Skip to main content

título: pai nosso
data de publicação: 01/11/2022
quadro: luz acesa – especial halloween
hashtag: #painosso
personagens: ludmilla, dona vera e mãe de ludmilla

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. Hoje eu vou contar pra vocês a história da Ludmilla. — A Ludmilla tinha 13 anos quando essa história aconteceu. Ela já está com 35, então tem um tempo aí. — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]


A Ludmilla, com 13 anos, ela ia para a escola sozinha, então ela tinha que andar — três quarteirões só — até a escola. E ela saía de casa ali umas quinze pra sete, a aula dela começava sete horas, né? Então era tranquilo. Um dia, Ludmilla está indo para a escola e ela percebe, assim, um burburinho na rua ali, um movimento. E aí a mãe dela tinha dia que aproveitava, ia com ela uma parte do caminho pra, sei lá, ir num mercado, numa farmácia e tal, e aí eles pararam ali, numa das rodinhas… E o que tinha acontecido? Durante aquela madrugada tinha acontecido uma briga num bar e a pessoa que provocou a briga ele tinha sido esfaqueado e morto. As pessoas conheciam ele do bairro, ele já era assim, considerado um cara — um valentão do bairro — encrenqueiro e tal e ele tomou essas facadas aí e morreu. 


Só que ele foi socorrido antes de morrer, ele não ficou lá, tipo, no bar, ele ficou na calçada do bar um tempo, aí viram que ele estava respirando, levaram ele para o hospital, mas ele morreu no hospital. E aí a Ludmilla tinha que passar na frente desse bar… — Ela ouviu a história ali, ficou chocada, mas ela disse que nem tanto e tudo bem. — Ludmilla passou pela calçada do bar e à calçada do bar… — Porque assim, como foi madrugada, o bar fechou e tal, ninguém lavou… A calçada do bar estava tomada de sangue porque o cara ficou deitado ali um tempo, né? Então ela viu aquele sangue, ficou impressionada… — E ela não lembrava da cara do cara porque era, tipo assim, um adulto ali do bairro, então, né? Adolescente, criança não se interessa por adulto, então ela nem sabia quem era o cara, só ouviu a mãe dela ali comentando. — E aí ela foi pra escola, estudou, voltou, a mãe dela botou almoço pra ela, ela almoçou e aí ela foi assistir TV a tarde. E, quando ela foi assistir TV a tarde… 


Ela está sentada na sala assistindo TV, atrás da TV tem uma janela. Na janela da casa dela, ela viu um cara — que até então ela não sabia quem era — todo ensanguentado. E ele estava ensanguentado, num ponto de que um… — Como é que vou dizer isso? De uma maneira mais amena… — Um dos olhos dele, assim, o globo ocular estava pra fora. E aí a Ludmilla gritou, gritou, gritou… [efeito sonoro de menina gritando] A mãe achou que ela tinha visto alguma coisa na TV e tal. E ela gritando porque ela estava vendo o cara, e a mãe dela já estava do lado dela perguntando o que estava acontecendo e a mãe dela não estava vendo ninguém na janela. E aí deu o que fazer pra acalmar a Ludmilla, e ela contou exatamente o que ela viu pra mãe dela. — Mãe dela já tinha esquecido do que tinha acontecido de manhã, né? Porque ela tinha ficado sabendo de manhã. — Então ela falou: “Ludmilla, você fica assistindo essas coisas depois você cochila aí e tem pesadelo”. Então, a mãe da Ludmilla atribuiu isso a um pesadelo que a menina teve ali durante a tarde. 


Chegou a noite, ela ainda assustada, pediu pra dormir com a mãe, a mãe falou que não. A mãe dormia no mesmo quarto que a avó e ela foi pro quarto dela. E aí na janela, ela escutava… — Sabe quando, sei lá, o cara, a pessoa devia estar do lado de fora da janela, respirando, assim, mais forte? — Então ela ouvia aquele barulho de respiração forte e não conseguia dormir, não conseguia se mexer, não conseguia gritar… — Mesmo porque a mãe dela já tinha falado que era pesadelo. — E aí teve uma hora que ela pegou no sono e passou… De manhã, quando ela saiu pra ir para a escola, esse cara ensanguentado estava lá no portão dela. E aí não, não… Não tinha como passar pelo portão sem passar por ele, por dentro dele… Porque era um portãozinho de entrada. E aí Ludmila voltou chorando pra dentro de casa e falou: “Mãe, o homem tá no portão… Eu não vou conseguir passar” e chorando… A mãe, já irritada, né? Falou: “Vai, que eu vou passar com você nesse portão, vou te levar até a escola”.


E aí elas foram caminhando e quando elas passaram de novo na frente do bar, a Ludmila viu esse cara…. E aí é que tá: A mãe da Ludmilla também viu. [efeito sonoro de tensão] — Só nesse momento, na frente do bar, ela viu. — E aí ela assustou e abraçou a Ludmilla, assim… E aí ela entendeu que era o cara que estava aparecendo. Não levou a Ludmilla pra escola, elas voltaram pra casa. Essa época, a vó da Ludmilla — que podia dar uma ajuda ali, que era uma pessoa que rezava mais e tal — estava na casa de uma outra filha, num outro estado, então não ia poder ajudar. — E a mãe da Ludmilla, que a gente pode chamar aqui de dona Vera — dona Vera ficou desesperada… Ela falou: “Meu Deus do céu, eu vi”. E aí que ela lembrou da história… Só que ela não conseguia entender porque que aquele cara que nunca teve nada a ver com a Ludmilla estava aparecendo pra Ludmilla. E elas ficaram ali pensando em quem, onde elas podiam ir, na igreja, quem elas podiam chamar… 


