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título: maratona
data de publicação: 25/11/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #maratona
personagens: clarice e pedro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Bom dia. Ai, gente, a história de hoje… Nossa, passei o dia meio mal, meio nervosa, mas vamos que vamos. É a história da Clarice e do Pedro e quem me escreve é a Clarice.

[trilha]

A Clarice conheceu o Pedro num grupo de corrida. O que é um grupo de corrida? — Eu também nem sabia que isso existia. — São pessoas que treinam juntas para competir em maratona sei lá várias corridas pelo Brasil e pelo mundo. Então, não é uma coisa pra ganhar prêmio, é só pra bater o seu próprio limite, o seu próprio recorde de tempo, etc. Então eles foram apresentados num grupo desses de corrida, de corrida de rua, maratona, meia maratona e essas coisas. E aí eles começaram a treinar juntos e rolou um clima e tal, eles começaram a namorar… E isso tem oito anos, bastante tempo, né? Ao longo de oito anos eles tinham um namoro ótimo, eles viajavam bastante para competir, treinavam com um grupo bacana, então todo mundo foi fortalecendo ali a amizade.

E aí um belo dia, o Pedro resolveu pedir a Clarice em casamento. “Não, porque eu quero casar com você, vamos casar. Vamos casar”. Ela ficou toda feliz, porque era também um sonho dela, uma meta se casar com o Pedro. E eles começaram a combinar as coisas, o Pedro mora com a família dele, ele já é um cara de trinta e dois anos… Agora, então faz as contas, eles se conheceram com vinte quatro, ele tinha vinte e quatro e ela vinte e dois, ele está com trinta e dois anos agora. E, na época do pedido de casamento, ele estava com vinte e oito e ela com vinte e seis. Então eles começaram a programar e ver “ah, vamos casar e vamos morar onde?” Ela morava com os pais e ele com os pais.

Ela já tinha um plano de financiar um apartamento mais pra frente, mas a ideia dele foi: “bom, eu estou trabalhando, você está trabalhando, a gente pode pagar um aluguel”. Então, o que ela começou a fazer? O que toda garota do interior gosta de fazer: enxoval. Ela começou a comprar as coisinhas para casa, coisinhas assim de cama mesa e banho também, e foi deixando tudo lá na casa dela pra ver depois o que eles fariam com coisas maiores, como os móveis e tal. A Clarice ali empenhada em fazer o enxoval em ter todas as coisinhas, e o Pedro ele falava muito em casar, casar, casar, mas sabe aquela coisa sim do plano mais [risos] abstrato?

Era “ah tá, vamos casar”, mas e a parte prática? Vai alugar quando uma casa? Vamos se programar para comprar eletrodomésticos, essas coisas, né? Quando vai ser essa data? Porque, vamos casar? Vamos casar, um dia vamos casar, mas quando? Ela comprava as coisinhas, o enxoval dela e ele só falava: “Vamos casar, vamos casar”, mas nada… Do nada um dia ele passou na casa dela de carro com dois amigos que também eram do grupo de corrida, de maratona e ele falou: “Olha, vou te levar meu lugar agora, precisa estar com RG, precisa estar com a documentação certa”. Ela achou que eles fossem, sei lá, viajar, alguma coisa surpresa assim…

E ela ainda perguntou: “mas eu não preciso levar nada? Uma mala?”, e ele falou: “não, não precisa”. E este cara foi para o cartório. — Sim, foi pro cartório pra marcar uma data de casamento no civil. — Os dois as famílias não são religiosas, então era em comum acordo que não teria uma cerimônia religiosa, apenas no civil. E ali que ela nunca nem tinha pensado nessas questões mais burocráticas, ela descobriu que precisava de duas testemunhas para marcar e depois de duas testemunhas, no dia do casamento não precisava ser as mesmas pessoas, alguma coisa assim. — Eu nem prestei muita atenção nessa parte porque eu fiquei nervosa. — Então ele fez meio que uma marcação de data surpresa.

Ela foi pega de surpresa, mas ela ficou muito feliz. Então o cara falou que podia sair entre quarenta e cinco e sessenta dias uma previsão ali de autorização e aí eles marcariam a data. E aí era aquela coisa, né? Agora você tem sessenta dias para marcar uma data, vai casar no civil e vai morar onde? O que o Pedro sugeriu? “Ah, minha casa é tão grande, por que agora no começo a gente não mora no meu quarto? — Gente, duas pessoas novas, trabalhando… Por que não espera para casar quando pode? Vai casar para morar no quarto na casa dos pais ali? É estranho, não é? — Mas assim foi feito, eles combinaram que iam morar no quarto da casa dos pais do Pedro.

