro — que Norberto não fuma dentro de casa, foi um hábito que foi criado quando ele casou porque a mulher dele não gostava de cigarro, mas eles tinham um acordo, então ele não fumava dentro de casa e ele fumava só no quintal e depois que ele terminava de fumar, ele escovava os dentes, então isso virou um hábito do Norberto. — Então ele sabia que indo para o quintal fumar, quando ele voltasse ele ia escovar os dentes e aí com aquela água fria e tal que ele ia perder o sono de vez, mas tudo bem, paciência, ele precisava fumar um cigarro. Então ele foi até o quintal, fumou cigarro dele ali, sem pensar em nada, só mesmo curtindo ali o cigarro dele. — Aquele cigarro que você fuma com a mente vazia, mas que te traz ali…. [suspiro] Te baixa aquela ansiedade que você tá, enfim, eu não consigo entender, mas para quem é fumante, Norberto disse que vai entender. —


E aí ele fumou esse cigarro e foi entrando na casa dele ali para ir para o quarto. A casa de Norberto ele entrava pela sala, não tinha uma porta da cozinha, a cozinha já  era ali a direita, praticamente junto com a sala, a esquerda tinha um pequeno corredor com um quarto e de frente o quarto do Norberto, uma suíte e do lado da sala um banheiro. Então ele ia até o quarto dele para entrar na suíte escovar os dentes… E todo esse processo o Norberto fez no escuro — ele nunca teve medo de nada, de escuro, eu também não tenho medo de escuro, eu ando muito no escuro, assim, se eu acordo de madrugada, enfim, meu único problema é que eu bato nas coisas, mas medo de assombração também não tenho —, e aí Norberto foi voltando para o quarto dele, quando ele virou da sala para o corredor do quarto, na frente da porta do quarto de Norberto, a direita tem um modem — um desses extensores de sinal de wifi para chegar o sinal no quarto, que é muito ruim ali onde ele demora — aquela luzinha daqueles extensor de sinal, marcou uma silhueta… 


Na porta do quarto do Norberto estava aquele homem nu. [efeito sonoro de tensão] Agora ele não conseguia ver direito a cara desse homem, mas esse homem estava na porta do quarto do Norberto e aquilo não fazia sentido. — As janelas do Norberto têm grade e a única porta de entrada foi por onde ele passou, fechou para poder fumar, fumou ali na varanda onde tem um cinzeiro e não tinha como ninguém ter entrado. — Como que aquele homem saiu do parque depois do Norberto? Sabia onde Norberto morava e estava lá dentro? Estes foram os questionamentos que o Norberto fez. Norberto não conseguiu entender, assimilar… Ele não teve medo, porque foi algo que ele não entendeu. E ele piscou, quando ele abriu o olho de novo, não tinha mais nada… Aí Norberto, antes de ir para o quarto, acendeu a luz e resolveu manter a luz da sala acesa e foi para o quarto dele. — Então atravessou aquele pequeno corredor e entrou no quarto dele escuro e acendeu a luz. —

Quando ele bateu a mão na luz, o homem estava do lado do interruptor e o Norberto falou: “Andréia, aquele homem… Ele… Como é que eu vou explicar isso? Ele se juntou a mim. Não foi nem que ele entrou em mim, parece que ele veio… Ele estava do meu lado, mas ele estava grudado em mim. Eu sabia que ele estava em mim, mas eu não conseguia ver ele”, o Norberto não sabe explicar a sensação. Não é como uma pessoa que incorpora, ele disse. — Ele vem até de uma família de espíritas. — “Este cara ele me… Eu não sei, parecia que ele era um parasita em mim, como se ele fosse um carrapato em mim. E aí eu comecei a tentar me debater… Sabe quando você acha que tem uma coisa em você, mas não tem nada? E aí eu deitei e, quando eu deitei, que eu olhei para minha mão, eu vi a mão magra, amarela, acinzentada daquele homem. Não era mais a minha mão, era a mão dele”. 


Finalmente o Norberto entendeu que aquilo era algo espiritual… — Ele vinha de uma família espírita, mas também nunca foi chegado. — “O que que eu vou fazer?”, e aí foi dando uma tremedeira nele que ele não sabia se era ele com medo ou se era aquele homem que tava estava nele. E daquele jeito, tremendo, o Norberto pegou no sono.  Quando Norberto acordou — o Norberto não tomava café da manhã, com pão, com frios, com fruta, ele não tomava… Ele tinha essas coisas porque às vezes ele fazia um sanduíche à tarde quando ele chegava até antes de ir de andar no parque, enfim, tinha as coisas dele por causa da musculação, mas ele não comia de manhã… — Tomava um cafezinho preto, quando dava 11h30 ele ia almoçar lá no refeitório e ele acordou com muita fome, muita fome. Norberto comeu, comeu, comeu, comeu… Ele sempre tomou banho de manhã, ele não conseguiu tomar banho, ele vestiu uma roupa e foi trabalhar. 


