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título: mofo
data de publicação: 27/05/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #mofo
personagens: helena

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Luz Acesa. E hoje vou contar para vocês a história da Helena. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Helena ela é uma professora universitária, agora já aposentada, mas concursada aí de bastante tempo, então sempre teve uma boa condição financeira, sempre foi bem estabilizada financeiramente. A Helena, quando ela tinha ali seus 20 anos, ela casou, [efeito sonoro de sino soando] ela teve um filho, ela divorciou e esse filho cresceu… Quando tinha 19 anos saiu de casa, foi estudar fora do Brasil e lá ele fez a vida dele, se casou, teve filhos. Então, a Helena vai de tempos em tempos pra casa do filho ver os netos e tal, mas a vida dela é toda aqui no Brasil. Ela jamais pensou em morar fora, então ela tem uma vida aqui mais solitária, né? Porque o único parente dela que é o filho, está longe. A Helena tem muitas amigas e elas vão a festas, assim, elas fazem ali umas reuniões uma na casa da outra, as vezes uma festa maior e a Helena, um sábado à noite, resolveu ir com as amigas até uma festa, era uma festa de um conhecido delas… — Então não era uma festa tipo baladinha, não, era tipo um jantar e tinha música, você conversava… Festa assim mais de rico… —

E ela estava lá nessa festa — ela foi com duas amigas —, as amigas meio que estavam ali meio que se ajeitando com um cara ou outro e a Helena não estava na vibe. Então ela ficou ali, bebeu alguma coisa, comeu alguma coisa — a festa era uma festa ok, assim, do tipo de festa que ela sempre ia — e num determinado momento da festa, a Helena começou a se sentir mal… — E como é se sentir mal? — Ela me falou: “Andréia, não sei, foi me dando um desconforto, uma coisa ruim de estar naquela festa… Não queria ficar mais lá. Não tinha nada, não estava acontecendo nada de diferente, nada, mas tinha alguma coisa me incomodando e me fazendo sentir um mal estar, assim, um aperto no peito, uma coisa ruim”. Helena conversou com as amigas, mas as amigas estavam ali meio ajeitadas já e a Helena falou: “Vou chamar um táxi aqui, vou embora”, era uma festa num apartamento amplo, bonito… Assim que a Helena saiu daquele apartamento, que ela estava ali naquele hallzinho esperando o elevador para descer, ela sentiu ainda mais mal… Helena chegou a sentir um enjoo.

E aí ela botou isso na conta de, sei lá, de repente comeu algum aperitivo ali, algum acepipe — [risos] amo essa palavra — que não caiu bem e tomou alguma coisinha, sei lá… E Helena passando mal ali, mas assim, era mais uma angústia misturada com enjoo… — Ela não sabe explicar, ela nunca teve aquilo. — Ela entrou no elevador e, no elevador, ela teve uma outra sensação que ela só conseguiu descrever como “assombro”. — Sabe quando te dá um medo? Essa é uma explicação talvez que vocês entendam melhor… Sabe quando você acorda no meio da noite, automaticamente você vai até a cozinha no escuro e toma água, aí você acende a luz e toma água… Quando você está voltando para a cama, te dá um medo repentino e você vai batendo nas luzes, assim, apagando e deita na cama com medo? Era mais ou menos isso que deu na Helena, mas ela não tinha para onde correr ali dentro daquele elevador. — Juntou o mal estar com o medo que ela não sabia identificar, assim.

Helena pediu o táxi ali, foi para casa, chegou em casa, dormiu… No dia seguinte, era um domingo, ela ia almoçar com as amigas ali, acordou umas oito horas, tomou café, fez alguma coisinha ali na casa dela — morando sozinha num apartamento bom também, amplo —, coisinhas dominicais e, quando foi ali umas onze e meia, ela já saiu pra encontrar as amigas. Ela ainda estava se sentindo um pouco mal, mas nem tanto. Foi lá, almoçou, ficou com as amigas ali até umas 16h da tarde e tal e voltou pra casa. — Porque domingo a gente gosta de se recolher cedo, né? Eu entendo a Helena. — Helena mora num apartamento amplo de dois quartos, muito arrumadinho… — Por exemplo, ela pinta todo ano, chama alguém pra pintar, para não ficar com aquele aspecto de parede suja e tal… — É um apartamento reformado, se você entrar, você fala: “Nossa, novinho” e entrando no apartamento, de frente você tinha a sala, uma sala ampla, e aí aquela porta de correr de vidro que dá para a varanda… 

