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título: o legalzão
data de publicação: 22/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #legalzao
personagens: marluce e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, mais uma vez aqui em parceria com a Johnson & Johnson. [efeito sonoro de crianças contentes] — Meu publi. — E a Johnson & Johnson me convidou para uma campanha muito massa sobre saúde mental e eu sugeri que a gente contasse histórias de mulheres que já foram tiradas aí como malucas, né? — Em algum momento da vida. — Você pode voltar o feed aqui e acompanhar as outras duas histórias que eu já contei da Jamile e da Fabiane. E hoje eu vou contar a última história da nossa trilogia, onde as protagonistas não estão malucas, mas que, de alguma forma, tiveram a sua paz de espírito e saúde mental afetadas pela interação aí com pessoas péssimas. Hoje eu vou contar para vocês a história da Marluce, infelizmente é mais uma história de relacionamento amoroso recheado com aquele combo do adoecimento mental que a gente já conhece tão bem aqui no Picolé de Limão. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Marluce estava em um relacionamento ruim aí de cinco anos… — Prestes a terminar, mas sabe quando você fica naquelas “ai, será que termino? Será que não termino? Está tudo muito ruim”. Ela fazia faculdade e, na faculdade, ela conheceu um cara muito, muito, muito legal, que via como o relacionamento dela era ruim… Esse cara era muito gentil, o cara que tinha uma escuta ali com ela, sabe? Então ela reclamava do namorado, esse cara estava sempre ali para acolher, para dar uma palavra de amizade, de consolo. — Um cara realmente muito, muito, muito legal, né? Gentil… E a ponto até de abrir a porta do carro para Marluce, né? O cara era um cavalheiro incrível ali da turma dela de faculdade. — 

Esse namorado da Marluce ele era um pouco mais velho que ela. — Dez anos é bastante, né? — Ele era mais velho que ela, ela estava ali na casa dos 20 e esse cara já estava na casa dos 30 e esse outro cara legalzão ele era da faixa etária dela. Então ela ficou realmente encantada e, com o apoio desse cara, ela conseguiu sair desse relacionamento amoroso ruim que ela tinha. Então, aí ela não engatou logo de vez um relacionamento com esse cara legalzão, eles ficaram bem amigos, né? Então ele era um cara super compreensivo, super alto astral… — Um cara, olha… Maravilhoso… — 

E aí depois de um tempinho, o inevitável aconteceu… Ela engatou um namoro com o legalzão e tudo ia muito bem. — Muito bem mesmo. — Até que um dia ele teve ali uma fala machista e ela, muito de boa, foi falar pra ele: “Olha, isso que você está falando e tal é um pouco machista e nã nã nã”. — Conversando, gente… Assim, sabe? Muito de boa. — E aí esse cara ficou ofendidíssimo, disse que era a opinião dele… E ele conseguiu dar uma volta naquele debate de uma maneira, que acabou a Marluce pedindo desculpas para ele. — Então ele que teve uma fala ali machista, bem problemática e, no final, a Marluce acabou pedindo desculpas para ele por, sei lá, né? Tentar aí proibir ou mudar um pensamento que ele tinha e nã nã nã… Ele conseguiu fazer com que ela se sentisse muito mal e muito culpada. — 

Então ele continuava sendo legalzão e agora ela que tinha ali pisada na bola com ele, né? E aí sempre que na relação tinha um ponto de discordância, ele fazia o assunto render horas até que ela se desse por cansada e concordasse com ele e pedisse desculpas. — E não era assim de um jeito agressivo, era um jeito como se ele estivesse ajudando ela a perceber onde estava o erro dela. — E uma vez eles no ônibus tiveram uma discussão boba… — Assim, sobre praticamente nada. — E esse cara, do nada, deu um soco na mochila dela. — Não deu um soco nela, deu um soco na mochila dela… — Que até as pessoas no ônibus ficaram assustadas. 

