título: máquina de lavar
data de publicação: 05/10/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #maquinadelavar
personagens: michele, beto e dona olga
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Hoje, a história é da Michele, do Beto e da Dona Olga.
[trilha]
A Michele namorou um ano com o Beto e frequentava muito pouco a casa dele assim, porque a mãe dele sempre foi uma pessoa meio difícil, uma pessoa muito religiosa, então ela sempre cobrava que namoro era pra casar, então tinha que namorar pouco e casar. E o Beto e a Michele eles se gostavam muito, casaram… Só que assim, casaram naquela de perrengue. Então onde que eles foram morar? Numa casa nos fundos da casa da Dona Olga. E aí, nossa, né? Já aliviava muito porque mesmo os dois trabalhando, se fosse pra pagar um aluguel, era complicado, então ali eles não pagavam aluguel e o Beto já pediu pra separar a luz e água pra não ficar junto com a casa da mãe dele, assim eles teriam mais liberdade. E tudo até que se ajeitou logo depois do casamento.
A única coisa que era dividida ali na casa era a lavanderia, a máquina de lavar. Só tinha uma máquina e só tinha um tanque, não tinha espaço pra outra máquina e outro tanque no quintal, então elas tinham que dividir, e a máquina era da Dona Olga. No começo, perfeito, a Michele falou: “Bom, eu não vou abusar também, vou perguntar pra Dona Olga se ela me dá um dia na semana que eu posso usar a máquina porque aí eu bato tudo, depois estendo aqui na parte da frente do meu quintalzinho e tudo bem”. E assim ela fez, ela pediu um dia pra Dona Olga, e a Dona Olga falou: “Ah, de terça tem obra na igreja e tal, eu fico fora bastante tempo, então pode ser de terça”. Então foi uma coisa combinada, de terça-feira, quem usaria a máquina seria a Michele, tranquilo.
Primeira terça-feira tudo certo, segunda terça-feira tudo certo, na terceira terça-feira, quando a Michele chegou pra usar a máquina, estava cheia de roupa dentro, roupa de molho, tipo, sei lá, uma meia hora antes a Dona Olga tinha colocado roupa pra bater, pra ficar ali e tinha saído pra igreja. Aí Michele falou: “Bom, acho que ela esqueceu, né? Tudo bem então, na quarta-feira eu coloco” e deixou lá, não mexeu na máquina. Na quarta-feira que ela foi usar, a máquina estava com roupa, só que a Dona Olga estava lá, e aí ela perguntou pra Dona Olga, falou: “Ah, então, ontem eu fui usar estava cheia, a senhora vai demorar muito pra usar a máquina? Preciso lavar roupa minha e do Beto da semana toda”, e aí ela respondeu assim: “Bom, a máquina é minha, eu acho que eu não tenho que falar pra você os dias que eu vou usar, que eu não vou usar, né?” — Gente, do nada. — Do nada mudou o comportamento dela.
Assim, ela ficou surpresa porque não tinha porquê, não tinha motivo. Aí ela falou: “Bom, também não vou me estressar”, deixou a roupa toda lá na sala num cesto e quando o Beto chegou ela falou: “Olha, a sua mãe, ontem era meu dia de usar a máquina e tinha roupa dela, não usei, hoje eu fui perguntar quando eu podia usar e ela falou que não tem quando porque a máquina é dela”, aí o Beto saiu lá da casa dele nos fundos e foi lá na frente falar com a mãe, né? Aí ele voltou aborrecido, a Michele perguntou: “poxa, vocês brigaram?” e ele falou: “Não, a minha mãe falou que ontem a máquina estava aí pra você usar e você não usou” — E aí assim, gente, a pessoa cristã da igreja como que mentiu assim, né? Na cara larga. —
E aí não tinha nem como ela provar nada porque o Beto sai cedo e volta tarde e meio que ficou por isso mesmo. Então, a Michele falou: “Então também agora eu vou dar uma de sonsa”, toda vez que a máquina estava vazia ela enfiava roupa e que se dane. E aí com a roupa já na máquina a Dona Olga podia até olhar feio, mas não falava nada. Aí depois, porque assim, como que ela chegava na casa dos fundos? No corredor. Então, o marido dela, o Beto saía mais cedo pra trabalhar e ela saía por volta do meio-dia, ela trabalhava só meio período, a Michele. E aí a Dona Olga começou a falar pro Beto que a Michele saía e deixava o portão destrancado, coisa que ela não fazia, então assim, ela ia inventando picuinha, teve um dia que ela desligou o relógio de força que era lá na frente um do lado do outro, sabe? E aí falou que desligou errado, só que a Michele estava tomando banho e, gente, foi esse tanto de picuinha. Teve coisa pior… — Mas que eu não vou contar porque eu acho que acaba identificando as pessoas da história. — Muita, mas muita, sabe, picuinha? Muito desaforo.
Michele aguentou dois anos e pouco de desaforo. E aí assim, a meta era: “A gente vai juntar dinheiro, a gente vai melhorar de vida e a gente vai sair daqui”, essa era a meta. E aí os dois pensando desse jeito, aí agora no final do ano eles já tinham tudo preparado pra mudar e a Michele não via a hora, ela falou: “Nunca mais vou ver essa mulher, quando ela quiser almoçar com você eu saio, nunca mais”, assim, foi uma promessa que ela fez pra ela mesma. E eles não têm filhos ainda, então eles iam pra um apartamento que eles iam alugar, né? Mas agora eles já estavam podendo alugar e depois, de repente, até pensar em comprar alguma coisa e a Michele muito empolgada.
