Skip to main content

título: meu erro 02
data de publicação: 07/02/2024
quadro: meu erro
personagens: paulo

TRANSCRIÇÃO

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje o segundo episódio do nosso Especial: “Meu Erro”. Então, se você não ouviu ainda o primeiro episódio, volta um pouquinho e ouve para você pegar ali a vibe e depois você ouve esse. Bom, o Especial Meu Erro ele tem a finalidade de contar histórias do outro lado, né? Geralmente a gente conta aqui histórias de pessoas que sofreram golpes e decepções amorosas ou familiares, enfim… E esse especial tem o objetivo de mostrar o lado das pessoas que erraram e que, de alguma forma me procuraram aí porque se arrependeram, enfim. Então, vamos lá, vamos de história. 

E hoje a história é a história do Paulo. Já tem uns anos essa história, mas ela ainda não teve um desfecho. Bom, o Paulo ele é o caçula de três irmãos, ali do seu Roberto e da dona Jandira. E os dois, os pais do Paulo, são da classe trabalhadora, então trabalharam a vida toda pra dar ali o mínimo para os filhos e se aposentaram, porque começaram a trabalhar muito cedo. Enquanto isso, o Paulo, o jovem Paulo, tinha acabado ali o ensino médio e estava vendo a possibilidade de fazer uma faculdade. Os dois irmãos mais velhos eles não tiveram oportunidade de cursar uma faculdade e casaram, estabeleceram família, estavam empregados e não foram por esse caminho. E o seu Roberto ele tinha esse sonho, né? De ter um dos filhos na faculdade. E aí esse filho seria o Paulo, e o Paulo também queria fazer faculdade. 

Então, o seu o Roberto foi lá, se planejou, pagou um cursinho pro Paulo, o Paulo fez o cursinho, passou em quatro faculdades e escolheu uma faculdade que era em outra cidade. E numa cidade que tinha praia. E aí, beleza… Lá foi ele, lá foi o Paulo começar a faculdade. O seu Roberto fez, como ele era aposentado já, ele fez um empréstimo consignado para pagar em muitos, muitos, muitos, muitos anos. E com aquele dinheiro ele ia mantendo o Paulo na faculdade. Só que Paulo chegou na faculdade e ele achou que era muito difícil pra ele. Ele vinha ali de uma escola pública e nã nã nã, não ia ter que correr atrás de bastante coisa… Dava pra fazer? Dava, mas ele não estava tão empenhado. E aí o que Paulo fez? Paulo trancou o curso e começou a viver com esse dinheiro que o pai mandava pra ele. Então, a vida do Paulo daí pra frente virou balada, praia e enfim, mulherada e curtir… 

E o Paulo passou quatro anos curtindo… E como os outros dois irmãos dele também não tinham ido pra faculdade, eles não tinham muita noção de como era essa vida acadêmica do Paulo. Vida que nem existia, né? Só que uma das cunhadas já vinha há um tempo desconfiada, né? E não precisou de muita coisa pra descobrir que o Paulo estava enganando toda a família e ficando com o dinheiro. Bom, foi um baque, um baque, baque, baque na família… E a coisa foi tão séria que o seu Roberto ele teve um AVC. Não foi, ainda bem, algo mais grave, mas por conta dessa notícia, ele teve um AVC. E aí foi só quando o Paulo viu o seu Roberto internado e tal que ele caiu ali na real e viu a merda que ele estava fazendo. Só que nisso já tinha se passado muito tempo que ele estava vivendo aí nessa vida de pegar o dinheiro do pai, né? E um pai que, assim, gente, estava batalhando muito para conseguir pagar o empréstimo, né? 

