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título: menininho
data de publicação: 14/08/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #menininho
personagens: seu theodoro, valquíria e dona josefa

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de risadas de crianças] Quem tá aqui comigo hoje é o Globoplay. Você que é Luz Aceser com certeza adora também um bom suspense, cheio de mistérios, coisas sombrias e que te deixam aí naquele nível de tensão que a pessoa fica assim, tensa, paralisada… — Amo… — Hoje, a convite do Globoplay, eu vim aqui te contar uma história perturbadora e bem instigante. — Bom, ouve isso. — Clarice, uma moça aí, jovem, roteirista vibrante, criativa, uma pessoa que gosta de viver o inesperado, assim, que sonha com a própria independência. Um dia, Clarice conhece o Téo, estudante aí de medicina forense, bem introspectivo, assim solitário, timídão, um cara obcecado por controle. Completo oposto, aí, de Clarice, mas até que os dois se dão bem.

Só que, a partir desse encontro aí, o Téo mergulha de cabeça em uma obsessão assim doentia. Ele começa a acreditar que tá vivendo ali uma história de amor com Clarice, e tudo isso existe só na cabeça do Téo. O que começa aí com uma aproximação tímida, assim, se transforma em um sequestro silencioso ou, na cabeça do Téo, em uma lua de mel. A série Dias Perfeitos é um original Globoplay, baseada no livro de mesmo nome do Raphael Montes. — Rapha Montes, te amo… — A série é baseada no livro, mas tem um desfecho completamente inédito, surpreendente e bem provocador. Dias Perfeitos estreia hoje no Globoplay, ela tem oito episódios, é um suspense psicológico cheio de tensão, desconforto e muita dualidade. — Do jeitinho que eu gosto, e você, Luz Aceser também ama. — Assista a Dias Perfeitos no Globoplay agora, eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio. — Essa história aconteceu aí no comecinho dos anos 80. — Hoje, eu vou contar pra vocês a história do Seu Theodoro. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Seu Theodoro casado, com três filhos, trabalhando como representante comercial, tinha que fazer muitas viagens, então ele estava sempre pegando estrada. E sua mulher — que a gente vai chamar aqui, sua esposa, “Valquíria” — ficava sempre muito preocupada porque as vezes o Theodoro tinha que pegar a estrada com chuva e ela ficava óbvio, né? Valquíria ficava preocupada em relação a um acidente, enfim… Sempre que chovia e o Seu Theodoro não podia esperar porque ele tinha um horário marcado numa outra cidade, ele dependendo das vendas, ele sempre saía muito antes para ir devagar. Se ele via que estava ali chovendo muito e o compromisso dele era às noves, quatro da manhã ele já ia sair pra ele ir bem devagar. — E eu tenho aqui uma dúvida: Uma vez eu vi um cara, especialista em segurança de trânsito, falando na televisão que dirigir muito devagar nas estradas também causa acidentes… Só vou deixar essa fala aqui porque, assim, eu não entendo nada, mas isso me marcou muito… Porque eu sempre achei que as pessoas dirigindo devagar, sei lá, fosse melhor, mas ele frisou: “muito devagar”, então não sei quando é esse “muito devagar”. —

O Seu Teodoro vinha ali quase no acostamento, bem devagar mesmo — às vezes de tanta chuva, ele ligava o pisca alerta ali e ia bem devagar mesmo —, nunca querendo perder aí um horário ou chegar atrasado. Num desses [efeito sonoro de trovão e chuva caindo] dias de muita chuva, uma chuva forte, sabe aquela chuva pesada? Seu Teodoro ali na estrada, ele passou quase no acostamento por uma criança… Era um menino de mais ou menos uns dez anos, sozinho e encharcado no meio da chuva. Seu Theodoro ficou com medo de ser uma emboscada, né? — De repente ele para para ajudar a criança e, sei lá, vem dois bandidos e entram no carro. — Então ele passou, mas ele estava devagar e, pelo retrovisor, ele viu que a criança estava olhando para ele com uma cara assim de “socorro”. Era um menininho de bermuda, sandalinha no pé, uma camisa de botão de manga curta e um cabelinho estilo Playmobil, assim… Um cabelinho castanho, quadradinho, assim… Pele branca o menino.

