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título: motoqueiro
data de publicação: 22/08/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #motoqueiro
personagens: mirella

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei, hoje eu cheguei para um Luz acesa. Eu vou contar para vocês a história da Mirella. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Mirella é uma médica que atende no setor de traumas de um hospital geral muito grande, [efeito sonoro de pessoas falando ao mesmo tempo] — hospital público — muito conhecido. E a Mirella, durante a pandemia, atuou na linha de frente… — Nossa heroína, maravilhosa. Não tenho nem palavras para agradecer aí o serviço dos médicos que atuaram na linha de frente, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, atendentes, pessoal da limpeza, enfim, né? Todas as pessoas envolvidas no processo. — E a Mirella, uma dessas pessoas, né? Trabalhou na linha de frente até as coisas assentarem um pouco e agora ela voltou para o setor dela, que é o setor de traumas. — Então, o que acontece? — Quando tem um acidente na rua ou, sei lá, acontece uma queda, um trabalhador que está num prédio, acontece uma queda, enfim, qualquer tipo de trauma — físico — você é socorrido ou, sei lá, por pessoas ali presentes ou pelo Samu e é levado para um hospital e você acaba ali no setor de traumas, né? Na emergência de traumas, que é a área da nossa amiga Mirella.

E aí um dia ela estava no plantão, — então, assim, tem outros plantonistas ali no trauma, na emergência — e ela estava no plantão. Chegou um acidentado, [efeito sonoro de maca sendo empurrada] era uma pessoa que tinha sofrido um acidente de motocicleta e ela chegou perto dessa pessoa, essa pessoa estava sendo, ele estava sendo reanimado e ela não tinha o que fazer ali, tipo, ele já estava sendo atendido por todo mundo e como não tinha mais nada no trauma, ela viu ali se tinha alguma coisa para fazer, e às vezes quando você está na emergência e que não tem ninguém ali no trauma, se você quiser, você pode ajudar numa outra área, enfim… Só que ela ficou por ali, ela estava super cansada, estava no final do plantão dela e ela ficou por ali vendo se algum colega precisava de alguma coisa e não conseguiram reanimar esse cara. 

Então aí os médicos deixam ali aquele corpo e é o pessoal da enfermagem ali, os auxiliares de enfermagem que fazem aquele trâmite de levar o corpo até área ali. — Que não é o IML, mas que fica ali para depois ir para um IML, ou enfim, pra ir pra uma funerária X, dependendo do que for. — No caso ali, como foi um caso de trauma com afundamento de crânio, enfim, e dava para emitir um laudo ali que seria um atestado de óbito, esse corpo não precisaria ir para o IML, ele poderia depois que localizar a família, ir direto do hospital para a funerária e fazer ali os trâmites e nã nã nã. Como a Mirella estava sentada ali naquela sala onde tinha acabado de acontecer aquele socorro, — e o cara não resistiu, ele chegou muito mal, não tinha muito o que se fazer e ele faleceu. — Ela ficou olhando ali tirar as coisas, né? Que você se você botou, sei lá, um eletrodo no corpo, qualquer coisa, aquilo tudo é retirado, né? Aquele corpo recebe uma documentação ali pra seguir pra outro lugar, pra liberar aquela sala.

E ela estava ali com uma preguiça esperando o plantão dela terminar, ela levantou, o cara estava lá, a roupa dele tinha sido cortada e tal, né? E ela achou que esse cara que estava na maca, abriu os olhos e olhou, assim, pra ela… — Diretamente pra ela. — Qual a primeira reação de um médico? “Pô, o cara voltou” e tinha só uma auxiliar ali de enfermagem na sala, fazendo as coisas que tinha que fazer. E a Mirella correu para o corpo e foi ver se tinha batimento e tal. E a auxiliar de enfermagem já olhou para ela assustada, assim, né? Tipo: “Mano, plantão de madrugada, você já está para vazar… O que você está fazendo?”, e aí ela foi ver se tinha algum sinal vital e nã nã nã e não tinha nada, o cara já estava morto, mas ela viu o cara abrir o olho. Ela foi para o vestiário, pegou as coisas dela pra ir embora, pra dormir, enfim, cansadassa, assim… Quando ela saiu do vestiário, que ela tinha que passar ali pelo corredor e tal, sair por trás para ir para o estacionamento e tal, ela viu este cara — o motoqueiro — em pé no corredor… E ele estava em pé no corredor, não parecia que ele estava perdido, desorientado, ele estava esperando alguém… [efeito sonoro de passos]

E, conforme ela entrou no corredor e ele viu a Mirella, ele foi direto na direção dela… A Mirella sem entender nada, porque assim, o cara parecia vivo, mas não tinha como ele estar vivo… Ele teve um sério afundamento de crânio, enfim… Dependendo do ângulo que você olhasse para ele, você perceberia isso. E ele veio vindo com as roupas todas rasgadas e sujas, assim… — Do acidente, né? — E quando chegou muito perto da Mirella, ele passou por ela… E, puts, a Mirella nunca tinha tido nenhum evento, assim, paranormal, né? E ela ficou meio sem acreditar, falou: “Não, tô muito cansada, tô muito cansada”, aí ela foi para o estacionamento, pegou o carro dela, [efeito sonoro de porta sendo aberta] entrou no carro dela e, do lado dela, do banco do carro, lá estava o motoqueiro… [efeito sonoro de tensão] 

A Mirella tomou um susto, desceu do carro, saiu correndo de volta para o hospital…Aí achou uns colegas lá e falou: “Mano, tem um cara no meu carro”, chamaram a segurança, o segurança foi lá ver e não tinha ninguém no carro dela… E ela estava muito atormentada. E o plantão dela, ela demoraria um dia para voltar lá, né? — Então deixar o carro dela lá era muito tempo para deixar, então tinha um outro colega dela que estava saindo também do plantão e que ia para casa de carro de aplicativo e falou: “Deixa que eu vou, eu dirijo para você e a gente vai até sua casa e, de lá, eu pego o carro de aplicativo” e assim foi feito, [efeito sonoro de carro dando partida] assim. Ela foi com ele, chegou na casa dela, ele pediu o Uber… Nem ficou, ficou só na calçada do prédio, ela entrou na garagem e tal com o carro e o cara foi embora, esse colega dela, médico… E aí ela entrou na casa dela, nada aconteceu, ela dormiu e nã nã nã.