E aí ele ficou com aquele remorso, a família já não falava com ele… Quem falava um pouco com ele era dona Jandira, mas aí com a questão do AVC, ela também parou de falar com ele, e os irmãos ali em cima, enfim, criticando, jogando as coisas na cara. E o Paulo se afastou da família. Só que ele tinha um objetivo… Ele fez as contas ali de quanto o pai mandava e ele começou a trabalhar finalmente, né? E a mandar o dinheiro pra conta da mãe pra ela devolver pro pai. E assim ele foi fazendo até conseguir quitar… Então, a parte financeira o Paulo conseguiu quitar e devolver todo o dinheiro pro pai dele. Só que isso, pra família e, principalmente para o pai do Paulo, não foi suficiente, porque o pai do Paulo, assim, ele tinha muita confiança no filho e isso foi quebrado. E aí, por mais que agora ele estivesse sendo aceito novamente em casa, porque passou uma época que ele não podia nem ir lá, ninguém mais dava tanta trela para ele e ele ficou meio jogado de canto assim na família, sabe? 

E aí, depois de muitos anos pagando o pai, porque demorou pra ele conseguir pagar o pai, agora o objetivo do Paulo era dar o diploma que o pai queria, né? E aí tem sempre aquela coisa, que às vezes é o sonho do pai, dos seus pais que você faça uma faculdade, mas não é o seu sonho, às vezes os pais têm que entender isso também. Mas aqui não era essa questão, o Paulo queria fazer faculdade, é ele estava na época muito novo e acabou fazendo cagada. Mas agora bem mais maduro ele queria também fazer a faculdade e poder dar esse diploma pro pai, né? E aí ele começou a fazer faculdade, mas era muito difícil pra conseguir trabalhar, fazer e pagar e ele trancou umas duas vezes, reabriu e foi fazendo… E aí veio pandemia, ele fez ali uns créditos, umas matérias, mas também deu uma trancada. E agora ele está retomando… Só que assim, sempre que ele vai falar sobre a faculdade com a mãe, com o pai… O pai dele nem fala com ele ainda, mas mais com a dona Jandira, ninguém dá muita trela, ninguém acredita nele. Então ninguém nem sabe se ele está realmente cursando ou não, ninguém dá bola mais. 

A real é essa, ele ficou desacreditado na família. E aí agora ele tem… O Paulo tem esperança de depois de pegar o diploma, levar o diploma pro pai dele e, enfim, ser perdoado. E aí aquela coisa, né, gente? Que a gente sempre fala aqui… Não tem como saber que desfecho vai ter. O Paulo está fazendo a faculdade porque ele realmente quer fazer e esperando esse retorno da família, que a família volte a acreditar nele, que os irmãos voltem a conversar com ele, que os irmãos não conversam. E, realmente, pra família foi muito duro o que ele fez, porque todo mundo batalhou muito pra ele ser o primeiro ali a ter a faculdade, né? E ele mentiu por alguns anos pra família, vendo que a família estava fazendo um esforço pra pagar enfim… E aí o Paulo me escreveu porque ele queria contar a história dele, que ele se culpa realmente pelo AVC do pai, porque não foi outra coisa, foi realmente a notícia de toda mentira, né? 

E que, na época, ele ainda estava tão, assim, pensando só nele, que ele acabou culpando a cunhada, porque “ah, se a cunhada não tivesse ido atrás, ninguém tinha ficado sabendo e o meu pai não tinha tido um AVC”, mas não, né? A cunhada… A cunhada estava desconfiada de uma coisa que era verdade, né? Então, agora ele tem a consciência que a culpa, a responsabilidade… Acho que não é culpa. A responsabilidade do que aconteceu com o pai dele e da questão do empréstimo todo é do Paulo, ele sabe e ele está torcendo aí pelo melhor, né? Por esse perdão completo da família. E aí ele quis contar a história dele agora e espera que depois que ele estiver com o diploma na mão, ele possa voltar a escrever pra mim e contar que teve um final feliz na história dele. E eu estou torcendo pra que tenha, né? Porque… Não sei, agora ele está aí com a vida nova, sabendo de tudo o que ele fez e precisando também de um pouco de apoio da família, né? E eu espero que esse apoio venha. 

Então, gente, a gente tem o grupo lá no Telegram, deixem seus recados para o Paulo, sejam gentis. É o que eu falei no episódio anterior, é muito difícil também carregar a culpa, não é um lugar fácil de se estar, então não se esqueçam disso. E eu volto amanhã com mais uma história do nosso Especial Meu Erro. Um beijo e até amanhã. 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.