título: nervoso
data de publicação: 28/08/2025
quadro: picolé de limão
hashtag: #nervoso
personagens: carla
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje de novo é o Magalu, comprometido no combate à violência contra a mulher, o Magalu possui ações sólidas em uma única posição: em briga de marido e mulher a gente mete a colher sim. O combate à violência é uma responsabilidade coletiva. Amigos, familiares, colegas, homens e mulheres devem entender que a luta não é só da mulher que sofre, é de quem vê, é de quem sabe e é de quem pode ajudar. 75% das brasileiras conhecem pouco ou nada dos seus direitos em caso de violência doméstica. Pra ajudar a mudar esse cenário, o Magalu tem uma ferramenta de conscientização dentro do aplicativo: o Violentômetro, que ajuda a identificar os diversos sinais dos cinco tipos de violências previstos em lei: violência psicológica, violência moral, violência patrimonial, violência sexual e violência física.
E também como elas evoluem até o acontecimento mais drástico, que é o feminicídio. Para acessar o Violentômetro, entre no aplicativo do Magalu. O combate à violência contra a mulher é uma luta de todos nós, #EuMetoAColherSim. — Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio, junto com o passo a passo pra você encontrar aí o Violentômetro. — E hoje eu vou contar pra vocês a história da Carla, essa história pode ativar aí alguns gatilhos em relação à violência, violência doméstica, então fiquem atentos. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]
Carla tem 34 anos e está noiva de um cara que tem 36. Eles se dão muito bem, eles estão juntos há quase quatro anos, vai fazer um ano que eles estão noivos e o namoro sempre foi assim, bem ok. A única questão pra Carla é que ela diz que o namorado dela é meio bravo. — Como “bravo”? — Ele tem um filho de um relacionamento anterior, ele é muito rígido com o menino… Ele é bravo com a família dele. — Até então, nunca tinha mostrado nenhuma atitude violenta, mas sabe gente brava? Ele era e ele é ainda um cara muito bravo. — Como a Carla, ele nunca foi bravo, ele sempre foi muito carinhoso, inclusive… Então, ela sempre percebeu essa questão fora do relacionamento dela, mas dele interagindo com outras pessoas. Então, um exemplo aqui: foram a um restaurante, ele tinha feito reserva… Chegou lá estava esperando muito tempo e ele ficou muito bravo. Não é de gritar, não é de bater nas coisas e, nesse dia, do gerente, ele só foi conversar firme com o gerente, muito bravo.
E a Carla falou: ‘Vamos embora, não precisa ficar aqui e tal” e eles acabaram realmente indo embora. — Então, o que a Carla trouxe pra mim é que ele é muito bravo. — Recentemente eles marcaram a data de casamento deles para o começo do ano que vem… Calhou de agora, no final do ano, teve um corte lá na empresa da Carla e uma galera foi mandada embora, inclusive a Carla. A Carla esperou passar as festas e tal e no começo de fevereiro, ela começou a preencher umas fichas pra vagas… — Nem é “ficha”, mais né, gente? [risos] Sou muito antiga. — E aí ele ficou bravo, falou sério com ela que ele já tinha falado que agora que eles vão casar, ela não precisa trabalhar porque ele é o provedor de tudo. Carla disse que não, que ela queria trabalhar, que ela não ia parar de trabalhar, que ela gostava de ter o dinheiro dela e tal.
Nesse dia, ele insistiu muito e ela falou: “Ah, tá bom, depois a gente vê isso” e ele provavelmente achou que ela tinha desistido de procurar um trabalho, mas a Carla não desistiu… Ela continuou aplicando aí para algumas vagas, até que ela recebeu um telefonema, era uma moça ligando sobre uma vaga que ela tinha se interessado, que ela tinha entrado em contato e preenchido lá as coisas e a moça estava chamando a Carla para uma entrevista. E aí a Carla falou ali e tal, e ele percebeu o que era, quando a Carla desligou o telefone, ele ficou bravo. Só que dessa vez ele ficou tão bravo que ele socou várias paredes. — Gente, isso é um alerta, isso é um sinal vermelhíssimo. — Carla achou que aquilo não era pra ela, que ele devia estar bravo com mais coisas e por isso que foi uma reação tão exagerada. E a Carla firmou ali o pé dizendo que ia sim na entrevista e que, se desse certo, ela ia trabalhar.