Quando a Ludmilla falou para a mãe que ela tinha passado no dia anterior na frente do bar e, quando ela viu o sangue, ela foi até a escola rezando o Pai Nosso. Então, dona Vera acha que o que atraiu esse cara pra Ludmilla — ele devia estar ali na frente do bar, não sei — foi ela tá rezando. — Diz a Ludmila que ela estava rezando porque ela ficou com medo. Mas o cara, sei lá, será que sentiu uma vibração diferente? Achou que ela estava rezando por ele, não sei e aí foi atrás dela? — No quintal da casa a dona Vera não conseguia ver o cara, só a Ludmilla via. Ele tentava entrar na casa, mas alguma coisa, talvez as rezas da avó, — porque a vó, uma pessoa muito religiosa, tinha crucifixo na parede, tinha imagens, enfim… Pode ser isso? Não sei — ele não conseguia entrar na casa, mas ele ficava… Ele aparecia na janela e ficava atrás da Ludmilla. E assim, né? Sem ter como saber o que ele queria. 


A Dona Vera, achando que ia conseguir resolver sem ligar pra a mãe que estava lá visitando uma outra filha, ia ficar um tempo e tal, não conseguiu… Ligou pra mãe, contou toda a história e a mãe dela, vó Ludmila, falou: “Não, eu tô indo pra aí”. E aí pegou um ônibus lá em outro estado e veio — tadinha, idosinha — e falou: “Pode deixar que eu tiro ele daí”. E aí não se sabe o que a mãe da dona Vera fez… Só ali rezando, com reza, reza, reza e, tipo, uns raminhos de ervas, essas coisas, tirou… — Eu fico até arrepiada… Credo… — Tirou ele lá da casa e a Ludmila [risos] falou que ficou até com vergonha porque ela era uma adolescente, né? A avó disse que ela precisava fazer o que ela fez dentro de casa em todo o caminho que ele estava seguindo a Ludmilla, né? Então, do caminho da casa delas até a escola, passando pelo bar. 


E elas fizeram até o bar, quando chegou no bar, a Ludmila falou que a avó nunca revelou, mas a avó falou: “Olha, daqui pra frente eu não consigo, é muito forte pra mim. Então a gente vai mudar o caminho da escola, porque daqui pra trás ele não vai mais. Então você vai mudar o caminho para a escola”. E aí, de tão impressionada que dona Vera ficou, ela passou a levar a Ludmilla na escola até a Ludmilla fazer 16 anos, que foi quando ela foi estudar à noite que ela conseguiu uma vaga de jovem aprendiz e tal. — A dona Vera ia com ela para a escola de manhã, porque assim, com medo da assombração mesmo. [risos] — E aí Ludmila agora tinha que fazer um caminho mais longo, teve que mudar a rotina e tudo e agora ela ia com a mãe até a escola. Porque… — Vamos dar um nome também? — Dona Benedita, mãe de Dona Vera, disse que dali do bar para frente, ela não conseguia fazer nada. Se Ludmilla passasse em frente o bar, ele ia grudar nela de novo. 


Então, não se sabe se ele está no bar, o que aconteceu, se ele grudou em outra pessoa… Mas depois disso, ele não apareceu mais lá na casa e não apareceu mais pra Ludmila. — Ele não tentava… Ele não era agressivo, nada, também não tentava pedir ajuda, nada… Ele só aparecia e ela ouvia a respiração dele a noite na janela. Então, pensa o pânico. — Então essa é a história da Ludmilla, a criança que foi assombrada aos 13 anos. E ainda bem que passou, né? E vocês acham que foi realmente o Pai Nosso que que chamou esse cara para junto dela? Porque foi a única coisa que aconteceu… Porque muita gente passou em frente ao bar, né? Será que no momento que Ludmilla passou e fez ali a oração… E foi fazendo, né? Ela falou que foi repetindo o Pai Nosso até chegar na escola.

Será que foi isso que atraiu o cara? Então, quer dizer, rezar em vez de afastar assombração atrai assombração? Fica aí o questionamento.

[trilha]

Assinante 1: Boa tarde, gente… Aqui é o Guilherme do Rio Grande do Sul. O que eu acho que aconteceu? Eu não acho que seja de fato a oração que atraiu o espírito do falecido, do assassinado, eu acho que foi o fato de ter passado por ali naquele momento, ter ficado pensando naquilo, ter ficado um pouco assustada, sabe? Ficou pensando naquilo sem perceber… E aí também a proximidade, né? De passar sempre por ali também, fez essa associação. E eu acredito que rezar, assim, fazer suas preces e fazer seus rituais ajuda sim a afastar os espíritos, só que algumas pessoas são mais também iluminadas e acabam sendo como se fossem formas de espíritos buscarem ajuda, só que eles acabam atrapalhando, né?

Assinante 2: E aí, gente, boa noite tudo bem? Aqui quem fala é Ícaro, de Contagem, Minas Gerais. Eu queria primeiro, antes de tudo, saber de onde que eu tirei a brilhantíssima ideia de escutar Luz Acesa à noite, né? Porque, assim, não dá… Simplesmente não dá mais. Porque eu acho muito bizarro de aparecer pra uma criança justamente quando ela reza. Normalmente, da gente pensar nessa tradição de reza é mais pra proteger, né? Então, eu acredito que tenha sido isso que a Déia tinha falando, desse momento de resistência, de um entendimento de você se aproximar, de chamar essa pessoa, mas é assustador… Até no ponto que, tipo assim, normalmente a família não acredita, mas a mãe e a vó acreditar o trem foi cheio. É isso, fica bem.

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.