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título: namastreta
data de publicação: 28/09/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #namastreta
personagens: marina e o cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão, a história da Marina e de um cara que eu não quero nem dar nome, porque não merece nome esse cara. E a Marina, uma menina super fofa, super engajada nas redes sociais no tema gordofobia, então ela tem um bom engajamento, fala sobre… E em todos os perfis dela a única coisa que tá escrito lá é: “gorda” (ponto), só isso que está escrito lá e ela falou para mim: “Déia, isso me basta”. 

E aí tudo bem, ela super engajada nas redes e, na vida fora da internet, a Marina faz yoga. E aí tá lá, lindona, plena, na aula de yoga e aí chegou um cara lá para começar a participar das aulas. E um cara super bonito, super good vibes, super gratiluz… — Manja? Um estilão gratiluz? Então — E aí eles começaram a conversar e ficaram mais próximos, ele dando uma super força para ela, né?  No lance dos temas que ela defende, e ele “Não, é isso mesmo, precisa se aceitar, você é linda do jeito que você é, nã nã nã”, aquela conversa.

E aí ela foi gostando dele, aparentemente ele foi gostando dela e a coisa rolou. Eles começaram a ficar juntos e bem juntos assim, ela fazia yoga duas vezes por semana, mas fora isso eles sempre se viam, assim, eles estavam juntos praticamente todo dia, moravam relativamente perto, então almoçavam juntos, às vezes, jantavam juntos e voltavam da aula juntos de yoga, e nã nã nã, e coisa vai, coisa vem… Um dia eles foram numa sorveteria e a Marina tirou uma foto deles, assim: um do lado do outro, ela com uma mão assim “selfie” e com outro dedinho fazendo o número dois assim, tipo foto de selfie mesmo, do lado dele. Uma foto que, gente, podia ser amigo, podia ser qualquer coisa e ela não escreveu nada de namoro, ela colocou dois emojis de sorvetinho, super de boa, né? Vocês não acham? — Eu acho super de boa. —

Mas o cara surtou, o cara disse que ela devia ter pedido permissão para postar uma foto dele porque (abre aspas) “o nosso corpo é o nosso templo” (fecha aspas), [risos] e que ele se sentiu invadido, que o “templo” dele foi invadido, — Ai, gente, olha, me poupe — e fez que fez até ela apagar a foto. E ela ficou com aquilo na cabeça “Poxa, dei mancada, né? Eu fui invasiva com o cara”, ela ficou super culpada, ele fez um jeito que ela sentiu muito culpada. Por uma coisa, gente, banal… Mas tudo bem, direito de imagem, direito do cara. Ela apagou a foto. E ele juntos sempre juntos… Até que um dia eles foram num lugar aí novo almoçar, e era assim, era… Não era vegano o lugar, era comida mais natural assim, você podia comer à vontade, você pagava, sei lá, 30 reais e podia comer à vontade. 

E aí quando eles chegaram, pegaram a comanda e já estavam indo pegar prato e tal, ele virou para ela e falou assim: “Olha, é para comer à vontade, mas não é o seu à vontade”. — Oi? —Ela virou pra ele e falou: “Quê?”, ele: “É, não, tô brincando, vê se não exagera”. Primeira vez que ele falou alguma coisa sobre comida. E aí assim, né, ela ficou meio tensa, mas falou: “Poxa, estava brincando, né? Só que ele fez uma brincadeira de mau gosto”, e aí ela fez o prato dela, ela nunca foi de comer horrores, e fez o prato dela normal, comeu, passou.

Uma outra vez eles foram pedir pizza e, até então eles sempre pediam pizza, sempre comiam pizza, aí ele falou para ela assim: “Ah, é melhor a gente fazer uma salada”, ela falou: “Não, gente, hoje é sábado, vamos comer uma pizza”, aí ele sentou com ela, falou: “Vem cá, a gente precisa conversar”, ela falou: “Nossa, ele vai terminar comigo”, aí ele falou assim para ela: “Olha, eu sei que você gosta de você, que você gosta do seu corpo, mas você tá muito gorda”, aí ela olhou para ele, e assim, ela não tinha nem emagrecido, nem engordado desde quando conheceu ele, então quer dizer, ele conheceu ela daquele jeito.

Aí ela falou para ele assim, falou: “Ué, eu tô igual, tô igual sempre”, aí ele veio com papinho, gente, de que quando ele conheceu ela na yoga, ele achou que ela fizesse mais atividade física e que ela fosse emagrecer, que ele começou a namorar com ela porque achou que ela fosse emagrecer, que ela tem um rosto muito bonito e que já estava na hora… Aquele papo furado que ela estava se matando, que isso não era gostar de si mesmo, veio de novo com aquele papo do corpo é o nosso templo, groselhada, falando, falando, falando… Ela ficou super mal, afinal, ela está engajada nessa causa, né, da gordofobia, das pessoas não enxergarem ela só como um corpo gordo. E nossa, né, isso acabou com ela, ela foi embora e, graças a Deus, ela terminou com ele.

