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título: juliane
data de publicação: 16/10/2021
quadro: amor nas redes
hashtag: #juliane
personagens: juliane

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]. 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei para um Amor nas Redes, mas eu não estou aqui sozinha. Adivinha quem está comigo hoje? — Gente, Ipanema, meu publiiii. — Hoje eu estou aqui para falar para vocês da campanha “Ipanema Sempre Nova”. Sabe aquele impulso de começar alguma coisa? Aquela hora que você dá o primeiro passo, saca? Então, Ipanema contou a história de três brasileiros incríveis e inspiradoras lá no Instagram da marca, que é @sandaliasipanema. — Eu vou deixar aqui na descrição do episódio. —

Lá você encontra a história de três mulheres incríveis, a Marlene, interpretada pela Regina Casé, a Joelma, contada pela erika Januza e a história da Ero, vivida pela Ana Clara Lima e, por aqui no podcast Não Inviabilize você confere uma série inédita de histórias da campanha. — Que, gente, está babado, está fofo demais. — Hoje eu vou contar para vocês a história do primeiro passo da Juliane. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Em 1998 a Juliane estava ali no último ano do ensino médio, quando ela engravidou do namorado que ela tinha na época, e eles se casaram. E aí, assim, na família da Juliane ela era sim considerada a moça inteligente, que ia vencer ali na vida pelos estudos e, com a gravidez, isso mudou na vida dela. Ela teve que parar depois ali que ela terminou o ensino médio e não conseguiu dar seguimento, fazer uma faculdade que era o que ela queria fazer. Daí Juliane foi cuidar ali do bebezinho e, na época, não tinha assim creche disponível para ela e tal, e ela teve que parar também de trabalhar. Não podia ter um emprego e cuidar do bebezinho. Então o marido dela trabalhava e ela ficava em casa cuidando do bebezinho. 

O marido dela super parceiro também, trabalhador, ralava pra caramba, mas a vida era difícil, era só ali o salário dele pequeno para bancar tudo. E foi uma época muito complicada. Em 2004, a Juliane estava ali… — Infeliz, sabe? — Sabe quando você está perdida? Ela não tinha nenhuma oportunidade, o filhinho estava com cinco anos já, o marido ainda trabalhando bastante. — E aí o que ela fazia para ajudar ali na renda? — Durante a semana ela ficava com o bebezinho, que agora é um bebezinho de cinco anos e, durante o final de semana, o marido dela ficava com o bebezinho e a Juliane ia ser diarista, né? Ia trabalhar na casa das pessoas para conseguir ali complementar essa renda familiar. 

O Alexandre, que é o marido da Juliane, ele trabalhava numa distribuidora de livros. Então a Juliane tinha acesso a qualquer livro, gente. — Gratuitamente. —Então, assim, sabe quando tem os livros de divulgação, os livros que ficam ali em exposição e… — Sei lá, acabam danificados? — Ele podia ficar com esses livros, e ele levava para casa. E aí chegou uma época que eles tinham, sei lá, mais de 400 livros empilhados assim dentro de cômodas, armários, móveis da sala… Todo lugar que você olhava na casa da Juliane, tinha livros. E ela ia lendo. Porque, assim, ela não tinha como, naquela época, estudar. Então tudo o que aparecia na frente dela, tudo quanto era livro de tudo quanto era tema ela lia. 

Até que um dia um amigo, um amigão mesmo do Alexandre, marido da Juliane, convidou ele, convidou o casal para a festa de formatura, né? Esse cara aí ia se formar e ele falou: “pô, Alexandre, vai lá com a sua esposa, queria muito que você fosse e tal”. O Cara ia se formar em administração, e era uma festa super elegante, sabe? No salão mais chique de Belo Horizonte. E o Alexandre ficou mega animado pra ir. — Poxa, naquela vida dura que eles estavam levando, iam ser um refresco, né? Ia ser assim um evento bacana, um momento para se distrair e tal. — Só que tinha uma coisa, a Juliane ela não tinha uma roupa bacana assim, não tinha nem uma roupa boa, na verdade, pra usar. — Não tinha nada. —

