título: o vigia
data de publicação: 27/06/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #vigia
personagens: seu cidimar e seu joão
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. Quem me escreve é a Débora, ela é neta do seu Cidimar e foi o seu Cidimar que pediu pra ela escrever para mim enquanto ele ia narrando. — Que bonitinho… — E o seu Cidimar ele foi vigia por muitos anos, assim, desses contratados por empresas, né? Então é a história dele que eu vou contar hoje para vocês. Então vamos lá, vamos de história.
O seu Cidimar, certa vez, foi contratado para cuidar de uma… — Como é que eu vou dizer isso… Sabe quando existe uma fábrica muito grande que entra em falência e uma outra fábrica muito grande compra aquela fábrica? E aí remaneja os funcionários na nã nã nã e o que sobra ali de maquinário, de coisa da fábrica que faliu, aquela que adquiriu a fábrica falida, coloca no leilão. — Porque, nesse caso, eram máquinas que eram máquinas pesadas e máquinas caras e que essa empresa que comprou ia vender. Só que, pra isso, precisa haver um leilão e tal, tem uns passos aí… E até isso acontecer você não pode deixar as máquinas danificadas. Então, assim, geralmente quando a fábrica é abandonada, muita gente invade [efeito sonoro de vidro se quebrando] para fazer pichação ou pra quebrar coisa. [efeito sonoro de spray sendo apertado] Então, o trabalho do seu Cidimar era ser um dos vigias daquela fábrica abandonada.
E o turno do seu Cidimar era das 10 à noite da noite às 6 da manhã. Então, essa fábrica ela estava sem ninguém, mas ela não estava abandonada ainda, né? — Porque tinham esses maquinários e tal que iam ser vendidos. — E como funcionava ali a ronda do seu Cidimar? Era uma fábrica muito grande que tinha duas guaritas, uma de cada lado assim, bem longe uma da outra. Então, o tempo de fazer uma ronda toda pela fábrica e subir, porque são quatro andares e fazer toda a ronda era de, aproximadamente, entre 45 e 48 minutos. Então o seu Cidimar ele tinha que fazer a ronda e, a cada 45, 48 minutos, ele tinha que voltar na guarita dele e passar ali o ponto de novo. — Então ele tinha que fazer, tinha que bater esse ponto de novo. — Seu Cidimar diz que isso é comum para quem é vigia noturno, que você tenha que bater o ponto algumas vezes pra quando não tem supervisor, nada, ver que você não está dormindo.
E o vigia lá do outro lado fazia a mesma coisa. Então, uma ronda era o seu Cidimar que fazia — e ele ficava ali uns 45 minutos esperando — e o outro dali um tempo fazia a ronda de novo. Então era esse o esquema… E tanto o seu Cidimar quanto o outro vigia eles eram terceirizados, — então eles eram de uma empresa X aí — eles estavam contratados por essa terceirizada já fazia um tempo, tipo uns anos, e eles iam de empresa em empresa. Então, sempre que tinha aí uma empresa pra vigiar a noite, era ele que ia e outros vigias… E calhou dele ir com esse cara que ele estava agora. — E nós vamos chamar o outro cara de seu João. — E aí depois que o seu João também terminava ronda, eles se comunicavam por rádio, porque cada um ficava de um lado e cada um tinha um pedaço da fábrica para fazer ronda, né? E eles se comunicavam por rádio…
Então, quando o cara terminava lá a ronda dele, seu João terminava, ele passava um rádio para o seu Cidimar e o seu Cidimar ia fazer a ronda. — No pedaço dele que era enorme, quatro andares… Os dois a mesma coisa, só que cada um fazia setores diferentes, né? — E se alguém invadisse, qual era o procedimento? Como só tinham dois vigias, um de cada lado, o procedimento era: ligar na central. A central mandaria uma viatura — Não de polícia, viatura dali dos outros vigilantes — e ajudaria ali, chegariam mais quatro homens para fazer a ronda. Era assim que funcionava. [efeito sonoro de passando falando através do rádio] E aí um dia o seu João passou um rádio para o seu Cidimar e falou: “Tem alguém aqui”. E aí o seu Cidimar falou: “Bom, você já acionou lá a patrulha?”, ele falou: “Não, não consigo nem me mexer, tem alguém aqui e está muito perto”.