A família da Clarice ficou muito chateada. “Como assim você vai morar lá no quarto só? Não, isso não é vida, não é isso que eu quero para minha filha” e aquelas coisas. E no quintal da Clarice, tinha uma pequena casinha que era a casinha que o pai dela fazia coisas, tipo, sei lá, consertos… Aquelas tranqueiras do quintal, sabe? Mas era assim, dois cômodos que tava perfeitinhos, tinha um banheiro… E o pai dela resolveu pintar, eles tinham uma geladeira a mais… Sabe quando você tem uma geladeira para dia de churrasco, essas coisas? E aí ela ganhou um fogão da tia e em um mês montaram uma casinha. Nada muito sofisticado, mas dava pra começar, pelo menos eles iam ter o espaço deles.

O Pedro não foi tão a favor da casinha, ele preferia morar no quarto da casa dele, que já era o quarto dele e que ele já tinha uma cama de casal. A explicação dele… “ah, eu prefiro morar em casa, já tem a cama de casal. Minha mãe já está ali, já faz as coisas pra gente…” — Quer dizer, o cara queria manter a mãe dele como empregada, né? Eu fiquei pensando nessa história e eu queria estar na cabeça do Pedro pra saber qual a hora que a coisa desandou, porque assim… —A Clarice foi colocando as coisinhas na casa, as coisas que ela tinha comprado lá de enxoval, foi arrumando… E, nesse meio tempo, saiu lá o negócio do cartório que eles podiam marcar a data. Marcaram a data.

E o que ficou resolvido? As famílias iriam se juntar e fazer um almoço pra familiares e amigos, mas um almoção assim, uma coisa bonita, grande, como se fosse uma festa de casamento em um buffet, mas ia ser lá no quintal de um tio da Clarice, que o cara tinha um quintal grande… Ia ser uma festança. Tudo certo, tudo correndo, inclusive os proclamas aí do casório. Podia ser outro pai de testemunha, mas eles ficaram com aquelas testemunhas mesmo que eles levaram da primeira vez. E, uma semana antes da data, a Clarice foi morar na casinha já, que ela já queria se habituar a ficar lá na casinha. E ela foi feliz da vida morar na casinha…

Como nã ia ter casamento religioso, a Clarice escolheu um vestido branco, mas nada de véu e grinalda, não era um vestido de casamento, mas era um vestido meio que de festa, uma coisa mais chique e escolheu a roupa do Pedro também pra estar os dois bonitos e tal, ali as testemunhas, os pais iam até o cartório também e o restante ficava já na festa esperando por eles. Beleza, o que ficou acertado? Que o casal de testemunha ia passar para pegar a Clarice e iam em carro, os pais da Clarice iam em outro carro e o Pedro ia com o pai e com a mãe no carro deles lá e todo mundo se encontrava no cartório. Beleza, tudo certo, o combinado era chegar lá uma hora antes.

A Clarice muito ansiosa chegou uma hora e vinte antes, então ela, os pais dela e as testemunhas que eram praticamente os padrinhos chegaram uma hora e vinte minutos antes, ela trocando mensagens com o Pedro e tudo certo… Vai chegando a hora e nada dos pais e do Pedro chegarem. — E assim, o cartório pede pra você tá lá um tempo antes, você não pode chegar em cima da hora. — E vai passando a hora, vai passando a hora, vem o cara do cartório perguntar se chegou todo mundo e não chegou, não chegou. Pedro não respondeu mais. De repente chega o pai e a mãe do Pedro, eles estavam arrumados, mas com uma cara péssima e a frase do pai do Pedro foi: “o Pedro não vem”.

A Clarice toda arrumada de vestido, não estava com um buquê, óbvio, mas assim toda linda esperando pelo cara que ela ama e ela ouviu da boca do pai do cara que ele não iria. Na hora ela não conseguia raciocinar, ela pensou tipo: “mas como? Não vem aqui? Tá na festa? Não vem onde?” E aí o pai dele, abraçando a Clarice, disse: “ele desistiu, me desculpa. Eu não sei nem o que dizer, ele desistiu”. E aí a Clarice em choque… Em vez da galera que estava lá no cartório, que aí o pai e a mãe do Pedro foram embora, levar a Clarice pra não sei, qualquer outro lugar… Levaram a Clarice pra onde? Pra festa.