E ela não tinha condição de comprar também, eles não tinham condição de comprar. E ela queria ir na festa, mas ela não tinha como se arrumar. Aí ela conversando com a mãe dela, a mãe dela falou: “Olha, eu posso ver…” — A mãe dela trabalhava numa casa, né? — Falou: “Olha, eu posso ver com a minha patroa se ela te empresta uma roupa, né?” E aí essa patroa emprestou uma roupa bonita para ela, uma prima dela emprestou o sapato e uma outra prima fez o cabelo e maquiagem dela. — Foi tipo uma produção, assim, coletiva, né? Pra ela ir nessa festa chique e se divertir um pouco. — 

E aí lá foram eles. O casal bonitoco assim, todos bem arrumadinhos, Alexandre e Juliane. Eles chegaram no salão e era assim, coisa de elite, elite, elite, elite… E a Juliana ficou deslumbrada assim, passada de ver aquela beleza toda, sabe? De estar participando daquilo. — E meio assim sem saber como agir também, né? — E, apesar dela estar ali se sentindo feliz, né? Numa festa bacana do amigo do marido dela, ela ainda se sentia mal. — Assim, por tudo que ela tinha pensado para a vida dela e não tinha rolado, enfim… Ela estava numa vibe interna assim meio pesada. —Só que aí na mesa que colocaram eles, o pessoal começou um assunto que era o livro Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, e o livro tinha acabado de ser lançado. Então assim, não era todo mundo que tinha lido, né? 

Só que Juliane tinha lido, porque o marido dela tinha trazido ali os livros danificados e ela tinha lido. E aí a Juliana engatou um assunto no outro, todos os livros que aquela mesa de formandos universitários tocava, em todo o tema, a Juliane acompanhava de boa… Então ela foi começando a se sentir bem. — Sabe quando você fala: “opa, tô linda, tô inteligente, tô aqui, tão interagindo? — E aí deu aquele start nela, ela falou: “Poxa, é isso que eu quero pra mim, eu quero me formar”. E aí a cerimônia foi super emocionante, né? Rolou ali umas homenagens, a Juliane ficou super emocionada de ver o cara com a família, todo mundo ali confraternizando e ela falou: “poxa, é isso que eu quero pra mim, eu quero me formar, quero minha família junto e tal”. Só que é assim, né, gente? Sem saber por onde começar, sem pensar em nada. 

Ela estava se sentindo muito bem ali na festa, né? E aí em um determinado momento ali na mesa, o pessoal começou a falar das profissões e alguém perguntou para Juliane: “e aí, o que você faz?”, né? E aí a Juliane falou, falou: “Ah, eu sou diarista”, e ela falou ali na mesa, falou: “eu sou faxineira, mas meu sonho sempre foi continuar os estudos, é que a gente não teve oportunidade e nã nã nã”, foi contando a história. E a mesa ficou meio que em choque. — Sabe quando rola um silêncio assim? — Todo mundo ficou, tipo, “poxa, né?” ela é diarista, ela sabe tanta coisa, está tão inteirado nos assuntos, enfim… — O pessoal ali, sei lá, também, né? — A Juliane acha que o espanto maior daquelas pessoas da mesa foi que eles imaginavam, pelo conhecimento dela, que ela estivesse ali na mesma classe econômica que eles, né? E foi um baque pra eles saberem ali que não. 

Enquanto ela falava tudo isso, gente, na mesa do lado tinha um professor. E aí esse professor chegou na Juliane e falou: “ai, desculpa, eu estou na mesa ali do lado e não pude deixar de ouvir você comentando aí sobre a sua vida e tal, você fala muito bem e nã nã nã… E, assim, você já ouviu falar num programa que o Governo lançou agora e tal, que se chama PROUNI?” e começou a falar um monte de coisa assim, de possibilidades que a Juliane nem imaginava. E aí a Juliane saiu ali daquela festa encantada, mas meio ressabiada, tipo, “não pode ser verdade o que esse professor me falou, será que eu vou conseguir fazer uma faculdade bacana de graça?” e aí ela no dia seguinte ficou pensando naquilo e falou: “eu vou procurar”. 

