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título: mentiroso
data de publicação: 02/03/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #mentiroso
personagens: iza, seu armando e dona ana maria

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão e hoje eu vou contar para vocês a história da Iza. Vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Iza é uma garota de 25 anos que se dedicou bastante aí aos estudos, hoje ela faz mestrado e ela resolveu, pra economizar, continuar morando com os pais. Ela é filha única, uma vida ótima e tudo correu bem… Até que chegamos na pandemia. Na pandemia, os pais da Iza aposentados, dona Ana Maria e seu Armando, tiveram um pouco de dificuldade aí pra cumprir os protocolos, então eles queriam dar uma volta e tal e a Iza ali preocupada, mantendo os dois em casa. E eles têm um sítio, então ficou decidido que os dois ficariam um tempo no sítio e a Iza e o seu Armando meio que indo e voltando. Às vezes o seu Armando vinha e a Iza ia ficar com a mãe… — Porque a mãe não dirige, então a mãe tinha essa limitação de ir e vir e os dois não, porque ambos dirigem, né? — 

E aí eles ficaram nesse rodízio aí, tudo funcionou muito bem… Em março de 2021, com tudo um pouco mais flexibilizado, eles receberam a visita de uma tia e, provavelmente, não se sabe ao certo, junto com essa tia veio o coronavírus. [efeito de tensão] Todos foram infectados. A Iza teve sintomas leves, a mãe da Iza, dona Ana Maria, sintomas leves a moderados, seu Armando teve sintomas graves, foi internado e entubado e a tia da Iza faleceu… Então foi um baque. Foi aquela correria e a Iza tendo que se cuidar, cuidar da mãe, o pai internado e o seu Armando ficou um bom tempo internado. Nessa de que ele ficou internado, muita coisa aconteceu… A primeira delas é que, de repente, [efeito sonoro de campainha tocando] na casa da Iza apareceu uma senhora e ela queria porque queria notícias do seu Armando. 

E aí a Iza ali e a mãe meio que atenderam ali no portão e essa senhora acabou contando que ela tinha um relacionamento com seu Armando há mais de 20 anos… Então, praticamente desde quando a Iza era criança e que, com esta senhora, o seu Armando tinha um filho. Foi ali uma surpresa horrível, uma decepção… Dona Ana Maria ficou bem mal, Iza também ficou bem mal. Depois desse contato estabelecido ali com essa senhora que apareceu, a dona Ana Maria quis saber mais e acabou sabendo que, ao longo aí desses anos, o seu Armando tinha tido outros relacionamentos e o mundo dela caiu. — Porque até então, o seu Armando era realmente aquele cara que é o exemplo, sabe? Do homem familiar, fiel e honesto e nã nã nã. — 

Ela foi cavando mais fundo… Dona Ana Maria nunca foi uma mulher de querer saber direitinho quanto o marido ganhava e, digamos que, por exemplo, ele sempre falou para a família que ganhava 3 mil reais e, na verdade, ele ganhava 7. Então meio que agora as contas batiam, né? Tipo, ele escondeu que ganhava menos da metade do salário dele para poder bancar aí essa outra família e eventuais aventuras e tal. E aí a família ficou completamente no chão… Tudo isso com o seu Armando internado. E o tempo foi passando, ele foi melhorando e a Dona Ana Maria puta da vida. — Com toda razão, né? — A Iza sofrendo… Porque chegou num ponto que ele já poderia receber algumas visitas, né? Porque ele agora estava tratando as sequelas do Covid… — “Da” Covid, né? Porque é a Covid. — Da covid… Ele estava tratando as sequelas da cor verde e não mais o vírus. O vírus já tinha ido embora. 

Então poderia receber visitas e a dona Maria não foi… — Visitar. — E aí chegou a hora do seu Armando voltar para casa. E ele ainda muito debilitado, precisando de fisioterapia, com muito ainda a se fazer. Ele chegou num ponto que ele não conseguia nem falar. Ele tinha que reaprender algumas coisas, inclusive em relação à fala. Então foi bem grave — bem grave mesmo — o caso dele. E ele saiu do hospital só no final de maio e Dona Ana Maria resolveu ir para a chácara deles antes dele voltar para casa, porque ela disse que ela não ia cuidar dele. — E ela está na razão dela, né, gente? — E aí a Iza ficou ali com essa responsabilidade de cuidar do pai e de levar na fisioterapia, enfim, fazer tudo o que tinha que ser feito para ele começar a se recuperar em casa agora, né? 

