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título: o tecido
data de publicação: 31/10/2020
quadro: luz acesa – especial halloween
hashtag: #tecido
personagens: vivian, dona cida e josenita

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para o nosso último Luz Acesa – Especial de Halloween, e hoje a história tá mais especial ainda. Eu participei como jurada de um concurso de contos do meu amigo Tanto, o Tanto Tupiassu que vocês conhecem lá do Twitter, ele tem um podcast agora chamado Um Conto e Tanto, e entre os contos tinha um conto lá que eu gostei muito, da Vivian Mota, ela é uma escritora amadora e é o conto dela que eu vou contar hoje pra vocês. Antes disso eu tenho um recado, uma indicação, a última indicação de outubro, eu quero indicar pra vocês um podcast chamado Eu Lírico da Laura Rubianes, não sei se vocês conhecem, mas ela tem um post lá muito legal, é um post dos livros mais amaldiçoados e misteriosos do mundo, [efeito sonoro de gargalhada assustadora] eu hein. [risos] Esse episódio especial tem participação do Zé Renacho, então gente, eu vou deixar o link aqui no episódio, e aí depois a gente comenta lá no grupo, tá? Então, vamos de história que hoje tá meio tenso.

Bom, essa história que eu vou contar pra vocês é uma história da Vivian, que aconteceu com a Vivian.

[trilha]

A bisavó da Vivian teve seis filhas, dessas seis filhas só uma, a mais nova, que não se tornou costureira, então é uma família ali, uma tradição de mulheres costureiras. A Vivian foi criada pela avó e aí ela foi muito influenciada por isso e ela também se tornou aí uma costureira e se formou em moda. Recém-formada ali, sem emprego, ela aceitou ficar na casa de uma tia avó dela que é a Dona Cida, pra cuidar da casa da tia, cuidar também… A tia tem uma cachorrinha chamada Lili e essa tia precisava viajar com o marido pra ir cuidar da mãe do marido que estava doente em outra cidade, então a Vivian topou ir pra isso, né? Pra cuidar da casa da tia. E ela teria que voltar para a cidade onde cresceu a avó dela, a família toda, o nome da cidade é Piranguinho.

[efeito sonoro de carro] Então lá foi a Vivian pra Piranguinho pra ficar na casa da tia e cuidar de tudo ali. A Vivian chegou na casa da tia numa segunda-feira e ela chegou mega cansada, pegou a Lili ali, deitou, dormiu. Na terça-feira ela acordou cedo, deu comida pra Lili, cuidou das galinhas, cuidou das plantas, de tudo o que tinha que fazer, e aí o quê que ela ia fazer mais? Ela falou: “Bom, eu vou procurar aqui, vou caçar alguma coisa pra fazer na casa da minha tia”. A tia dela tinha no quintal fora da casa um quartinho que era o quartinho de costura, e aí a Vivian pensou: “Ótima ideia, né? Vou dar uma fuçada lá no quartinho de costura, vou ver uns tecidos, ver umas coisas, ver se eu dou uma brincada, né? Fazer, sei lá, uma roupa, tirar uns moldes”, e lá foi ela pra aquele quartinho do quintal, quartinho de costura da tia Cida.

[som de porta rangendo] Ela entrou, ela achou que fosse ter mais coisas assim, não tinha tanta coisa, tinham algumas prateleiras, uma sacola de retalhos assim, algumas peças inacabadas, mas ali num canto do quartinho a Vivian viu um baú, parecia que o baú estava meio jogado, meio escondido, e aí ela falou: “Ah, é aqui mesmo que eu vou dar uma fuçada, né?” Ela foi até o baú, abriu e, quando ela abriu, [efeito sonoro de mágica] ela ficou assim de olho brilhando porque tinha um tecido bem assim por cima das coisas do Baú, que era um tecido simples, um tecido branco muito claro, bordado com flores brancas assim, muito bonito. 