Aí o Beto chamou ela pra conversar e mandou essa, falou: “Olha, eu não quero sair daqui, eu não quero deixar minha mãe”, aí a Michele falou: “Mas você tem três irmãos jovens ainda que moram com a sua mãe, você tem seu pai, tipo, a sua mãe não vai ficar sozinha aqui na casa, ela vai ficar com um monte de gente. Por que você não quer sair daqui?”, aí ele falou: “Olha, eu não quero, eu sou o filho mais velho e eu vou morar aqui até envelhecer, até morrer”, e aí a Michele ficou passada, isso foi no final do ano. Aí perderam aquele apartamento porque outra pessoa alugou, e aí esse ano agora no começo do ano, [risos] Dona Olga, enquanto a Michele lavava roupa colocou água sanitária dentro da máquina. E a Michele assim, trabalha num banco, então assim, roupas finas e que é uma luta pra comprar, né? Estragou tudo, tudo.
E aí quase saiu agressão física, ela quase bateu na sogra, real, e aí pro Beto a mãe falou que não fez nada. Aí Michele falou: “Então tá bom, então eu vou pôr uma câmera na frente da minha casa, vou por uma câmera porque aí a gente vai gravar tudo que acontece”, e aí Dona Olga óbvio que não deixou, né? Ela falou: “Aqui é minha casa, aqui você não vai pôr câmera nenhuma”, e aí aquela brigaiada, e a Michele deu um ultimato pro Beto, falou: “Olha, ou a gente sai daqui ou nosso casamento acabou”, não tinha mais condição, gente. — Não tinha mais condição de nada. — Aí o Beto falou: “Não, calma, eu vou falar com a minha mãe”, aí foi a primeira vez que o Beto realmente teve uma briga com a mãe dele.
Aí ela ficou boa um tempinho e agora, gente, chegou quarentena, né? Então eles estão todos confinados lá, ela na casa dos fundos, mas como o Beto fica indo na mãe e voltando, quer dizer, tá todo mundo junto, né? E a situação tá insuportável, tá insuportável, porque até comida que ela faz a sogra tá dando palpite. Outra coisa, a sogra não deixou mudar a fechadura da porta da casa dos fundos, então ela destranca a porta e entra qualquer horário, qualquer hora ela entra, não tem a menor privacidade. Então às vezes eles querem acordar tipo dez horas, quando é oito e meia a Dona Olga tá na cozinha deles, — Tipo, tá lá na cozinha deles. — E aí se alguém reclama, ela fala “A casa é minha”, e aí o Beto ri e fala: “Ê, mãe” — Gente? —
Agora a Michele tá querendo sair de lá, tá querendo ir pra casa da mãe dela, vai inventar lá uma desculpa que a mãe dela não tá conseguindo fazer as coisas sozinha e vai fazer a quarentena com a mãe dela. E aí o Beto falou: “Olha, se você for cuidar da sua mãe pra mim também acabou o casamento”, então mesmo que seja fake que a mãe dela tá precisando de ajuda, o Beto não sabe disso, então olha que egoísta, ele falou que se ela for cuidar da própria mãe, o casamento acabou, mas ele quer cuidar da mãe dele. Então assim, ela queria uma luz porque ela gosta dele e ela queria resolver esse conflito e, ai, eu não sei, eu não sou boa pra dar esse tipo de conselho porque eu acho que homem nenhum vale isso, entendeu? Eu já teria ido embora lá na segunda vez que ela fez o negócio da máquina, eu já tinha ido embora real assim, por muito menos eu já fui embora. Então, eu não sou parâmetro, então eu deixo aí pra vocês, se vocês tiverem alguma ideia de mediação desse conflito, eu não vejo como, o cara já foi um egoísta pra falar que ela não pode ir cuidar da mãe dela e ela ficou.
Tudo bem que a mãe dela não tá precisando, mas e se tivesse realmente? Ele não sabe, então ele tá pouco se lixando pra sogra, mas a mãe dele “Ah, não posso sair daqui por causa da minha mãe”, e a mãe dele é realmente um inferno assim, eu acho que é aquele tipo de pessoa que quando ela morrer eu vou ter que contar uma história do quadro Luz Acesa, porque ela vai voltar, certeza… E é toda da igreja, toda do pastor, ña nã nã, não adianta nada, né, gente? Então assim, eu não sou boa pra dar conselho, ainda mais nesse tipo de coisa porque homem nenhum vale, nem se o Beto tivesse um pinto de ouro, não serve, não dá, não tem como. Então, gente, deixa aí, [risos] conselhos, uma luz, sei lá, o que ela pode fazer pra mediar esse conflito.
A ideia é que ela consiga sair de lá com o Beto, o que eu já acho complicado porque não tem como a gente falar em relação ao Beto, a gente só sabe o lado dela da história e ele já falou, o que a gente sabe dele é: Ele não vai sair. Ele falou que nasceu naquela casa e vai morrer naquela casa. Então quer dizer: o Beto ele não quer abrir mão de nada, então pra ele tá ótimo, agora tem que ver até onde Michele quer abrir mão das coisas. Eu, vocês já sabem, né? Por mim é “Tchau, Beto, um beijo, já fui”, essa hora eu já estava longe. Um beijo e até amanhã.