E aí ela ficou quieta, mas ela pensou: “Nossa, esse soco será que era para mim e não para a mochila?” e numa outra discussão que eles estiveram na faculdade, ele falou: “Eu queria ter uma parede agora para socar de tanta raiva que eu tô”. E aí ela confrontou, falou: “Você queria uma parede para socar por quê? Por que você queria me socar?”, e aí este cara, meu Deus, ele ficou muito ofendido… [efeito sonoro de voz grossa] “Onde já se viu? Eu jamais encostaria a mão em você”, que isso, que aquilo e falou, falou por horas… Até que ela pedisse desculpas pra ele, né? — Dessa situação. — 

Acontece que uns dias depois ali na rua dele, ele presenciou uma briga de um casal onde o cara socou o carro… E ele pode ver o quanto isso pode ser ameaçador para uma mulher, né? — Porque tudo bem, o cara não socou ela, mas socou o carro… — E ele que chamou a polícia para esse casal, e aí ele caiu em si dessa situação e acabou pedindo desculpas para ela. Ela perdoou, né? Desculpou, mas ele também fez de um jeito assim, tipo: “Olha, percebi meu erro e nã nã nã”, e a coisa meio que ficou por isso mesmo. Um dia, ele conversando com uma moça ali da faculdade… — E uma coisa que é importante deixar aqui registrado… — Quando ela ainda não namorava com ele, ele era um cara tão gentil, tão bonzinho, tão legalzão… E ele tirava muitas fotos dela com o celular dele e mandava para ela. — Com legendas, assim, falando que ela era linda, colocando ela lá em cima… — 

E um dia na faculdade ela viu que ele estava tirando fotos de uma moça lá da turma dele da faculdade. E ela ficou insegura… — Porque, poxa, era isso que ele fazia com ela no começo, né? — E ela foi perguntar quem era essa moça, de onde era essa moça e aí o cara já ficou ofendido, tipo: “Ah, eu não posso ter minhas amigas? Eu não posso isso? Não posso aquilo?”, só que ali ele percebeu que ela ficava com ciúmes dele. — Ficava insegura um pouco diante desse tipo de atitude dele. — E o que ele fez? — Em vez de conversar, explicar, deixar ela mais tranquila em relação a isso para ela não ficar ansiosa, ele fez o contrário. — Ele passou a contar para ela de mulheres e do que ele fazia para gerar mais ciúme nela e mais insegurança. 

Então, ele criou um padrão, falava de uma prima dele, falava dessa moça e fazia de um jeito pra parecer… Ele não falava tipo: “Ah, eu tenho uma amiga e nã nã nã”, não, ele falava já de um jeito pra deixar subentendido que: “Ah, será? Será que sim? Será que não?”, só pra ela realmente ficar ansiosa e nervosa. E aí quando ela questionava ele sobre alguma dessas moças, ele falava: “Você tá louca, você tá vendo coisa onde não existe”. E aí ela ficou tão… — Assim, será mesmo que eu tô louca? Será que eu tô com algum problema? — E ela foi procurar terapia… E aí na terapia ela descobriu as questões que ela tinha com ansiedade e começou a melhorar algumas respostas, alguns comportamentos que ela tinha, algumas reações que ela tinha com ele. 

E aí conforme… — E isso acontece muito em terapia, né? Quando você está em um relacionamento abusivo, que você começa a terapia, a outra pessoa que é a pessoa que abusa na relação, ela começa a minar a sua terapia. — Então esse cara começou a falar para ela que, nossa, quando ela entrou na terapia, agora que ela está fazendo terapia, ela piorou muito… Ela piorou muito e que olha… “Ih, você não tem conserto, não. Você está mais louca agora”. — Palavras dele, né? — [efeito sonoro de voz grossa] “Você está mais louca agora que você tá fazendo terapia, isso não tá te ajudando, não, tá te prejudicando”. Então essa era a fala dele em relação à terapia. 