E na hora ela viu o tecido e se apaixonou, se apaixonou, tirou o tecido do baú, ele estava dobradinho, colocou em cima ali da mesa de apoio de costura e foi desdobrando. Conforme ela desdobrou aquele tecido, dentro ali do tecido, no meio tinha um papel, e o papel assim como se fosse um cartão, e ele estava escrito à mão, mas era meio um garrancho e ela não entendeu muito bem o que estava escrito. Então ela viu que ali começava com “j” e parecia que no final era um “i”, um “p”, um “a”, mas ela não sabia direito se era aquilo, ele podia ser um nome, mas não deu muita atenção porque o foco dela ali era naquele tecido maravilhoso, né? 

E ela já tinha na cabeça dela um modelo de conjuntinho que ela queria fazer, de blusa e saia com aquele tecido, e ela pensou: “Nossa, é isso mesmo que eu vou passar esses dias aqui fazendo”, porque ela tinha as coisas pra cuidar ali da tia Cida, mas não era muita coisa, então sobrava muito tempo pra ela poder costurar, fazer molde… E ela se empolgou com esse tal desse tecido branco e começou a pensar já no que fazer, então ela passou aquela primeira tarde inteirinha fazendo um molde e cortando o tecido. [som de tesoura cortando] E aí ela falou: “Bom, vou pelo menos dar uma iniciada aqui na máquina, já na costura”, e assim que ela sentou, assim que ela sentou na máquina, que ela começou ali a arrumar as coisas pra poder começar a costurar, veio um nome na cabeça dela e o nome era “Josenita”. 

Conforme ela pensou no nome Josenita ela deu um grito, [efeito sonoro de mulher gritando] porque enquanto vinha esse nome na cabeça dela, a agulha grossa da máquina de costura que a Vivian estava tentando passar a linha branca furou o dedo dela. E na hora ela sentiu uma dor e, assim, não foi nem tão fundo assim o furinho, da agulha, mas doeu muito. E aí ela deu aquele grito, deu uma assustada, olhou e falou: “Bom, isso aqui vai cicatrizar logo”, porque não parecia nada assim que, ah, precisava de, sei lá, ponto ou um curativo maior, né? Mesmo assim ela terminou de passar a linha ali na máquina, mas decidiu que ela não ia costurar porque já estava começando a escurecer, então ela tinha que ainda cuidar das coisas ali da casa da tia Cida. Então tinha que cuidar da Lili, tinha que cuidar das galinhas… Ela foi fazer as coisas, saiu e deixou ali a máquina de costura.

Aquela era a segunda noite da Vivian na casa da tia Cida e ali as coisas começaram a ficar estranhas. A Vivian acordou [som de alguém se assustando] de madrugada com barulho insistente assim e, conforme ela foi acordando e prestando um pouco mais de atenção, ela percebeu que era o barulho da máquina de costura, não só da máquina de costura ligada, como da máquina de costura trabalhando e ela falou: “Gente, não é possível”, porque primeiro, alguém entrar na casa ali no quintal pra costurar? Nada fazia sentido, era uma casa, um sobrado, ela estava no segundo andar da casa, assim, onde era o quartinho no quintal, jamais daria pra ela escutar a máquina dali e, mesmo assim, ela estava escutando a máquina trabalhar e costurar.  Era uma coisa impossível, ela não conseguia entender o que estava acontecendo.

E aí ela resolveu respirar fundo, né? Falou: “Sei lá, o quê que é isso, de repente é coisa da minha cabeça”, mas ela super medrosa também resolveu voltar a dormir, mas ela mal dormiu, porque o barulho não parou, gente, a máquina de costura passou a noite toda trabalhando. Aí na manhã da quarta-feira ela fez todas as tarefas que ela tinha que fazer, né? Que foram as mesmas que ela fez no dia anterior e foi lá para o quartinho de costura, conforme ela foi chegando na porta do quartinho, ela percebeu que a porta do quartinho estava aberta, só que ela tinha quase certeza… Não tinha certeza absoluta, mas tinha quase certeza que ela tinha trancado a porta. E ela meio que já não estava levando assim, não estava preocupada com o que ela ouviu a noite da máquina de costura, meio que passou, mas quando ela entrou no quartinho estava uma bagunça, gente… E ela mais uma vez duvidou de si mesma, porque ela tinha deixado tudo arrumado, tinha deixado a saia já alfinetada e os alfinetes estavam todos jogadas assim em cima da mesa ali de costura e as peças que ela já tinha deixado cortada estava tudo espalhado.

