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título: morrendo
data de publicação: 07/08/2021
quadro: mico meu
hashtag: #morrendo
personagens: déia freitas

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Ops. Mico Meu, haha. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra um Mico Meu. — [risos] E uma história que a Janaina esses dias ela estava relembrando de um ridículo que eu passei, que foi o dia que eu achei que eu estava morrendo. Tudo bem, já teve mais algumas oportunidades que eu achei que eu estava morrendo, mas dessa vez eu achei que eu estava morrendo mais sério, [risos] com menos dor, mas mais sério. Ah, antes de começar, gente, é uma história meio nojenta, tá? Então se você tá comendo, se você pretende comer é melhor não. — Tá bom? Tá avisado. — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Então eu achei que eu estava mal, que eu estava morrendo, porque um dia eu fui ao banheiro e eu estava evacuando sangue vivo e pedaços de pele. — Era pele e não era beterraba, gente. — Que eu já… Eu já tive uma quase morte achando que eu estava morrendo e era beterraba e não era igual, era muito horrível mesmo. Um dia eu olhei ali no vaso, eu falei: “Meu Deus do céu, o que tá acontecendo comigo?” — Mas é aquela coisa, quando a gente tá com uma doença ou meio mal assim, a primeira coisa é negar, né? Eu falei: “Gente, não pode ser, o que é isso?”. E aí fui trabalhar, me sentindo assim, muito mal, mas eu não sentia dor, não sentia nada, mas era sangue vivo e pele, eu falei: “Sei lá, tá saindo pedaço do meu intestino”, e aí trabalhei preocupada. No dia seguinte, pior ainda, uns pedaços enormes, eu falei: “Vou ter que conversar com a minha família”, e assim, era época que eu estava trabalhando no Shopping Ibirapuera. — Aquela época da “Paquera”, sabe? Do episódio “Paquera”? Era aquela época. —

Então, puts, eu estava começando a ficar bem, sabe assim? Melhor, bem não, estava começando a pelo menos a… Sair da miséria, sabe? [riso] E “Pô, vou morrer?”, e assim, eu tinha um convênio médico. — Era a primeira vez que eu tinha convênio médico. — Aí eu cheguei em casa, antes eu arrumei todas as coisas lá na empresa, porque eu cuidava de várias lojas, deixei tudo arrumado, tinha uma moça que era minha assistente, a Ana Paula, falei: “Ana Paula, se acontecer alguma coisa comigo aqui estão as senhas”. — Ela: “Nossa, credo, Déia. O que tá acontecendo?” — falei: “Não, sei lá, vai saber, né?” — Eu não queria contar também que eu estava morrendo. — [efeito sonoro de pessoa chorando] Aí vim chorando o caminho todo e conversei com meu tio, com a minha prima, falei: “Olha, eu tô evacuando sangue com pedaços de intestino”. — Desesperei minha família. [riso] —. E aí a gente foi para o hospital, um hospital aqui em Santo André, que chama Hospital Brasil. — Acho que hoje até mudou o nome já. — Mas assim, eu tinha um convênio bom na época, era a primeira vez que eu tinha convênio, então eu ia usar, já pra deitar lá e morrer. — Pensava eu, né? —

E aí chegou lá, dei a carteirinha, fiz a ficha, e a gente estava sentado, foi meu tio e minha prima, todo mundo muito preocupado. E aí quando eu estava sentada lá [riso] me deu um estalo. — E eu tenho uma cara que eu faço, que a Janaína fala, meu tio também que já faleceu falava que assim, na hora eles percebem que tipo eu fiz merda, sabe? — E aí provavelmente eu fiz essa cara, porque a Janaína olhou pra mim e falou: “O que foi?”, aí eu olhei pra ela e falei: “Janaína, pare e pensa”, e ela: “O que foi? Não tô lembrando”, eu falei: “O que eu fiz nesses últimos dois dias?”, aí a Janaína: “Sua filha da puta… Que isso…”, e começou a meio que rir, e meu tio não estava entendendo nada, aí a Janaína olhou para o meu tio e falou: “Pai, tomate seco”, aí ele começou a rir também, me xingaram, e aí eu cancelei a consulta e vim embora. — E aí eu vou contar pra vocês porque que eu achei que eu estava morrendo, que eu fui parar no pronto-socorro. —. Eu venho da classe C. — CC. [risos] — E certas coisas a gente nunca teve acesso mesmo, e não era fácil, agora eu acho que tá tudo mais fácil, né? — Quando eu era criança, refrigerante era uma coisa assim, que você tomava em ocasiões especiais, hoje você consegue, você junta 1 real aí, 2 reais e compra um refrigerante, na minha época não era assim. — 