Passou junho, passou julho… Julho ele já estava melhor, né? — Não estava bem melhor, mas estava melhor. — E ele começou a perguntar pela esposa, com medo dela ter falecido, né? — Por conta do coronavírus. — E a aí Iza falou: “Não, a mamãe tá lá na chácara, ela prefere ficar lá” e ele meio que com medo de que isso não fosse verdade. Até que a Iza fez um FaceTime ali — uma chamada de vídeo com a mãe — e mostrou a mãe para ele, mas ela nem falou com ele. — Falou que a ligação estava ruim, caiu e tal… — E aí nós chegamos no ponto que estamos agora. Dona Ana Maria está convicta de que quer o divórcio. — E eu não tiro a razão dela porque, né? Enfim, ela tá certa. — 

A Iza como filha agora está em um papel complicado, porque o pai ele ainda não está 100%, ele ainda tem um período grande aí pela frente de recuperação, só que ele está já sentindo que o clima está estranho. E aí a Iza foi conversar ali com o médico dele, o médico sugeriu que ela procurasse uma psicóloga. — Pra ver como ela daria essa notícia, de que todo mundo já está sabendo de tudo, que ele mentiu a vida toda… — E o médico disse que agora não seria um momento, que ele ainda pode, sei lá, pode dar alguma coisa… Que, sei lá, o médico queria que esperasse. E ela foi conversar com a psicólogo e, aquela coisa, a psicóloga está ali pra te ouvir e tal, mas ela não tem como falar: “Olha, conta” ou “Não conta”, né? Ela tá ali meio que pra te mostrar os caminhos que você mesmo está levando ali, né? 

Então agora a Iza tá nessa… O pai dela está com uma angústia muito grande, porque é nítido que tem alguma coisa errada, mas ele não sabe o que é. Ele está esquecido de muita coisa também, então ela não sabe se ele lembra de tudo, se não lembra… Até o que ele lembra desse passado… Esta outra senhora já entrou em contato com a Iza duas vezes para querer vir visitar o seu Armando e a Iza não deixou. Então tem essa questão também, que ela tem que administrar isso. Ele tem um filho, então o filho também tem o direito de vê—lo. Só que agora, por exemplo, se esse filho aparece lá na casa… — Aí ele vai sacar que todo mundo sabe de tudo e, de repente, ele pode passar mal, não sei… — Então a Iza está nesse ponto, que ela não sabe o que fazer, se ela continuar protegendo o pai de tudo. — Mesmo ela estando magoada e sentida ela é filha, né? E agora também não é o momento, não tem como abandonar o seu Armando aí assim, ao léu. — 

E esta outra senhora que tem um relacionamento de 20 anos com ele se colocou à disposição para ficar com ele em casa… Na casa dela, mas a Iza não quer. Ela acha que eles têm que resolver primeiro isso e, provavelmente, agora a Dona Ana Maria separando dele, eu acho que um caminho natural é que ele vá morar realmente com essa outra senhora. Então a Iza queria uma luz aí de vocês, de qual é o momento… Se é o momento de contar, se não é o momento de contar… — Eu acho que pela angústia que ele tá e pelo clima que ele já está percebendo que alguma coisa está errada… — Eu acho que já dá pra começar a falar sim, falar: “Olha, nós conhecemos a Fulana e a gente sabe que você tem um filho” e é isso, né? Então eu acho que já podia começar a abordar o assunto sim, porque talvez a angústia que ele está agora seja pior. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Déia, oi, gente… Aqui é a Catharine, moro em Portugal. Iza, é uma situação chata, mas não é uma situação efetivamente complicada, né? É muito simples de se resolver. Eu acho que a angústia é pior, acho que dá para você chegar e dizer: “Olha, pai, como você pegou Covid e tal, a gente conheceu a Fulana, a gente já sabe de toda a história e é por isso que a mãe tá desse jeito”, não precisa tocar no assunto do divórcio, mas você precisa tocar sim que todo mundo já sabe o que está acontecendo. Até porque eu acho que você não está certa em impedir a visita. Eu entendo você não querer que seja na sua casa, mas ela tem direito também e o filho dele também, entendeu? Seu pai tá todo errado… Não sei qual o grau de responsabilidade dessa mulher, se ela sabia antes, enfim… Mas ela procurou porque ficou com medo do filho ficar desamparado caso ele morresse, entendeu? Então, eu acho que o ideal é colocar tudo em pratos limpos e é isso. Boa sorte. 

Assinante 2: Oi, pessoal, eu sou a Paula e eu falo da França. E, Iza, primeiramente eu sinto muito por toda essa situação. Eu te desejo muita força, muita calma e muita serenidade para encarar tudo isso que está acontecendo na tua vida e eu espero que as coisas já estejam melhor. Respondendo a tua pergunta, eu falaria por dois motivos: primeiro, porque o teu pai precisa ser responsável pelas atitudes dele e não é porque ele foi acometido de uma doença e que está em recuperação ainda que ele não é responsável por ter feito toda essa traição e, ao mesmo tempo, terem duas famílias sofrendo. E o segundo fato é que, pra sua mãe, esse casamento já terminou e eu acho que seria muito bom ela estar divorciada ou estar com o estado civil dela modificado se esse é o desejo dela, porque ela já não tem mais nenhuma conexão com o teu pai, não quer ter mais relação com o teu pai. Então, pensando pelo lado dela, eu contaria e abriria o jogo com todo jeito e da melhor forma possível. Um beijo. 

Déia Freitas: Então, eu gostaria que vocês deixassem aí uma palavra de apoio, uma luz para Iza lá no nosso grupo do Telegram. É só jogar na busca “Não Inviabilize” que o grupo vem. Se você não está no grupo ainda, entra lá e deixa uma palavra pra nossa amiga Iza, tá bom? Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.