E pela primeira vez naquela repartição pública, ele olhava para as pessoas com raiva. —Ele nunca teve problema com ninguém. — Quando foi 11h00, que abriu o refeitório, mas o horário dele almoçar eram 11h30, ele foi almoçar porque ele não aguentava mais de fome, e aí ele comeu, comeu, comeu a ponto de quase passar mal e voltou para a mesa dele e não conseguia trabalhar. E ficava ali olhando para as pessoas com raiva… Deu o horário, ele pegou o carro, dirigiu no automático e falou: “Andréia, não lembro, dessas idas e vindas pra casa, voltei pra casa… Eu sabia que aquele homem muito magro estava comigo” e, a partir daí, o Norberto não conseguiu mais dormir. — Ele tinha fome, ele tinha raiva e ele não tinha sono. — E aí ele mal tinha dormido na outra noite, nessa noite ele queria muito dormir, mas ele não conseguia. Sabe quando você sente o corpo cansado? E ele foi pra casa e ele nem foi pra academia, que era dia dele ir pra academia, ele não foi… Ele ficou em casa comendo.

E essa rotina de que come muito, vai para o trabalho, não consegue trabalhar, volta pra casa e não consegue fazer nada e não consegue tomar banho durou mais dois dias… — E aí acontece uma coisa com o nosso corpo quando a gente não dorme, que você começa meio que alucinar, começa meio que a não saber se você está dormindo, se você está acordado e foi isso que aconteceu com o Norberto. — Ele veio de três dias de insônia ali que ele cochilava momento ou outro, mas não conseguia dormir. E aí foi dando um desespero porque ele queria muito dormir e ele sabia que ele estava acompanhado, mas ele não via mais aquele homem, ele sabia que aquele homem estava nele. E ele olhava no espelho, o Norberto, tentando ver onde esse homem estava no corpo dele, mas ele não conseguia ver e ele pensava: “Se eu o vi antes, por que eu não vejo agora?”. E depois de três dias mal dormidos — isso na quinta—feira e, assim, mal mesmo, gente, ele ficou mal… Norberto ficou mal —, ele resolveu ligar pra uma amiga dele que era religiosa. [efeito sonoro de telefone chamando]

E aí ele chamou a amiga ali e explicou… Na casa dele. Não tinha ido trabalhar e a sorte dele é que ele tinha uns dias pra tirar, e aí ele solicitou lá e tirou — ele tinha doze, ele tirou nove — para tentar resolver isso. E a amiga dele chegou — a gente vai chamar essa amiga de “Silvana” — e ele explicou o que tinha acontecido, ele falou: “Silvana, tem um homem comigo, ele está comigo… Não sei se ele está dentro de mim, se ele está encostado em mim, eu não vejo, mas ele está comigo”. E a Silvana falou: “Olha, eu não sou médium de ver, você vai ter que ir no meu pai de santo se você quiser saber mais, assim, porque eu olho para você, eu vejo que você está perturbado, mas também você está sem dormir, enfim, eu não tenho como te ajudar nisso. Eu posso te levar no meu pai de santo”. E aí o Norberto recusou e falou: “Não, não quero ir”. Na sexta—feira a Silvana ia pra gira lá da religião dela e, quando ela chegou — ela não é médium de incorporar, nada, mas ela tem um trabalho ali dentro de auxiliar as pessoas —, o Pai de Santo — que a gente pode aqui chamar de “Pai Reinaldo” —, olhou para a Silvana e falou: “Eita… Você está falhando no seu trabalho”, o Pai de Santo… 


E aí a Silvana já assustou, porque assim, de vez em quando você toma mesmo umas broncas, né? Do seu Pai de Santo, enfim, de algum de alguma entidade que baixa ali, você toma bronca real e eu acha é pouco, a gente tem que tomar bronca mesmo… E aí ele falou: “Você está falhando no seu trabalho” e aí a Silvana arregalou o olho e falou: “Mas o que que eu fiz?” e ele falou: “Não, foi o que você não fez. Você tem que trazer o seu amigo aqui, senão ele vai morrer”, desse jeito. E aí a Silvana já começou a chorar e ele falou: “Não é para você chorar, porque não é com você que está acontecendo, é com seu amigo… Então você vá e, na segunda—feira, você tem que trazer ele aqui… Você tem que trazer ele aqui”. E aí a Silvana voltou e contou tudo isso pro Norberto com todas as palavras, falou: “Meu Pai de Santo me odeia agora por sua causa, porque eu não fiz o meu trabalho”, e aí ele falou: “Mas como é que ele sabe?”, ela falou: “Olha, eu não sei, eu tenho que te levar segunda—feira”.


