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título: ong
data de publicação: 27/03/2023
quadro: amor nas redes
hashtag: #ong
personagens: déia freitas

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Amor nas Redes. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está comigo de novo é Monange e a Campanha Monange: A gente se Cuida Assim apoia que cada mulher tenha aí um jeito único igualmente incrível de se cuidar, afinal, cada mulher sabe exatamente aquilo que importa pra ela. E como parceira e aliada da mulher que escolhe o melhor pra si, Monange sabe da importância de cada mulher se sentir representada e da relevância do mês de março  no importante papel aí social para a visibilidade e autonomia da mulher.


Monange incentiva que o movimento de mulheres seja cada vez mais plural e coletivo. Por isso, durante o mês de março Monange transforma o conceito “Eu me cuido assim” em “A Gente Se Cuida Assim”. E esse movimento A gente se Cuida Assim estimula aí a criação de uma corrente de mulheres que foram ajudadas e incentivadas por outras mulheres, mulheres que dão suporte aí uma as outras, mulheres que acessam e conectam a sua verdadeira essência, uma essência de apoio mútuo e fortalecimento feminino, então A Gente Se Cuida Assim. E, nesse tema, muita gente pede histórias da minha vida e hoje eu queria contar pra vocês como eu ingressei no terceiro setor por meio de uma ONG chamada Programa Feminino de Desenvolvimento Social do ABC e como nós éramos só mulheres e como a gente se ajudava e ajudava outras ONGs e essa é a história que eu quero trazer hoje aqui no Amor nas Redes. Então vamos lá, vamos de história.  


[trilha]


Pra quem conhece um pouco da minha vida, que eu sempre conto nas entrevistas e falo pelo meio das histórias, eu comecei a minha vida profissional trabalhando numa agência de publicidade, eu tinha 15 anos, mas era uma agência de publicidade que fazia classificados. Então eu fazia anúncios de venda de automóveis, de ônibus, obituários… Eu fazia muito obituário e eu contava a história das pessoas ali naqueles espaços pequenos do jornal para o obituário, dependia de quanto a pessoa pagava, né? Que pagava por caracteres, enfim… E eu fazia esses textos e fazia também anúncios de namoro. — Na época não tinha aplicativo, não tinha nada, e que as pessoas conversavam pelos classificados do jornal. — Então era isso…


E depois eu saí de lá e fui trabalhar numa faculdade, que foi onde tive a oportunidade de cursar Psicologia, mas depois que eu terminei o curso, eu vi que eu não ia conseguir ficar um tempo sem trabalhar pra poder virar uma psicóloga mesmo com um consultório, trabalhar para alguém, enfim, não ia conseguir… E eu fui mandada embora e tinha que trabalhar, gente, era aquilo. E aí eu vi nos classificados um anúncio que era pra trabalhar numa ONG. Eu, até então, tinha pouquíssima noção do terceiro setor — dessa galera de ONG — e eu fui para trabalhar numa ONG chamada Programa Feminino de Desenvolvimento Social do ABC, que era de uma mulher chamada Deise Dotto. — Que era dona do Diário do Grande ABC. —


Então, ela fez essa ONG para capacitar, fazer cursos e desenvolver projetos com ONGs do ABC. E aí eu fui lá, conheci o projeto, amei a Dona Deise, amei a Rose — que era secretária da dona Deise — e comecei a trabalhar com elas. De cara eu fui muito bem acolhida e comecei a saber ali dos projetos, conversando com a dona Deise… E a gente via de tudo. Primeiro eu descobri que na minha região, aqui no meu entorno — eu já sabia disso, mas não sabia tão a fundo — não existia nada cultural, tinha o Sesc aqui, mas era um lugar que eu também não tinha acesso porque eu trabalhava o dia todo e tal, e não existia nada cultural para as comunidades aqui do entorno do meu bairro e pra maioria dos bairros e tal daqui de Santo André, mais afastados. — Mais da periferia. —