Só que ela não tinha internet, computador, não tinha nada. Então ela foi até a biblioteca, e lá ela conseguiu usar a internet, de graça e começou a procurar… E tinha uma moça lá que foi orientando e conseguiu uns endereços para ela. A Juliane descobriu que existia cursinho comunitário… — Coisa que também ela nem imaginava, né? Que existia… — E ela foi anotando todos os endereços, todos os caminhos, o que ela tinha que fazer… Daí ela chegou em casa empolgada, contou pro marido, ele deu a maior força, né? E ela começou a correr atrás. Ela tinha que fazer o Enem… Só que no dia que ela tinha que fazer o Enem, ela não tinha o dinheiro da passagem… E ela foi a pé, na chuva, fazer o Enem. 

E aí, gente, uma dureza, né? A vida dura. E ela conseguiu passar… Ela passou em quarto lugar em Comunicação Social na PUC de Minas Gerais e, assim, estudou, ganhou bolsa total pelo Prouni. Hoje a mãe dela não é mais doméstica, não trabalha mais na casa das pessoas, ela conseguiu aí dar esse apoio para a família. Ela está casada há 23 anos, tem dois filhinhos. — Dois bebezinhos. — E depois que ela se formou e tal, ela conseguiu mudar ali a vida financeira da família dela toda. — É aquilo que eu sempre falo, gente… A gente que vem dessa classe social, a gente quer estudar, trabalhar para ajudar a família da gente. Eu sempre falo isso para vocês. Eu sou dessas também. —

E aí ela falou assim pra mim: “ai, Déia, aquele dia eu fui fazer o Enem na chuva e hoje eu ando na chuva porque eu gosto. Então eu tenho essa opção aí de andar na chuva só porque eu quero. — E esse foi o primeiro passo da Juliane. Eu achei uma história incrível. A gente sabe que é muito difícil e, que ainda assim, muitos não conseguem, né? Mas eu estou feliz que ela deu esse passo e que ela trouxe essa história pra gente. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, oi, Déia, aqui quem fala é Milene, eu falo do Rio de Janeiro. Posso dizer que eu estou assim emocionada, que estou com meu coração feliz, aquecida após ouvir a história da Juliane. Juliane, você foi decidida, corajosa, obstinada, correu atrás, batalhou, acreditou naquilo que você queria… Estou te aplaudindo de pé. Você é sensacional, mana. Eu, como professora, estou em sala de aula há mais de 20 anos e eu fico muito feliz, muito orgulhosa quando eu escuto histórias em que a educação revolucionou a vida da pessoa e a vida da família da pessoa, como você fez. A gente professora, a gente acredita nesse poder revolucionário de educação e a gente quer uma educação de qualidade, acessível a todos, que várias vidas sejam transformadas como foi a sua. Parabéns, você é um grande exemplo. Muito obrigada, gente. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é Yasmin do extremo leste da cidade de São Paulo, eu também sou estudante pelo ProUni e minha mãe tem uma história bem parecida, mas ela não continuou os estudos… E essa historia foi tão inspiradora para mim que eu vou mostrar pra ela, pra que ela siga os passos da dona Juliane, quem sabe virar até minha colega de turma. Enfim, obrigado pela história. 

Déia Freitas: Eu espero que essa história aqueça aí o coraçãozinho de vocês, que inspire, né? Que essa história inspire vocês. E Ipanema Sempre Nova quero inspirar você a dar o primeiro passo. Eu vou deixar aqui na descrição o site da campanha, que é sandaliasipanema.com.br/semprenova. E o Insta é: @sandaliasipanema e tamo junto, Ipanema. Um beijo, gente e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.