Chega a Clarice aos prantos, familiares, amigos, lotado… No final foi o pai da Clarice que acabou contando que o Pedro tinha se mandado… O pai do Pedro não sabia nem pra onde ele foi, ele só deixou um bilhete lá dizendo que era um ser humano e não estava preparado. Sério? A desculpa dele foi que muito pressionado, e ele era humano e ele não aguentou a pressão e ele foi embora. E aí a Clarice mal, mal, descobriu que ele tinha ido fazer uma corrida em outro país…

— Então, assim, o que eu fiquei pensando: como ele se programou para ir para outro país assim? Não foi no dia do casamento… Vocês concordam comigo? Que eles já estava então pensando em fugir pelo menos, sei lá, uns dez, quinze dias antes? Pra se inscrever numa corrida em outro país, para ter passagem… Não é? Não foi no dia… Eles tinham marcado para uma quinta e a corrida seria no domingo, ele não fez a inscrição no dia que ele largou a Clarice no cartório, já tinha feito antes. Concordam que foi algo premeditado? Eu acho… Clarice falou que nunca tinha pensado nisso, mas não tem como o cara se programar, pelo menos eu penso assim, para fazer uma viagem para participar de uma corrida em outro país sem ter feito inscrição antes, porque precisa… Você precisa pegar aqueles trequinhos, sei lá, código de barras. Não dá para fazer tudo de quinta pra domingo. Então eu acho que esse cara já estava pensando… Pode ser também que ele fosse casar e fosse levar a Clarice junto pra essa viagem, essa corrida. Nessa possibilidade, uma amiga dela até pensou e foi olhar as inscrições lá da corrida, alguma coisa… E ela não foi inscrita. Ele estava inscrito, ela não foi inscrita. Então não sei… Acho pouco provável, acho que ele já fez de caso pensado, já queria só saber como ele ia sair fora disso. —

A Clarice ficou tão mal, mas tão mal, que a mãe dela teve que levar ela no médico, ela teve que passar no psiquiatra e ela começou a fazer terapia. E aí ele não procurou por ela por quatro meses, e ela foi se fortalecendo, foi ficando melhor… Muita gente rompeu com ele, — porque ele tinha mil maneiras de fazer isso, né? Ele fez da pior maneira. Ela lá, de vestido… Gente, pra mim isso é inaceitável. Ninguém é obrigado a casar com ninguém, foi ele que quis se casar e foi ele que fez a palhaçada de surpresa no cartório, sabe? — Enfim… Depois de quatro meses ele procurou a Clarice, ela já estava em terapia, conversando com a terapeuta ela resolveu perdoar e voltar com ele. — Terapeuta nenhum tem o poder de te fazer mudar de ideia. — O que tinha acontecido nesses quatro meses? Ela resolveu morar na casinha que estava montada e aí o Pedro não foi morar na casinha e eles continuaram como namorados.

E aí eles passaram mais um ano juntos assim, uma parte da família não falava com ele, uma parte dos amigos não falava com ele, só que aquela coisa, ela perdoou… Então aí a galera depois de um tempo foi deixando de lado o ranço, né? Então aquela coisa do casamento que ele fugiu foi há quatro anos, aí passou quatro meses eles voltaram. Depois de mais um ano e meio, Clarice engravidou. E aí quando ela contou pra ele que estava grávida, ela resolveu fazer tipo um jantarzinho lá na casinha dela que agora ela morava sozinha. Ele fez uma cara péssima em relação à gravidez assim, não falou nem: “nossa, que feliz” — E, assim, gravidez é 50% pra 1, né? Se eles não usaram preservativo, não tinha nenhum tipo de prevenção a gravidez é uma possibilidade. Então ele não foi pego de surpresa 100%. — Mas ele ficou tão assim de cara amarrada que nem comer ele comeu.

Ele acabou falando: “ah, amanhã tenho que acordar cedo pra treinar” e nem dormiu lá com ela. Porque geralmente ele dormia algumas vezes lá com ela, e nesse dia que era um dia mais especial, que ela anunciou que estava grávida, ele foi embora. Aí ele foi embora, gente, e assim ele ficou por cinco dias. Sem dar notícias. A família dele com certeza sabia onde ele estava, porque ele não ficou desaparecido, ele ficou desaparecido para ela. Então pensa, você acabou de dar a notícia que você está grávida e o cara sumiu. E antes dessa questão do casamento, ele já dava uns perdidos nela de sumir. Tipo, às vezes eles tinham uma corrida combinada, ele não aparecia, ela ficava muito preocupada, faltava na corrida e depois ela ficava sabendo que ele foi… O cara foi não e não teve a decência de te avisar, você estava preocupada com ele, que ele tinha sumido. — Enquanto estava lá procurando o cara, o cara estava correndo e você deixou e correr por causa do cara. —