No dia seguinte não tinha nada pra fazer, à noite só que ela ia assumir o plantão e tal, e aí quando ela estava chegando no hospital, que ela foi de carro, né? [efeito sonoro de freio de mão sendo puxado] e que ela chegou no estacionamento e deixou o carro, assim que ela saiu… — O hospital tem uma área verde muito grande, o estacionamento está nessa área verde. — Então quando ela saiu do carro, que ela foi andando e tal, tinha um chafariz ali, umas coisas, quem estava ali perto daquele chafariz? O motoqueiro… [efeito sonoro de tensão] E aí quando ele viu a Mirella, ele correu de novo e tentando… — A gente não sabe o que ele tá tentando. — Mas agora ele já estava bravo. Ele já estava bravo, ele veio pra cima da Mirella… A Mirella se encolheu e nada aconteceu, assim, né? Ela não sentiu nenhum tapa, nada… Mas o cara estava bravo. Ela saiu correndo e entrou no hospital… Durante o plantão dela, ela viu esse cara ainda duas vezes e foi um plantão muito corrido, teve um acidente grande, enfim… Ela não teve muito tempo pra ficar parada, mas toda vez que ela tinha um tempo, esse cara estava lá. Isso já tem uns meses… 

Esse cara não vai pra casa da Mirella, mas esse cara está no hospital, esse motoqueiro. E a Mirella não sabe se outras pessoas também já viram esse cara, ela não tem coragem de comentar com ninguém, mas ele tá lá… E às vezes ela está atendendo numa sala e ela vê ele passar, tipo, ele não viu que ela estava ali… A Mirella diz que não parece que ele está só atrás dela, que ele está perseguindo ela ou algo assim, não, ele está no hospital e ele percebe que a Mirella consegue vê-lo, então ele tenta um contato. Só que agora ele está mais agressivo, está ficando mais assustador do que já era. Ele perdeu aquele ar de “onde estou?”, agora ele já está bravo… Então a Mirella não sabe o que fazer, ela é uma pessoa que não tem religião, que não acredita em nada, enfim… — Tamo junto, Mirella… — Mas ela tá vendo, não tem como ser outra coisa, sabe? E o cara tá ficando mais bravo… E a Mirella disse que não sabe como isso é possível… — Porque, assim, pensa: A pessoa sofreu um acidente e rolou ali no asfalto e tal, ficou suja… — Ele está ficando mais sujo. Ele está mais sujo…   — Como que acontece isso se ele não tem corpo? Como que ele está mais sujo? —

E aí ele está ficando mais assustador e mais bravo. Então essa é a história da Mirella, tá rolando… Tem dia que ela vê ele muito, tem dia que ela vê ele menos, mas é sempre lá no hospital. Ainda bem que ele não foi para casa, né? No carro também ela não vê mais, mas quando, por exemplo, ela está saindo e ela vê que ele está por ali, ela dá um tempo, porque se ele cruzar o olhar com a Mirella, ele vai atrás… Aí vai até o carro mesmo. Gente, socorro… Ela nunca viu nada, nunca viu ninguém antes… Já pegou muitos casos de trauma, já pegou muitos óbitos e é o trabalho dela, né? Então… E esse é a primeira vez, esse motoqueiro… Ela não teve nenhuma ligação com ele, não chegou a vê-lo vivo, né? Quando ele chegou, ele chegou com vida no hospital, mas já estava bem mal e ela nem chegou nessa parte… — Quando ela entrou na sala, já estavam tentando ressuscitar, o cara já tinha morrido. — Então é isso, gente, deixem aí suas mensagens pra Mirela o que ela pode fazer, o que é isso. E, sei lá, o que é, esse cara tá perdido? Por que ele está bravo? Por que ele está ficando mais sujo? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Mirella, aqui é a Tainá, sou de Caruaru, Pernambuco. E o que eu sugiro a você é procurar um centro espírita. Apesar de você não ter uma religião, de não seguir uma religião, enfim, fica claro que é o espírito que está ali perdido. Ele, de repente, não sabe o que aconteceu e ele está com raiva, não está entendendo… E muitas vezes, de acordo com o espiritismo, ele tá ficando mais sujo, ele pode estar em um lugar que não é bom… Ele pode estar realmente precisando de uma luz ali, de uma ajuda… Então, se você tiver como procurar algum espírita que possa lhe direcionar, um centro espírita e realmente orar por essa alma, pra que ele siga o caminho dele. 

Assinante 2: Oi, Mirella, aqui é a Letícia, de São Paulo. Ele provavelmente não sabe que morreu ou sabe e não sabe o que fazer em seguida. E eu acho que, nesse momento, a melhor coisa que você pode fazer é orar por ele, né? E procurar um centro espírita ou alguma outra doutrina, religião aí que consiga lidar com esses espíritos que estão perdidos. E ele provavelmente vê e corre atrás de você porque ele sabe que você consegue fazer isso por ele, né? Ele não consegue fazer isso sozinho e ele sabe que você o vê, então ele vê uma esperança em você, eu imagino. E enfim, eu acho que é isso. Um beijo e que isso pare logo. 

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.