Parece que nesse dia que ele socou a parede, abriu uma porteira… Qualquer coisa agora que acontecia, ele ficava violento. Nunca com a Carla, mas com objetos… Teve um dia que ele levou o carro dele lá pra fazer alguma coisa de conserto e o cara lá da funilaria ligou pra ele, dizendo: “Olha, vai ter que tirar a porta”, ele tinha que pagar uma coisa a mais, aí ele falou: “Não, cara, mas eu já falei pra você fazer desse jeito”, “desse jeito não dá pra fazer, se você não quer fazer inteiro então você vem aqui e retira o carro porque do jeito que você quer, a gente não vai fazer”, para o cara da funilaria, ele falou: “Tudo bem, pode fazer” e, conforme ele desligou o celular, ele pegou um abajur, umas coisas que estavam ali na sala e quebrou, tacou no chão, socou a parede, gritando de ódio. Carla tava lá falando: “Calma, calma” e ele xingando o cara da funilaria. Mas, para o cara da funilaria, ele foi apenas bravo, assim, falou sério, firme… — Mas não deu aquele defeito que ele deu, quebrando as coisas. —
A Carla passou na entrevista e ficou com medo de contar pra ele que ia começar a trabalhar… — Então, aí, gente, aqui a gente tem um outro sinal: quando você tem medo de contar alguma coisa pro cara que tá com você, porque você acha que ele vai ter uma atitude violenta, você sim já está num relacionamento abusivo e que você corre perigo, né? Porque ela ficou com medo de contar, mas ela tinha que contar pra ele. — Eles jantaram… Ela falou que fora esses ataques que ele tem, ele é muito carinhoso com ela, ele é muito… Vou usar a palavra que ela usou: “fofo”. Ele estava lavando a louça, porque ele é este cara que lava a louça após o jantar, aproveitou que ele estava ali lavando a louça e falou pra ele que ela tinha passado e que ela ia começar a trabalhar na segunda—feira. Ele quebrou um prato e começou a bater na pia ali falando: “Eu já falei que você não precisa que não sei o quê”.
Em nenhum momento ele se vira pra Carla ou ele vai em direção da Carla pra ser agressivo, mas ele é agressivo com coisas. E isso começou a incomodar muito a Carla… Ela conversou com algumas amigas, as amigas falaram pra ela a mesma coisa que eu falei: “Olha, precisa tomar cuidado, porque isso é um sinal… Enquanto vocês só namoravam, ele não tinha nenhum sinal de nada, agora que vocês são noivos ele já está esmurrando parede, quebrando prato, quebrando coisas dentro de casa… Qual é o próximo passo?”, Carla acha que ele jamais agrediria ela, porque ele nunca fez nem menção, assim, que ele é muito fofo com ela, muito carinhoso, e só nessas horas que ele fica nervoso que ele desconta em objetos e tal. Ela já até teve essa conversa com ele e ele ficou ofendidíssimo, falou: “Eu jamais faria qualquer coisa com você, você está pensando isso de mim” e falou que ele até chorou.
Eu recebo casos aqui no podcast de mulheres que apanham e apanharam do marido e toda vez depois que ele espancava a mulher, ele chorava. Então, eu acho que o choro não é bem um indício de que isso não vai acontecer. O casamento está marcado para o começo do ano que vem, eles vão começar a fazer as coisas porque você tem que fazer tudo com muita antecedência e, ao mesmo tempo que ela quer, porque ela ama esse cara e ele é muito carinhoso, ele é um cara excelente com ela, ela está com medo. E aí eu falei pra Carla: “Você tem medo dele? Tem medo de contar as coisas pra ele? Tá com medo de contar pra sua família que ele faz essas coisas… Então, é um relacionamento bacana?”, não é um relacionamento bacana, gente, sabe? Ser carinhoso em momentos que tá tudo bem é fácil, né? A Carla diz que ama muito ele, que seria uma decisão muito difícil pra ela, mas ela tá começando a ficar com medo.