Ele dava essas mancadinhas de sumir, e aí com a gravidez ele sumiu cinco dias, depois ele voltou com um papo pra ela que não sabia se estava maduro para ser pai, — o cara já ia fazer trinta anos — mas que ela podia contar com ele para o que precisasse. [risos] — Gente, tá falando como se ele fosse uma pessoa de fora da questão… 50% é ele. O filho também é dele, não é “ah, quando você precisar de mim você fala” é seu filho, caramba. — Até que um dia ela estava muito no começo da gravidez, ela passou mal, ela ligou pra ele, com ele no telefone e falou: “Olha, eu tô passando mal”. Ela estava tipo, na rua… “Você pode vir me buscar? Você pode me ajudar? Me levar no hospital”. Ele falou: “olha, se você está passando mal, o correto é você ligar no Samu”. — Gente… Quem fala isso? Quem fala isso? Você não fica desesperado, você já não pega o carro e aí no carro você vai falando com a pessoa e vai pedindo para um amigo seu ligar no Samu? Sei, lá, sabe? Agora você não se mexer e falar: “olha…” —

A frase dele foi: “eu já estou aqui em casa, já tomei banho, já estou aqui deitado. Se você está passando mal, o negócio é você ligar no Samu”. — Gente, quem fala isso? É a mãe do seu filho. — E ai ela não ligou no Samu, ela ligou para uma amiga, a amiga foi buscar, levou ela no hospital e ela perdeu o bebê. E aí no dia que ela passou mal, já era tipo, sei lá, nove da noite — ele já estava deitado nove da noite? — ela ficou sabendo ali na hora que ela tinha perdido, que ela ia ter que fazer uma curetagem e ela mandou mensagem pra ele só no dia seguinte, que ele visualizou a mensagem e só depois ela falou: “Poxa, que mal… que situação”. Assim, ele falava da situação da gravidez como se ele não fosse parte da coisa.

Ele falava: “mais tarde eu passo aí, a gente vai tomar um sorvete”. — A gente vai tomar um sorvete? — Enfim, ela ficou de cama alguns dias, porque ela também sentia ainda algumas dores… — Tomar sorvete? O cara nem falou: “eu vou aí, levo um sorvete…” A gente sai e toma um sorvete? Acabou de perder a gravidez, acabou de fazer uma curetagem e vai sair para tomar sorvete? — Enfim, eles ficaram mais um tempo juntos, mas meio estranho, ela estava muito magoada por causa dessa questão da gravidez e tudo. Deu cinco minutos nele de novo e ele queria casar de novo. Você vai aceitar? — Meu querido, minha querida ouvinte, você aceitaria? Pois é… —

Clarice aceitou e aí, assim, todo mundo foi contra… Os pais dele, os pais dela, os amigos, todo mundo… Aí eles resolveram marcar escondido, só que aí precisava das testemunhas, ele pegou duas pessoas do trabalho dele e foram lá, remarcara esse casamento e, perto do casamento, mas não no dia, ela já mais espertinha foi falando com ele, falando: “Olha, você vai dormir aqui, porque eu não quero passar de novo por isso, a gente vai sair daqui juntos”. E aí o que ele fez? Ele falou pra ela: “ai, eu me precipitei de novo, eu não sei porque eu faço isso, eu sou um ser humano de muitas falhas e, ai, não… Vamos desmarcar.” Então, esse segundo casamento que só quem estava sabendo eram as duas testemunhas lá do serviço dele e ela e ele, ele também desmarcou.

E a sorte foi que ela não marcou nada com ninguém, porque senão já ia ser massacrada de novo, né? Porque como todo mundo tinha sido contra, eles falaram: “vamos deixar pra lá” e eles iam fazer um casamento surpresa para família… Depois que casaram eles iam falar: “casamos… estamos casados…” sabe aquela coisa? Não deu certo. E aí ela ficou pê da vida com toda a razão. Eles brigaram e eles terminaram novamente, mas ninguém tirava da cabeça da Clarice que esse cara, o Pedro, era o amor da vida dela. E nesse meio tempo, desde a primeira maratona dele lá de fugir do casamento, Clarice já em terapia, né? E a terapeuta sempre “Você tem certeza disso? Vamos conversar mais a fundo sobre isso. Por que você se presta a esse papel? E isso, e aquilo.”.