E aí a gente começou a pensar no que fazer junto e todas as ONGs que a gente ia, a maioria atendia mulheres, né? Então era a maioria mães solos, mulheres que não conseguiam mais trabalho, então a gente tinha que ter algum projeto pra capacitar e ela ter a sua própria renda. E eu fui conhecendo todo um lado de poder feminino mesmo… A gente chegava em ONGs que tratavam de mulheres que sofriam violência doméstica e as mulheres lá que cuidavam dessa ONG elas enfrentavam os homens que apareciam na ONG atrás dessas mulheres, sabe? A gente tinha casos lá de mães que se organizavam, porque por exemplo, a ONG… A criança ficava na escola de manhã e à tarde a ONG oferecia algumas atividades, mas não eram todos os dias e as mães se revezavam cuidando das crianças na ONG, porque não tinha voluntários o suficiente.


Então, eu fui conhecendo um lado que, ao mesmo tempo, foi me abrindo a cabeça para outras realidades, principalmente realidade de mulheres… A gente lidava com mulheres na ONG, como também, assim, o que eu queria fazer… Eu falava: “Gente, eu quero fazer mais, eu quero me inserir mais nisso” e foi quando eu fui atrás de grandes empresas. Então aqui na região, ainda era muito forte a questão das montadoras de veículos e tal, eu fui atrás de grandes empresas e comecei a desenvolver os projetos no papel e a levar… E aí as empresas começaram a topar. E a gente começou a desenvolver projetos aí dentro dessas ONGs… A gente conseguiu fazer coisa até com ONG de Arara Azul na Bahia, sabe? Capacitar mulheres… Uma coisa, assim, surreal.


E, enquanto rolavam essas histórias, a gente conhecendo essas mulheres e tantas ONGs, ali dentro da nossa mini ONG, a gente também ia se fortalecendo. Eu, dona Deise, Rose, Marjorine… — Que veio trabalhar comigo como minha assistente. — E a gente criou assim um grupo muito bom para eu fazer muita coisa pela ABC. Tenho até algumas histórias engraçadas… Eu consegui juntar eu acho que foram 40 ônibus de várias ONGs que atendiam crianças — e mães — pra alguns shows aqui no Sesc. Então o Sesc foi nosso parceiro e uma empresa de ônibus aqui de Santo André também cedeu os ônibus… E eu era muito chata, assim, eu queria o ônibus de viagem com ar—condicionado para as crianças, tipo, né? E também no Sesc, além do show, a gente conseguia como se fosse um buffet, assim… O Sesc botava um dinheiro mesmo e a gente comprava as coisas, pipoca, enfim… — Para as crianças terem um dia assim sensacional. —


E eu tinha conseguido, eu consegui algumas bandas e tal, muito legal assim… E eu consegui o Supla… Um dia peguei, tinha o contato do agente do Supla e falei, falei do show, era na faixa… A gente não tinha dinheiro para cachê, nada, a gente só ia buscar, a gente mandava buscar com ônibus… Ônibus bonito e tal, né? E aí [risos] era uma loucura. Nesses dias, a minha prima Janaína participava, o meu namorado da época participava, a minha amiga Léia participava… Todo mundo que eu conhecia eu botava pra coordenar junto comigo a chegada desses ônibus no Sesc. — Porque pensa, gente, tipo 40 ônibus, cada ônibus, sei lá, com 40 crianças e chegando de todo lugar… — E a parte de baixo do Sesc aqui tem algumas ruas, né? Que são ruas de casas, não é comércio, então eles tinham que parar ali para as crianças descerem e as ONGs cada uma tinha que contar suas crianças…