Ele chegou a dizer para Marluce que: “Agora que você está fazendo terapia, você está ainda mais surtada”, [efeito sonoro de voz grossa] “Já era surtada, agora com a terapia então… Você ficou ainda mais surtada”. E aí esse cara começou a fazer coisas também assim, ó… Ele marcava alguma coisa ou queria alguma coisa dela e ela falava que não, ele falava: “Ué, mas você me falou, você me prometeu”. — E ela tinha certeza que ela não tinha falado, não tinha prometido, né? — E aí ela falava: “Não, não falei, não prometi” e ele: “Falou sim, você prometeu sim, é você que não lembra. Você que tá louca… Você não lembra? Você me falou tal coisa”. Então ele fazia isso com ela constantemente… 

Quando ele queria alguma coisa que ele achava, sei lá, que ela não ia fazer, ele falava: “Mas você me prometeu, você falou sim”. Então já colocando ela nesse campo de maluca e de “olha, não pode confiar… Você mesma não pode confiar nas coisas que você fala”. E aí ele vendo que na terapia ela estava tendo ali uma evolução, ele um dia falou pra ela assim: [efeito sonoro de voz grossa] “Olha, eu não vou ficar aí aguentando muito tempo você dando desses chiliques de ansiedade”. — Palavras dele… — E ele disse assim: “Olha, eu não estou acostumado a lidar com gente com doença mental. Você me fez lidar com isso, com algo novo e eu estou cansado. É isso, não tô aguentando mais os seus chiliques”. 

E aí a Marluce falou pra ele: “Então tá bom, então vamos terminar”. E aí ele falou: “Não, não… Eu não quero terminar, não, só estou te avisando que eu estou cansado”. — Então, tipo, o cara tava dando um toque pra ela o quanto ele era legal de suportar a Marluce com os chiliques dela e com a doença mental dela e que era só um toque que ele estava dando, que talvez ele não aguentasse muito tempo, né? — E aí mesmo sabendo que ela precisava sair daquele relacionamento, ela ainda estava muito ligada nele, né? E aí foi um dia que ela chorou e prometeu para ele que ia melhorar, porque já que ele estava dando aquela chance para ela, porque, enfim, ele que estava aturando ali a pessoa com doença mental, ela ia tentar melhorar. — Então veja a volta que o cara dá e como ele faz a Marluce se sentir culpada de absolutamente tudo… E sempre nesse tom, né? “Eu sou um cara legal, olha o que eu estou fazendo por você”. — 

Outra coisa que ele fazia muito… Eles começavam a discutir por alguma coisa, ele parava a discussão e falava: “Não, a gente vai conversar agora quando eu quiser”. [efeito sonoro de voz grossa] “Agora eu tenho outras coisas para fazer e eu não quero discutir agora”. Era véspera do aniversário dela, eles tinham combinado de passar o aniversário dela juntos, ele falou que ia sair com uma amiga… — Que não ia ficar com ela e ia sair com essa amiga. — E aí ela falou: “Mas como assim, né? A gente combinou, a gente tem planos, é meu aniversário”… Ele falou: “Ué, eu não posso sair com as minhas amigas? Você vai me proibir de sair com as minhas amigas? É isso?”. — E não era essa a questão, era aniversário dela, né? — 

E aí ele fez que fez e foi, saiu com essa amiga e, no dia seguinte, ele mandou uma mensagem para ela dizendo que precisava conversar com ela. Isso era logo cedo, ela falou: “Bom, então vamos conversar, né? O que foi?” e ele falou: “Não, agora eu tenho um monte de coisa para fazer durante o dia, a gente pode conversar no final da tarde”. E aí ele foi enrolando, deixando ela cada vez mais ansiosa e aí no começo da noite ele chamou a Marluce e disse que tinha traído a Marluce com essa colega, e que não seria justo com ela e nem com ele — Como assim “nem com ele”, né? — continuar esse namoro, que ele queria terminar. E aí mesmo não querendo, mesmo ainda dependente dele, rolou o término. — Porque veio da parte dele, né? — 

E aí foi a chance que a Marluce precisava para escapar desse relacionamento, né? E aí com os amigos, com a rede de apoio dela ali, a terapia, ela foi vendo o quanto esse cara era péssimo. Ela não quis bloquear ele em tudo, porque ela queria que ele visse a melhora dela sem ele. — Talvez tivesse sido melhor ela bloquear ele em tudo. — Esse cara, obviamente, se arrependeu e veio atrás dela. — Porque esse é um comportamento padrão das pessoas que são abusivas —. Então ele viu tudo o que ele perdeu ali e veio atrás dela, só que ela disse não, várias vezes não… Ele foi atrás dos amigos dela e os amigos também deram esporro nele, falaram: “Olha, deixa Marluce em paz”. 