E aí na hora o seu Cidimar ele acionou a patrulha e saiu da guarita dele, o que não era o protocolo… E foi assim até lá o outro lado. [efeito sonoro de passos] —Só que até o outro lado demorava, tipo, sei lá, uns 10 minutos pra ele chegar. E 10 minutos andando, gente, pensa o tamanho dessa firma. — E aí ele andou até lá… Quando ele chegou, ele encontrou seu João num canto, agachado… Não falava nada, nada, nada, nada… E o seu Cidimar perguntava: “João, o que aconteceu, João?” e ele lá parado no canto. Aí chegou a patrulha, fez a ronda e não achou ninguém e levaram o seu João… Aí era, tipo, umas 3 horas da manhã, — tinham mais 3 horas ainda de turno pro seu Cidimar — mas quando era umas quase 5 horas o outro vigia que rendia ele, já chegava. Então o cara perguntou para ele, né? Um dos caras lá que veio da patrulha: “Ó, tem mais duas horas e pouco só de ronda, você pode ficar aí sozinho? Tudo bem? A gente já circulou tudo, já viu tudo, não tem ninguém”.
Seu Cidimar falou: “Fico, fico sim, claro…” e preocupado, né? Porque levaram o João e, assim, ele foi calado, sem falar nada… E aí o que o seu Cidimar pensou: “Bom, agora eu vou ter que fazer a ronda também do lado do João, né? Então, pra eu fazer a ronda completa, vai aí uma hora e meia. Então é bom que o tempo passa rápido, quando eu voltar aqui para minha guarita daqui a pouco os outros dois vigias já estão aí, né?”. E aí ele foi, gente… Ele fez a ronda do lado dele e, para ele ir pro lado do seu João, ele tinha que descer todas as escadas, ir lá do outro lado e ele fez a mesma coisa. E ele foi subindo… Quando ele chegou no segundo andar, ele viu um homem… [efeito sonoro de tensão] E, assim, de longe parecia que o homem estava… — Sabe quando tem uma máquina muito grande e você se esconde? —
E os vigias lá eram todos vigias armados. E aí o seu Cidimar muito corajoso, porque eu já teria morrido, falou: “Sai daí de trás dessa máquina que eu vou tirar. Sai com a mão para cima”. E, assim, ele via que o homem tava… — Como eu vou explicar? Não era um vulto… Pensa quando você vê uma pessoa no escuro, você vê, você sabe que tem uma pessoa ali, mas você não consegue… Você consegue até identificar quem é, assim, pela silhueta e tal, mas como não era uma pessoa conhecida do seu Cidimar, ele via só esse vulto, né? — E aí ele foi chegando perto, porque não conseguia ver se esse homem estava de braço, de mão para cima ou se não estava. Quando ele chegou bem perto, tipo… — Eu não sei essa coisa de metro… — Uns 5 metros assim perto desse cara, ele conseguiu ver, gente, que esse cara ele não estava sozinho… Junto com ele tinha, sem brincadeira, [efeito sonoro de tensão] uns 30 vultos. — Pretos, iguais… —
E como o Cidimar estava com uma lanterna, agora ele já conseguia, de onde ele estava, iluminar bem… E ele aí viu que não era, assim, pessoas na sombra. Como ele disse no relato dele, eram sombras de pessoas… — Sem as pessoas, só o vulto mesmo. — E, de onde ele tava, ele escutava um barulho como se fosse… Sabe gente se lamentando, assim? Chorando muito baixinho? [efeito sonoro de resmungos] Era assim… Um monte… Um monte de vulto tudo olhando pra ele, ele com a lanterna tremendo, ele estava com o revólver na mão, ele guardou o revólver… — Porque ali ele viu que não eram pessoas… — E ele não conseguia sair do lugar. Ele não conseguia sair do lugar, ele falou: “Vou morrer, eles vão vir para cima de mim”… — Porque era muito vulto, gente, muito vulto… — Só que aí ele ficou onde ele estava e os vultos ficaram onde eles estavam. Então, o que dava a entender? Que não era para o seu Cidimar seguir. Não era pra ele passar de onde ele estava.
