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título: pacotinho
data de publicação: 27/04/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #pacotinho
personagens: pâmela e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje vou contar para vocês a história da Pâmela. — Ê, Pâmela… — Bom, então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Pâmela conheceu um carinha aí, se apaixonou e casou com esse cara… [efeito sonoro de sino de igreja] E o relacionamento deles era ali bem ok, assim, ela não tinha nenhuma queixa. A Pâmela cursava a faculdade, ele já tinha terminado e, na faculdade, ela tinha ali várias amigas que conheciam o marido dela, mas, assim… — Meio superficialmente, né? — E uma dessas amigas estava, assim, meio estranha com ela. E aí a Pâmela percebeu e chamou essa amiga pra conversar e falou: “E aí, amiga, o que aconteceu? Você se afastou de mim, a gente não conversa mais e tal”. — E aí veio a bomba… — 

Essa amiga — da Pâmela — tinha parado de falar com ela porque ela entrou aí num aplicativo desses de encontro e viu um perfil do marido da Pâmela. E aí como ela não queria se meter, né? Achou que a Pâmela não fosse acreditar, ela não falou nada. E aí a Pâmela falou: “Não, então abre seu celular aí que eu quero ver”. E aí ela tinha tirado uns prints… — Ela tinha feito o serviço completo, né? Quando você flagra alguém que está num lugar que não era pra estar. — E aí a Pâmela ficou em choque, falou: “Meu Deus, será que não é um fake?”. E aí mais uma vez a amiga falou: “Olha, eu até chequei mais a fundo… Não é fake, não, tem umas fotos que estão lá… Dá uma olhadinha na última foto e tal, é uma foto que não tem nas redes dele, né?” — E era uma foto mesmo que eles tinham tirado lá num dia que eles foram num pesque e pague e que ninguém postou, mas que essa amiga sabia, tinha recebido a foto no WhatsApp e tal, né? —

Então, aí a Pâmela começou a acreditar que realmente o marido dela era uma pessoa que ela não conhecia… Porque ele era todo desses que fala mal de aplicativo de namoro, sabe? Todo cheio de marra… “Não, porque eu jamais vou entrar num aplicativo desse”… — Machista também, né? “Porque mulher de aplicativo e nã nã nã”. — E o cara estava lá. E aí a Pâmela falou: “Você me ensina a fazer um perfil desse e tal? Que eu quero conversar com ele com foto falsa e essas coisas?”. Aí a amiga ficou, assim, com receio e falou: “Meu, não faz isso, sabe? Você não precisa disso. Confronta ele e nã nã nã”. E aí a Pâmela desistiu de fazer o perfil. Assim, quando ela chegava em casa, o marido dela tava todo fofo, todo querido e ela ficou na dúvida realmente, sabe? Se ele fez, se ele não fez…

Aí mais um tempinho aí passou… Ela resolveu não falar nada. — Eela escolheu não falar… — E aí ela estava ali varrendo… A casa da Pâmela é assim: ela não tem quintal no fundo e, na frente, tem a garagem, mas ela tem um quintalzinho na lateral da casa… — Sabe, assim, uma faixa de grama? — Só que nessa faixa de grama tem algumas árvores, então fica bem bonito assim, do lado. Árvores antigas que já eram de lá, enfim, grandes, né? [efeito sonoro de algo sendo varrido] E ela está ali varrendo, varrendo, varrendo, pensando na vida, inclusive nesse aplicativo de namoro que o marido dela tá. — E sabe quando você tá… Você não tá procurando nada, você tá varrendo e pensando em nada, sabe? — E ela varrendo pensando em nada, que ela olhou pra uma das árvores, ela viu meio que parecia um pacotinho, assim, camuflado ali no meio, meio verdinho, assim… Falou: “Ué, pacotinho?”.

Ela foi chegando mais perto e tal, pegou o pacote… E era engraçado porque o que tinha dentro do pacote estava embrulhado com um pedaço de lona. Sabe lona de caminhão? A maioria é amarela, mas tem umas que são verdes. — Inclusive, tenho uma bolsa verde de lona de caminhão. — E estava enrolado nesse pedaço de lona, porque assim, se chovesse, alguma coisa, não molhava… — E aí, gente… — Dentro desse pacotinho tinha um telefone celular, vários cartões de visita com o nome do marido dela… — Escrito “engenheiro”. — Um monte de outros cartões com mais umas 3 profissões, assim… E ele era publicitário, então, né? E aí ela pegou tudo aquilo e falou: “Meu Deus do céu, ele tem um telefone que eu nem sei o número, não sei nada… E ele tem um monte de cartão de visita com outras profissões… Tipo, é  o que? Um estelionatário?” — E aí, gente, vocês não vão acreditar… — 

