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título: milhões
data de publicação: 22/02/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #milhoes
personagens: elisabete e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] A Netflix está aqui coladinha em mim pra gente contar mais uma história de golpe. E assim a gente vai divulgando a minissérie Inventando Anna da Shonda Rhimes, que estreou no dia 11 de fevereiro. A série é inspirada na história real da golpista Anna Delvey e está muito boa. — Vocês já assistiram? — E hoje eu escolhi uma história de golpe de gente que é legal com todo mundo… — Sabe aquela pessoa boa praça, assim? — Eu vou contar pra vocês a história da Elisabete e é uma história de firma… — Eu amo história de firma. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A gente está falando aqui de uma empresa de uns 200 funcionários, uma empresa ali com gestão familiar. Então, esse cara, ele começou nessa empresa… — É uma empresa que faz puxadores, mas vende aí, assim, em grandes quantidades, né? Estilo industrial. — E esse cara ele começou de baixo ali, ele começou como auxiliar de logística. Ele era um cara super esforçado, agora a gente está contando a história dele… Ele já era coordenador de uma área inteira de vendas. Então ele começou lá embaixo, como auxiliar de logística e foi subindo. E sempre esforçado, sempre se dedicando ali 100% à empresa. — Maja esse tipo? — E, conforme ele ia subindo de cargo, os donos ali da firma sempre que tinha alguma palestra motivacional, —Odeio… — sempre que tinha algum evento, usavam esse cara como destaque. 

[efeito de voz fina] — Olha aí o fulano e nã nã nã, veio de baixo e nã nã nã, veste a camisa”… — Sabe aquela coisa? Então esse daí era o cara, o cara que vestia a camisa e que estava ali se achando. — E quando esse cara foi pra áreas de vendas, nossa, parece que aquilo deu um gás nele e ele falou: “Olha, eu vou pegar um investimento aí, sei lá, e vou começar a abrir minhas barbearias. Eu quero levar aí um negócio paralelo, a barbearia não conflita nada aqui com o negócio dos puxadores” e todo mundo batendo palmas, falando: “Não, esse cara é esforçado demais”. [efeito sonoro de palmas ao fundo] — E, para vocês terem uma ideia… — Esse cara era tão esforçado, mas tão assim dedicado a tudo o que ele fazia, que quando ele foi casar, ele queria um casamento de rico… E aí ele começou a vender doce… — Lá dentro da firma mesmo. — E cada docinho que ele vendia o dinheiro era para o casamento. — Mas, gente, foi um casamento tão pomposo, tão cheio de coisa… — 

Com viagem de lua de mel internacional que, olha, precisava vender muito doce, hein? Então o pessoal pensava: “Ele não vendeu doce só aqui, ele vendeu doces, sei lá, pegou a Marginal Pinheiros e foi vendendo doce [risos] [efeito sonoro de buzina] até sei lá onde”. E esse cara era tão admirado ali dentro da empresa, pelos donos e tal, que os donos criaram um prêmio [risos] e deram o prêmio pra ele, tipo, “funcionário mais maravilhoso da galáxia”, era o prêmio desse cara. E ele tinha uma super proximidade com os donos ali… Até que um dia, do nada, em 2020, esse cara foi demitido… [efeito de tensão] Bom, 200 pessoas, né? A fofoca corre rápido… 

Todo mundo em choque, ninguém sabia como o cara mais maravilhoso da galáxia daquela empresa tinha sido mandado embora. “Como assim, gente? Por quê?”, sério, gente na empresa chorando que ele tinha sido mandado embora, porque “nossa, ele é o cara mais esforçado, mais trabalhador… E agora? Como é que vai ser? Ele todo endividado, abriu barbearias”… Ele tinha feito uma casa, gente… — Casa de rico. — “E agora ele cheio de dívida, como é que vai ser, vamos fazer uma vaquinha pra ajudar ele e nã nã nã”, aquela movimentação em torno da demissão dele… Tudo isso no dia da demissão. O motivo — Da demissão desse cara. — correu aí por baixo do pano, né? 

Alguém do RH bateu a ficha e disse que ele tinha sido mandado embora por assédio… Ele tinha assediado uma ali das suas funcionárias, né? — Que ele era chefe do setorzão ali de vendas, né? — E ele tinha assediado a moça, a moça fez uma queixa, ficou comprovado que foi assédio e ele foi mandado embora. E aí a gente pensa, né? “Poxa, canalha”… Acabou aí, né? — O vínculo dele com a empresa. — Só que não… [efeito de tensão] Depois de um mês que ele tinha sido demitido e tinham colocado ali uma outra pessoa no lugar dele, — Pra tocar ali as vendas e tal. — os vendedores que eram muitos, muitos e muitos, começaram a reclamar… — Porque pensa assim, ó… — Era uma empresa que vendia muito, — E quem controlava? — você controlava suas vendas e, em cima das suas vendas, você ganhava um bônus e esse bônus era separado ali dos seus ganhos pra você receber, tipo, no final do ano… 

E aí esse cara, quando ele saiu, todo mundo foi dar uma olhada nas suas vendas, nas suas coisas e tal… —Porque no dia a dia do trampo você tem ali anotado e tal, mas você não olha o bônus e tal. — Quando a galera começou a olhar o que tinha para receber e o que estava marcado pra receber, tinha muita diferença… E as pessoas começaram a reclamar. — Porque aquele bônus ia entrar no final do ano, mas você ia controlando ali o quanto você ganhava, né? Dependendo da quantidade de vendas que você fazia… — E este cara ele estava ficando com o bônus. Então, assim, o dinheiro entrava e ia pra uma conta…— É um esquema, assim, que se eu contar direitinho como é, é capaz que descubram quem é o cara. — Então é mais ou menos isso.. Então, assim, pensa: Eu vendi 500 mil reais em puxadores, se eu tivesse vendido 400 mil era uma comissão sem bônus, eu vendi 500 mil, eu tenho a comissão mais o bônus X. 