E aí ele foi afastando… [efeito sonoro de passos] — Lembrando que ele estava no segundo andar. — Ele foi afastando e voltando, assim, olhando para os vultos ainda. E a lanterna foi ficando mais fraca, os vultos foram se incorporando ali na luz e quando ele chegou num determinado ponto, ele saiu correndo… Ele saiu correndo e ficou lá na rua esperando os outros vigias chegarem. — E aí, assim, né? Seu Cidimar não podia perder o emprego, mas ele não ia ficar ali de jeito nenhum. — E aí os outros vigias chegaram, ele comentou o que aconteceu, falou dos vultos… Os caras riram, já estava amanhecendo… Seu Cidimar foi embora e o seu Cidimar ligou, antes mesmo de dormir, ligou para o encarregado dele [efeito sonoro de telefone chamando] e falou: “Olha, naquela empresa não volto mais”.
E aí o encarregado dele falou: “É, o João está internado, não fala nada com nada… E tá bom, eu vou ver outra pessoa pra pôr no seu lugar” e mandou o seu Cidimar pra outro lugar. — Agora escuta essa, gente… — Uns quatro dias depois que seu Cidimar não voltou mais naquela fábrica, um dos vigias, no segundo andar… — Que, assim, era uma empresa que não estava abandonada, mas já tinha bastante coisa, assim, danificada. Pensa assim, tipo, ah, parte do telhado que tem uma goteira e tal… — E não se sabe o que aconteceu, tinha umas partes que tinham máquinas pesadas e tinha essa parte do segundo andar que não tinham, as máquinas mais pesadas estavam no térreo… Esse vigia passou e ele pisou num pedaço lá que estava podre e ele machucou muito a perna e deu uma infecção — nesse homem — e esse homem morreu…
Esse homem morreu… O seu Cidimar ficou super impressionado, que foi bem no lugar que estavam essas almas. E o seu Cidimar começou a sonhar com esse vigia, que esse vigia estava lá junto com esses com esses vultos aí, pra lá e para cá chorando… E aí o seu Cidimar, na cabeça dele, desenvolveu uma teoria de que todos aqueles vultos que ele viu eram pessoas que tinham morrido na fábrica, é o que ele acha… Ele falou que é intuição dele, pelo o que ele viu… Porque ele falou que eram silhuetas de homens, assim, pareciam operários e que ele falou: “Poxa, será que eles estavam impedindo que eu passasse para aquele lugar que eu poderia morrer também, alguma coisa assim?”. — Então isso a gente nunca vai saber, né? — Depois desse caso o seu Cidimar só pegou trabalho de vigia de dia. [risos] Até eu…
Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é Rebeca, da Paraíba. Eu acredito sim que eram pessoas que faleceram naquele local e que elas protegeram o vigia que nos escreveu. Esses casos de mortes de muitas pessoas, geralmente, o local fica muito carregado sim, os espíritos acabam se apegando ao local, né? Pela forma trágica da morte, que eu imagino que tenha sido, por ser uma fábrica, enfim… E o conselho que eu dou é: muita oração pra esse local, muita oração direcionada pra esses espíritos e não volta mais lá, [riso] fica fora dessa fábrica. É isso, um beijo.
Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Raquel, eu sou aqui de Serra, Espírito Santo, próximo a Vitória. Gente, que babado… Eu tenho uma amiga que o pai dela é segurança, atualmente ele é motorista, mas já foi segurança e já ocorreram várias histórias parecidas, inclusive tem um outro amigo que também é segurança e que ficou perturbado, então é aquilo, né? Todo cuidado é pouco, gente. Antes de trabalhar, vamos tomar um banhozinho com água benta e vamos se resguardar. Tô aqui, ó, arrepiada com essa história.
[trilha]Déia Freitas: Gente, vocês concordam aí com a teoria dos seu Cidimar? Vocês acham que eram vultos de operários? E o que eles estavam fazendo todos reunidos ali no segundo andar? A descrição do seu Cidimar dos vultos me deixou muito assustada… Eu jamais seria vigia… — Jamais. — Então, deixem seus recados pro seu Cidimar lá no nosso grupo do Telegram. Se você ainda não tá no nosso grupo, é só jogar na busca “Não inviabilize” que o grupo aparece. Então é isso, um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]