Norberto já estava doente, não estava conseguindo dormir. O problema dele era o sono, que ele comia muito e aí dava mais sono e ele não conseguia dormir, não conseguia dormir… Norberto muito relutante foi na segunda—feira no centro da Silvana — o Norberto me pediu para não contar o que aconteceu ali, mas não foi nada, assim, nada do mal, né? Mas foi uma coisa muito íntima — e tiraram dele este homem. E a entidade que tirou esse homem do Norberto disse que em mais uma semana ele ia consumir o Norberto por inteiro. E aí o Norberto quis entender, só que essa entidade não deixava ele falar, ele falou: “Agora não é hora para você falar, agora é hora da gente trabalhar”, e aí colocaram ele no meio ali de três pessoas que estavam incorporadas e essas pessoas com galhos ali de ervas e tal, fazendo orações, e uma das entidades chamando esse homem — e meio que exorcizando, mas ali chamando ele mesmo para fora, ordenando que ele saísse —, e aí uma hora o Norberto caiu no chão e, quando ele foi ajudado para se levantar, ele viu esse homem dentro do centro, só que agora ele não estava mais solto, ele estava com um braço amarrado com um pano branco, preso no outro braço. — Como se estivesse algemado para a frente com um pano branco, mas era um pano, sei lá, imaginário, porque o homem não existia, né? Ele era, sei lá… —

E aí o Norberto começou a chorar, chorar, chorar, porque ao mesmo tempo que ele tinha muito medo, ele tinha pena daquele homem. E aí a entidade falou: “Não tenha pena, ele não é uma pessoa que morreu… Ele não é uma pessoa que morreu e ele ia te matar. Ele já matou muita gente. Agora ele vai comigo e para onde eu vou não tem quem ele mate, porque tá todo mundo morto”, desse jeito… E era uma voz, assim, mais forte e tal, né? E o Norberto ainda assim sentiu compaixão, e aí ele acha que era uma pomba—gira, porque era uma voz de mulher, que atrás dele deu risada e falou: “É, mas é assim mesmo, é pela compaixão, é pela dó que eles que eles te comem por dentro”. E fizeram o Norberto esperar, porque este homem tinha que ir embora antes dele — sair do centro — e  quando o Norberto — em gira de esquerda vai bastante gente — eles fizeram as consultas rápidas ali e dispensaram as pessoas, porque a gira ia ser fechada só com o Norberto ali. — E as pessoas, os religiosos que trabalham no centro. —


O Norberto não podia ir embora sem que aquela gira fosse fechada e que aquele que não era um espírito fosse levado com eles. — E pra mim isso é um serviço de caridade, gente, por mais que as pessoas falem “ah, gira de esquerda”, mas os caras que ajudaram o Norberto e levaram este homem pra que ele não matasse mais pessoas, porque se só tirasse do Norberto e deixasse ele solto, ele ia matar mais gente. — E aí amarraram os braços dele, ele ficou ali parado, esperando sei lá o que. E aí começaram a fazer oração e cantar uns pontos e um se despedir do outro ali, e aí os médiuns começaram a… — Não sei se a palavra é “desencorporar”, porque incorporaram, enfim, voltaram a ficar sem nada incorporado. — E, uma hora, o Norberto olhou [efeito sonoro de suspense] e ele teve uma visão de várias pessoas que ele não conseguia identificar em volta desse espírito, como se estivesse girando, assim, circulando, circulando, circulando e puf, sumiram. E aí ele ficou lá, o Pai de Santo falou: “Bom, tá feito… Tá feito, você teve muita sorte” e aí eles foram embora, a Silvana muda porque ela ficou também muito assustada, ainda mais que ela não incorpora nada, ela só fica ali ajudando, né? E eles foram embora em silêncio. 


Depois de uns dias ele perguntou para Silvana: “Você ficou sabendo de alguma coisa? O que era aquilo?” e aí a única coisa que o Pai de Santo falou para Silvana é: “Quando você chegou aqui, os seus guias me falaram o que estava acontecendo e o meu pai de cabeça falou: “Você tem que resolver, você tem que trazer o rapaz aqui” e é por isso que eu sei… O que estava no seu amigo é mais escuro que a noite”. Essas foram as palavras do Pai de Santo. “O que estava no seu amigo é mais escuro do que a noite”. Agora você está andando no parque, fazendo seu cardio, buum, demônio, trevas… E se você não tem essa galera do bem para te tirar um negócio desse? — Não é só tirar, é tirar, prender e levar embora. O que você faz? Se sou eu, em uma semana estou morta. Comer eu já como muito, talvez nem percebesse que fosse pelo espírito… Agora a insônia… O que seria isso? Porque tanto o Pai de Santo quanto as entidades deram a entender que ele não era uma alma, não era alguém vivo. O que é isso, gente? E por que ele tinha esse aspecto? Bem magro, bem magro, branco, mas já acinzentado, amarelado, de cabelo preto e uma cara de raiva. E essa raiva que Norberto ficou de todo mundo… Por que grudou nele? Por que só ele viu no parque? São muitas perguntas… —