Só que esse bônus X, ele vai para uma conta e, no final do ano, eu recebo esse bônus. Só que esse cara, ele tinha acesso a essa conta, ele fazia a distribuição desse bônus e ele tinha retirado — Dessa conta que ele tinha acesso. — ao longo de quatro anos, — Entre 2016 e 2020. — 5 milhões de reais… E tudo isso dinheiro de vendedores… Que tinha gente que recebia o bônus e deixava acumulando… — Tipo, ah, sei lá, pra pegar uma viagem… — Tinha gente que não controlava, nem sabia… — Que tinha X para receber de bônus, achava que era Y. — Quando o pessoal começou a conferir e começaram ali a questionar, foi feita uma auditoria e foi levantado que esse cara tinha roubado 5 milhões… E a empresa não perdoou. 

Teve um processo… Tinha vendedor do Brasil todo, os vendedores tiveram que ir até o fórum. — Que foi aberto o processo. — Esse cara foi acusado… — Só que até agora esse processo está correndo ainda. — e ele se mudou do Brasil, ele está fora do Brasil… — Então não se sabe se, sei lá, vai ser preso? Não sei, né? — Só sabe que ele roubou, real assim… — Sabe o que ele fazia para não botar na conta dele? — Ele inventava vendedores laranjas, assim, para dividir a comissão, gente que nem trabalhava lá, CPFs…. — Gente, o cara era estelionatário real… Ele achou uma brecha no sistema ali onde ele podia incluir vendedores e pegar esse dinheiro, desviar esse dinheiro. Então, quando dava tempo do bônus, ele recebia por meio desse vendedor laranja que ele criou e que nem existia. — Olha que doideira… 

E o cara era o legalzão aí, o amigão de todo mundo, assim… O boa praça. Todo mundo amava. Os vendedores amavam… Porque, às vezes, ele ainda fazia assim, ele mentia que o bônus do funcionário era Y, e aí pra agradar o funcionário, ele falava: “Ó, eu vou te dar a X… Vou te dar da minha comissão uma parte”. Então os caras falavam: “Pô, ele dá da comissão dele pra gente”, sendo que ele tava só repassando a comissão certa, entendeu? — Às vezes… Raramente fazia isso, mas fazia. — E, nessa brincadeira, o cara roubou 5 milhões. Então, assim, a época que ele fez lá aquela encenação de vender doce pra ir viajar, ele já estava roubando… Já estava roubando… A festa dele foi roubada, a casa que ele comprou foi roubada… Ele pagou uma pós para a mulher dele nos Estados Unidos também com essa grana e, ainda assim, sobrou muito, muito, muito, né? 

Assinante 1: Oi, Déia, oi, gente, aqui é a Catarina, moro em Portugal. E, assim, eu já estava esperando um grande golpe porque eu trabalhei com vendas por 12 anos e o cara pode ser muito bom vendedor, mas ele não vai conseguir em pouco tempo juntar dinheiro pra pagar festança, viagem, casa, nada… Tinha alguma coisa errada. O que me frustra é que muita gente não controlava a própria comissão. Ok que o cara era muito legal e tinha lábia, mas era o próprio dinheiro e ninguém estava olhando, como assim? Nesse caso, eu vejo que às vezes só a lábia não é suficiente para poder dar um golpe. Espero que todo mundo da empresa tenha aprendido e que quem quer que esteja ouvindo também comece a repensar o seu próprio controle. Gente, comissão é nossa, o cara mexeu porque deixaram. É isso, um beijo e até a próxima. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Bruna eu falo de Sinop no Mato Grosso. O que mais me choca nessa história e nas histórias de golpista, em geral, é como eles conseguem criar um ambiente e inserir tantas pessoas para serem manipuladas nesse ambiente. Se o golpe foi de 5 milhões e ele aplicou parte desse dinheiro na festa de casamento e no evento, seria óbvio para uma pessoa de fora, que não tivesse contato com ele, que esse dinheiro não veio de docinho, né? Se a festa tinha todo esse porte… Mas mesmo assim ele conseguiu manipular tanta gente e fazer com que todas as pessoas acreditassem nele só na lábia. Tomara que esse processo tenha um final feliz e que ele não encontra outras pessoas para aplicar golpe. Valeu. 

Déia Freitas: Na série Inventando Anna a Anna não é a pessoa mais simpática do mundo, mas ela é sim charmosa a ponto de convencer as pessoas a também darem dinheiro para ela. — Assim, a confiarem nela, acho que a real é essa. — Confia e nem confere nada, como eram esses vendedores… Confiavam tanto nesse cara que eles não conferiam nada. Então, entrem lá na Netflix, assistam Inventando Anna. Tem uma hashtag: “Anna”, com dois N’s, você pode comentar lá no nosso grupo do Telegram. E é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.