E aí ela ficou naquelas, né? “Poxa, será que eu estava tão cansada que deixei assim e acabei esquecendo, né?”, e aí o que ela fez? Ela alfinetou de novo as peças da saia e sentou na máquina pra costurar, só que aí a máquina estava dura, como se tivesse algo ou alguém impedindo da Vivian costurar, da máquina funcionar… E ali, aos trancos e barrancos, ela conseguiu costurar a saia ali mais ou menos, e ela deixou para pôr o elástico no dia seguinte, porque demorou muito. Então ela costurou a saia, as laterais ali da saia, não colocou o elástico e deixou a blusa ali pronta, já alfinetada, pra no dia seguinte costurar e aí já colocar o elástico na saia e ficar tudo prontinho. Naquela noite de quarta-feira a Vivian dormiu menos ainda, o barulho da máquina agora, além de estar mais alto, estava mais rápido, era como se alguém tivesse costurando assim com muita velocidade e era bem diferente de como estava a máquina quando a Vivian mexeu, porque a máquina estava emperrada, travando, muito ruim de se trabalhar, né? E aí ela resolveu que, óbvio, ela não ia descer pra ver… E depois de muito custo assim ela adormeceu um pouco, mas acordou de madrugada.

De madrugada a Vivian acordou com o dedo dela latejando, e doía demais o dedo e ela passou a mão assim, sentiu alguma coisa úmida… E aí ela assim bateu a mão do lado, pegou o celular, ligou a lanterna e ela viu que o dedo dela estava sangrando. Lembra daquele furinho de agulha que era superficial só que tinha doído muito? Aquele furinho estava sangrando demais. A Vivian levantou, lavou, botou um curativo e voltou pra tentar dormir, né? E tentou ignorar o barulho que era muito rápido e muito alto da máquina de costura lá no quartinho. Tentando ignorar a dor também daquele dedo dela latejando. A Vivian insistente e, assim, querendo terminar o projeto dela do conjuntinho, ela tinha se certificado final da tarde anterior que ela tinha trancado o quartinho, ela voltou e ainda olhou e checou. E, no dia seguinte de manhã, que ela foi até o quartinho a porta estava de novo aberta, não só destrancada, aberta, os alfinetes de novo todos espalhados e as peças da blusa que ela tinha juntado pra costurar também jogadas pelo chão, espalhadas.

Ela estava tão cansada de duas noites ali mal dormida,s que ela resolveu passar o elástico e terminar a barra da saia na mão, ela falou: “Bom, vou terminar aqui”, pegou os tecidos, assim… A avó dela, a bisavó dela morava ali perto e ela resolveu ir na casa da bisavó dela pra mostrar as peças, conversar um pouco, sair um pouco daquele clima que ela estava, né? Aí ela chegou lá, a bisavó dela elogiou as peças, né? Achou bonito pra caramba e aí vendo ali o acabamento da Vivian nas peças assim, um bom acabamento, ela falou: “Nossa, filha, você tinha que ter conhecido a Dona Anita”, a Dona Anita tinha dado aula pra vó da Vivian e as irmãs, as tias avós da Vivian, aula de costura, ela era uma excelente costureira. 

E uma coincidência: a bisavó da Vivian falou que essa Dona Anita morava lá naquela casa que a Vivian estava cuidando, casa da tia avó dela, a tia Cida. E aí a Vivian falou: “Jura? Ela morava lá?”, e na hora que a bisavó estava contando dessa Dona Anita, a Vivian sentiu um negócio ruim assim, um pressentimento, sabe, um arrepio? E perguntou pra bisavó dela, falou: “Mas por que que ela saiu de lá?”, aí a bisavó dela falou: “Não, ela não saiu de lá, ela morreu”, e ela morreu de tristeza porque a filha dela, a filha mais nova da Dona Anita morreu lá na casa, naquela casa que ela estava. E aí a Vivian assim, olho arregalado já, falou: “Mas morreu lá na casa como bisa?”, aí a bisavó dela contou que essa filha gostava muito de costurar igual a Dona Anita, e ela tinha comprado um pano muito bonito, um tecido muito bonito bordado que ela ia usar no próprio casamento, ela tinha um apreço por esse pano, já sabia como ia ser o vestido, e um dia deixaram uma vela lá perto de uma cortina e a casa pegou fogo. [som de fogo queimando algo] 