E aí a família acabou sabendo que eles terminaram porque eles tinham marcado o casamento e que não tinha dado certo…. Aí a Clarice conheceu outros caras, mas nada muito sério. Ele deve ter conhecido outras mulheres também, e aí veio a pandemia. Ele todo naquela conversa furada do vírus chinês, “porque é um vírus chinês, porque a mídia da Globo”… — Vocês já sabem, né? — A Clarice acreditando obviamente na ciência e nos dados científicos e no coronavírus, e ele achando que o coronavírus é tudo uma farsa.

Aí como ele viu que ela não ia querer sair pra lugar nenhum, que ela ia realmente fazer a quarentena, ele pediu para morar lá. Clarice foi forte, com a terapeuta do lado e falou que não… Primeiro que ele ia furar a quarentena, se ele não acreditava no coronavírus, ele ia querer ficar circulando e os pais dela moram no mesmo quintal, então ela não ia colocar os pais em risco. Quando ela falou “não” para ele, ele ficou louco, e aí mais apaixonado do que nunca passou esses quatro meses, quatro três meses e pouco atrás dela. E ela cumprindo a quarentena em casa, certinho…

Agora o cara fez uma puta declaração de amor, que agora não quer mais casar se ela não quiser, quer ir morar lá na casinha… Chegou a ir de carro lá na porta com mala, dizendo: “eu tô pronto, se você me aceitar eu quero morar aí na casinha com você, que isso, que aquilo”. — Mas assim, ele deu muito perdido nela. Eu tô resumindo porque é enorme, mas o cara é péssimo. — E agora ela tá na dúvida se ela aceita Pedro para morar na casinha com ela, e ele continua não acreditando no vírus. — Ele deu muita sorte de não ser contaminado, ou ser assintomático e do pai e da mãe dele que são idosos não contraírem o vírus, né? — Mas enfim, ele quer morar lá…

Ela está balançada, por conta dessa questão agora e por conta da pandemia, ela trocou de terapeuta e agora está começando a contar para a terapeuta toda essa história, o histórico do Pedro… E já pelo histórico, sem ter muito contato com a Clarice ela já está dando aquele toque que talvez melhor, não, né? Mas a decisão, óbvio, é do paciente. — No caso, da Clarice. — Eu não preciso nem dizer, né? Clarice faz terapia, Clarice é adulta, Clarice é independente financeiramente, Clarice tá lá com a casinha dela montada, no mesmo quintal do pai e da mãe dela… Vai botar Pedro lá dentro pra quê? Me diz…. Só me fala. Quer voltar? Volta a namorar virtual, porque nem presencial tá dando ainda…

Quer mesmo cometer esse erro? Porque eu acho, eu, Andréia, acho que é um erro. Começa a namorar virtual… Mas ele já não aceita namoro virtual porque ele não acredita no vírus. Então, já começa errado… Ela acredita na ciência, ele, sei lá no que ele acredita. Já não dá, né? Pra mim já é nota de corte… Mas ela tá balançada… E agora me diz, em oito anos, nesse vai e vem, nesse monte de mancada que ele deu, humilhação atrás de humilhação… Você ainda sente aí o que? Um apego? Porque não é amor isso, gente… Chama do que quiser, mas sabe? Não é amor isso. O que é isso? É cloroquina, o que é isso? Eu tô passada.

Eu fiquei numa irritação com essa história hoje cedo… Falei: “ai, meu Deus, eu vou adiar contar…” Mas aí eu tô contando hoje, porque ela está aflita e ela quer saber… Hoje ela nem me respondeu, tô achando até que ela já enfiou o Pedro dentro da casa. Então, até agora que já é noite, que eu estou gravando, ela ainda não me respondeu se ele tá lá ou se não tá, eu tô achando… Pode ser aí que a gente está aqui dando uma opinião pra ela que ela já não vai nem… Já está lá, Pedro.

Então é isso… eu Gente, eu tô irritada, então entrem lá no grupo do Telegram, eu vou deixar o endereço do grupo no post e comentem lá. Eu sei que é difícil, mas sejamos gentis, mesmo porque os moderadores lá se vocês forem grosseiros eles vão apagar os comentários de vocês. Dependendo do que a pessoa escrever a gente bloqueia, então, né? Moderação, gentileza aí… Por mais que a gente não concorde a vida é da Clarice, né? Quer tomar pedido a vida toda desse Pedro? Parabéns. É isso, gente, não quero mais falar disso que eu tô nervosa. Um beijo e até amanhã.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.