Só que não é toda de vidro, tem uma parte ali que é parede. Quando a Helena voltou pra casa, na parede que dá para varanda, do lado de dentro da parede, tinha uma enorme mancha de mofo. — Sabe mofo preto? Só que vamos combinar, gente, o mofo pra ele se formar, vai, atrás de um guarda—roupa… Quem aí mora numa casa com umidade, quem é da classe C, sabe… A luta que é para você não ter mofo atrás do guarda roupa é uma luta, mas pra ele ficar preto de mofo, precisa ser muito mofo, muito úmido e não é de uma hora pra outra. Tipo, ela saiu onze e meia da manhã e quando ela voltou cinco horas tava a parede preta de mofo. — Não fazia sentido o mofo naquela parede, porque não tinha nenhum cano, nada… Do lado de lá da parede era a varanda, uma varanda toda com vidro. — Então não dá nem pra falar que a parede ficou molhando ali. — “Ah, pegou umidade”, não tinha como ter aquele mofo naquela parede ali do lado do sofá.

Ela puxou um pouquinho o sofá de lado para não encostar ali naquela mancha e olhou aquela mancha. Uma mancha enorme… — A gente sabe o cheiro característico de mofo, que é um cheiro meio ardido, não sei explicar, mas você conhece o cheiro de mofo… — Não era um cheiro de mofo, era um cheiro ruim que parecia cheiro de água parada, sabe quando fica meio água podre? Que não chega a ser um cheiro de podre, mas de água ruim? Era esse cheiro. A Helena sem entender, foi lá, pegou um balde, pegou um pano, pegou um pouco de água sanitária para limpar a parede. — Porque se era um mofo, ele ia sair dali, né? — Bom, ela limpou a parede e tirou aquela coisa que estava na parede. Ela falou: “Andréia, conforme eu colocava o pano no balde, parecia que tinha mais no pano do que eu tirei da parede”, ela não sabe explicar, assim, a água ficou toda preta. Tirou, resolveu deixar o sofá meio distante, fez as coisas dela ali, dava determinada hora ela já ficava no quarto, ligava a TV do quarto, enfim.

No dia seguinte de manhã que ela acordou e foi atravessar a casa ali para ir pra cozinha, tomar café, [efeito sonoro de suspense] a mancha de mofo estava lá. Não fazia sentido.

E aí já era segunda e ela resolveu chamar ali o Seu José, o zelador. — Para ver se entendia o que estava acontecendo ali. — Seu José veio, olhou, olhou, olhou, quebrou a cabeça e falou: “Dona Helena, não tem nem como ter uma mancha aí, será que alguém não veio aí e não fez essa mancha? Não passou uma tinta? Alguma criança… Porque não tem como ter essa mancha aí”. De luva ela limpou a parede ali, né? — Que a Helena faz as unhas igual a Janaína, a Janaína faz a unha aqui toda semana… Parece que se tiver que fazer uma cirurgia ela não vai, mas a unha toda semana ela vai. — E agora conversando com Seu José, ela foi e passou a mão naquela coisa preta que estava na parede e aquilo ficou no dedo dela: “Olha, Seu José, é mofo isso aqui” e foi lá, lavou o dedo e tal e Seu José falou: “Eu não sei, não tem cano, não tem nada aí” e ele não sabe responder e foi embora, porque assim, não tinha o que fazer. 

