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título: o poço
data de publicação: 02/08/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #poço
personagens: seu máximo e josias

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. Essa história — do Luz Acesa — eu já contei lá no Twitter há alguns anos. — Então não é uma história nova, mas eu estou trazendo as histórias lá do Twitter para o podcast, então essa é uma delas. — Eu vou contar pra vocês a história do caminhoneiro chamado seu Máximo. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

— Essa história é de maio de 1981. — Seu Máximo, um caminhoneiro que trabalhava aí fazendo a rota São Paulo—Bahia levando carga de pneu. E, sempre que dava ali ao longo da estrada, para quem pedisse, ele dava carona. Seu Máximo gostava de dar carona, — sei lá, uma outra época, anos 80 — e ele gostava justamente por ouvir aí as histórias das pessoas e também porque o tempo passava mais rápido, né? — Quando você estava ali papeando e nã nã nã… — Um dia quando o seu Máximo estava cruzando Minas Gerais, ele parou num posto de gasolina e um moço sem mochila, mala, nada, — meio sujo assim de tijolo vermelho, sabe? — pediu carona pra ele. O nome desse rapaz? Josias.

O rapaz falava muito pouco, assim… O seu Máximo não estranhou que ele estava sem nenhuma bagagem. — Às vezes ele dava carona pra pessoas que estavam assim, sem nada. — E o seu Máximo perguntou pra onde ele estava indo, né? E aí o Josias falou que ele estava indo pra uma cidade da Bahia chamada “Amargosa”. Na hora o seu Máximo comemorou, porque ele estava justamente pensando em desviar um pouco do caminho e passar nessa mesma cidade… — Porque o seu Máximo ele tinha um compadre que morava lá, então pra ele estava ótimo, né? — Ele falou: “Bom, eu te dou carona, a gente vai junto e tal e eu passo lá no meu compadre em Amargosa”. Só que o rapaz era muito, muito, muito calado e não olhava pro seu Máximo. — Ele tinha um olhar perdido, assim… —  Nunca olhava direto no rosto de seu Máximo, só ficava olhando pra frente e sempre de cabeça baixa, assim, olhando pro nada… 

E o caminhoneiro ali, seu Máximo, velhaco que ele era, tratou de esconder o relógio e botou o dinheiro que ele tinha na bota. — Com medo desse tal Josias aí se revelar um assaltante. — Aí seu Máximo, o que ele percebeu? Que em nenhuma parada que ele fez, o Josias desceu do caminhão e, numa pensão que eles pararam para dormir, o Josias sumiu antes mesmo de entrar ali naquela pensão e só apareceu de manhã, esperando… Ele estava ali esperando o seu Máximo do lado de fora do caminhão. Bom, a viagem passou… Eles chegaram em Amargosa. Durante a viagem, o que o seu Máximo descobriu do Josias? O Josias tinha 26 anos e trabalhava cavando poços. Só isso… — Foi só isso que ele descobriu sobre o Josias. — Já dentro da cidade ali, de Amargosa, o Josias disse assim pro seu Máximo: “Nunca achei que fosse conseguir voltar para cá. Se a gente não se encontrar mais, diga pro meu pai onde você me pegou”. [efeito sonoro de tensão] E antes que o seu Máximo pudesse responder, né? Que não tinha a menor ideia de que era o pai dele, [efeito sonoro de porta de carro abrindo] o Josias desceu do caminhão e foi embora.

O seu Máximo foi na casa do compadre, matou a saudades das pessoas que ele conhecia ali em Amargosa… — E, assim, né? Esqueceu… Ele tinha dado carona, ele dava carona pra um monte de gente e foi seguir a vida dele. — Um dia antes dele ir embora ali, ele já tava pra ir embora, ele entrou num boteco… — Numa vendinha, sabe assim? —  Nessa venda, tinha uma senhora e, na parede, o seu Máximo viu assim um retrato enorme do Josias. E aí o seu Máximo ficou contente demais, assim, com a coincidência, né? E foi logo dizendo para aquela senhora que ele tinha dado carona para aquele rapaz da foto. E essa senhora ficou toda emocionada e começou a gritar: “O Josias tá vivo, o Josias tá vivo. Cadê ele?”. — Perguntando pro seu Máximo, né? Aquela senhora, gente, era a mãe do Josias. — E aí o seu máximo falou: “Ah, eu deixei ele no centro aqui de Amargosa, né? E ele deve estar por aqui, daqui a pouco ele aparece e tal”. [efeito sonoro de automóvel dando partida]