Chegou em casa, escreveu um e-mail, falou tudo que ela pensava e terminou com esse Zé Mané, ótimo, né? Só que ela tinha yoga ainda e ela estava muito machucada, então ela falou: “Bom, vou parar de fazer yoga lá, qualquer coisa procuro outro lugar, não quero mais contato” e fez o certo, eu faria a mesma coisa. Não fosse por um detalhe, esse cara começou a falar com as amigas dela que ela estava comendo demais, que ela era um ser humano tóxico — Esse Zé Ruela começou a falar que ela era um ser humano tóxico — e começou a comentar nas postagens dela do Facebook que ela fazia sobre gordofobia, e que é uma página então você precisar bloquear o usuário pra ele não escrever, então ela teve que bloquear ele.

E o cara paralelo a isso, com os textos super assim contra assédio, coisa da luz, da meditação — isso é a pataquada — e ela foi ficando muito, muito, muito brava com esse Zé Mané. — Eu também ficaria. — E aí ele do nada mandou um e-mail para ela dizendo assim: “Olha, eu tentei muito ficar longe de você, mas eu não tô conseguindo. Eu gosto de você, eu falei essas coisas para chamar sua atenção porque eu sei que você se importa mais com a sua causa do que comigo” — Ai, gente, olha o papinho — E falou, falou tanto que ela caiu na dele e voltaram. — Por que voltaram, gente? Mas voltaram. —

E aí mais uns meses juntos… — Ai, aquela coisa que eu sempre falo: Por que vocês não usam camisinha, gente? Sério, por quê? Meu coração chega a partir, ó. Eu escuto o meu coração rachando, sabe? Usa camisinha… — Não usaram camisinha, nossa amiga ficou grávida. Esse cara surtou, ele falou que ela grávida ela ia pesar trezentos quilos, palavras dele: “Porque você vai pesar trezentos quilos, você vai virar um elefante. Eu não quero ter um filho com problema de saúde…” Olha, ele falou tanto, mas tanto, tanto, ela passou tanto nervoso que com dois meses ela perdeu a criança.

E aí ele começou a falar que ela perdeu a criança porque ela estava muito gorda, quer dizer, ela voltou com ele pra coisa ser pior, e aí ela falou que ela ia terminar de novo e ela já estava arrasada, né, perdeu aquela gestação… E ele começou a chorar “Eu te amo, mas eu quero que você emagreça” — Eu te amo, mas eu quero que você emagreça? Gente, olha a construção dessa frase: Eu te amo, mas eu quero que você emagreça? —, mas ela foi firme e terminou. Mais um tempo, mais um sofrimento, mais não sei o quê, esse Zé Mané fez uma música para ela — Todo fofinho como se ele não fosse um cara abusivo. —

E aí todo mundo em volta, as pessoas… Até aí eles já tinham vários amigos em comum, acharam maravilhoso, fofinho, e ela falou: “Meu, não quero música para mim, tira o meu nome dessa merda, não quero, te odeio.” — Com toda razão. — E ela ficou como a bruxa da parada. O tempo todo ele fala que ele tentou, que ele fez o máximo para fazer ela feliz e que ela não quis. Como é que é que ele falou? Que ela não… Não percebe o tanto que ele é apaixonado por ela e que por isso que ele quer o bem dela, nã nã nã — Sério, sério mesmo? —

E agora tá assim, os amigos que eles têm em comum assim, até algumas amigas dela achando fofinho, porque ele já fez essa música, depois ele, que ele, né, cisma que ele sabe pintar quadro. Eu vi, ela me mostrou lá o que ele fez, achei uma bosta, mas tudo bem, não entendo nada de arte, né? E aí fez um quadro para ela e vive fazendo várias declarações no Facebook. Meu, ela já tá cansada de falar, só que assim, o assédio que ele tá fazendo é o assédio fofinho, né? O “assédio de pelúcia”, porque ele faz coisas aparentemente “legais”. — Porque eu acho tudo péssimo. — E ele fala que é porque ele quer o bem dela, porque ele quer ela de volta, e ela já falou que não vai voltar, ela já sofreu, já desencanou, não quer mais, odeia ele. E ele fica fazendo essas coisas, como se ele fosse o melhor ser humano da face da Terra e ela fosse uma bruxa.  

E aí ela queria contar a história para vocês, ela não precisa nem de conselho, ela falou que ela já sabe que ela tem que ficar longe dessa peste, e ela bloqueia, bloqueia, bloqueia, mas sempre tem alguém para falar: “Ai, você viu o que Fulano fez para você? Que lindo. Ai, dá uma chance para ele”, sabe assim? Então, olha… Ai, me deu até gastura. Então é isso, a história de hoje é essa, eu odeio esses caras Namastê falso, fake Namastê. Amanhã eu volto mais calma. Beijo e até amanhã.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.