Helena foi lá de novo e limpou… Acontece que agora que ela tinha passado o dedo ali, a Helena estava se sentindo mal. [efeito sonoro de tensão] Tudo aquilo que ela sentiu na festa, Helena estava sentindo de novo. Helena resolveu se deitar… — Ela chamou Seu José eram umas dez e pouco, quando foi umas onze horas a Helena resolveu se deitar, lembrando que essa época ela já estava aposentada. — Ele dormiu mais ou menos por uma hora, uma hora e dez e, quando foi meio dia e pouquinho, ela acordou, que ela foi para a sala, a mancha estava lá… E aí aquilo começou a irritar, tirar a Helena do sério, sabe? “O que é isso? Que palhaçada é essa?”, conforme ela foi buscar de novo o pano e o balde já com muita raiva, agora com raiva, com raiva, pensando até em pegar a planta do apartamento para ver se aquela parede era estrutural, ou se ela podia arrancar aquela parede. — Mas acho que não podia porque era da varanda, né? Não sei. —

Conforme eu estava voltando com o pano de luva e o balde com água sanitária, a Helena um pouco de longe a Helena viu a mancha saindo da parede como um vulto. Um vulto escuro — como mofo assim, meio esverdeado — saindo da parede e tomando uma forma meio que quase humana. Era como se tivesse pernas, braços, mas não tivesse uma cabeça, fosse uma bola, fosse uma coisa assim, como se fosse uma mancha mesmo e ela viu aquilo sair da parede e ela ficou parada, porque assim, não fazia sentido… Era de dia, era meio dia e pouco, gente… E aquela mancha saiu da parede e quando ela olhou…  [efeito sonoro de tensão] Porque ela falou: “Andréia, não tinha um rosto, não tinha nada, mas aquilo me olhou e, quando me olhou, veio para cima de mim e eu desmaiei. Quando eu acordei, eu estava no meio daquela água sanitária ali no meu piso e não tinha mais nada na parede”. [grunhido] A Helena botou isso na conta de sei lá o quê, tipo, sei lá, tive um mal súbito e caí… E se machucou um pouco na queda.

Isso é muito perigoso, viu, gente? Queda da própria altura você pode se quebrar inteira… Mas ela caiu meio ali de lado, com aqueles baldes que são sanfonados, sabe? Que você fecha, assim, enfim, machucou, mas não machucou tanto. E aí ela foi pegar outro pano pra limpar ali, preocupada agora se tinha manchado o piso dela, água sanitária e tal — aborrecidíssima —, mas já querendo que meio que esquecer que aquela coisa que saiu da parede, aquele vulto. — Meio que, assim, aborrecida com as questões práticas do que tinha acontecido. — E aí isso já era uma e pouco que ela limpou ali, ela não estava com fome, não tava com vontade de almoçar, estava ali aborrecida, falou: “Bom, eu vou sair de casa”. A água sanitária realmente tinha encostada na pele dela, estava muito vermelha e tal, foi pro quarto pra tomar um banho, botar uma roupa e sair. Quando a Helena estava embaixo do chuveiro, [efeito sonoro de água caindo] sabe quando você está de costas, mas você tem uma visão, assim, meio lateral, meio periférica assim? Sei lá… E ela percebeu que tinha alguém na porta do banheiro.

E a cabeça dela estava tão: “Não tem como ter existido aquela situação”, que ela só pensou no Seu José e ela já virou dando bronca, falou: “Seu José, como que o senhor entra aqui sem bater?” — que o Seu José, o zelador ali, tem a chave de todos os apartamentos —, quando ela virou, era aquele vulto… O vulto estava na porta do banheiro, ela não tinha pra onde correr, ela estava dentro do box, parado. Helena fechou o chuveiro e, na hora, ela se enrolou na toalha e ficou encarando o vulto. O vulto deu uns três passos para frente — como se estivesse vendo a Helena melhor — e foi afastando… Helena tremendo, enrolada na toalha, não tinha nem levado roupa para o banho, você mora sozinho, você vai se trocar no quarto, né? Correu para o quarto dela… Só que quando ela correu para o quarto dela, [efeito sonoro de tensão] o vulto estava lá, no quarto dela. E parecia que ele estava inspecionando o lugar, que ele estava tipo olhando mesmo as coisas do apartamento da Helena. 