Graças a Deus não tinha ninguém dentro da casa quando pegou fogo, só que essa filha da Dona Anita muito teimosa, correu pra dentro da casa pra salvar o tecido, [som de alguém tossindo em meio a fumaça] que era o tecido do casamento dela, só que nessa ela morreu sufocada com a fumaça, acharam ela assim no chão agarrada com esse tecido, esse tecido já cheirando a fumaça assim, né? E ela estava lá morta dentro da casa, salvou o tecido, mas morreu por causa da fumaça. E aí nisso conforme a bisavó ia contando a história, ela chamava essa menina filha da Dona Anita de Ita, e aí a Vivian perguntou: “Vó, mas ela chamava Ita?”, e a bisavó falou: “Olha, era uma mistura do nome do pai dela com Anita, eu não lembro, não lembro o nome dela, mas era alguma coisa assim”, e na hora veio na cabeça da Vivian o nome Josenita.

Então aquele tecido que a Vivian achou e costurou era o tecido da Josenita. A Vivian voltou pra casa que ela estava cuidando, a casa da tia avó Cida apavorada, passou super longe do quartinho e foi terminar as coisas dela, deitou e, aquela noite, a noite toda a máquina seguiu costurando. Só que aí a Vivian não conseguiu pregar o olho, né? Ela ficava pensando naquela história toda que a bisavó dela contou e que ela tinha usado o tecido da Josenita, e que a Josenita tinha morrido na casa. E, assim, por mais medo que ela tivesse, ela era super medrosa, ela ainda não queria abrir mão do conjuntinho lá que ela tinha feito. Aí no dia seguinte, ela com uma olheira enorme assim, acabada, ela voltou para o quartinho, aí ela pegou linha, pegou a blusa já cortada e foi pra casa da vizinha, pediu a máquina da vizinha emprestada, usou lá na casa da vizinha mesmo e terminou o conjuntinho, e ficou perfeito, ficou lindo, um dos melhores trabalhos da Vivian. 

E ela ficou muito feliz com conjuntinho, parece que nada tinha acontecido, né? Ela seguiu normalmente ali felizinha com o conjuntinho que foi feito com o tecido da morta Josenita. Naquele mesmo dia, mais no final da tarde, a prima da Vivian ligou pra ela e falou que ia ter uma festa numa praça à noite e que era pra ela ir, e a Vivian falou: “Perfeito, é a hora de eu estrear o conjuntinho”. E aí ela se arrumou, vestiu o conjuntinho e foi pra praça passear. E a Vivian foi pra essa festa, ela não estava mais pensando no barulho da máquina, na Josenita, em nada, ela estava assim, a noite estava super bonita, fresquinha, agradável… Ela estava vestida super bem com o conjuntinho e ela foi pra essa festa. Só que chegando lá na festa, estava lá e tal curtindo, ela tinha uma sensação de que ela estava sendo vigiada, sabe aquele calafrio assim, aquele arrepio no pescoço? E ela começou a se sentir tão mal que ela falou pra prima dela, deu uma disfarçada e falou para a prima dela que ela ia até o banheiro jogar uma água no rosto, pra ver se dava uma melhorada.

E aí ela foi pro banheiro, respirou fundo e ela falou: “Nossa, tudo isso deve ser do cansaço, né? Porque várias noites mal dormidas”, ela molhou a cara, respirou mais e quando ela levantou a cabeça, ainda lá no banheiro, que ela olhou para o espelho: dentro do espelho a imagem não era da Vivian, era de uma mulher muito brava, que você percebia que ela estava brava só pelo olhar e essa mulher de dentro do espelho falou pra ela: [efeito sonoro assustador na voz] “Devolva o que é meu”, a Vivian levou um susto tão grande que ela gritou e, assim que ela gritou, ela acordou gritando, ela acordou sentada na cama, ofegante, né? E tentando controlar a respiração e o quê que ela pensou? Que ela estava tão cansada que ela se trocou, se arrumou pra ir pra festa e sentou um pouco ali na cama pra esperar dar o horário e adormeceu.