A gente fazia crachá para todas as crianças, pulseirinha vip para todas as crianças… Era uma coisa, assim, como se a criança fosse pra Disney, só que aqui no Sesc. E era muito legal… A galera do Sesc, assim, muito animada, diretoria, todo mundo embarcava realmente na onda e eu falava pra eles: “Eu quero que as crianças se sintam na Disney, assim, que elas se sintam muito, muito, muito queridas e especiais”. Aí tô lá, né? Eu botava toda minha família, todos os meus amigos, todo mundo pra cuidar ali dos ônibus e ficava cuidando das outras coisas. Eu tinha que cuidar do artista que ia chegar, pra ver as coisas do buffet para as crianças, brinquedo, piscina de bolinhas, essas coisas estava tudo ok… — Eu ia espalhando as pessoas e coordenando tudo. — De repente, eu recebo uma ligação do agente do Supla muito bravo comigo e falando: “Andréia, que ônibus que você mandou para buscar o Supla?”.


Eu falei: “Gente, eu mandei o melhor ônibus… Eu mandei o melhor ônibus para buscar o Supla”. Só que a empresa de ônibus, olha só… Eu exigia que o ônibus, já que a pessoa vai patrocinar e está cedendo só os ônibus, não está me dando dinheiro nenhum, eu exigia que os ônibus fossem os tops assim, de viagem, com ar condicionado — e para as crianças, para as ONGs, todos eram — só que não sobrou ônibus… E aí eles mandaram para buscar o Supla um ônibus velho de linha, desses que a gente pega… E aí chegou lá, era para buscar o Supla, a banda naquele ônibus, gente, que não tinha condição… [risos] E o Supla ele podia muito bem ter falado: “Pô, a gente não vai…”. O que o Supla fez? O Supla entrou no ônibus, todo mundo entrou no ônibus e ele veio como cobrador do ônibus…


Então, enquanto o agente dele estava lá falando comigo, reclamando, porque o cara também estava vindo… O Supla estava dando risada, se divertindo e veio de boa no ônibus de linha, sabe? [risos] Tipo no ônibus Penha—Lapa. [risos] Ai, aquele dia, meu Deus do céu… E o Supla chegou eu pedi 1.000 desculpas e ele foi um fofo, um querido… Ele não reclamou. E aí pra volta, óbvio, eu consegui um ônibus decente para levar o Supla depois do show cansado. E o Supla veio dois anos… Depois desse dia que eu falei: “Poxa, o Supla nunca mais vai querer me atender, né?” ele veio no ano seguinte, veio com uma tosse… Ele tava mal, estava com tosse e mesmo assim ele veio. Então, Supla, te amo, querido. [efeito sonoro de beijo] E foi justamente nessa época que eu comecei a levar a sério essa questão de capacitar mulheres e acabei entrando no mundo da moda, por essa porta. Então, eu via que as mulheres tinham um ótimo bordado de bico… Nas ONGs que a gente ia, por exemplo, que as mulheres faziam pano de prato para vender para ter uma renda, eu via que elas tinham um bordado excelente e eu falava: “Gente, esse bordado está sendo usado em pano de prato?” e aí eu ia atrás das marcas, marcas famosas de moda, marcas que faziam Fashion Week e tal… E conheci alguns estilistas nessa época pra poder que elas fizessem esse bordado em outro segmento, no segmento da moda. E começou a dar certo… 


Eu fui trabalhar para uma marca de moda sustentável também e a gente conseguiu introduzir muita coisa… Trabalhar com muitas ONGs dentro da marca. E, cara, isso mudou a minha vida, mudou a minha perspectiva do que é trabalhar em grupo, do que é estar junto de verdade, sabe? E foi uma época que eu descobri… — Porque eu não sei de onde vem essa bobagem, vocês já ouviram isso? De gente falar: “Ah, eu não gosto de trabalhar com mulher”, “ai, muita mulher junta não dá certo e nã nã nã”? — Foi aí que eu descobri o oposto, que eu amo trabalhar com mulheres… Eu amo ter aquela sala cheia de mulher e todo mundo junto e todo mundo fazendo e todo mundo acontecendo… Eu acho que flui muito melhor. E foi aí que eu aprendi, realmente… Na faculdade eu também já tinha essa vivência de estar muito unida com as mulheres que trabalhavam lá, mas na ONG isso se expandiu, assim.