E aí ela saiu correndo para a sala, de toalha, o seu lado racional fala: “Você não vai sair correndo no corredor de toalha” e ela ficou ali na sala e, pela primeira vez, ela resolveu rezar. Helena rezou um pouco, criou coragem, voltou para o quarto, o vulto não estava mais lá. Ela botou uma roupa rapidinho e saiu de casa. E ficou andando pela rua, assim, sentou numa praça pensando o que ela ia fazer. — E a, aqui, gente, a Helena resolveu fazer uma coisa que, sei lá, eu não faria, mas enfim… — Helena resolveu pedir para uma amiga dela ir com ela em casa, ela contou para a amiga: “Eu estou vendo um vulto preto em casa, eu quero fazer uma mala e eu quero me internar numa clínica, porque eu estou enlouquecendo”. — Isso no mesmo dia, gente, ela se internou no final da tarde… — E a amiga sem entender e a amiga olhou cada canto do apartamento e não achou nada. Chamou ali outras amigas e tal, todo mundo falando: “Não, Helena”, ela falou: “Não, eu preciso passar uns dias num lugar e tal”. E aí foi pra uma clínica e, no segundo dia, ela fez uma avaliação com um psiquiatra e o psiquiatra falou: “Olha, não tem por que você estar internada. De repente, sei lá, pode ter sido estresse, pode ser não sei o quê, eu vou te passar um remédio, uma medicação, mas não tem por que você ficar internada”.

Ainda assim, a Helena, se internou na segunda feira, saiu da clínica na quinta—feira de manhã. As amigas foram buscar a Helena — a Helena agora tomando uma medicação — e as amigas resolveram revezar para dormir com a Helena pelo menos naquele começo. Quando ela voltou para casa, ela falou: “Andréia, uma coisa muito engraçada, porque eu moro sozinha, eu não recebo criança que todas as minhas amigas têm a minha faixa etária, né? E eu não tenho pets… E, quando eu cheguei na minha casa, a minha casa estava toda telada, as minhas amigas colocaram tela no meu apartamento todo com medo, sei lá, que eu pulasse”. [risos] Então quando ela voltou, ela tomou aquele choque, né? Que o apartamento dela estava todo telado e as amigas resolveram revezar pra dormir ali junto com a Helena. Então, no primeiro dia dormiu uma amiga, no segundo dia dormiu outra amiga. — Nada aconteceu… —  No terceiro dia, a Aurora foi dormir junto com a Helena e elas estavam dormindo ali, no mesmo quarto, porque assim, estava todo mundo muito preocupado com a Helena. 

A Helena tomando remédio dela para dormir, então ela capotava real, assim, e a Aurora mais, assim, desperta, mais ligada, porque está ali pela amiga, né? Quando deu mais ou menos umas duas e pouco da manhã, que a Aurora estava naquele sono que vai, num vai, no escuro, a Aurora percebeu o vulto olhando elas na cama. Então, pensa: Estavam as duas numa cama King, que é uma cama grande, então tinha um espaço entre elas ali… De onde a Aurora estava, ela olhava o vulto debruçado, olhando a Helena. — A Aurora viu o vulto… — E a Aurora, corajosa, ficou olhando para saber o que ia acontecer. E o que Aurora viu foi este vulto  — ela não sabe aqui se o vulto estava tentando entrar no corpo da Helena ou possuir o corpo da Helena — porque ele se deitou sobre a Helena, a Helena, mesmo com medicação, começou a se agitar na cama e esse vulto não parecia que ele tentava tomar o corpo da Helena completamente e ele não conseguia. Ela se agitava e ele saía e ficava em pé. E a Aurora sem medo — olhando —, mas em choque da situação, tipo: “Tem alguma coisa ruim tentando possuir a minha amiga”. 

A Aurora ficou olhando até essa coisa desistir e sair do quarto andando. Aurora não dormiu mais e, de manhã, ela conversou com a Helena e falou: “Helena, você não está louca, eu vi o vulto que você vê e eu vi esse vulto tentando tomar o seu corpo”. E aí a Helena começou a chorar — que não era nem tanto de da informação, de saber que o vulto estava tentando tomar o corpo dela, era de saber que ela não estava louca —, que mais alguém tinha visto aquele vulto e a Aurora viu. A Aurora ligou para outras amigas, contou a situação e as amigas vieram… E agora sim, era um problema espiritual… Helena sem crença, assim — de vez em quando reza um Pai—Nosso, uma Ave Maria, mas no máximo isso —, algumas amigas mais religiosas, outras não, começaram a fazer uma força tarefa ali para ver quem elas podiam trazer para limpar o apartamento. E, nisso, alguém já tinha também comunicado o filho da Helena e ele também já estava preocupado. 