E lá na frente, quando ele perdeu o menino de vista, Seu Theodoro se arrependeu. — Estava chovendo muito, gente… — Por que o que poderia estar acontecendo com aquela criança? Mesmo com chuva, Seu Theodoro deu uma acelerada e fez o retorno… Ele tinha que pegar a estrada do outro lado — que dava visão para o lado que ele estava — e dar toda a volta para passar de novo pelo menino, na esperança de que alguém já tivesse passado e, sei lá, socorrido esse menino antes dele. Quando ele estava voltando do outro lado, ele resolveu dar uma paradinha no acostamento, aquela chuva… Umas cinco e pouco da manhã, estava escuro ainda… O que uma criança de uns dez anos, no máximo, entre sete e dez anos, estaria fazendo na beira da estrada, naquela chuva, sozinho, com cara de desespero? Ele apagou as luzes do carro, ficou olhando do outro lado e ele via um menininho de costas, olhando para a estrada… 

Ele ficou ali um tempo, viu que não tinha onde se esconder… Sabe estrada que no meio tem um canteiro, mas é grama batida assim? Aquele ferro que chama “guard rail”, né? Não tinha onde adultos se esconderem ali para assaltar. E aí Theodoro parou, pensou e falou: “Eu vou voltar e vou pegar essa criança”. — Então, de um lado ele estava… O menininho no acostamento… Não tinha nada atrás que desse pra esconder, não tinha mato, não tinha moita, não tinha nada… Tinha um guard-rail pra uma estrada… Como que se chama quando é pra… Uma estrada que vai pro bairro, uma avenida que vai para o bairro… Então, ele estava na rodovia, tinha um pequeno acostamento e já atrás uma descidinha, uma estrada tipo você quer sair, você quer ir pra cidade, você pega e sai… E o menino tava bem ali no meio, mas no acostamento. —

Seu Theodoro deu a volta, foi devagar, parou, abriu a porta do carro e falou para o menino: “Entra”. O menino todo molhado, entrou no carro, não tocou na porta do carro, Seu João teve que passar o braço pelo menino, sentiu o menino molhado — porque ele teve que encostar o braço no menino para puxar a porta do carro e fechar —, quando seu João fechou a porta do carro e voltou o braço, o menino estava olhando para ele com a cara mais maligna possível e, numa piscada de olho do Seu Theodoro, o menino desapareceu. Seu Theodoro na hora tomou um susto, gente, não tinha… — Não é que o menino abriu a porta, saiu correndo pela janela que estava fechada por causa da chuva… Não. O menino desapareceu na frente do Seu Theodoro depois de fazer uma cara mega maligna. — E a única coisa que a sociedade tinha falado para ele era: “entra”. 

Seu Theodoro foi para a reunião dele super preocupado e, chegando lá, ele usou o telefone fixo ali daquela empresa para ligar para a mulher dele — a gente tá falando aqui dos anos 80, né? — pra contar o que tinha acontecido e ela falou: “Meu Deus, reza, Theodor. Reza, pelo amor de Deus, reza… Que que coisa é essa?”. E aí ele teve a reunião dele e voltou, voltou na estrada, prestando atenção se ele via aquele menino, não viu aquele menino. Chegou em casa mais ou menos umas cinco e meia da tarde, isso tudo no mesmo dia, tá? E aí conversou de novo ali com Valquíria, Valquíria ficou mega preocupada, jantaram e foram dormir. A casa de Theodoro e Valquíria tinha ali dois quartos, um quarto dormia o casal e, no outro quarto, dormiam os três filhos, era um quarto que tinham ali quatro camas. — Duas beliches.

Em determinado momento da noite, Theodoro e Valquíria ali dormindo, eles ouvem as crianças gritando. Naquele susto, Theodoro acorda, já sai correndo para o quarto das crianças e, quando ele entra, o maiorzinho deles — que a gente vai chamar aqui de “Théozinho” —, o Théozinho fala: “Pai, tinha um menino aqui no quarto batendo na gente… E ele falou que agora ele vai morar aqui”. Na hora, Seu Theodoro perguntou ali pras crianças como que era esse menino e as crianças descreveram ali exatamente o menino que ele tinha colocado no carro dele. — Então, aquele menino veio com ele? Mas foi com ele para a reunião e depois voltou? Ou entrou de novo no carro, na estrada, na volta? Não saberemos. —