Aí a sugestão que eu dei, porque assim, todo mundo já sabe que eu ia falar: termina. Além disso, é que se ela for terminar com ele, que ela faça isso à distância. Tem gente que diz: “Ai, mas que insensível terminar por telefone ou sei lá”, mas no caso dela e no caso desse cara apresentando esse nível de violência, nunca com ela, mas a gente não sabe na hora que ela falar que vai terminar. Então, caso você decida terminar, primeiro conta tudo pra sua família… Eu acho que esse tipo de coisa a gente não pode esconder, quanto mais gente ficar sabendo, melhor. Se organiza, vai pra casa da sua família e daí você liga pra ele e fala que não quer mais, caso você vá fazer isso, né? Mas a Carla tá muito esperançosa que ela consiga, por exemplo, que ele vá fazer uma terapia e trate essa questão da raiva que ele tem, né? De tudo, de ser muito bravo, em terapia e que fique tudo bem, mas eu não sou a pessoa pra dizer “aposta nisso”, sabe? Eu não vejo esse relacionamento com bons olhos no futuro, né?
O cara, por enquanto, que tá socando porta quebrando coisa, ele tem muita, muita, muita questão com ela trabalhar. Então, e depois que casa? Será que ele não vai complicar a vida dela em relação ao trabalho? Então, não sei, gente, pra mim é não… O que vocês acham?
[trilha]
Assinante 1: Oi, Déia, oi, nãoinviabilizers, aqui é a Sheila, faloude Ilhéus, Bahia. Carla, termina… Hoje, o soco é na parede, hoje quebrar é um prato, amanhã é em você. Infelizmente, falo pela própria história de vida, a violência doméstica ela manda aviso. É proibição, é agressão nas coisas, até chegar nos nossos corpos, e infelizmente, o último estágio é realmente a morte. Se tem uma coisa que eu aprendi nesse podcast, é isso: dor de amor dá e passa. Você não pode esperar o pior acontecer, porque, infelizmente, não dá pra contar a sorte. Fica bem, se cuida e faça a análise direitinho, tá?
Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, eu sou a Débora de Campinas. Carla, toma bastante cuidado mesmo, isso aconteceu comigo… A pessoa muito gentil e, aí, brava com os outros, depois escalou pra bravo com os objetos e a gente continuou junto, a gente teve um filho juntos, até que pra me impedir de sair, ele me jogou contra uma porta de vidro e quebrou a porta de vidro… A pessoa quando ela começa a ser agressiva com o entorno, pra ela ser com você é só uma questão de tempo. Isso faz muitos anos, mas essa me marcou demais, interferiu nos relacionamentos seguintes todos. Então, toma bastante cuidado, coloque—se em primeiro lugar. Essa coisa de desmarcar casamento não tem problema algum, as pessoas entendem… E o principal é você.
[trilha]
Déia Freitas: O compromisso do Magalu com as mulheres do Brasil é inegociável. Pra isso, é preciso conscientizar a todos e estabelecer também uma rede de apoio coletiva. O combate à violência contra a mulher é uma responsabilidade não só da mulher que sofre, mas de quem vê, de quem sabe e de quem pode ajudar. Você sabe aí identificar os sinais da violência? Eles nem sempre deixam marcas visíveis e agora, no Agosto Lilás, o Magalu te convida a conhecer o Violentômetro, pra você saber aí como identificar os tipos de violência. — Gente, essa é uma luta de todos nós. — O Magalu tem uma hashtag: #EuMetoAColherSim. Ligue ou fale pelo WhatsApp no 180 para orientações e direcionamento e 190, gente, liga pra polícia pra situações aí de emergência, né? Ou se você presenciar um ato de violência… — Valeu, Magalu, tamo junto nessa luta. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