E o seu Máximo foi seguir a vida, porque ele tinha um trecho ainda pra fazer de viagem pra entregar os pneus e pegar uma nova carga, né? E é isso que aconteceu… Seu Máximo foi lá, entregou a carga dele, abasteceu com outra carga pra voltar para São Paulo e, quando ele estava na estrada, voltando, — tipo, nem em Amargosa. — ele viu o Josias fazendo sinal pra ele. Aí o seu Máximo parou e o rapaz, muito bravo, agora com uma aparência já muito abatida, gritou com seu Máximo, assim, com uma voz muito grossa que nem parecia sair da boca dele. Aí ele falou assim pro seu Máximo: [efeito sonoro de voz grossa] “Cadê o meu pai? Por que você não tá levando o meu pai pra me buscar? Eu quero sair daquele poço. Cadê o meu pai?”. E aí o seu Máximo, em choque, voltou pra cidade atrás do pai do Josias, sem entender nada… E ele não tinha sacado que o Josias tava morto.

E aí ele localizou o pai do Josias… — Que a gente vai chamar de seu Gervásio. — E aí o seu Máximo explicou pro seu Gervásio ali o que tinha acontecido, explicou o quanto o Josias tava bravo, mas que ele não estava entendendo nada e tal e esse senhor começou a chorar… Porque o Josias tinha aparecido pra ele em sonho e dito que estava num buraco muito fundo e escuro e estava pedindo pro pai ir buscar ele. E aí, o seu Máximo falou pro Seu Gervásio: “Não, entra aí no caminhão que eu vou te deixar onde eu peguei o Josias”. — Que era isso que o Josias queria, né? — E aí um tio do Josias foi junto também e ele deixou eles ali no exato lugar onde ele tinha dado carona pro Josias, mas o seu Máximo não podia ficar, porque ele tinha prazo pra entregar a carga que ele trazia da Bahia.

E aí, depois de um tempo, o amigo do seu Máximo, aquele compadre lá de Amargosa, mandou notícias pra ele dizendo que a polícia tinha encontrado o corpo do Josias e que tinha prendido o assassino do Josias, que era o dono da firma que cavava poços. E o Josias realmente estava dentro de um dos poços lá que foram cavados… O cara matou o Josias e jogou o corpo dele dentro do poço. — Puxado, né? — E aí ele fez todo esse caminho aí até a cidade, mas por que ele só apareceu para o pai assim, né? Que nem ele apareceu pro seu Máximo… — Por que ele só apareceu em sonho, né? — Mas mesmo em sonho, ele não conseguiu passar a localização pro pai, e aí acho que ele viu a oportunidade no seu Máximo. E aí seria uma coincidência o seu Máximo já estar pensando em passar em Amargosa ou não? — Tipo, foi algo que estava, sei lá, predestinado a acontecer? — Porquê de tudo isso, gerou a prisão do assassino do Josias e a recuperação do seu corpo. — Puxado, né? — 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Paula de São Paulo, capital. Pra mim, o seu Máximo é um ser de luz, é um ser mediúnico, que talvez ele não entenda, mas por algum motivo o Josias se conectou com ele por algum motivo saber aí pra onde o seu Máximo iria. Pelo Josias não ter conseguido a conexão com o pai dela por sonhos, então ele, de alguma forma, acabou conseguindo com o seu Máximo. Então, pra mim, o seu Máximo é um ser de luz, um anjo e, se não fosse por ele, esse crime não teria sido solucionado. Ou se fosse solucionado, demoraria anos… Então é isso, seu Máximo, um grande abraço pra você, você é um ser de luz mesmo… E é isso, beijo.

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é Luiz, eu falo de Caruaru, Pernambuco. E, nossa, gente, como essa história do poço me afetou… Eu não sou uma pessoa que costuma se afetar muito pelo quadro Luz Acesa, mas, assim, essa história… Desde que eu comecei a decifrar o que tava acontecendo ali eu só consegui me arrepiar, eu chorei… Assim, o coração acelerado… Porque é muito duro pensar em quanto essa alma do Josias tava atormentada, tava angustiada, querendo voltar pra casa pra poder que seus pais velassem seu corpo, pra poder ter um fechamento, né? Pra poder encontrar um descanso… E é muito doido pensar isso. Não sou uma pessoa religiosa, não sou… Sou vibes Déia, assim, não acredito em nada, mas também fico cabreiro com as coisas… Assim, não consigo falar que é bom, mas ao menos ele teve esse descanso e seu Máximo aí conseguiu dar um fechamento pra essa família tão angustiada também, né? Um abraço pra vocês e vamos ver…

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no grupo. E… Eu, hein… [riso] Eu não acredito muito, mas também fico cabreira. — A gente nunca sabe quem é de carne e osso, quem é fantasma… Isso me deixa muito p da vida. — Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.