Valquíria já ficou ali desesperada, mas Seu Theodoro não queria acreditarm aí as crianças ficaram com eles na cama, foi todo mundo para o mesmo quarto, né? E passaram a noite assim… No dia seguinte foram para a escola e Seu Theodoro saiu para trabalhar… Quando ele estava visitando ali um cliente, sabe quando você sente um, não sei, um mau presságio, uma coisa ruim? Era um cliente na cidade dele mesmo e ele tinha planejado aquele dia para ele visitar os clientes e voltar só no final da tarde, só que ele resolveu sair daquele cliente e voltar pra casa. Ele falou: “Bom, eu volto, almoço e saio de tarde”. Quando ele voltou pra casa, ele encontrou Valquíria caída no chão, desacordada… E aí corre colocar Valquíria no carro e levar para um hospital, ela tinha batido a cabeça e, depois que Valquíria recobrou os sentidos ali, ela disse que ela levou uma pancada na cabeça. Ela estava na cozinha, não tinha como ninguém entrar de nenhum lado e ela levou uma pancada na cabeça. 

Aquele dia a Valquíria ficou no hospital em observação, o Theodoro levou as crianças para a sogra para poder ficar com ela no hospital. Aquela noite eles não passaram em casa… No dia seguinte, eles saíram — a intenção era deixar a Valquíria em casa e ir trabalhar, né? —, porque ali, de autônomo, representante comercial, ele tinha que sair para vender todo dia, né? A sogra já ia levar as crianças pra escola, mas quando eles chegaram em casa, a casa estava… Não era revirada como se fosse de assalto, mas tava bagunçada… Como se fosse mesmo uma criança brincando ali, derrubando as coisas, enfim. E aí Valquíria já começou a chorar e Seu Teodoro ficou desesperado ali, não sabia o que fazer… E Valquíria falou: “A gente tem que ir numa igreja, alguma coisa” e Theodoro resistente, ele falou: “Não, não, não pode ser. Isso não pode estar acontecendo”. — Assim, Theodoro… — Ele não queria aceitar de jeito nenhum. 

Ele ficou, perdeu o dia de trabalho, no final da tarde as crianças voltaram da escola, foi a sogra que trouxe e aí contaram ali para a mãe de Valquíria — que a gente pode chamar aqui de “Dona Josefa” — e Dona Josefa concordou com Theodoro, falou: “Não, isso aí é coisa da cabeça de vocês. Isso vai passar, não existe isso, não existe demônio, não existe essas coisas. Só Deus… Se apega a Deus que vai dar tudo certo”. — Aham… — Mais uma noite com as crianças atormentadas por esse menino, Seu Theodoro sem saber o que fazer, Valquíria só chorava e, pra Theodoro não adiantava rezar, ele não conseguia ver aquilo como algo sobrenatural, ele falou: “Andréia, eu não sei te explicar, mas eu pensei: ‘Bom, é um fantasma? Como eu tenho que lidar com esse fantasma?'”. E muito depois, quando ele contou num outro trabalho que ele já estava, falaram que era um “espírito zombeteiro”, mas isso muitos anos depois. — Como que Theodoro resolveu lidar com essa assombração? Eu fico chocada… —

Ele falou pra Valquíria: “Esse menino não está aqui? Eu não mandei ele entrar? Ele não entrou? Então agora a gente vai tratar ele como um menino”. E aí eles começaram a botar mais um prato na mesa, com um pouquinho… — Pouquinho de comida pra não desperdiçar comida também, né? — Toda a refeição tinha um prato a mais para o menino assombração. E, no quarto, a cama que ninguém dormia — a beliche —, a esposa do Theodoro arrumava para o menino. E isso durou mais de um ano… Enquanto eles colocavam comida, faziam cama, arrumavam roupa para o menino de manhã e deixava em cima da cama como se ele fosse pra escola junto, mais nada sobrenatural aconteceu. Até que o Theodoro falou: “Vamos parar um dia para ver o que acontece?” e eles pararam e não aconteceu nada. Seu Theodoro não sabe nesse período todo que eles passaram fazendo isso, quando que esse espírito zombeteiro, ou seja lá o que era isso, foi embora. Até as crianças, quando compravam pirulito, alguma coisa, compravam um pirulito a mais.