Ela acabou bloqueando esse cara em tudo e ainda, um ano e pouco depois, quando a avó dela faleceu, esse cara… Ninguém sabe como, descobriu e mandou um SMS, porque ela nem sabia que dava para bloquear SMS, né? Mandou aí um SMS de pêsames. E aí ela ficou brava real e acabou bloqueando ele em absolutamente tudo. Ela ainda se recupera desse relacionamento onde o cara se mostrava tão legal, tão gente boa, tão amigo… A sorte é que ela procurou terapia no meio desse processo todo e continua na terapia. A Marluce me escreveu e durante toda a história que ela me relatou, ela falava assim: “Ai, Déia, eu sei, eu devia ter saído disso antes, mas era difícil, eu não conseguia”, e a gente entende isso. A culpa não era dela… 

Ela foi ali… Ela foi, praticamente, emaranhada no meio dessa coisa toda que ele fazia e é muito difícil sair disso. Então não se culpe, é importante tentar dar o primeiro passo… Esse primeiro passo dela que já estava sendo construído ali na terapia veio só depois que esse cara terminou o relacionamento, mas veio, né? 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, oi, Déia, oi, Marluce, tudo bem? Eu quis gravar um áudio para essa história porque é uma história muito pessoal para mim, porque eu passei exatamente pela mesma coisa, né? Conheci um cara na faculdade, as pessoas tinham um bom conceito dele e foi um relacionamento que foi minando tudo o que eu tinha de bom… Foi tirando minha confiança, foi tirando meu amor pela vida, foi tirando o meu prazer em fazer atividades que eu fazia… Foi me dando uma dependência emocional muito grande de eu achar que só aquela pessoa tinha o que eu precisava, que me faria feliz, mesmo eu sendo muito infeliz. Então, Marluce, eu quero te dizer que eu entendo o que você passou, espero que você compreenda tudo o que você viveu, que você se perdoe, que você se ama, que você saiba a sua luta, a sua vitória de ter conseguido escapar dessa relação. Estamos juntas. Desejo tudo de bom para você. Um beijo, pessoal. 

Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia, aqui quem fala é a Milene, eu falo do Rio de Janeiro. Oi, Marluce, eu escutei sua história… Queria te dizer que muitas mulheres já estiveram em um relacionamento abusivo, eu já estive em um e, essa estratégia que os caras têm de fazer a gente duvidar do que a gente falou, do que a gente pensou ou do que a gente fez, é uma estratégia muito baixa e muito machista, muito antiga… Então, eu fico muito feliz que você conseguiu sair desse poço de abusividade, esse cara super machista, manipulador… Porque o que ele estava fazendo com você era uma pura manipulação e estou super contente e satisfeita de saber que você procurou terapia, que você procurou um tratamento e, principalmente, que você está longe dele, conseguiu se libertar disso, dessa situação e se livrar desse cara. Parabéns, continue se tratando e obrigada pela sua história. Um beijo. 

Déia Freitas: Eu agradeço muito a oportunidade que a Johnson & Johnson me deu de participar dessa campanha sobre saúde mental e, já dentro do tema que a gente já aborda tanto aqui no Picolé de Limão… É aquilo, gente, cuidar da saúde mental é um dos principais itens do autocuidado, né? Então, se você sentir necessidade, por favor, procure ajuda. E, gente, mais uma vez: você não está maluca. Por favor, acessem o link aqui do Falar Inspira Vida, o conteúdo é muito bacana, eu vou repetir aqui para vocês: falarinspiravida.com.br e também temos o link: jnjbrasi.com.br/alexa-vamos-cuidar. Não precisa ter Alexa para acessar o conteúdo, então acessem. Foi muito legal participar dessa campanha com a Johnson e Johnson. Espero aí novas histórias em parceria com a Johnson & Johnson e vamo que vamo, gente. Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.