E aí, assim, se ele estivesse com insônia antes, eu ia falar: “Alucinação por causa da insônia”, mas a insônia veio depois, veio como consequência. Então, assim, eu queria muito ter uma explicação racional para isso, mas a coisa envolveu mais gente, envolveu todo um centro de Umbanda ali pra lidar com isso. E a Silvana falou pro Norberto que depois, na gira de sexta—feira — que teve segunda, é uma segunda só no mês, ele deu sorte ainda, mas a Silvana acha que se não tivesse gira naquela segunda, o Pai de Santo ia reunir e a fazer gira do mesmo jeito, só para o Norberto de tão grave que era o negócio, mas calhou que era gira. Então era só uma vez, uma segunda por mês e toda a sexta… — As pessoas que trabalharam ali no Norberto, ele estavam exaustos… Exaustos. Louco isso, né? A entidade que conversou com ele e que conversou ali com aquela criatura que tava nele pra tirar, era homem. Ele tem certeza absoluta disso, porque ele olhava, ele via um homem, só que quem tinha recebido era uma senhora, uma senhorinha… Uma senhorinha de cabelo branquinha e tudo, cabelinho algodão… Enquanto ela estava incorporada, o Norberto falou: “Andréia, eu olhava pra ela era um homem enorme, um Exu”. — São muitas variáveis para tentar entender racionalmente, mas agora fiquei com medo de fazer o cardio também, porque tem isso… —


E aí mais uma vez, mais uma criatura que chega agora, que a gente não sabe, que a gente nunca viu dessa… Aqui a gente nunca viu dessa… Que te come por dentro, te faz comer tudo, não te deixa dormir… O que que é isso? De onde que veio isso? É o que? É um enorme surto coletivo? É muita gente envolvida. Quando é uma pessoa só, gente, eu sinto muito, eu sempre vou pelo racional, pela imaginação, por alguma questão psicológica, psiquiátrica, X… Mas são muitas pessoas envolvidas, muitas… É um centro todo, um centro sério envolvido. Então o que é isso? Onde que tem desse para a gente não passar? E agora se você ver uma pessoa magra pelada na rua? O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é Paula de São Paulo. Que história cabulosa… Amo histórias que envolvam centro espiritas, que falem sobre giras de exu, que falem sobre pombagiras, pra desmistificar mesmo, pra dizer que são casas de acolhimento e de auxílio e você foi auxiliado… Ainda bem que a Silvana te levou pra lá e o Pai de Santos junto com os Filhos de Santo ainda bem que tiraram isso, essa coisas que grudou em você igual chiclete, que não saía de jeito nenhum, que te deixou muito mal e ainda bem que não aconteceu nada pior com você. Um grande beijo, Norberto.

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é Laís, eu falo de Uberaba, Minas Gerais. Ainda bem que o Norberto conseguiu achar um centro que pudesse ajuda-lo, né? Na Umbanda a gente tem a divisão, a classificação de obsessor como os eguns, que foram espíritos que já encarnaram em terra e eles ficam perdidos, né? A gente já viu muitos exemplos nos episódios. E a gente tem os quiumbas, que são espíritos que nunca encarnaram na forma humana e eles não tem nenhum sentimento, incluindo empatia, misericórdia… Os exus e as pombagiras fizeram um trabalho muito legal aí e eu achei um serviço muito bacana do podcast, de trazer essa parte da linha de esquerda fazer caridade, que é uma coisa que acontece muito, por mais que muitas pessoas acreditem que é uma linha que só faz maldade. Então, muito obrigada, um beijo, que Oxalá me livre.  

[trilha]

Déia Freitas: É isso… Então, assim, eu nem sei por que a gente conta essas histórias, porque acaba sendo um desserviço para a gente, porque é mais uma coisa pra gente ficar cabreiro. E o Norberto falou: “Eu vi, amarraram os braços dele e levaram ele junto… Giraram como se fosse um furacão, sumiram na minha frente” e ele viu as entidades, os exus, as pombagiras, eles fizeram um trabalho que foi além do Norberto, foi para levar aquilo para algum lugar que não fosse matar mais ninguém. Eu não tenho uma explicação. — Deus me livre. — Eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]