Eu conseguia passear por vários núcleos, de várias realidades diferentes, onde eu via as mulheres se juntando, senão por necessidade de uma renda financeira, ou por medo dos seus companheiros, ou para cuidar dos seus filhos… Então, assim, foi uma coisa que abriu a minha mente. Foi uma época muito boa da minha vida e que eu aprendi muito e aprendi com mulheres incríveis. E queria deixar aqui meu beijo pra três mulheres especiais dessa época e que a gente trabalhava junto, que é a Dona Deise Dotto, a Rose Ferreira e a mais Marjorine Palomares. Sinto muita saudade dessa época e de trabalhar com essas mulheres incríveis, assim, foi muito bom. Eu tenho muitas histórias de quando trabalhei nessa ONG, muita coisa aconteceu… Histórias nossas, pessoais, minhas com essas mulheres e fases que eu estava passando na minha família também nessa época… A gente sempre se ajudava, sempre dava força uma para a outra e era muito bom, era isso. 


Então, eu queria deixar aqui essa história de união feminina pra vocês e de uma fase que foi muito boa na minha vida e que realmente mudou a minha vida. Trabalhar numa ONG de mulheres para mulheres, feita para atender outras ONG’s de mulheres foi um passo gigantesco no meu desenvolvimento pessoal e no rumo que a minha vida tomou, assim, em tudo. Então, eu tenho muito orgulho dessa minha fase e muita saudade.


[trilha]


Assinante 1: Oi, gente, meu nome é Laís, eu sou carioca e eu moro em Ottawa no Canadá. Eu morri de rir com o Supla tocando o terror de trocador no ônibus, é a cara dele. [riso] Fiquei super orgulhosa quando você falou do Sesc, Déia, eu trabalhei no Sesc como assessora de imprensa e eu amava quando tinha essas parcerias e eu tinha que acompanhar, era uma das melhores coisas, que eu mais amava fazer. E hoje eu trabalho numa ONG Feminista, minha equipe é só de mulheres e é uma das minhas melhores experiências profissionais. O comprometimento, o acolhimento, a compreensão, não só entre a equipe, mas também com as pessoas que se relacionam com outros parceiros da organização, é bem diferente e é muito, muito especial. Então, queria dizer pra quem diz que trabalhar com mulher é complicado: O nome disso é misoginia, viu? Um beijo.


Assinante 2: Oi, gente, aqui quem fala é Juliana de Fortaleza. Déia, ouvi seu relato e é simplesmente inspirador, é muito incrível ver que onde entra uma mulher e já tem uma mulher, com certeza uma vai se tornar rede de apoio da outra, é quase intuitivo. [risos] Eu acho que a maioria das mulheres tem uma história assim pra contar e é muito bom ver a preocupação, né? A empatia visando o bem-estar da outra, como a outra está, o que eu posso fazer pra te ajudar… E isso realmente é o que muda e o que move o mundo. Então, desejo vida longa a todas as ONGs e todas as mulheres trabalhadoras que inspiram e ajudam as outras mulheres, beijo.

[trilha]


Déia Freitas: Essa é a minha história de como eu me fortaleci, eu me entendi como mulher que precisa de outras mulheres pra poder existir, pra poder viver e você pode também participar desse movimento de fortalecimento feminino compartilhando a sua história com hashtag “A Gente Se Cuida Assim”. — Eu vou deixar a hashtag aqui na descrição do episódio. — Quem sabe a sua história não vira aí um episódio aqui no podcast Não Inviabilize em parceria com Monange? Valeu, Monange, por essa parceria incrível, espero que a gente se encontre novamente. Um beijo, gente, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.