Hoje, todos adultos, e todos lembram dessa história, assim… Esse menino ninguém via ele, mas ele era da família. Então, se tinha Natal: “Ah, vamos comprar um presentinho a mais” e ninguém mexia nas coisas do menino. — Bizarro… Bizarro, gente. — Em que momento isso fez o menino ir embora o Seu Theodoro não sabe. — E ele falou que ele teve essa ideia quando ele viu a casa toda bagunçada, que era uma bagunça de criança, mas era uma criança maligna, porque ele falou: “Andréia, o olhar que ele me deu era um era um olhar do mal, assim, eu não sei o que ele poderia fazer se a gente não tivesse tomado essa atitude, mas se está lá todas as crianças na mesa tomando café, comendo pão, era um pedacinho de pão e um pouquinho de café com leite para o sei lá quem”. — Para o garotinho… Então, o garotinho do mal ficou um tempo lá que Seu Theodoro não sabe dizer em que ponto ele foi embora. —

Quando eles resolveram parar, nada aconteceu e eles pararam de colocar o lugar na mesa. E, tanto ele, quanto Valquíria, quanto as crianças às vezes esqueciam e compravam um negócio a mais e botavam o lugar na mesa a mais… Virou meio que automático. — Bizarro. Resolveu? Resolveu, mas bizarro. Olha… [suspiro] Eu fico muito curiosa para saber em que momento o menininho foi embora. Será que alguém veio? Será que era uma alma perdida? O que é um espírito zombeteiro? Ele pode ser, sei lá, reabilitado? Ele é resgatado? Que hora que esse menininho foi embora? Ou o menininho ficou bom e ficou com eles, mesmo sem o prato, sem nada, sem se manifestar? Será que o menininho está lá até hoje? Eu, hein… Menininho… Deus me livre. — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui quem fala é Bianca, de São Bernardo do Campo, São Paulo. Eu acredito que o espírito da história não seja zombeteiro, e sim o espírito de uma criança que faleceu na estrada ou próxima ao local e não sabia muito bem o que estava acontecendo com ele. Isso, logicamente, gera uma certa revolta, né? Sem saber como pedir ajuda e tudo mais. Só que, quando ele chegou na casa do Seu Theodoro, ele foi acolhido, foi como se fosse um membro da famíia e isso pode ter gerado uma reflexão de que ele não precisaria machucar e nem prejudicar ninguém. E isso pode ter dado abertura para que os protetores da casa, da família também, que eu acredito que todos nós temos, intervissem e pudessem levá—lo para o plano espiritual, que seria, de fato, o local mais adequado para ele. Seu Theodoro e família, tudo de bom para vocês. Até mais. 

Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, meu nome é Brígida, falo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Sobre a história “Menininho”, nem sempre a forma como o espírito se deixa ver para quem tem mediunidade é a forma da última encarnação dele, da forma de como ele estava no momento que ele morreu. Então, às vezes, ele não é um Menininho, aquele espírito que o senhor viu ali na beira da estrada, muitas vezes eles usam formas de criança porque é uma coisa que as pessoas têm mais uma empatia, acham que não tem maldade, acreditam que é uma criança, enfim, né? Nós já vimos uma história no Luz Acesa bem assim. Também, todo espírito pode ser recuperado, não existe o espírito que não tenha como recuperar. Sempre ele pode ser recuperado, ele pode encontrar a luz, ele pode se arrepender dos pecados dele e pode buscar uma vida no bem, digamos assim. Beijos, fiquem bem. 

[trilha]

Déia Freitas: Você não pode perder a série Dias Perfeitos, onde Clarice, uma jovem roteirista que sonha aí com a sua própria independência, está lá vivendo a vida dela até que ela conhece Téo, um jovem estudante de medicina forense, muito metódico e solitário. Ele é o completo oposto da Clarice. A partir desse encontro, Téo mergulha num espiral de ilusão que só existe na cabeça dele, mas que coloca Clarice em perigo. Assista agora Dias Perfeitos, um original. Globoplay que estreou hoje. — Valeu, Globoplay, beijo, Rapha Montes, você é incrível… — Um beijo, gente e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]