título: biologico
data de publicação: 14/08/2022
quadro: picolé de limão – especial dia dos pais
hashtag: #biologico
personagens: amanda e um cara
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje: história mãe cansada. — Eu vou contar pra vocês a história da Amanda. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Amanda conheceu um cara aí, namorou com esse cara — durante dois anos — e eles casaram… [efeito sonoro de sino batendo] E era um casamento ok, passou ali um tempo a Amanda engravidou… Esse cara às vezes ia nas consultas com ela, às vezes não, mas enfim, né? Todo mundo trabalha e nem sempre dá pra acompanhar. E a gravidez foi passando ali, bebezinho nasceu… [efeito sonoro de choro de bebê] Bebezinho nasceu, a partir do momento que o bebezinho nasceu, este cara virou ali uma pessoa ausente. Eles estavam na mesma casa, esse cara sempre trabalhou em home office… A Amanda é professora… — A gente está falando de uma história pré-pandemia, né? — Então, teve um período de licença, depois quando voltou, mesmo com o pai em casa, ela não conseguia deixar o bebezinho meio período com ele porque ele não aceitava.
Então, o bebê ficava na creche em horário integral. Ela tinha que fazer um malabarismo pra buscar no horário de fechamento da creche, porque esse cara não ia… — Ele não estava mais trabalhando… — Tipo, tinha acabado ali o horário dele, do home office e mesmo assim ele nem buscava o filho na creche. Então, o relacionamento foi se desgastando, mas a Amanda meio que ouvindo de algumas pessoas que homem é assim mesmo, ela foi ali se ressentindo, mas levando esse casamento adiante… Fazendo absolutamente sozinha tudo em relação ao bebezinho. Até que um dia, era auge do Facebook e este cara, que não fazia absolutamente nada pelo filho, fez um poema… Belíssimo, mas muito lindo mesmo, para o filho.
E, nesse poema, dava a entender que cada passo do filho ali ele acompanhava e ele estava presente e ele era o pai do ano. E aí a Amanda ficou muito puta, porque, assim, o pessoal foi curtindo aquele post e o post viralizou… E, nossa, mas muito, muito, muito comentário elogiando ele como pai. — Quer dizer, ninguém convivia, ninguém sabia… — Uma ou outra amiga da Amanda ali que ela comentava e tal, mas era um post público, então gente que nem conhecia os dois estava ali elogiando o cara. Pra vocês terem uma ideia, o cara não pegava o bebê do berço nem quando o bebê chorava. Tipo, ah, Amanda está no banheiro e o bebê chora? Ela tem que parar — o que ela tá fazendo no banheiro — pra pegar o bebê? Porque ele não pegava.
E aí esse post viralizou de um jeito… Eles moram numa cidade aí do interior do Brasil, cidade x, que um centro comercial da cidade deles pediu pra usar o poema… — Pagou um tanto pra esse cara aí. — Pra usar o poema no Dia dos Pais. Porque ele fez, tipo, uma semana antes do Dia dos Pais o poema. No condomínio que eles moravam na época, botaram esse poema em comemoração ao Dia dos Pais no elevador. [risos] — Que ódio… [risos] — E, pasmem, a creche onde o pai nunca tinha aparecido na vida, — mas que o bebezinho ficava lá — resolveu fazer uma homenagem pra este pai. E a Amanda assistindo a tudo isso perplexa e o cara super se sentindo o paizão. — Gente… — Ele ganhou homenagem, ele ganhou dinheiro, ele ganhou abraços no prédio… E foi chamado de o “Pai do Ano”.
A Amanda tava muito puta, porque esse cara, inclusive, fez esse poema num dia que o bebê tinha tomado uma das vacinas obrigatórias e estava com um pouco de febre, estava manhoso, chorando, e ela foi pedir para ele ficar um pouco com a criança no colo pra ela tomar banho e ele não ficar chorando, porque senão… Prédio, né? Você acaba incomodando mais gente, enfim… E ele falou que não, que ele tava muito quentinho e que ele não tinha jeito pra essas coisa… — Não pegou. — E aí foi fazer o poema, porque se sentiu ali consternado pelo filho e foi fazer o poema enquanto ela ficou sem tomar banho pra criança não ficar chorando o tempo todo e não incomodar os vizinhos, porque já era um horário da noite que o pessoal estava indo dormir. E aí a Amanda, depois dessa homenagem de Pai do Ano da creche, ela mudou o bebezinho de creche. [risos] — Eu faria o mesmo… — E pediu o divórcio.