Então a gente cresceu ali com o básico, né? E quando eu cheguei no Shopping Ibirapuera, lá tinha um empório, gente, eu nunca tinha visto um empório na minha vida, e eu sempre gostei de comer coisa boa, e lá tinha um vidro [risos] muito grande e muito caro de tomate seco. — Muito caro assim, na época eu achava mais caro, hoje em dia nem deve ser tão caro. — E eu não tinha dinheiro pra comprar aquele vidro, mas eu tinha muita vontade de comer tomate seco e, em casa também, a Janaina e meu tio também nunca tinha comido, e aí eu juntei o dinheiro pra comprar aquele vidro de tomate seco imenso, e comprei, gente. [risos] — E comprei. — Cheguei em casa, já tinha avisado antes, “Olha, gente, vou comprar tomate seco e nã nã nã”, e aí a gente comeu tomate seco na salada, e ali fez um patêzinho e tal, mas meu tio e Janaína eles comeram como pessoas “oks”, sabe assim? [riso] Comeram ali de boa. Eu, gente, enquanto eu não vi o fim do vidro de tomate seco, eu não parei de comer, eu comi tomate seco com arroz, com macarrão, com salada, com pão, e tudo isso em dois dias… — Dois dias entupida de tomate seco. — 

E eu sou meio que um labrador pra comer assim, eu não mastigo muito, sabe? Eu sou tipo um cachorro. Eu teria que mastigar mais? Teria, mas não mastigo. Sei que é errado? Sei, mas enfim. E aí, gente, todo aquele tomate seco entrou em mim e eu não passei mal, porque era muito delicioso. — Agora eu mal consigo olhar pra tomate seco, porque assim, né? Peguei trauma. — E aí quando aquele tomate seco começou a sair, [risos] eu esqueci que eu tinha comido o tomate seco, e aí eu via aqueles pedaços de tomate seco e aquela coisa vermelha viva e eu falei: “Gente, eu tô morrendo”, [risos] e eu não estava morrendo, eu tinha tido uma overdose de tomate seco. [risos]. Ai, meu Deus… E meu tio e Janaina eles riram, mas eles ficaram tão putos, porque assim, eu assustei realmente, eu estava assustada, eu achava que eu estava morrendo, e eu já tive uma experiência dessas com beterraba e foi diferente, é diferente. Os pedaços de tomate seco pareciam um pedaço do meu intestino, eu falei: “Eu tô num estágio já terminal, tô pra morrer mesmo”. 

E aí, [riso] a gente voltou pra casa, eu cancelei a consulta, ainda bem que eu lembrei antes de entrar no consultório, já pensou? Ter que falar: “Puts, desculpa fazer você perder seu tempo, é que eu comi todo o tomate seco do Shopping Ibirapuera e [risos] agora eu tô cagando ele”. — Ai, que triste… — Então é isso, é mais uma humilhação aí que eu queria compartilhar com vocês, eu sempre dou dessas aí de achar que eu tô morrendo, e essa eu acho que foi a primeira vez assim, que eu realmente achei que eu estava morrendo legal, mesmo assim, de deixar tudo organizado pra minha morte, sabe? [risos] Meu Deus. 

[trilha]

Assinante 1: Camile: Aqui é Camile e Gabriel de Goiânia. Ai Déia, é aquele negócio, né? A gente que nasce pobre, a gente… Nosso estômago não tá preparado pra certas coisas, né? Gabriel: Uma vez mesmo meu pai comprou muito queijo lá pra casa e eu passei três dias só comendo queijo, até que no terceiro dia eu evacuei um cocô albino, totalmente branco, na hora eu achei que era um pedaço do meu intestino também, [riso da Camile] eu gritei meu pai, “Pai, vem ver o que é isso. Eu tô fazendo cocô branco” e, na verdade, era só o queijo de três dias todo meu cocô. Camile: A gente que é pobre é complicado, a gente que foi pobre, né? Hoje graças a Deus aí tudo de bom. Mas é isso, Déia, toma cuidado, viu? Um beijo pra você. 

Assinante 2: Oi, Déia, aqui é Giovana de BH. E eu simpatizei muito com a sua história, porque eu também sempre acho que eu estou morrendo pelo intestino. E que bom que você tem pessoas aí que acreditam em você e te levam no hospital, né? Porque comigo isso já não acontece, eu acho tanto que eu tô morrendo que ninguém acredita mais. [riso] Mas, acho que o tomate seco merece uma segunda chance, e que bom aí que ficou tudo bem no final. 

Déia Freitas: Desculpa qualquer coisa, um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Mico Meu é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.