Só que ele muito místico, falou para a mãe, falou: “Mãe, vende esse apartamento, vai embora, vai para outro lugar… Pode ser que o que veio com você de algum lugar, porque se não tinha nada antes, pode ter agora ficado aí e não querer sair… Então, sei lá, põe o apartamento para vender”. — O filho já queria uma solução mais radical, né? — As amigas foram chamando uma pessoa ou outra e tal até que elas encontraram um homem… — Sabe indicação? Você fala: “Ah, vai lá no Seu Benedito, que ele tira”. — E levaram a Helena no Seu Benedito — ele não cobrava nada e você levava alimentos lá que ele distribuía no bairro dele, um bairro pobre, assim — e o Seu Benedito olhou para Helena, assim, não falou nada, ficou olhando para a Helena e a Aurora e uma outra amiga lá explicando tudo o que tinha acontecido. A Helena muito, assim, sem saber o que falar, tipo: “Oi, Seu Benedito, estou possuída”, sei lá, “Oi, tudo bom? ?Tô possuída”. [risos] E aí o Seu Benedito falou: “Bom, aqui eu não posso fazer nada, vocês tem certeza que vocês viram um vulto só?” e Aurora falou: “Sim, eu vi um vulto só” e Helena também falou: “Eu vi um vulto só”. 

E aí Seu Benedito falou: “Não, tem mais, tem mais, porque só aqui você está com dois”. E aí a Helena já começou a tremer… — Eu também tremeria. — “Do que você está carregando agora, eles não andam sozinhos”. — Não tem como bçai completar a frase, né? “Meu publiii”. [risos] O vulto falando: “E hoje eu não tô sozinho” [risos], desculpa, gente… [risos] — E aí o Seu Benedito falou: “Não vai adiantar fazer nada agora para você. Eu vou me preparar… Eu preciso de sete dias para fazer as coisas que eu tenho que fazer aqui. A única coisa que eu preciso sua é de uma peça de roupa, uma peça de roupa que você não vai pegar mais. Então pode me dar aí seu par de meia e pode ir embora, é isso”. A Helena deixou um par de meias e um lenço de pescoço para Seu Benedito… E aí desses sete dias mais de uma amiga dormiu com ela lá, e aí todas viram…  — Mais vultos, vários vultos, passando, andando pelo apartamento e uma sensação ruim, uma sensação muito ruim…

E aí depois desses sete dias uma delas foi lá buscar o Seu Benedito para trazer no apartamento, e aí o Seu Benedito fez lá as coisinhas dele e falou para elas assim, falou: “Olha, a Helena tem que ficar aqui hoje e hoje vai ser difícil… Então eu vou pedir que vocês fiquem com ela, mas amanhã eu volto e amanhã eu termino… É que eu tenho que fazer uma parte hoje e uma parte amanhã”. E aí levaram o Seu Benedito embora e, nessa noite  — a casa dela estava cheia de vulto, mas eles não faziam nada, o máximo foi a Aurora vendo o vulto tentar entrar no corpo da Helena, só que agora eles estavam, não era nem com raiva, eles estavam desesperados, eles estavam, parecia que eles queriam atacar as pessoas da casa pra se defender de alguma coisa —, então, foi uma noite muito agitada, onde elas viam os vultos, assim, chegando perto delas… — Foi uma noite muito atribulada, a palavra é essa. — Foi uma noite que ninguém dormiu… [efeito sonoro de galo cantando] E, no outro dia cedo, seis horas da manhã foram buscar o Seu Benedito e o Seu Benedito terminou de fazer as coisas que ele tinha que fazer naquele apartamento e falou: “Agora, pronto, agora eu vou embora”. — O Seu Benedito muito falante, sabe senhorzinho assim felizinho, falante? —