E aí esse cara surtou. “Como assim? Ele é a pessoa mais maravilhosa, o melhor pai, o melhor marido”, que também não era o melhor marido… “Como assim ela queria se livrar dele?”. E aí ele fez um outro texto na internet dizendo como era difícil ser pai sendo companheiro de uma mulher que quer ser protagonista de tudo. E aí ele teve muita solidariedade também, de gente falando que “não, eu te entendo e nã nã nã” e a Amanda P da vida, saiu de casa com o bebezinho e eles acabaram realmente aí se divorciando. O apartamento ali era alugado e ele resolveu permanecer no apartamento e arcar com o aluguel. A Amanda alugou um apartamento perto — pra que ele tivesse contato, né? Com o bebê — e vocês acreditam que esse cara, morando a um quarteirão do filho, não ia ver o filho? Não ia… Até hoje… A criança está com seis anos e ela precisa… A Amanda precisa ligar e pedir, às vezes implorar pra ele ficar com a criança. E já deu problema com pensão, enfim… — O Pai do ano. —
Até hoje esse é o post fixado — o post do poema é o post fixado — no Facebook dele. E ele também levou, óbvio, para o Instagram, botou umas imagens do filho e tal. E, as raras vezes que ele pega, — o menino — ele faz muita foto, muito vídeo e escreve textos maravilhosos pra falar aí sobre paternidade. [risos] Ele agora tem um Instagram que ele fala sobre paternidade, muitas vezes escrevendo textos, segundo Amanda, sem ver o filho por meses. E todo mundo que está lendo ali, parece que ele está com a criança do lado, escrevendo… E aí Amanda estava me falando que muita gente, quando ela se separou, falou que ela estava com inveja do que ele tinha conquistado ali como pai. — Conquistou o que, gente? — Da repercussão que ele ganhou e tal… E, gente, não era isso… Porque se o cara fizesse, se ele realmente ele fosse um bom pai, ótimo, receber os frutos… Apesar de que toda mãe fazendo muito, muito, muito, muito, muito mais não ganha esse tipo de homenagem, né? Mas tudo bem… Se ele fizesse, tudo bem aí enaltecer esse pai, mas não era o caso, né? Então, assim, puta desaforo… E ainda ela saiu como a invejosa, rancorosa da história.
Hoje a Amanda já está num outro relacionamento, com um cara super legal e tal, que dá uma força pra ela na criação do bebezinho. — Que já está com seis anos, né? — E o paizão do ano aí ele pega muita mulher com esse papo, com essa coisa de ser influencer de paternidade. — [risos] Meu Deus do céu que ódio que eu tenho desse homem. — E, assim… O Instagram dele tem pouquíssima gente, assim, acho que o povo da cidade dele, sei lá, umas 200 pessoas e os textos achei fraquíssimos, mas o pessoal interage com ele ali, sempre falando que ele é um exemplo de pai. A Amanda vez ou outra entra lá, escreve, xinga, mas ele apaga. [risos] Acho que você nem precisa se dar o trabalho, viu, Amanda? Você sabe a verdade, é isso que importa, né? E essa é a história da nossa amiga Amanda aí com o Pai do Ano, né? Eu fico besta…
Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Flávia da Holanda. Cada comentário era uma revirada de olho e eu queria dizer para Amanda que: Amanda, você teve a melhor decisão, a decisão mais sábia que você podia ter tido, saindo dessa relação, dessa relação com esse homem narcisista que só quer fama, né? É bonitinho ser pai de Instagram hoje, né? A gente vê um monte de pais de Instagram aí e isso me irrita profundamente, porque a sociedade continua condenando as mães cansadas e endeusando esses homens que não servem para nada dentro de casa. Então, Amanda, meus parabéns, que você tenha uma vida linda ao lado do seu filho e de pessoas que realmente vão agregar na sua vida. Um beijo.
Assinante 2: Olá, meu nome é Rosângela aqui do Rio de Janeiro. Gente, eu passei muita raiva com esse pai do ano, muita raiva… Pior de tudo é a gente saber que esse tipo é muito mais comum do que se pode imaginar e fica se fazendo de super pai e super homem e, na verdade, é um cretino calhorda que só quer se dar bem com a mulherada. Muita raiva, gente… Muita raiva.
[trilha]Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Amanda. Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]