Só que agora que ela tinha acordado, ela estava com muita dor no corpo, o corpo dela doía inteiro, e o dedo, lembra daquele dedo que ela furou na agulha? O dedo dela estava pulsando, mas pulsando tanto e quando ela olhou para o dedo, ela não acreditou, o coração dela começou a acelerar. No lugar do furinho agora tinha um ponto, gente, um ponto de costura… Como se alguém tivesse costurado uma linha branca no dedo da Vivian, dava pra ver a linha costurada por dentro da pele, porque a palma da mão assim, onde furou, a Vivian conseguia enxergar a linha passando por dentro ali daquele buraquinho e saindo, fazendo um ponto na pele dela, na carne dela. Daí a Vivian notou que aquele ponto que estava no dedo dela era o primeiro ponto, a linha corria pelo corpo da Vivian e costurava aquele conjuntinho na pele da Vivian. 

E conforme ela tentava puxar a linha, a dor era insuportável e ela conseguiu descosturar a linha ali do dedo, só que e pra puxar? Uma dor absurda, uma dor absurda, mas a Vivian só pensava: “Essa linha tem que sair de mim, essa roupa tem que sair de mim”, e ela correu para o quintal. O quê que ela pensou? Em pegar a ponta da linha que estava saindo do dedo dela e amarrar na coleira da Lili e jogar a bolinha pra Lili o mais longe que ela pudesse pra Lili correr e puxar aquela linha de dentro do corpo dela. E assim ela fez, gente, ela assim com muito custo, com muita dor, conseguiu amarrar a linha na coleira da Lili, respirou fundo [som de respiração] e jogou a bolinha, o mais longe que ela conseguiu. Conforme a Lili saiu correndo pra pegar a bolinha, a dor foi tanta que a Vivian desmaiou, e ela acordou com a Lili lambendo o rosto dela, e aí não tinha nenhum sinal de linha, não tinha nenhum sinal de que o corpo dela tinha sido costurado, sabe?

E aí ela percebeu que ela tinha sonhado de novo, será? Será que a Vivian tinha sonhado? Ela voltou correndo pra dentro de novo, pra tirar aquela roupa, ela queria tirar aquele conjuntinho. E quando ela voltou para o quarto, tinha uma mensagem no celular dela, uma mensagem da prima e estava escrito assim: “Vivian por onde você andou ontem? Não te vi mais na festa depois que você foi ao banheiro”. [efeito sonoro de surpresa] A Vivian foi na festa. E depois que ela foi no banheiro e que ela viu, provavelmente era a Josenita no espelho, ela já acordou na casa lá da tia Cida toda costurada na roupa, a pele costurada na roupa. Conforme ela viu essa mensagem a máquina de costura começou de novo a costurar, e aí já era demais, né? A Vivian não tinha coragem pra nada mais. 

Já estava amanhecendo, e aí a Vivian falou: “Não, não fico mais aqui de jeito nenhum”, ela ligou pra tia Cida e falou: “Tia Cida, aconteceu um imprevisto em São Paulo eu tenho que voltar urgente agora”, ela pegou a mala, pegou a Lili, deixou a Lili na casa da bisavó dela e foi embora. Só que ela antes de ir pra rodoviária, ela resolveu passar nos Correios, ela resolveu mandar o conjuntinho para um brechó de uma amiga dela, pra amiga dela vender no brechó, porque ela queria esse conjunto o mais longe dela possível, por via das dúvidas ela resolveu na peça fazer uma etiqueta e colocar o nome da dona da peça “Josenita”. A Vivian ela não ousava mais verbalizar o nome Josenita, mas ela bordou na etiqueta das peças o nome e torceu pra que aquilo acabasse ali, né? Já na rodoviária e com a peça despachada, a Vivian ficou pensando que no brechó, as peças num cabide, imaginando uma cena de duas amigas ali procurando roupas e aí uma acha uma dessas peças, a outra pergunta: “De que marca é?”, e aí parece que ecoava na cabeça dela o nome: Josenita.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.