Eu não posso conversar com vocês, eu só preciso que alguém me leve embora e ele foi mudo. Ele desceu do carro e nem para trás ele olhou… E aí a casinha do Seu Benedito era assim: A casa e do lado, ele tinha uma casinha que era, sei lá, uma casinha de fazer as coisas, casinha de espírito, sei lá… Ele não entrou na casa dele, ele foi pra essa casinha. E aí uma das amigas da Helena deu ré ali com o carro e foi embora, até falou: “Tchau, Seu Benedito”, mas ele nem olhou pra trás… E aí resolveu, gente… Tanto que resolveu que a Helena só tinha levado uma cesta básica, mas ela ficou tão, assim, que ela fez uma doação mesmo… Foi muito difícil pro Seu Benedito aceitar, mas ela falou: “Não, é pra sua obra”, e aí ele ia usar pra obra dele lá, para as pessoas que ele atende, enfim. Nunca mais aconteceu nada e a Helena acha que o que ela pegou, ela pegou na festa, porque ela nunca se sentiu mal como ela sentiu naquela festa, naquele elevador. Alguma coisa ela trouxe… 

E aí na cabeça da Helena é: “Aquele vulto que trazia junto um monte de vulto, devia estar na festa, naquela casa, eu sei lá, de alguma forma estava aberta e trouxe… Trouxe comigo todos os vultos”.. Que explicação você tem para o negócio estar na parede como se fosse um mofo? E você limpar e o negócio voltar e você limpar? — Então quer dizer, eram outros vultos ou era o mesmo que ficava lá insistindo? Insuportável. — E como que se materializou em sujeira de parede? — E depois que saiu da parede não voltou, porque também não quer mais ficar na parede… Está vendo ali que tem um sofá bom, uma cama boa, “vou ficar na parede nada”. — E por que demorou dois dias para sair da parede? — Não tem explicação. — E se as amigas não tivessem visto e se não tivesse o Seu Benedito, eu ia ficar ali com a tese ali da clínica psiquiátrica mesmo. Tipo: “Ah, sei lá, estou vendo coisa também, tomei a medicação, parou”, só que não foi o que aconteceu, todo mundo viu. Não tenho explicação, tampouco posso dizer que “ah, sei lá, existe vulto”, não quero ver, não quero saber se existe. Mas fico na dúvida, porque é difícil acreditar que algo saiu da parede. Como é que você vive? O único jeito foi o que a Helena fez, se internar numa clínica. — Se eu vejo um negócio desses, eu me interno também. —

Então fica aqui o meu questionamento, assim, achei muito surreal tudo. Mas não quero comprovar, não precisa o vulto aparecer para mim para falar: “Ô, sua otária, ó eu aqui saindo da parede, o vulto. Prazer, Vulto”, sabe? Então não precisa… O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, meu nome é Ana Alice, eu moro nos Estados Unidos. Primeiramente, Helena, você tem amigas incríveis, uma riqueza, assim, incalculável, elas não te deixaram em momento algum, isso é maravilhoso. Assim como você, eu concordo que seja o que for que tenha te acompanhado, veio daquela festa… Foi lá que você começou a se sentir mal, foi lá que as coisas começaram a desandar, talvez naquele dia você estivesse com a energia um pouco mais baixa, um canal aberto, enfim… Que bom que vocês encontraram um ser de luz como o Seu Benedito, que pode ajudar e ajudou, né? Ele faz isso não visando dinheiro, não visando status, mas sim preocupado em ajudar e em troca ele só pede que você ajude a comunidade que ele vive, isso é incrível. Tô muito feliz que tudo deu certo. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Nicole de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Helena do céu, Deus me livre… Aqui na minha casa todo inverno mofa e agora toda vez que vou olhar pro mofo de um jeito diferente… Mas que bom que deu tudo certo, que Seu Benedito conseguiu tirar o que fosse essa coisa na sua parede. E fiquei na dúvida, será que ele levou com ele essas coisas? Será que ele sempre leva com ele esses espíritos? Fiquei com esse questionamento. Mas enfim, um beijo pro Seu Benedito, um beijo pra ti, Helena, espero que fique tudo bem.

[trilha]

Déia Freitas: Um beijo, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Helena, Deus me livre, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.