Ela resolveu dobrar o pacotinho e guardar, botar na jabuticabeira lá que ela viu de novo, na árvore… — Eu falei: “Mas Pâmela, por quê?”, ela falou: “Ai, Déia, porque eu estava num momento em que eu não queria lidar com aquilo. Eu não queria confrontar ele, saber de mil amantes… Eu fiquei na minha, eu fiquei quieta”. — Ela ficou quieta dois meses, três meses, quatro meses… No quinto mês que ela estava quieta, [efeito sonoro de celular tocando] um dia ela recebeu um telefonema. — Era de um homem que ela não conhecia. — E esse homem era o advogado do marido dela… Pra avisar que o marido dela tinha sido preso. — Preso… Sabe por que ele foi preso? — Porque ele aplicava golpes em mulheres no aplicativo ali de namoro. Então, se você saía com ele, ele te dava um cartãozinho falso ali, mas como o telefone dele, de alguma profissão X, assim, — sempre profissões boas, né? — e ele começava a extorquir depois as mulheres, ameaçava…

A Pâmela não sabe muitos detalhes, assim, porque ela ficou com muito medo… — Mesmo porque ele foi preso um dia, ficou quatro dias e foi solto… E está respondendo, provavelmente, em liberdade. — E aí que eu falo “ê, Pâmela…”, porque quando ele saiu da cadeia, ele voltou pra casa. — A Pâmela aceitou ele de volta, assim… Depois de todas as traições e de saber do golpe, ela aceitou ele de volta em casa. — A proposta era: Vamos começar a vida nova, você vai responder esse processo aí e tudo bem, né? A gente começa do zero e nã nã nã. E aí a coisa de começar do zero, do romance, durou três meses… Depois dos três meses a Pâmela não sabe se o negócio do processo lá apertou e iam prender ele… — Ela não sabe o que aconteceu. — Mas este cara sumiu no mundo…  Sumiu. — Mas antes ele tinha conta conjunta com a Pâmela, ele pegou todo o dinheiro que eles tinham, — que não era, assim, todo, mas digamos que ela tinha 10 mil na conta… — 

Ele pegou esses 10 mil que era dela e sumiu no mundo, sumiu… Ela não sabe se ele tá vivo, se tá morto, se tá preso, se tá solto… Ela até hoje não mexeu com nada do divórcio, porque ela não sabe nem, assim, por onde começar… — Porque ele está foragido. Eu acho pelo menos, né? — Ela não sabe direito se ele está foragido ou se ele está respondendo em liberdade. Não sabe, não sabe nada. O cara sumiu e ainda levou o dinheiro — as economias — da Pâmela. Então você vê, né? Ela deu uma chance pra ele e tal… — E ele fez isso. — Então, a Pâmela me escreveu pra perguntar aí pra nossa galera do jurídico, né? — Que tem bastante gente que ouve o podcast que é aí do jurídico. — O que ela pode fazer com ele desaparecido. Ela queria o divórcio só, nem do dinheiro ela quer dar queixa. Ela quer o divórcio. Só que não acha ele em lugar nenhum, ele nunca mais procurou e ela queria saber o que ela pode fazer, assim, se dá pra ela fazer pela Defensoria ou se ela tem que contratar um advogado, enfim… 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, aqui é Mayra, de Teresina. Pâmela, você pode, dependendo da sua renda, se você tiver rende de até 4 salários mínimos, você pode procurar a defensoria pública da sua cidade e entrar com a ação de divórcio litigioso, falando que seu esposo está em endereço incerto, não sabido e pedir uma citação por edital. O processo corre rapidinho e você consegue o divórcio sem problema nenhum. É provável, creio eu, que ele esteja preso, né? É possível que ele esteja preso. Então, de qualquer modo, quando você for na defensoria você explica a situação, na Defensoria eles vão redigir a [termo] o que você disse e eles explicam essa situação, e aí nessa forma o juiz homologa o divórcio. E é isso, boa sorte e tomara que dê tudo certo pra você. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui quem fala é Leticia de Sorocaba, interior de São Paulo. Pâmela, querida, quanta coisa, né? Pra você. Acredito que você precise se conhecer, falar muito dessa história, de repente, buscar ajuda profissional pra você entender porque você foi levando essa situação, né? Quase sendo refém dessa história. Quando a gente passa por um relacionamento abusivo é bem isso mesmo, a gente fica refém do desejo, do sentimento do outro. Então, o que eu espero pra você é que você se cuide, se olhe e entenda essa história, além das questões jurídicas e de tudo que você vai precisar fazer, pra que você não caia nisso de novo e que seu amor próprio supere esse tipo de cara na sua vida. Um beijo, se cuida. 

[trilha]

Déia Freitas: Se os advogados e advogadas — nossos “advas” — puderem responder lá no nosso grupo do Telegram… Se você ainda não tá no nosso grupo, é só jogar na busca do Telegram “Não Inviabilize” que o grupo parece. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.